segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Dos prazeres à fome

“... Pai dá-me a parte dos bens que me pertence. Ele repartiu por eles a fazenda. Poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua; ali desperdiçou seus bens, vivendo dissolutamente.” Luc 15;12 e 13

Aos olhos do Filho Pródigo, sob a gestão do Pai, seus bens não estavam bem. Ele os queria possuir, administrar. Se, na gestão paterna as coisas eram para se manter, e, dentro do possível, aumentar, aos seus olhos não passavam de meios para comprar prazeres. Quando o bem confunde sua identidade com o bom, não raro é o mal que está dando palpites já.

O bem atina a um propósito ulterior, ainda que, em sua busca, tenhamos que arrostar coisas que não nos são boas. Por exemplo: Uma dolorosa cirurgia para extração de um tumor, cujo alvo será o restabelecimento da saúde. A caminho desse bem concorre o mal da dor.

O bom deriva das sensações; mesmo que algo seja letal, se, ao paladar parecer doce será sorvido como bom; como determinados alimentos para os diabéticos que, ao paladar seriam agradáveis, à vida, um risco.

Pois, nosso jovem em apreço achava mal, o trabalho, a obediência e disciplina da casa paterna. Sendo-lhe aquilo um peso enfadonho desejou voar com as próprias asas; dai-me o que me pertence e deixe comigo. “O sangue jovem não obedece a um velho mandado.” Shakespeare. A punção das paixões da juventude leva os imaturos a se presumirem mais sábios que os anciãos; e, de posse dessa presunção, desprezar o conselho daqueles.

Nesses tempos de velocidade tecnológica, onde, aparatos cada vez mais incrementados saltitam a cada dia, os jovens, até crianças, avantajam-se aos mais velhos no manuseio disso. Entretanto, “... não é dos ligeiros a corrida...” Ecl 9;11 Habilidade no manuseio de certos meios não significa sagacidade quanto aos fins.

Muitas vezes é um diagnóstico errado do problema que nos leva a uma “solução” igualmente errada. Não raro nos sentimos amuados com uma insatisfação pontual, e queremos uma mudança geral, como se, nosso habitat fosse o problema. Outras, a mera aversão pelo trabalho, ou, dever levam os indolentes a devanear com um lugar onde isso não seja necessário. Aí me ocorre Salomão: “Vai ter com a formiga, preguiçoso!”

Já tenho o bastante. Posso gastar me divertir, viver folgado. Por certo, pensares assim acossaram ao pródigo. Ora, trabalho é o “mal” que garante o bem de uma vida digna, confortável. Outro dia alguém me perguntou: Você gosta do seu trabalho? - Não. Respondi. Mas, gosto dos frutos e faço-o para merecê-los. Os bens dele advindos não são um peso duro de levar, antes, testemunhos, recompensas dos nossos feitos.

Infelizmente a maioria erra o alvo por ignorar voluntariamente o sentido da vida. Tratam-na sobre a Terra como se fosse uma vela cuja chama dura até que a cera derreta. Paulo sentenciou: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15;19 Isso para presumidos cristãos, cujo meta era apenas a vida terrena.

Pois, “Há caminhos que ao homem parecem direitos; mas, no seu fim são caminhos de morte”. Prov 14;12 O fim, (objetivo) da vida terrena é a reconciliação com Deus; para que no fim, (término) não seja o fim, mas, retorno à Casa Paterna. Ver Atos 17;26 e 27

Nossos bens em Cristo, salvação, dons, paz de espírito, vida eterna... São preciosidades a ser geridas em submissão ao Pai. Só um louco diria: Dá-me o que me pertence e deixe comigo. Os que ousam essa empresa, viver um cristianismo do seu jeito alienados da Palavra do Senhor, logo veem depenados seus bens, e, como o pródigo, terminam entre os porcos.

Naquele caso, a busca do supérfluo (prazeres) laçou-o na privação até do básico. “... aqui padeço de fome...”

Se, somos mesmo filhos de Deus, nossa prioridade deve ser espiritual; a boa gestão das “nossas” coisas em comunhão com Ele deve considerar acima de Tudo, Seu Reino; “Buscai primeiro o Reino de Deus, e Sua justiça, e todas estas coisas (necessárias) vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia seu mal.” Mat 6;33 e 34

A boa notícia aos eventuais pródigos que leem isso é que, ainda há fartura de alimento na Casa do Pai, um anel, vestes novas e um banquete, aos que, arrependidos regressarem. Cometer erros, desviar do caminho são tropeços comuns a todos nós; porém, nem todos têm a honestidade de assumir, volver atrás.

“O remorso é uma impotência, ele voltará a cometer o mesmo pecado. Apenas o arrependimento é uma força que põe termo a tudo.” Balzac

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