“Então
disse Saul ao seu escudeiro: Arranca a tua espada, atravessa-me com ela; para
que porventura não venham estes incircuncisos e escarneçam de mim. Porém o seu
escudeiro não quis, porque temia muito; então tomou Saul a espada e se lançou
sobre ela.” I Crôn 10; 4
Diverso do que ensinam certos psicólogos e alguns
pastores “psicologizados”, nossa carência não é de auto-estima. Embora esse
nome composto soe até bonitinho é mero disfarce de outro nem tão belo, o
orgulho.
O incidente supra, mostra Saul derrotado, diante de si, apenas a
morte; mas, uma vez que seu escudeiro recusou a matá-lo, lançou-se sobre a
própria espada, para não dar aos inimigos o gosto de zombarem dele.
Isso é
nobre, corajoso, vil? Não sei. Por ora me interessa a constatação que, a vida
estava perdida, o orgulho seguia intacto, vivinho. Se nem mesmo um revés que
nos priva da vida é capaz de nos induzir à humildade, então, essa é nossa maior
carência.
Claro que não esposo a postura covarde que suplica desesperadamente
pela própria vida, invés de aceitar a derrota e morrer com dignidade. Assim fez
O Salvador; igualmente Estevão, posto que, suas “derrotas” eram grandes
vitórias. Teriam maculado-as, se morressem como covardes.
Mas, da sobrevida do
orgulho temos ainda o exemplo de um dos ladrões crucificados. Enquanto seu
cúmplice arrependido suplicou e obteve perdão, ele, no uso do único membro
livre que tinha, a língua, blasfemava do Mestre.
Ora, o hábito milenar de transferência
de culpa, outra coisa não é, senão, decorrência do orgulho. Primeiro afrontamos
à Palavra de Deus; depois justificamo-nos transferindo a culpa às
circunstâncias, necessidade; quando não, a outras pessoas.
Se imaginamos a cena
de alguém se arremessando contra uma espada fazemos caretas, como que sentindo
um pouco da dor. Entretanto, por nossa parte fazemos o mesmo sem dor nenhuma.
Como assim? A Bíblia mesmo ilustra a Palavra de Deus como uma espada; “Tomai também
o capacete da salvação, a espada do
Espírito, que é a palavra de Deus;” Ef 6; 17 Assim, cada vez que desobedecemos, afrontamos, arremessamos nossas
vidas contra a Espada.
A “nosso favor” temos o fato que a morte não é imediata
como foi a de Saul. Abusamos da longanimidade de Deus; quando se torna hábito é
mais difícil erradicar que um erro eventual. Salomão identificou essa postura “espaçosa”
do ser humano no “vácuo” da paciência Divina. “Porquanto não se executa logo o
juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está
inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8; 11
A morte de Adão e Eva
não decorreu justo, disso? Arremeterem ambos contra a Espada? Naquele evento
fora prometido ao primeiro casal a substituição da dependência pela autonomia;
essa, é a mãe do orgulho, sendo pai, o velho ego.
O hábito, como a palavra
sugere, é algo que habita em nós; desse modo, os maus hábitos nunca são de
fácil remoção. Quando ilustra o que Cristo viria fazer, mediante Ezequiel, Deus
usa a figura de um transplante de órgãos, para ser devidamente expressivo
acerca do que estava em jogo. “E dar-vos-ei um coração novo, porei dentro de vós um espírito novo; tirarei da vossa carne o coração de pedra, vos darei um coração de carne. E porei dentro
de vós o meu Espírito, farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus
juízos e os observeis.” Ez 36; 26 e 27.
Esse novo coração, como vemos, não
bombeia sangue, antes, seu “combustível” é o Espírito de Deus. Quando disse: “Aprendei
de mim que sou manso e humilde de coração...” O Dr. Jesus estava já “anestesiando”
pacientes para a devida cirurgia.
Se, o que Ele fez, entre outras coisas, nos
livra de um mal mais resistente que a morte, isso não deve alimentar pretensa
auto-estima; ( o negue a si mesmo desmonta nosso auto ) antes, aumentar a estima pelo Salvador.
Assim
como o escudeiro de Saul recusou matá-lo, ninguém faz isso conosco no domínio
espiritual; o arbítrio é nosso, a decisão também.
Embora aos críticos a
conversão pareça decisão de fracos refugiados atrás da Bíblia, a coisa não é
bem assim. A cirurgia da auto-negação é dolorosa, quem tomou a cruz sabe bem. E isso requer certo brio, mesmo que,
despido de orgulho. “ Melhor é... o que
controla o seu ânimo do que aquele que toma uma cidade.” Prov 16; 32
Removido o
velho coração, junto saem aos poucos, hábitos ligados a ele. E o novo implanta
novos valores restaurando a dependência em lugar da suicida autonomia. “Assim
que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram;
eis que tudo se fez novo.” II Cor 5; 17
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