domingo, 22 de julho de 2018

O Bálsamo do Perdão

“Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como também tive misericórdia de ti?” Mat 18;33

Questão posta a um que foi perdoado em suas múltiplas falhas, e, não quis perdoar a outrem que falhou para consigo.

Temos grande necessidade de receber perdão, dadas nossas muitas falhas; e, dificuldade em doar, por causa do egoísmo. Aqui também, o “negue a si mesmo” cumpre seu papel.

Essa coisa rasa tipo, “perdoo quem merece; sou bom pra quem é bom comigo” é escambo, comércio, não, perdão.

O perdão veraz desafia-nos a sermos bons para quem foi mau conosco, a ponto de fazer inda mais; agir de modo a constranger eventual faltoso para que busque perdão; “Portanto, se, teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se, tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas, vence o mal com o bem.” Rom 12;20 e 21 “Amontoar brasas sobre sua cabeça” não se refere a vingança; antes, constrangê-lo a rever suas razões, uma vez que, quereria mal a alguém que lhe trata bem.

Noutra parte diz mais: “Orai pelos que vos perseguem...”

Certa vez Pedro quis saber até onde O Senhor requereria dos Seus essa coisa difícil, perdoar. “Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete.” Mat 18;21 e 22

Não é um número que deva ser levado ao pé-da-letra; contarmos até 490 vezes e depois não precisamos perdoar mais. A ideia é mais ampla; Quando O Eterno revelou a Daniel o tempo determinado para Sua Obra entre os Judeus, povo de Pedro, disse que duraria “setenta semanas”; isto é: Setenta vezes sete. “Setenta semanas estão determinadas sobre teu povo, sobre a tua santa cidade, para cessar a transgressão, dar fim aos pecados, expiar a iniquidade, trazer a justiça eterna, selar a visão, a profecia e ungir o Santíssimo.” Dn 9;24

Assim, Pedro deveria entender da seguinte forma: Enquanto a Obra Misericordiosa de Deus estiver em curso, deveis perdoar sempre, como Deus o faz. Não se trata estritamente de um número; antes, de uma inclinação espiritual.

Todavia, perdão é via de mão dupla; a pessoa que falhou precisa admitir isso e desejar perdão. Que adiantaria dar a alguém algo que ele não quer? Esse é o dilema de Deus, inclusive, que está sempre pronto a Perdoar; renova Suas misericórdias a cada manhã como disse Jeremias; contudo, só perdoa aos que se arrependem; desejam Seu perdão.

Conosco se dá o mesmo. “Ora, se teu irmão pecar contra ti vai e repreende-o entre ti e ele só; se, te ouvir, ganhaste teu irmão; mas, se não te ouvir, leva contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. Se não as escutar, dize-o à igreja; se também não escutar à igreja, considera-o como um gentio e publicano.” Mat 18;15 a 17

Como vemos há quem erra e não admite que o fez; em particular, perante testemunhas, nem, perante a sociedade inteira; nesse caso, não deseja perdão; seja feita sua vontade.

Há ainda o terceiro tipo, o mais nocivo, talvez; os que querem o convívio amistoso onde carecem perdão, mas, chegam “sem querer querendo”. Pecaram gravemente contra alguém; causaram funda ruptura. Passado um tempo encontram sua vítima e, invés de admitir sua falha e pedir perdão “dividem” a culpa e “se perdoam” junto. Tipo: “Foi bobagem “nossa” vamos colocar uma pedra em cima e tocar o barco; a Obra de Deus continua, dá cá um abraço.”

Se, um fizer isso comigo, já fizeram, aliás, invés de sarar uma decepção dormida, reaviva-a ainda mais forte. Ora, a pessoa feriu de modo intenso, quando teria oportunidade de sanar, com o único remédio possível, arrependimento, tenta fazer meia sola com esperteza? Vai se catar!!

Platão dizia que é fácil perdoar uma criança com medo do escuro; difícil, a um adulto com medo da luz; é o caso aqui.

Claro que o perdão é medicinal, tanto para quem dá, quanto, para quem recebe. Nenhuma medicina se aplica, contudo, sem prévio diagnóstico da enfermidade.

Assim, o “dar de comer ao inimigo, vencer o mal com o bem” é uma forma prática de deixar patente que as “razões” dele não são racionais; constrangê-lo a revê-las, não, ignorar a existência da inimizade.

Enfim, o bálsamo do perdão cura duas feridas com uma dose só; mas, tal passo depende, necessariamente  de quem fez sangrar as mesmas.

“Aquele que não pode perdoar destrói a ponte sobre a qual ele mesmo deve passar.” G. Herbert

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