sábado, 20 de agosto de 2016

A indiferença de Deus

“Ele estava na popa, dormindo sobre uma almofada, despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não te importas que pereçamos?” Mc 4;38

Sem me ater ao incidente, dele extrairei uma ideia apenas, como pano de fundo pra uma reflexão que vejo oportuna, a “indiferença” de Deus ante o sofrimento humano. Pois, se, então, pareceu aos discípulos que O senhor não se importava, atualmente, tenho lido muitas acusações semelhantes.

Se O Eterno não se importasse deveras, facilitaria bastante as coisas para Ele. Julgaria cada um segundo suas obras, entregaria ao castigo devido, e fim de papo. Contudo, a Bíblia diz que, “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu Filho Unigênito, para que, todo aquele que nele crê não pereça, mas, tenha Vida Eterna”. Jo 3;16

Aqui, o Senhor pontua a grandeza do amor pelo valor da dádiva; noutra parte, Paulo vislumbra o mesmo, a partir da indignidade dos recebedores. “Porque apenas alguém morreria por um justo; pode ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas, Deus prova seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Rom 5;7 e 8

Assim, como O acusam ainda de indiferença? Contudo, diria alguém, quem o faz? Muitos. Por ocasião do devastador terremoto na Indonésia foi manchete de capa no jornal Zero Hora: “Onde estava Deus?” Ou seja: A culpa é Dele. Quando o menino Aylan morreu na fuga dos refugiados norte africanos e meso-orientais, e sua foto morto na areia da praia correu o mundo, ouvimos coisas semelhantes.

Agora, propagou-se como um vírus, outra foto de um menino sobre uma cadeira coberto de pó, a face esquerda de sangue, retirado de um bombardeio na Síria, e muitos postam suas indignações com frases tipo: “Como Deus permite algo assim com uma criança?” Ou, “Ele não se importa?”

Para início de conversa, nosso humanitarismo é pontual, seletivo, hipócrita. Primeiro, achamos que inocentes são apenas as crianças, pelo menos, quando os decapitadores de cristãos fazem seu “trabalho” há um estrondoso silêncio dos, agora, humanitários. Segundo, tal indignação sazonal subsome nas areias movediças do interesse tão logo, um fato “mais importante” como uma medalha olímpica, por exemplo, chame atenção.

Muitos cretinos tripudiam de coisas assim, realçando idiossincrasias políticas. Tarso Genro escreveu vasto artigo dizendo que Aylan fora vítima do “colonialismo europeu” subentendendo que o “socialismo” que defende é, sim, humanitário. 

Contudo, os petistas lutaram com afinco pela aprovação do aborto, e ainda o fazem. Para tais, uma criança morta na praia é uma tragédia digna de diatribes contra os culpados. Milhões de inocentes mortos pela promiscuidade irresponsável é um direito social.

Acaso perguntam “onde está Deus” antes de atentarem contra vidas indefesas? Afinal, para O Senhor, todos têm o mesmo valor, independe de raça, cultura, idade; mesmo, os adultos são desafiados a se fazerem como crianças pra herdarem a salvação, e, invés de Altíssimo, Todo Poderoso, Santíssimo, etc. somos instados a orar chamando a Deus de Pai. Que coisa mais infantil! Pois é.

Na verdade, todos desejam o que Deus propõe; igualdade, fraternidade, liberdade, paz. Contudo, rejeitam as condições. O Eterno se importa sim, e declara expressamente: “Vivo eu, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas, em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis...” Ez 33;11

Acontece que O Criador nos fadou à liberdade, capazes de optar, e além de nós, ama também à justiça. Assim, faculta as escolhas e determina as consequências. Quem conhece as Escrituras sabe que, foi justo, o excesso de violência que ensejou o juízo Divino do dilúvio. Só um completo imbecil, pois, olharia para violência contra inocentes achando que, isso não incomoda ao Santo.

Contudo, Sua “interferência” se dá mediante o ensino de Sua palavra, a qual, ordenou que se pregasse a todos. Esse “humanitarismo” fácil, cujo custo é mero exercício blasfemo da língua, nem de longe mostra quem Deus É; antes, qual índole do que, em palavras ocas presume se importar mais que Aquele que É amor.

O mestre foi categórico: “Ninguém tem maior amor que este: Dar sua vida pelos seus amigos.” Jo 15;13

Por fim, até as catástrofes “naturais” A Bíblia põe na nossa conta, por causa de nossa rebelião contra O Senhor. “...Na verdade a terra está contaminada por causa dos seus moradores; porquanto têm transgredido as leis, mudado os estatutos, e quebrado a aliança eterna. Por isso, a maldição tem consumido a terra...” Is 24;5 e 6


Ele seria indiferente se nos permitisse pintar e bordar, sem nenhuma consequência, mas, não será assim. “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo que o homem semear, isso também ceifará.” Gál 6;7

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Reis falidos

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Dizimais hortelã, endro, cominho, e desprezais o mais importante da lei, juízo, misericórdia e fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas.” Mat 23;23

Parece que nossos antepassados Fariseus faziam de bom grado as coisas fáceis, sem, contudo, se importarem em praticar o que era mais importante para Deus: “O juízo, a misericórdia e a fé.” O fato de algo ser prioritário, porém, não exclui a prática de outras coisas necessárias. O Senhor disse: Continuem fazendo essas coisas menores ainda, mas, pratiquem também as que são de maior relevância.

Com outras palavras o Mestre denunciou que eles coavam um mosquito e engoliam um camelo. O quê nos leva a sermos criteriosos com coisas pequenas, e relapsos com as principais? Provavelmente, o fato de que nosso “critério” não deriva de zelo de Deus, antes, não passa de uma selfie “espiritual” onde buscamos nosso melhor ângulo para nos expormos à torcida.

O homem espiritual sabe que está numa luta renhida, onde, nada menos que a verdade, aprendida, vivida e ensinada, o faz probo ante O Senhor. O hipócrita se satisfaz com um verniz dourado que o faça parecer áureo ante os olhos humanos, mesmo que, esteja desnudo diante de Deus. O danoso desse cristianismo “para inglês ver” é que, se mantido, nos fará herdeiros de uma “salvação” do mesmo calibre.

No fundo somos imediatistas demais para esperarmos viçarem os demorados frutos da fé. Assim, “recompensas” agora, prezamos mais que o galardão porvir. Por outro lado, a certeza que as consequências das más ações são demoradas também, nos dá “segurança” para seguirmos no escuro, imaginando que, um dia, oportunamente, sairemos à luz. Salomão ensinou: “Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8;11

Sabemos que pensamentos geram ações, ações forjam caracteres, e esses, colhem um destino. Enquanto não cambiarmos nosso jeito de pensar, seguiremos agindo apenas para a humana plateia, como que, cegos para a perdição que espera-nos, do outro lado do rio da vida.

Por isso, a conversão nunca começa no escopo das obras, antes, na mudança de mente, de coração, pois, feito isso, as coisas exteriores cambiarão também, tendo cambiado sua fonte, vejamos: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” Prov 4;23 “Deixe o ímpio seu caminho, o homem maligno seus pensamentos, e se converta ao Senhor...” Is 55;7 “Não vos conformeis com este mundo, mas, transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Rom 12;2 etc.

Cada um é rei no vasto império da vontade, e nossas escolhas pretéritas são as crônicas dos “decretos” que selamos desde nosso trono. Cristo, como a Herodes, soa uma ameaça à coroa que tanto prezamos.  Como aquele, hipocritamente queremos “adorar” o Novo Rei, embora, no fundo, obramos para que morra.

O que levou o Sinédrio a impor a Pilatos a morte do Messias, senão, o medo de perderem seu lugar? Pois, esse é o “problema” do Salvador: Ele quer o meu lugar. Disse: “Se alguém quer vir após mim, negue a si mesmo, tome cada dia sua cruz, e siga-me.” Luc 9;23

Desse modo, a conversão é absolutamente impossível à natureza caída, pois, teria que trair à própria inclinação que se opõe a Deus. “Porque a inclinação da carne é morte; mas, a inclinação do Espírito, vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois, não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, pode ser.” Rom 8;6 e 7

Esse é o papel da cruz. Matar um inimigo de Deus, e, em seu lugar, trazer à luz um filho adotivo mediante Jesus Cristo. Em quem aceitar tal renúncia, O Eterno se dispõe a fazer um transplante de órgãos, para possibilitar a obediência, antes, impossível. “Vos darei um coração novo, porei dentro de vós um espírito novo; tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis.” Ez 36;26 e 27


Feita essa mudança vital, nosso próprio agir há de ser uma mensagem ante quem vê, e nosso anseio pueril de exibir virtudes sumirá paulatinamente, pois, a atuação do Espírito Santo, “Sangue” do novo coração, pulsará para que se veja Cristo em nós. 

É só um presunçoso invés de convertido todo “cristão” quem inda não pode falar como João Batista, o amigo do Noivo: “Convém que ele cresça e eu diminua.” 

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A César o que não é de César

“Mas eles bradaram: Tira, tira, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso Rei? Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão César.” Jo 19;15

César, imperador romano era cabeça de um reino que oprimia e dominava Israel, cobrando pesados tributos, a ponto de, um judeu trabalhar para o império cobrando impostos de seus compatriotas ser considerado grave pecado, daí, o desprezo que sofriam os publicanos.

Contudo, no julgamento de Jesus disseram eles que preferiam o domínio de César. O que havia no Senhor que o fazia tão detestável a ponto de os líderes judeus preferirem a tirania de Roma?

Segundo vaticinara Isaías, parece que o lapso era estético: “...não tinha beleza nem formosura, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos.” Is 53;2 Embora não haja maiores referências físicas sobre O Salvador, exceto que, “crescia em estatura e em graça perante Deus e os homens”, a simples omissão de lapsos físicos demonstra que era Ele um homem normal. A falta de atrativos derivava de Seus ensinos, não, de atributos físicos, até porque, a esses ( os ensinos ) o profeta mencionara, antes, da “feiura” do Messias. “Quem deu crédito à nossa pregação...?”

Assim, a doutrina do Mestre soava sem atrativos aos judeus, não, Sua aparência. Porém, tão desprezível a ponto de preferirem César? Por quê?

Se atentarmos para Isaías uma vez mais, veremos que não pretendeu narrar a “coisa em si” como diriam os filósofos, mas, a coisa para si. Noutras palavras: Não, quem, de fato, era, O Senhor, mas, como seria aquilatado por seus ouvintes. Afinal, algo pode ser reputado mau, por ser, deveras, mau, ou, pela inépcia do avaliador.

O mesmo Senhor aludiu à importância da percepção apurada, para usufruto da luz espiritual. “A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz; se, porém, teus olhos forem maus,  teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” Mat 6;22 e 23

Acho que começamos a entender porque César assustava menos que O Salvador. João introduz sua narrativa colocando Jesus como opositor diametral dos seus ouvintes, diz: “A luz resplandeceu nas trevas, e as trevas não a compreenderam.” Jo 1;5

Com o Império Romano a coisa tinha certa harmonia. Malgrado os extorsivos tributos, havia concessões, como liberdade de culto segundo a crença judaica. O Senhor, por Sua vez, denunciou a hipocrisia de uma religião puramente formal, aparente, sem nenhuma essência, incapaz de agradar a Deus. Além disso, operou grandes sinais, que corroboravam Sua autoridade espiritual para contradizer doutrinariamente aos que se diziam doutores e mestres em Israel.

César não era ameaça ao “status quo”, pois, apesar dele, as coisas “iam bem”. Na verdade, desde que a humanidade passou a decidir por si mesma o bem e o mal, por sugestão de satanás, o bem passou a ser o comodismo, conforto, mesmo que conduza à perdição; o mal, correção, disciplina, não obstante, aja em prol da salvação.

Basta refletirmos uns segundos para vermos a massacrante vantagem numérica dos que preferem “César” aos ensinos do Salvador, mesmo, hoje.

Apesar dos pesados tributos de uma consciência culpada, as pessoas preferem a servidão no reino falido do pecado, uma liberdade condicional eventual, que é mera preliminar da prisão eterna, à cruz de Cristo que, mesmo tolhendo facilidades circunstanciais, reconcilia com Deus, silencia a consciência em paz, e permite a contemplação do Senhor como, de fato É, não, como parece aos maus olhos. “Dai ao Senhor a glória devida ao seu nome, adorai o Senhor na beleza da santidade.” Sal 29;2

O mais grave dessa perversão é que as pessoas dão a César o que não é dele; digo, ao escolherem as conveniências egoístas, carnais, não é isso estritamente, que escolhem. Antes, o domínio do “rei” alternativo que sugeriu independência humana invés da submissão a Deus. No fundo, ele é que está por trás de “César”, tipo de toda escolha comodista, indiferente ao Amor Divino.

O verniz hipócrita que compartilha nas redes sociais palavras bonitas e alugadas, não basta para disfarçar vidas feias, nem diante de homens com certo discernimento, quiçá, diante de Deus. Na verdade, podemos ser inimigos da Cruz de Cristo fazendo poesias e os mais belos encômios sobre ela.


Pilatos, então, representante de César lavou suas mãos hipocritamente enquanto fazia a escolha mais fácil ante Jesus. Quem avalia a aprovação humana como mais importante que a Divina, facilmente empresta seus lábios para “glorificar” a Jesus, enquanto seu coração clama por César. Quem não consegue ver feiura no pecado nunca verá a Beleza do Salvador; luz e trevas não coabitam.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O Gigante a vencer

“Disse Jessé a Davi, seu filho: Toma para teus irmãos um efa de grão tostado e dez pães, corre  levá-los ao arraial, a teus irmãos. Porém, estes dez queijos, leva ao capitão de mil; visitarás a teus irmãos, para ver se vão bem; e tomarás o seu penhor.” I Sam 17;17 e 18

Um pouco antes do célebre combate entre Davi e Golias, temos seu pai, Jessé enviando-o ao campo de batalha como mero supridor de logística e repórter, nada tendo a ver com o combate iminente.

Desse modo, sua inserção no exército, mais, seu protagonismo foi totalmente anormal, inesperado, surpreendente. Acontece que, a mente humana lida com a lógica, e essa, com circunstâncias, aparências, possibilidades naturais dos que a concebem.

Na verdade, mesmo os que pretendem conhecer e servir a Deus, traçam suas concepções “lógicas” como se, O Todo Poderoso fosse previsível às nossas mentes frágeis, ignorantes, limitadas. Paulo ensina: “( Deus ) ... é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos...” Ef 3;20, assim, “...As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam.” I Cor 2;9

Desse modo, tanto pode pegar mero anônimo que escolher para, mediante ele fazer grandes coisas, como fez com Davi; quanto, destronar um famoso, revelando as falsidades que esse oculta, como muito ocorre, infelizmente. Mediante Ezequiel acenou com algo semelhante: “Assim saberão todas as árvores do campo que eu, o Senhor, abati a árvore alta e elevei a árvore baixa, sequei a árvore verde e fiz reverdecer a árvore seca; eu, o Senhor, o disse, e fiz.” Ez 17;24

O Eterno não tem compromisso com nossas concepções lógicas, ademais, podendo ver corações, motivações, invés de meras aparências ou, ações, aquilo que nos é surpreendente, nada mais é, que o normal, para Ele. Esse é o papel da fé, pela qual o justo viverá. Ela supre os lapsos da nossa ignorância preenchendo as lacunas com a confiança irrestrita em Deus. “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do seu servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor, firme-se sobre o seu Deus.” Is 50;10

Mesmo o silêncio Divino tem lá sua eloquência para quem tem ouvidos espirituais. Pois, se “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem.” Heb 11; 1 também consegue, depois de conhecer a Deus, “ouvir” entrelinhas do silêncio providencial de um Deus amoroso e sábio. O silêncio de Deus não é necessariamente Sua aprovação, antes, concessão de liberdade para que tomemos nossas decisões à luz do que sabemos ser Sua vontade. Um convite à maturidade espiritual.

Contra um que equacionara silêncio com anuência, aprovação, O Eterno denunciou: “Assentas-te a falar contra teu irmão; falas contra o filho de tua mãe. Estas coisas tens feito, eu me calei; pensavas que era tal como tu, mas eu te arguirei, as porei por ordem diante dos teus olhos.” Sal 50;20 e 21

Na verdade, os que buscam grandezas para si são réprobos aos olhos Divinos. Então, geralmente Deus recicla rejeitos sociais para fazer grandes coisas; os que se satisfazem com sortes módicas, às vezes são escolhidos para feitos notórios. “Mas, Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; escolheu as coisas vis deste mundo, as desprezíveis, as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele.” I Cor 1;27 a 29

“A grandeza foge de quem a persegue, e persegue a quem foge dela”. (sabedoria judaica)

Assim, se há um gigante contra o qual temos que lutar inevitavelmente, esse, é o ego, que, malgrado a miserável sina de pecadores, insta mediante a natureza para que usurpemos o lugar de Deus, ansiando coisas que não nos cabem. Nessa peleja não estamos numa situação periférica, como fora inicialmente, a de Davi, antes, o protagonismo é nosso.


Seria injusto, Deus, que sonda corações requerer pureza de nós, quando nossas impurezas nos fossem ocultas; assim, nos ilumina mediante Sua Palavra, e capacita Pelo Espírito Santo, para que andemos na luz.

A mortificação do “Eu” só é possível na cruz, e nessa peleja a maioria estremece como estava o exército de Saul ante as ameaças de Golias. Contudo, os que recebem O Espírito e Nele andam, fazem das adversidades grandes vitórias, e dessas, encorajamento a outros que temiam uma igual luta. O mesmo gigante que amedronta quando vivo, se torna motivação para a luta, quando derrotado. 

domingo, 7 de agosto de 2016

Índice Olímpico

“Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas, um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis.” I Cor 9;24

Nada poderia ser mais “Olímpico” que a alegoria de Paulo escrevendo aos irmãos coríntios. Fez uma pergunta retórica; “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas, um só leva o prêmio?” Perguntas desse tipo não demandam resposta, pois, presumem lançar mão de algo pacífico, de domínio comum, coisa que se usa como reforço argumentativo, não, inquisição.

A prática de esportes era já bem difundida, graças às olimpíadas gregas, e precisamente, em Corinto, aos Jogos Ístmicos. Mais de uma vez o apóstolo usou isso como pano de fundo sobre o qual pintava em vívidas cores, traços da Doutrina de Cristo. Usou como símile a rigorosa disciplina dos atletas que tudo faziam por glórias efêmeras, depois, a figura de um boxeador treinando golpes contra inimigo imaginário: “Todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois, eu, assim corro, não, como a coisa incerta; assim combato, não, como batendo no ar.” Vs 25 e 26

Contudo, se todos correm, e, apenas um vence, estaria o apóstolo tencionando ensinar a competição entre os cristãos? Se fosse assim, sua lógica poderia ser frontalmente contestada, pois, noutra parte de seus ensinos teria sido amplamente “contraditório”, disse: “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também... Para que não haja divisão no corpo, antes, tenham os membros igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos padecem com ele; se um é honrado, todos se regozijam com ele.” Cap 12; 12, 25 e 26

Escrevendo aos Efésios ensinou que nossa luta não é contra carne e sangue, antes, contra inimigos espirituais. Seria nessa “arena” que deveriam os cristãos serem “atletas”? Se observarmos amiúde, a armadura, bem como os ataques do inimigo, veremos muito mais um valente defendendo um tesouro, que um atleta competindo por vitória.

O apóstolo mirava a disciplina rigorosa como estímulo aos cristãos, não mais. Se, num estádio correm muitos, e, apenas um vence, nas “pistas” particulares de cada servo, correm dois. Um, para o derrotar; a natureza pecaminosa, a carne; outro, para fazê-lo vencedor; o homem espiritual, renascido “treinado” pelo Espírito Santo. 

Assim, sem desmerecer à utilidade dos treinos físicos, enfatizou como superior o exercício espiritual, pois, conduz à conquista de uma “medalha” eterna. “Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas, a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir.” I Tim 4;8

Por isso, falou de si mesmo como atleta cioso da competição, capaz de renunciar muitas coisas, em prol de um alvo maior. “... subjugo o meu corpo, o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.” V 27

O problema é que a maioria dos crentes atuais acha que o ponto de partida é igual à linha de chegada. Eu creio! Afirmam, tenho fé, e nisso se acomodam. Devaneiam que a “fé” se resume a compartilhar ideias piedosas, ou, desejar coisas boas aos outros nas redes sociais, enquanto vivem suas vidas, cada qual, do seu jeito.

A fé é apenas “índice olímpico” que nos permite competir. Somos instados a uma série de conquistas após ela, para atingir o alvo. Pedro ensina: “...acrescentai à vossa fé, virtude, à virtude, ciência, à ciência, temperança, à temperança, paciência, à paciência, piedade, à piedade, amor fraternal, e ao amor fraternal, caridade. Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.” II Ped 1;5 a 8

Sem isso somos ociosos espirituais, estéreis, invés de vencedores. A epístola aos Hebreus denunciou aos de então, como lactantes velhos, que, de preguiça recusavam crescer. “Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar os primeiros rudimentos das palavras de Deus; vos haveis feito tais, que necessitais de leite, não, de sólido mantimento.” Heb 5;12

Com que olhos nos veriam os heróis da fé de Hebreus 11, gente que pagou por crer, com suas vidas, se, para nós, mera incompreensão de um irmão, ou, calúnia de ímpios é uma “cruz” insuportável?


Um só leva o prêmio da vida, o homem espiritual. Quando insta a que corramos de modo a alcançar, exorta-nos a andar em espírito, pois, “a inclinação da carne é morte; mas, a do Espírito, vida e paz.” Rom 8;6

domingo, 31 de julho de 2016

Incertas trombetas

Então o Espírito do Senhor revestiu a Gideão, o qual tocou a buzina, e os abiezritas se ajuntaram após ele.” Jz 6;34

Havia entre as tribos de Israel três modos de tocar trombetas; um, para levantar acampamento; outro, para reunir-se na “Tenda da Congregação”; por último, o toque marcial, que convocava soldados à peleja. Paulo ensinando a disciplina no uso do dom de línguas lançou mão disso como alegoria: “Se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?”  Preparar-se para a batalha ordenada por Deus, estava em jogo na convocação de Gideão.

Sem me aprofundar nisso, por ora, veremos outra nuance da questão: Se, foi o Espírito do Senhor que motivou Gideão ao feito, vamos pensar nas ações que empreendemos após a habitação Dele, em nós.

No Velho Testamento, Sua atuação sobre o homem era eventual, nas vidas de profetas, reis, sacerdotes, não, uma permanência contínua, como se dá aos filhos do “Novo Nascimento”.

Quando Samuel foi ungir Saul como rei, apontou alguns sinais horizontais que pautariam a marcha daquele, depois, o essencial: “O Espírito do Senhor se apoderará de ti, profetizarás com eles, tornar-te-ás um outro homem. E quando estes sinais te vierem, faze o que achar a tua mão, porque Deus é contigo.” I Sam 10;6 e 7

Esse, “faze o que achar a tua mão” não significa que O Espírito de Deus nos dá carta branca, antes, porque Deus é conosco, os pleitos Dele passam a ser nossos. Somos convocados, e convocamos outros ao Combate do Senhor.

Quem se pretende cheio do Espírito Santo, e, ainda é egoísta, mesquinho, raso, terreno, materialista, das duas uma: Ou, é uma fraude factual, o Espírito não o habita de fato, mas, o espírito do mundo inda o domina, ou, é um falido moral, no qual O Espírito Santo até habita, mas, entristecido, lutando com um fardo pesado.

Lembrei uma frase antiga: “Quando você aponta uma estrela para um imbecil, ele olha para a ponta do seu dedo.” Assim, o Espírito Santo aponta para o Alto, novos valores, perspectivas, vida eterna, riquezas que não se corrompem, mas, seu hospedeiro parvo, devaneia com as delícias da carne, corruptível.

Claro que, o convertido não cria asas e deixa o existenciário pretérito estando acima das tentações; antes, passa a ter dupla natureza, carnal e espiritual. A primeira é acossada pelos instintos animais, a segunda, alimenta-se da Palavra de Deus, e mostra sua “saúde” no silêncio de uma boa consciência, de quem anda, conforme a luz que possui.

Paulo ilustra os conflitos dessa dupla natureza: “Porque o que faço não aprovo; pois, o que quero, não faço, mas, o que aborreço isso faço. Se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas, o pecado que habita em mim.” Rom 7;15 a 17 A vontade perversa induz a certas coisas, que a consciência incorruptível reprova. Esse é o gládio de todo o convertido; uma luta interior para escolher a própria vontade, ou, a Divina.

Um pouco antes, Paulo ensinara a esses duplos arbitrários: “Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis; do pecado para a morte, ou, da obediência para a justiça?” Cap 6;16

Depois, uma promessa radiante aos que, movidos pelo Espírito Santo, encaram a cruz, e tomam para si a Vontade Divina: “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas, segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.” Cap 8;1 e 2

Então, quando ouvimos certos trombeteiros dizendo que chamam à Peleja do Senhor, mas, invés do pecado, das tentações, da corrupção carnal, a “luta” proposta é pela fama, dinheiro, prosperidade, e vaidades afins, com um mínimo de discernimento podemos ver, que o “Gideão” em questão usa Deus como pretexto aos seus interesses rasos, invés de ser usado pelo Espírito Santo nos pleitos do Altíssimo.

Ouso dizer que as pessoas que seguem aos maus líderes, raramente o fazem enganadas; antes, seguem-nos porque se identificam com a doença do “pastor”, “bispo”, “apóstolo”, ou, “missionário” em questão. “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências;” II Tim 4;3

Um ministro movido pelo Espírito Santo convoca à Peleja do Eterno; essa, é contra o pecado, o mundo, o maligno. Suas armas e inimigos são espirituais, as recompensas, idem. Aqui sol e chuva abençoam justos e injustos; lá, sem as vestes nupciais, ninguém entra

quinta-feira, 28 de julho de 2016

O último vinho

“Todo o homem põe primeiro o vinho bom, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas, tu guardaste até agora o bom vinho.” Jo 2;10

Interessante confissão do jeito humano de ser, por ocasião do milagre de Jesus, transformando água em vinho. Todo homem põe primeiro o bom vinho, depois que a galera está meio “alta”, o inferior.

Claro que esse “todo” é uma hipérbole, cujo alvo é realçar o jeito comum de ser da maioria, não pretende ser uma verdade absoluta, um escrutínio exaustivo do “modus vivendi” humano.

Entretanto, essa faceta nossa vai muito além do vinho; digo, em geral as pessoas mostram primeiro, ou, somente, o que acreditam ser suas melhores qualidades, ocultando, tanto quanto podem, seus defeitos. Por isso costumamos dizer que os outros sempre nos decepcionam. Claro que, formamos nossas expectativas a partir das primeiras impressões que nos passam, e, como fazem tudo para nos causarem as melhores, nossas expectativas também são altas.

Pense um instante, você que está lendo, quantas pessoas já te surpreenderam para cima, e quantas, para baixo. Digo, quantas, depois da primeira impressão se revelaram melhores do que pareceram, e quantas, piores.

Na verdade, nossa capacidade para o engano vai muito além, da de enganar aos outros; conseguimos “melhor” que isso, enganamos a nós mesmos. Alguém disse, não recordo quem, que, “O melhor negócio da terra seria comprar os homens pelo que valem, e revendê-los pelo que pensam que valem.”

Nosso “bom vinho”, pois, não raro, é fermentado nos arcaicos tonéis da presunção, e, o simples fato de precisarmos ser seletivos em nossa exposição, é já uma implicação de apurada autocrítica; de nos reconhecermos, ao menos em parte, feios, seja no âmbito moral, espiritual, estético... Como nas fotos da moda as pessoas buscam seus melhores ângulos, fazem caras e bocas pra exporem suas selfies, também as almas, buscam seus trejeitos psíquicos para saírem “bem na foto” da encenação social.

Infelizmente, nossas faculdades foram atingidas de tal modo, por ocasião do pecado, que, mesmo a noção de nossa maldade carece perspicácia, profundidade; assim, ao mero fato de vislumbrarmos outros cujo agir os faz parecer piores que nós, ante esse cotejo circunstancial, já nos presumimos, “bons”.

A Palavra de Deus não foi dada para massagear nosso ego pecaminoso, antes, denunciá-lo. Por isso diz: “Não há um justo sequer”; “Não um que seja bom, senão, Deus.” Sei que escrever algo radical assim fere certos orgulhos, mas, a simples existência desses, constata que a afirmação é verdadeira.

Deus, Onisciente como É, não alimenta ilusões a respeito de nossos caracteres. Mediante Isaías, nos desnuda: “Mas todos nós somos como o imundo, todas as nossas justiças como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam.” Is 64;6

Não combina, pois, com a Excelsa Sabedoria Divina esperar o “bom vinho” de nossas uvas mirradas. Denunciou certa vez que Seu povo escolhido o decepcionara, no tocante a isso; “Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? Por que, esperando eu que desse uvas boas, veio a dar uvas bravas?” Is 5; 4

Na verdade, quando O Salvador pediu de beber no auge da agonia, nossos representantes deram a “mostra do pano”: “Afrontas me quebrantaram o coração, estou fraquíssimo; esperei por alguém que tivesse compaixão, mas, não houve nenhum; por consoladores, mas, não os achei. Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre.” Sal 69;20 e 21

Sabendo o que podemos produzir, O Senhor requer que reconheçamos a ruindade de nosso vinho, primeiro, ( arrependimento, confissão ) para que, o bom vinho da regeneração no Espírito Santo, o novo nascimento, possa, enfim, ser milagrosamente produzido em nós, se, tão somente nos esvaziarmos de nossas pretensões, e deixarmos Ele nos encher com a Bendita Água da Vida.

Depois da queda, nenhum homem, por melhor que tenha sido, logrou ser outra vez, “imagem e Semelhança”, como fora o primeiro. As melhores videiras ainda davam frutos degenerados, uvas bravas. Por isso, Jesus Cristo, o “Segundo Adão”, pautou a diferença entre si, homem sem pecados, e os demais, dizendo: “Eu sou a videira verdadeira, meu Pai é o lavrador.” Jo 15;1

Diverso dos homens, Deus deixa o melhor para o fim, por isso, desafia à renúncia, entrega, obediência; a cruz. Aos que forem aprovados na sala de testes da vida terrena, propõe bem aventurança eterna, festa nos Céus, as Bodas do Cordeiro.


Assim, O Santo nos ordena que semeemos com lágrimas, e garante que ceifaremos com alegria. O homem dissimula defeitos com máscaras de qualidades, Deus corrige-os podando seus ramos, para que, as virtudes que ensina e fomenta frutifiquem inda mais.