domingo, 5 de março de 2017

Pais e filhos

“Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução, nem, são desobedientes.” Tt 1;6

Paulo aconselhando Tito sobre a escolha de ministros para as igrejas de Creta, buscando as qualidades do pai refletidas na criação dos filhos. Muito embora, cada ser humano seja um indivíduo arbitrário, único, por certo, qualidades, ou, defeitos dos pais se refletem na formação dos filhos.

O ensino, inegavelmente tem seu valor, porém, nada mais penetrante, mais eloquente, que o exemplo. Ninguém mais influenciável, permeável ao exemplo, que os filhos, dada a proximidade, o convívio. Assim, salvo, raras exceções, os caracteres dos filhos são reflexos dos pais.

Encenação, hipocrisia, podem até enganar ostentando teatralmente virtudes ausentes, em se tratando de pessoas de convívio esporádico, eventual; porém, numa relação full time, como, entre pais e filhos não é possível encenar.

O exemplo é um didata paralelo, um estímulo extra para motivar às boas escolhas, mas, por si só, não basta. Aí, entra a correção, a disciplina. Essa, contudo, perde eficácia desprovida do acessório do exemplo. Ou seja: Não pode um pai disciplinar um filho por cometer determinado erro que, ele também comete; desse modo, seu exemplo desautoriza a pretensa disciplina.

Não há registro que o sacerdote Eli fosse profano no exercício de sua ocupação; contudo, seus filhos eram, no tocante às coisas consagradas. Ele se fez relapso na disciplina, apenas repreendendo tenuemente, quando, deveria ter exercido sua autoridade de Pai. Mediante um profeta O Senhor disse que ele honrava a seus filhos, mais que a Si. “Por que pisastes o meu sacrifício e minha oferta de alimentos, que ordenei na minha morada, e honras a teus filhos mais do que a mim, para vos engordardes do principal de todas as ofertas do meu povo de Israel?” I Sam 2;29

Essa grave negligência paterna custou seu sacerdócio, e a vida de seus dois filhos, Hofni e Finéias. As promessas de bênçãos no tocante a nós são condicionais, dependem de nossa permanência no propósito Divino, senão, já era. “Portanto, diz o Senhor Deus de Israel: Na verdade tinha falado eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente; porém, agora diz o Senhor: Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram honrarei, porém, os que me desprezam serão desprezados.” V 30

Os maus filhos não apenas denunciaram ao mau pai, eles fizeram mais: Puseram a perder o sacerdócio dele, as próprias vidas, e motivaram O Eterno a revogar uma promessa para toda a linhagem, por ter sido, O Santo, desonrado.

Desse modo, todo pai que, sabedor que Deus deseja ensino, disciplina, se omite para não “fazer mal” aos pequenos, no fundo, honra-os mais que a Deus.

Ora, a correção, a disciplina nunca é agradável no seu plantio, antes, fere uns e outros; mas, sempre é alegre o resultado de sua colheita. “Na verdade, toda a correção, no presente, não parece ser de gozo, senão, de tristeza, mas, depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.” Heb 12;11

Isso é tão sério que, a Bíblia usa uma linguagem dura para definir os avessos à disciplina: “Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há que o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, não, filhos.” Heb 12;7 e 8

Em nossos dias, O Estado, esse gigante corrupto e imoral, arvora-se onde não lhe cabe, querendo ingerir na relação de pais e filhos. Mediante agentes amorais, quiçá, imorais, cria mecanismos que visam tolher a salutar correção paterna, como, a famigerada “Lei da Palmada” onde, um pai pode ser preso se der uma palmada num filho rebelde. Ora, a Constituição, parâmetro das ações do Estado diz que é livre a opção religiosa de cada um; na minha, a Bíblia, diz que, um pai que ama, corrige, até com vara, se necessário. Portanto, uma lei inconstitucional, contraditória, que, não preciso cumprir.

Que o Estado lave-se de sua muita sujeira e corrupção, antes de pretender nos ensinar valores que desconhece. Criação de filhos, transmissão de princípios, valores, é tarefa dos pais, intransferível. E, como vimos no princípio, filhos dissolutos desqualificavam aos pais para o ministério espiritual.

Infelizmente, a maioria dos pais de nosso tempo não tem moral para cobrar postura decente dos seus filhos, pois, falta o tempero do exemplo. Aí, posam de modernos, liberais, para mascarar a própria vergonha de terem falhado no processo de formarem filhos corretos.

Como as sementes das plantas lá do Gênesis, estamos fadados a reproduzir, “Conforme a espécie.” Quem não gosta do som do eco, deve mudar o grito.

sexta-feira, 3 de março de 2017

A Obra; as obras

...Que faremos para executar as obras de Deus? Jesus respondeu: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que Ele enviou.” Jo 6;28 e 29

Os interlocutores do Senhor se dispunham a um trabalho plural; “obras de Deus.” Entretanto, foi apresentado um desafio singular. “A Obra de Deus é Esta: Que creiais...” Isso deve ter facilitado as coisas, ou não?

Bem, tendemos a ser varejistas, onde O Criador é Atacadista. Digo, Ele trata primeiro coisas mais relevantes, num prisma geral; depois, as menores, no particular. Assim, quando João Batista apresentou O Messias, o fez, nesses termos: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!” Notemos a singularidade uma vez mais; “O pecado”.

Uma série inumerável de pecados acontece a cada segundo num mundo tão autônomo, despido de valores como esse; contudo, o que estava em jogo na Cruz de Cristo, era o pecado da rebelião contra O Domínio de Deus; a independência sugerida pelo traíra. Qualquer que, ouvindo a Boa Nova se arrependa e confesse, deixa “O pecado”, da rebelião, embora, ainda cometa muitos pecados.

O convertido reconhece o Senhorio do Eterno, pois, mesmo estando inda refém, pelo hábito, dos pecados, o pecado da autonomia, já foi deixado. O abandono gradativo dos erros, o processo de santificação, é algo que, nos acompanha por toda a vida.

Do ponto de vista de Deus, a questão do pecado está resolvida; tanto que, ao vencer, O Salvador disse: “Está consumado!” Porém, no tocante a cada um de nós, toda vez que erramos o alvo, restam pendências espirituais, que mediante nosso Advogado, precisamos dirimir. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar e purificar de toda a injustiça.” I Jo 1;9

Dito isso, a questão da Obra e das obras segue rumo paralelo. A Bíblia não chama uma boa obra do ímpio, de má; antes, de obra morta, uma vez que, assim está espiritualmente seu protagonista. 

Outro dia deparei com uma zombaria de ateus escarnecendo do que chamaram de “lógica cristã”, onde, um de vida torta, más obras, se converteu perto da morte e foi salvo; outro, de muitas boas obras, morreu e se perdeu “apenas” por ser ateu.
A ignorância prudente até posa de sábia, à sombra do silêncio; mas, quando perde a modéstia, se faz engajada nas suas trevas, invariavelmente cai no ridículo.

Sua ênfase era tal, que pareciam ter achado nosso “Tendão de Aquiles.” Ora, obras só contam depois “da Obra”; “que, creiais naquele que Deus enviou.” Esse passo, transporta da morte para vida, e, vivendo, devemos sim, praticar boas obras, como testemunho da regeneração, não, como meio de patentear pretensa justiça própria. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais, Deus preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;8 a 10

A implicação da incredulidade é blasfema, pois, equivale a chamar Deus de mentiroso. Por isso, os incrédulos são vistos em companhia de outros não muito recomendáveis, vejamos: “Mas, quanto aos tímidos, incrédulos, abomináveis, homicidas, fornicadores, feiticeiros, idólatras e a todos os mentirosos, sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte.” Apoc 21;8

Em Cristo, a Obra de Deus propõe um segundo nascimento, ou, novo nascimento, “da água, (Palavra) e do Espírito;" mas, os que recusam crer preservam a atual morte espiritual, e rumam à segunda morte, a separação eterna do Criador.

Se, o prisma é a lógica, e, a sentença pelo pecado, a morte, me soa cristalinamente lógico, que, enquanto o pecado não for tratado pela “Obra de Deus”, estejam necessariamente mortas, as melhores obras humanas. Após a conversão, até dar um copo d’água terá galardão.

Enquanto incrédulos recusam O Dom de Deus, recebem compulsoriamente Sua Justiça. “Porque o salário do pecado é a morte, mas, o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.” Rom 6;23

Cornélio, o romano, tinha muitas obras boas, entretanto, não bastaram para que fosse salvo; Pedro foi enviado a ele, para que anunciasse Jesus. Ele creu; foi salvo.

É possível que um morto bem maquiado tenha melhor aparência que um maltrapilho, sujo. Porém, esse está vivo. Assim, o que crê, por ruim que seja seu pretérito, recebe o presente da vida; o incrédulo por boas que tenham sido suas ações, rejeitando “A Obra de Deus”, trai a si mesmo. O Túmulo de mármore ainda é um túmulo.

Ninguém eleva-se do solo puxando os próprios cabelos; “sem mim, - disse O Salvador - nada podeis fazer”.

quinta-feira, 2 de março de 2017

O trabalho e os cães arrependidos

O Espírito e a esposa dizem: Vem. Quem ouve, diga: Vem. Quem tem sede, venha; quem quiser, tome de graça da água da vida.” Apoc 22;17
Como vemos nesse, e, em muitos textos mais, Água da Vida, deve ser distribuída sem custo. Porém, muitas igrejas modernas parecem privadas da mesma; aí, substituem por um simulacro, para o qual, têm taxas extras para bombear de seu “volume morto”, das profundezas poluídas das suas barragens de cobiças; aí, passam a vender o que não possuem, a incautos que pagam pelo que não irão receber.

Não me refiro a obrigações elementares, que são bíblicas e necessárias para manutenção do trabalho, mas, à rapina desavergonhada dos mercadores, tão em voga nesses difíceis dias que vivemos. Mesmo o trabalho sendo uma bênção, a maioria das pessoas devaneia fugir dele, achar alguma forma, um “salto” que permita viver livre das garras desse “feitor” de progresso. Basta observar as filas nas lotéricas, para constatar que falo a verdade.

Assim, os mercenários góspeis, cientes dessa deformidade humana, a exploram, prometendo prosperidade mediante mandingas, ofertas “semente-de-fé”, campanha disso ou daquilo. A vulgar e doentia ideia de “semear” na “lavoura de Deus” para ceifar cem vezes mais. Mas, diria alguém, não é bíblico que ceifaremos conforme o plantio? É. Porém, o aferidor é a motivação com a qual foi semeada, em cima dessa, os “semeadores” ceifarão.

Ceifar diferente do plantio, foi equacionado por Paulo, com escarnecer do Criador; pois, determinou que cada semente reproduzisse conforme sua espécie. Assim, sentenciou: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo que o homem semear, isso, ceifará. Porque o que semeia na carne, da carne ceifará corrupção; mas, o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará vida eterna.” Gál 6;7 e 8

Quem, invés de buscar aperfeiçoamento, santificação, devaneia com matéria farta, malgrado os vícios da alma, ainda não tratados, semeia na carne, ou, no Espírito? Ora, os que nasceram de novo são instados a buscarem coisas de cima, ajuntarem tesouros no Céu; os que, seguem mortos carecem urgentemente, Água da Vida, para que passem a viver, como ensinou O Salvador. Senão, tanto faz serem prósperos ou não, dada sua indigência espiritual.

Óbvio que cada um só pode dar do que possui; e, a impressão que certos “ministros” nos passam é que, sequer, convertidos são, pois, tendo conhecido a Bendita Face do Senhor, não estariam mais mirando sôfregos para a efígie de César. Aos mortos, a tarefa de sepultar seus mortos, disse Jesus; aos salvos, a nobre missão de gerar novos salvos, via testemunho, pregação. Por isso, “Quem ouve, diga: Vem!” Ou seja, que já ouviu Ao Senhor, bebeu da Água da Vida, foi salvo, pode também ser partícipe da missão de anunciar a outros a Luz do Salvador.

Embora alguns defendam a tese do, “uma vez salvo sempre salvo” negando a possibilidade da queda de um vero convertido, a Bíblia afirma, expressamente, e, adjetiva aos tais, de cães arrependidos, vejamos: “Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas, vencidos, tornou-se o último estado pior que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes foi dado; deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao próprio vômito, a porca lavada ao espojadouro de lama.” II Ped 2;20 a 22

Prosperar mediante meios lícitos é a ordem natural. Sequer, busco a filosofia barata do, “Trabalhe fazendo o que gostas”, ou coisa assim. Uma ova! Eu trabalho fazendo o que não gosto, na maioria das vezes, o que “tem pra hoje” como se diz. Gosto é do fruto do trabalho, que me propicia viver honesto, certo conforto, quiçá, prosperidade. É assim que a banda toca. Quando O Eterno disse: “Do suor de teu rosto comerás teu pão”, não estava amaldiçoando ao homem com trabalho, que é uma bênção. Estava sim dizendo: “Como optastes por autonomia, independência, não sou mais responsável pela tua manutenção; mãos à obra, mete o peito n’água e faz por ti.”

Enfim, a Água da Vida ainda jorra em determinadas fontes, mas, a triste sensação que corrói o peito dos servos idôneos, é de que eles são uns inoportunos, com um balde de água limpa, ante uma plateia que tem sede de metais...

Todavia, se alguns ainda puderem sentir essa sede bendita, que impulsiona à vida, por esses, inda vale que trabalhemos. “aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.” Jo 4;14

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O Ministério do Espírito

“Mas, eles foram rebeldes, contristaram o seu Espírito Santo; por isso se lhes tornou em inimigo; Ele mesmo pelejou contra eles.” Is 63;10

Depois das muitas demonstrações de amor, cuidado, provisão, livramento, o resumo da relação de Israel com Deus, é que se tornaram rebeldes, entristeceram Seu Espirito, que, se lhes fez, enfim, Adversário. Como é ter O Bendito Espírito nos consolando, amparando, iluminando, sabem os abençoados que receberam Excelso Dom; agora, tê-lo como Adversário, deve ser uma experiência terrível.

Na verdade, tinham deixado de confiar no Eterno, devaneado com socorro humano, justo, do Egito, de onde, em dias passados foram resgatados com Poderosa mão. Deus denunciou, mediante o profeta: “Ai dos filhos rebeldes, diz o Senhor, que tomam conselho, mas, não de mim; que se cobrem, com uma cobertura, mas, não do meu espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado; que descem ao Egito, sem pedirem meu conselho; para se fortificarem com a força de Faraó, confiarem na sombra do Egito.” Cap 30;1 e 2

Quer dizer que ir para o Egito é pecado? Não. Contrariar a voz do Espírito Santo; pior, buscar alhures uma “alternativa” a Ele, sim, é mais que pecado, insensatez, loucura. Certa vez, quando houve grave fome em Canaã, os filhos de Israel, sabendo que havia trigo no Egito, migraram pra lá, fizeram, justo, a Vontade de Deus. O Espírito estava atuando mediante José; irem, seus irmãos para lá, então, era a coisa certa a fazer.

Ocorre-me de passagem a diferença entre legalismo, que é rígido, dogmático, intransigente, e Ministério do Espírito, flexível, inovador, criativo, vivificante. Não há Leis específicas como os Dez Mandamentos, no Novo Testamento; apenas dois, atinentes ao amor a Deus e ao próximo. Mesmo naqueles dias, os de Isaías, O Ministério do Espírito, que viria após o Pentecostes, fora vaticinado já. “Teus ouvidos ouvirão a palavra do que está por detrás de ti, dizendo: Este é o caminho, andai nele, sem vos desviardes nem para direita nem para esquerda.” Is 30;21

Dois exemplos sobre a diferença entre o legalismo e a Lei do Espírito. Deus ordenou que Abraão sacrificasse seu filho em Moriá. Quando o patriarca estava prestes a fazê-lo, deu outra ordem dizendo: “Não faças isso”. Um fanático legalista diria que Deus não se contradiz; que o inimigo estava tentando-o, querendo impedi-lo de fazer a “Vontade do Criador.” Teria matado Isaque. Deus tem liberdade de testar nossa fé, reformar o que disse, mudar seu juízo ante mudança humana, como fez com Nínive. Ele É O Senhor.

Paulo estava indo a determinada cidade pregar, mas, durante a noite, em sonho, alguém dizia-lhe: “Passa a Macedônia e ajuda-nos”; ele entendeu que era uma ordem do Espírito Santo. Poderia ignorar, reputar, mero sonho, seguir o rumo. Seria pecado ir a outra cidade pregar o Evangelho? Em princípio, não; mas, ao ignorar uma ordem expressa do Espírito, pecaria, sim, por desobediência. Desse modo, O Espírito Santo, Dádiva do Novo Testamento, não lida com dogmas, mandamentos escritos, antes, com servos submissos, sensíveis à Sua Voz, que se deixam, por ela conduzir.

Eis, a essência do Novo Testamento! Um Dom, Uma Unção, que nos faculta conhecermos Deus, cada qual numa medida, mas, todos na medida necessária para entenderem Sua Vontade. “(Pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou) desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus.” Heb 7;19 “Porque esta é a aliança que depois daqueles dias Farei com a casa de Israel, diz o Senhor; Porei minhas leis no seu entendimento, em seu coração as escreverei; E eu lhes serei por Deus, E eles me serão por povo; não ensinará cada um a seu próximo, Nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; Porque todos me conhecerão, Desde o menor deles até ao maior. Porque serei misericordioso para com suas iniquidades, de seus pecados e suas prevaricações não me lembrarei mais.” Heb 8;10 a 12

Em suma, a fé, me faz descansar firmado naquilo que O Mestre ensinou; a consciência é a tela onde O Espírito pode escrever coisas novas, se quiser; essas duas faculdades, bem nutridas me guardarão em parceria com O Santo, invés de Tê-lo como adversário; o barco da minha salvação estará seguro, aludindo a uma figura de Paulo que disse: “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.” I Tim 1;19

A “Nova Lei” livra convertidos da outra, que foi infinitas vezes transgredida. “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas, segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.” Rom 8;1 e 2

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Presunção; "nosso" lugar de Deus

“Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.” Rom 1;22

Eis algo bem atual, falta de noção! Aqui, expressa de modo mais amplo. Um abismo entre o que, os tais, diziam de si mesmos, e o que eram, deveras.

“O homem, medida de todas as coisas”, na filosofia de Nietzsche, ou, antropocentrismo, numa abordagem teológica, a absoluta falta de Absolutos, enseja essas discrepâncias entre o juízo particular e a realidade.

Claro que, a constatação de que os pretensos sábios eram loucos, demanda um juízo sábio, superior, de quem possui o Saber Absoluto, Deus. De outra forma, fosse mera opinião de Paulo, seus apontados redarguiriam e fariam a ele a mesma acusação; a coisa se arrastaria indefinida à exaustão.

Há no inconsciente humano um devaneio de que, a liberdade seja absoluta, e não é, nem mesmo para Deus. Quando O Altíssimo diz: “Eu velo pela Minha Palavra para cumprir”, isso O faz “refém” de Sua Própria integridade, sem falar que ama as pessoas, e o amor, de certo modo, aprisiona também.

A fixa dualidade proposta, Deus, ou, inimigo; luz, ou, trevas; verdade, ou, mentira; salvação, ou, perdição; vida, ou, morte; restringe nossa liberdade a uma escolha simples, um lado ou, outro; as consequências virão “de lambuja”. Somos “senhores das escolhas e escravos das consequências.” Como disse Pablo Neruda.

Na verdade, o homem natural, dada sua escravidão às paixões da carne, sequer consegue escolher sozinho o caminho da luz, antes, teme-o. “...a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.” Jo 3;19 e Paulo amplia, expondo o motivo: Escravidão aos pendores carnais, aos instintos naturais. “Porque a inclinação da carne é morte...” Rom 8;6

Os defensores da predestinação advogam que, por essas e outras, os homens não têm escolha. Deus salva Seus escolhidos, sem nenhuma participação humana. Dizem, com acerto, que sem Cristo estão mortos, e perguntam, a título de argumento: “Pode um morto fazer escolhas?” A resposta óbvia parece ser, não. Entretanto, não é tão simples assim. O Salvador disse: “Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, os que a ouvirem viverão.” Jo 5;25

Ele coloca no indicativo: Ouvirão. Depois, no subjuntivo; os que ouvirem. Isso implica, necessariamente, uma escolha. Como pode ser? Bem, a confusão deriva de ignorarmos uma regrinha básica de interpretação ensinada por Paulo, onde acusa ao homem natural de não entender, enquanto o espiritual entende, “...comparando as coisas espirituais com as espirituais.” I Cor 2;13
Assim, o morto espiritual é alguém como Adão, pós queda, com consciência pesada, quando não, cauterizada, medo de Deus, escondido. Isso não equivale à não existência. Mesmo assim, objetaria alguém, se a morte é separação de Deus, vida na carne, e essa inclina-se a perdição, como faria, eventual escravo, a boa escolha? Eis uma boa pergunta!

Quando ensinou sobre a necessidade do Novo Nascimento, tanto para ver, quanto, entrar no Reino, O senhor disse que o tal se dá, “Da água e do Espírito.” A “Água” É A Palavra, O Senhor chamou de Água da Vida, quando essa jorra, quando é pregada, digo, O Espírito Santo atua paralelo, possibilitando ao pecador, a entender o básico do que está em jogo, e tenta persuadir a que esse faça a boa escolha. Sem forçar, entretanto, pois, há advertências quanto a não resistirmos ao Espírito. Resistência, óbvio, é escolha.

Minha escolha, por sábia que seja, pois, não me faz livre. Ou me faz servo de Deus, ou, me mantém onde estou na vida natural, que, como o mundo todo, “Jaz no maligno”. Claro que, em Deus, liberdade relativa existe; somos livres para atuar, dentro de parâmetros que não firam Sua Santidade. Alguém já ouviu de uma “Possessão” benigna? Digo, O Espírito de Deus pegando alguém à força? Contudo, legiões de demônios fazem isso todos os dias.

Certa vez, o assunto era homossexualismo, o Faustão disse sob muitos aplausos, que ninguém tinha nada com isso, cada um deveria fazer de sua vida o que quisesse, se intromissão de outrem. Porém, ao dizer como cada um deveria ser, intrometeu-se na vida de milhares que o assistiam. Assim, mostrou-se incapaz de beber o líquido que receitava.

Sempre que alguém nega o devido Lugar ao Criador, acaba, querendo ou não, tomando Seu lugar. Essa é a ideia, disse o capeta, esfregando as mãos! Enfim, pouco ou nada vale o que penso de mim mesmo. Aquele que sabe todas as coisas exporá o juízo perfeito.

Pois, nossa presunção nos inflaciona demais. Alguém disse: “O melhor negócio da Terra seria, comprar os homens pelo que valem, e revendê-los pelo que, pensam que valem.”

Impagável

“Então José, seu marido, como era justo, não queria infamá-la, intentou deixá-la secretamente.” Mat 1;19

Ao saber da gravidez de Maria, José, como qualquer noivo traído teria todos os motivos para reivindicar reparação de sua honra, malgrado, isso infamasse sua noiva, quiçá, ensejasse até, sua morte, mediante apedrejamento, conforme as circunstâncias do feito. Entretanto, sabedor da gravidez dela, apenas tencionou afastar-se; de certa forma, protegendo-a, ainda.

Como não pensar da definição do amor, feita por Paulo! “O amor é sofredor...” O “amor” que o mundo cultua, aos belos, famosos, talentosos, bem resolvidos financeiramente, enfim, aos que, de alguma forma me “recompensam”, no fundo, é apenas amar a mim mesmo, meus anseios, predileções...

Amor verdadeiro “dá prejuízo”; digo, se basta a despeito de recompensas; arrisca-se à não correspondência do amado; não o ama pelo que seu alvo é; antes, pelo que o amor é, em si mesmo.

Assim, quando alguém diz: “Não mereço ser amado”, mesmo que, tenha uma visão correta sobre seus méritos, ignora por completo os motivos do amor. “Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois, poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas, Deus prova Seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Rom 5;7 e 8

Ainda que, à vista de nossos escrúpulos rasos, pecado, nem seja tão grave assim, aos olhos Daquele que, “É tão puro de olhos, que não pode contemplar o mal” Hc 1;13 Pecado é feitor de inimizade, motivo de separação. “...vossas iniquidades fazem separação entre vós e vosso Deus; vossos pecados encobrem o seu rosto de vós...” Is 59;2 Ou, “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” Tg 4;4

Então, quando nos ordena que amemos nossos inimigos, O Eterno não requer nada que, Ele mesmo não faça.

Não que seja errado, amor próprio. Em certa medida é saudável, natural. Tanto que, O Salvador tomou-o como aferidor de medida do amor devido a nosso semelhante. “Ama teu próximo como a ti mesmo.” Assim, se, numa escala de zero a dez, meu amor próprio for de cinco, essa será a medida que devo aos demais. Porém, se, em meu narcisismo, egoísmo, encher minha escala até o dez, quanto maior será minha dívida?

Em sua explanação do amor, Paulo depreciou todos os dons, todos os atos, se, divorciados dele; “ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se, não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.” I Cor 13;3 etc.

Porém, diria alguém, dar os bens aos pobres e se sacrificar não é um gesto de amor? Não, necessariamente. Muitos “dão” diante das câmeras, ou, das multidões, em busca de aplausos, alimento do ego, do amor próprio; outros, martirizam-se em atos de terrorismo, pelas “recompensas de Alá”, amor próprio, egoísmo, uma vez mais.

Acontece que não existe um “salto” que aproxime e faculte amar a Deus em si; meu amor por Ele, deve ser expresso aqui, nos demais alvos do Seu amor, que me são próximos, palpáveis. “Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós; em nós é perfeito o seu amor.” I Jo 4;12 O amor a Deus, propriamente, se manifesta mediante apreço À Sua palavra. “Mas, qualquer que guarda a Sua Palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos nele.” I Jo 2;5

Acontece que se disseminou a ideia errônea que o amor é mero sentimento; assim sendo, sequer mandamento poderia ser, pois, não tenho controle sobre os tais, nem, para os fazer brotar, nem, para fazê-los morrer. O amor cristão é uma escolha, uma decisão moral fundada sobre a Palavra de Deus, não, sobre a areia movediça de meus sentimentos oscilantes.

Com certeza, sentimentos de tristeza, frustração, decepção, assomaram no coração confuso do “noivo traído” José, ao saber da gravidez de sua noiva. Ainda assim, certamente a amava de um modo digno, pois, preferiu ruminar sua dor, a expor sua amada à má fama; nobre gesto.

Porém, O Eterno assumiu Sua “culpa”, e defendeu a inocência da Sua serva, a qual disse que José deveria receber sem duvidar de sua integridade. As aparências eram contrárias, mas, ele confiou na Palavra do Senhor.

Dessa forma que somos desafiados a amar; a despeito das aparências, de eventuais gratificações, de nos parecerem, as pessoas, amáveis, ou, não. Apenas, porque a Vontade expressa do Pai é essa; Não amarmos para ganhar algo em troca, como bem disse o poeta Carlos Drummond de Andrade: “Amor é estado de graça, com amor não se paga.”

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Convocação do Rei

“O escarnecedor busca sabedoria e não acha, para o prudente, porém, conhecimento é fácil.” Prov 14;6

Temos dois tipos de caráter, escarnecedor e prudente; a sabedoria, ou, seu irmão gêmeo, o conhecimento, refratários a um, e, acessíveis a outro.

O escárnio é uma “qualidade” que se exercita à presença de terceiros, enquanto, prudência, uma virtude que dispensa plateia, ainda que, seus traços sejam perceptíveis pelas ações que patrocina.

A zombaria é filha do orgulho, de alguém que ridiculariza determinada situação, por presumir-se superior, ou, como máscara para ocultar sua inferioridade. Por outro lado, prudência deriva de seu oposto, humildade; pois, fazendo alguém, reconhecer-se limitado, abaixo de uma força superior, enseja cautela, cuidado nos passos, temendo, eventual ceifa. Assim, é forçoso concluir que, o escárnio é traço de orgulhosos, prudência, de humildes. Aí poderíamos parafrasear assim: O orgulhoso busca sabedoria e não acha, porém, para o humilde, encontrar é fácil.

Se, as qualidades morais, não, intelectuais, pesam em última análise nessa aquisição, o que há por trás que faz com que seja assim? A vontade de Deus, que abomina aos soberbos, mas, agracia aos humildes. “Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos. Escudo para os que caminham na sinceridade.” Prov 2;7
O Salvador certa vez orou assim: “... Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.” Mat 11;25

Foi, justo a prudência, filha do Temor de Deus, que fez José abominar o mau comportamento dos seus irmãos, e manter-se fiel, obediente a Jacó, seu Pai. Mais tarde, já na escravidão, a mesma virtude o impediu de consumar o adultério tencionado pela esposa de Potifar.

Essa postura nobre, contudo, não o livrou de mais de uma década de sofrimento, prisão inocente. Entretanto, quando pareceu bem ao Eterno, galardoar às virtudes de Seu servo, que, as exercitara apenas para a boa condução pessoal, tais, se fizeram vitais para todo um reino. O próprio Faraó, cujas angústias não foram aliviadas pelos “sábios” de sua corte, discerniu vivamente a mão de Deus, na vida do estrangeiro, então, escravo; sentenciou: “... Acharíamos um homem como este em quem haja o espírito de Deus? Depois disse Faraó a José: Pois que Deus te fez saber tudo isto, ninguém há tão entendido e sábio como tu. Tu estarás sobre a minha casa, por tua boca se governará todo o meu povo, somente no trono eu serei maior que tu.” Gên 41;38 a 40

Faraó viu nele O Espírito de Deus, sabedoria, e aptidão para governar. Isso, porém, depois de ter ele sido testado na arte de governar a si mesmo nas provas pelas quais passou. 

Essa é a diferença básica entre a Sabedoria Divina e a humana. O Eterno baseia-se em princípios, os homens, em palavras, em volume. Quem, mesmo testado rigorosamente se manteve fiel e governou aos próprios instintos, foi tido por apto para governar o maior império de então. Nos governos humanos, o mais mentiroso e demagogo, quem, mesmo afrontando à lógica, prometer as maiores grandezas, geralmente é tido por digno, e governa.

Deus nos testa nas minúcias, para que, nelas, sejamos prudentes, daí se lhe parecer bem, nos coloca em postos maiores. “E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.” Mat 25;21

Na verdade, essa “minúcia” do domínio próprio nem é tão pequena assim, dado que, é mais fácil governar sobre outros, que sobre si mesmo. “Melhor é o que tarda em irar-se do que o poderoso, o que controla o seu ânimo do que aquele que toma uma cidade.” Prov 16;32
Por isso, a prudência é reputada como ciência, conhecimento no prisma espiritual, que ingere sobre os demais aspectos da vida. “Eu, a sabedoria, habito com a prudência, e acho o conhecimento dos conselhos.” Prov 8;12

A Cruz, à qual somos desafiados, outra coisa não é, senão, exercer o Governo de Cristo, sobre nossos maus instintos. Mortificarmos aos tais, por obediência a Ele no temor do Seu Nome. Essa co-regência que nos conjuga a Ele, é que nos traz o descanso da salvação. “Tomai sobre vós o meu jugo, aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.” Mat 11;29

Ouvindo Suas Palavras, orgulhosos escarneciam, e, ainda é assim; os humildes recebiam, e como José, eram guindados, da prisão, ao Reino.

Quem, por prudência e temor, vence a si mesmo e se entrega à salvação, interpreta certo o “Sonho do Rei”, que visa salvar aos que ama. A Palavra é emissário dizendo: Levante-se, o Rei quer vê-lo!