sábado, 27 de outubro de 2018

Água ou vinagre?

“Afrontas me quebrantaram o coração; estou fraquíssimo; esperei por alguém que tivesse compaixão, mas, não houve nenhum; por consoladores, mas não achei. Deram-me fel por mantimento; na minha sede me deram vinagre.” Sal 69;20 e 21

Alguns hermeneutas defendem que muitos profetas de Deus falaram coisas inspiradas pelo Seu Espírito sem compreender o “sensus plenior”; isto é: O sentido mais exato intentado. Como se, ele fosse inspirado a dizer algo que não compreendia, ou, entendia no seu contexto, embora, a perspectiva Divina fosse remota.

Desse modo, nos versos acima do angustiado e fugitivo Davi, bem poderia ele estar cogitando da própria sina, embora, tenha se cumprido textualmente na de Jesus Cristo, que, quando teve sede em Sua agonia deram-lhe vinagre.

Malgrado, o heroísmo de Davi ao derrotar Golias, se tornara desafeto do invejoso Saul que o tentou matar várias vezes. Isso o fez proscrito, errante por montanhas e cavernas em busca de refúgio; até entre inimigos filisteus teve que se esconder.

Muitas vezes, quando ansiava por apoio cruzava com perfídia; delatores que, encontrando-o, anunciavam a Saul. Assim, poeta que era, escreveu: “Na minha sede me deram vinagre”. Em miúdos: Na minha aflição me afligiram inda mais.

Se, a ideia do “sensus plenior” é coerente, a mim parece, isso explicaria muitas profecias com duplo cumprimento; um na perspectiva do profeta; outro, remoto. Como: “Do Egito chamei meu filho”; Os 11;1 Tanto pode se referir ao Êxodo da Nação de Israel, (pretérito já) quanto, ao retorno de Jesus após a morte de Herodes. (futuro)

Ou, “O Senhor teu Deus te levantará um profeta do meio de ti e teus irmãos, como eu; a ele ouvireis;” Deut 18;15 Então, poderia se referir a Josué, sucessor de Moisés; no futuro, ao Senhor Jesus. Etc.

Mas, deixando essas “teologices”, meditemos um pouco sobre nossa atuação quando, alguém ao nosso lado está aflito. Como agimos? Na sede do tal, damos água, ou, vinagre?

Os amigos de Jó quando souberam da tragédia que, se lhe abateu foram ao seu encontro. Sua entrada foi espetacular no palco da empatia. “Assentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande.” Cap 2;13

Já pensou na cena? Chegarem quatro amigos ao lado do desgraçado e assentarem-se ao seu lado em silêncio total, por respeito à sua dor durante sete dias e sete noites? Que forma eloquente de dizer: “Tamo junto!”

Porém, se, sua compreensão empática reservou o direito das primeiras palavras ao sofredor, quando falaram, seu achômetro teológico começou a imputar culpas que o infeliz não tinha. Mesmo que as tivesse; no sentido de pecados, apostasia; como acusavam-no, dada a grandeza da sua dor deveria ser consolado, segundo ele mesmo disse; “Ao que está aflito devia o amigo mostrar compaixão, ainda ao que deixasse o temor do Todo-Poderoso.” Cap 6;14

Mais um caso de sede “saciada” com vinagre. Ele mesmo os comparou a ribeiros sazonais que, em determinadas épocas secam; os viajantes que esperavam encontrar refrigério pra sede, neles, se envergonhavam; “Os caminhantes de Tema os veem; os passageiros de Sabá esperam por eles. Ficam envergonhados, por terem confiado; chegando ali se confundem.” 6;19 e 20

Jeremias usou a mesma figura como metáfora à decepção; “Por que dura minha dor continuamente, e, minha ferida me dói, já não admite cura? Serias tu para mim como coisa mentirosa, como águas inconstantes?” Cap 15;18
Notemos que ele esperava ser consolado, não, que Deus fosse como os ribeiros sazonais.

Adiante, aliás, ele mesmo figurou a confiança no Santo, com algo mais proveitoso que meras estações de chuva. “Bendito o homem que confia no Senhor, cuja confiança é o Senhor. Porque será como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro; não receia quando vem o calor, mas, a sua folha fica verde; e no ano de sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto.” Cap 17;7 e 8

Ninguém pode dar o que não tem; para sermos doadores de Água Viva carecemos dela, primeiramente. Isso requer que bebamos de Cristo para termos nossas “raízes junto ao Ribeiro”; “Aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte que salte para vida eterna.” Jo 4;14

Como água e vinagre não se misturam a sede do espírito não pode ser saciada alhures. O Salvador chama: “... quem tem sede, venha; quem quiser, tome de graça da Água da Vida.” Apc 22;17

Ou, buscamos consolação Nele e Seu Espírito Santo, ou, restará apenas o vinagre das doutrinas espúrias. “... Por que buscais o vivente entre os mortos?” Luc 24;5

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