terça-feira, 27 de maio de 2025

Um tour no inferno


“Mas Eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a Esse temei.” Luc 12;5

O inferno, talvez seja uma das doutrinas sobre a qual, menos nos ocupamos. Nos acomodamos à ideia simplista que é um lugar de fogo, onde queimarão os ímpios para sempre, e vamos para o próximo capítulo, avessos ao retrovisor; para algo que seja mais atraente, promissor.

Fogo, na linguagem espiritual pode ter diversos significados; depende do contexto. As provações que são permitidas para testar nossa firmeza, são figuradas como “prova de fogo.” I Cor 3;13

O mover do espírito no íntimo dos que são iluminados por Ele, para entenderem à Palavra da Vida, foi também descrito pelos discípulos no caminho de Emaús, num ardor íntimo, como que, de um fogo; Luc 24;32

A rejeição dos que se recusam a frutificar para O Senhor foi figurada como lançar no fogo; “Também já está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo.” Luc 3;9 etc.

Assim, encontrarmos a perdição eterna, como um fogo eternamente aceso, também é pelo uso recorrente da mesma forma de linguagem. Isaías falou nesses termos: “... seu verme nunca morrerá, nem seu fogo se apagará; serão um horror a toda carne.” Is 66;24

A mesma ideia foi reiterada no Novo Testamento, descrevendo ao inferno como um lugar, “Onde seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga.” Mc 9;44 etc.

No entanto, de onde tirei que o inferno não é uma fornalha literal, antes, uma metáfora para a perdição eterna? Da Palavra de Deus.

“Disse, então, o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.” Mat 22;13

Essa descrição do banimento, é recorrente; Mat 8;12, 25;30...

Se, será um lugar de trevas, de choro, não, de queimaduras e gritos, natural a conclusão que o “fogo” que nunca se apaga, visto noutras passagens, é uma metáfora, para a saga dolorosa e eterna, dos perdidos.

Serão ainda reféns das suas ímpias escolhas, carnais desejos, sem meios para os suprir. Além da eterna abstinência, incidirá na dimensão do além, o pleno conhecimento das venturas desprezadas. Prefeririam à morte a tal remorso; mas, o bicho (a alma) nunca morre; e o fogo, (desejo) nunca se apaga, ou jamais cessa. Que inferno!!

Tal desgraça não deriva da Vontade de Deus; mas, de uma dolorosa necessidade da Sua Justiça, que respeita nossas escolhas. O referido e nefasto lugar, nem foi criado para seres humanos; “Então dirá também aos que estiverem à Sua esquerda: Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;” Mat 25;41 Quem escolhe aos conselhos do Diabo, desse lado, encomenda para si a companhia dele, no devir.

Por causa da natureza livre do amor, no qual, e para o qual, fomos criados, escolhas precisam ser respeitadas. O que é a pregação do Evangelho, em todo lugar, a todas as pessoas, senão, a tentativa do amor Divino, de persuadir à escolha pela vida?

O coração do Criador sofre, quando precisa abrir mão de alguém que Ele ama, porque esse alguém resolveu trilhar por outro caminho. Como o pai do pródigo, que triste viu seu filho rumando ao erro, O Todo Poderoso se vê impotente, ante os limites que Seu Amor estabeleceu.

O Senhor ensina, jurando pela própria vida, “... como não tinha outro maior por quem jurasse, jurou por si mesmo.” Heb 6;13 que não se apraz quando alguém se perde; mas, que se alegra quando um pecador se arrepende; “Dize-lhes: Vivo Eu, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis, ó casa de Israel?” Ez 33;11 A mesma pergunta feita à casa de Israel, por certo, se aplica a cada um de nós.

Aquilo que aquilatamos como mera escolha por um prazer efêmero, alguns sem noção supõem, que seja um “direito”, ante a visão dos Céus, é como deixar de escolher pela vida, preferindo à morte. As nossas temeridades daqui, causam espanto lá; “Espantai-vos disto, ó céus, horrorizai-vos! Ficai verdadeiramente desolados, diz o Senhor. Porque o Meu povo fez duas maldades: a Mim deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm águas.” Jr 2;12 e 13

Sim, O Senhor pode ser deixado de lado; Ele não é um ditador. E a ninguém mandará para o inferno; apenas fará com que, nossas escolhas sejam respeitada

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Em terra estranha


“Aqueles que nos levaram cativos nos pediam uma canção; os que nos destruíram, que os alegrássemos, dizendo: Cantai-nos uma das canções de Sião.” Sal 137;3

Os judeus estavam cativos dos caldeus que, entediados, pediam a eles para cantarem algo usual na sua terra, no seu templo, por ocasião do culto ao Senhor.

A resposta foi pronta: “Como cantaremos a canção do Senhor em terra estranha?” v 4 Por prisioneiros em longínquas paragens, lhes era isso um inibidor para que cantassem os louvores do Senhor.

Se, a libertação na Nova Aliança, refere-se à alma, de modo que, mesmo o corpo estando preso, ela, livre pode entoar louvores ao Senhor, como fizeram Paulo e Silas em Filipos, então, a liberdade era física mesmo. De posse da “Terra Prometida”, com pleno direito de ir e vir, liberdade de culto. Num contexto assim, seria normal que entoassem louvores. Agora, desejá-los estando eles presos, e ainda cantá-los para alegrar seus algozes, não ao Senhor, não pareceu factível, então.

Em nossa cultura, muitos conseguem, infelizmente, entoar louvores sem alma, pois, o $enhor ao qual buscam é outro.

Acontece que, uma alma livre, deveras, carece ser livre também dos ídolos vis, como avareza. Os presos nela ignoram aos próprios grilhões, acreditando-se livres, pela permissão de algumas exibições hipócritas nos lugares santos. Quando os “Caldeus” pedem, eles, presto se prontificam; afinal, estão cientes que não passam de músicas, invés de louvores ao Senhor. Têm cachês, não, restrições espirituais.

A vera adoração ao Eterno não é algo que possa ser forçado. Apenas espíritos livres, cientes que devem a Ele suas liberdades, se disporão aos louvores, dos quais, O Santo É Digno.

Se àqueles pareceu impraticável cantar os louvores do Senhor na prisão, aos verazmente salvos, certos ambientes e companhias também soarão como “terra estranha”; na verdade espíritos estranhos; pelo que, se recusarão. Música “góspel” qualquer cretino, depois de uma de carnaval, outra de lambada, se atreve sem nenhuma reverência.

Os louvores do Senhor, não vertem de fontes assim; “De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim. Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e amargosa?” Tg 3;10 e 11

“Ah, mas o “Voz da Verdade” cantou Raul Seixas! Eu também, quando era ignorante espiritual. Agora, conhecedor da Palavra de Deus, e das inúmeras blasfêmias que estão nas letras cantadas pelo referido músico, longe de mim que o repita.

Quer dizer que bastaria uma letra, aparentemente inocente, como “Tente outra vez”, para que um balaio de blasfêmias que se encontra nas demais, fosse engolido sem mastigar? Normalmente se coloca uma gota de veneno num copo d’água, para matar alguém; não, uma gota d’água num todo venenoso. Pois, mesmo a maldade tem um quê de prudência.

Quanto ao referido grupo, especialistas em música identificam dezenas de plágios, nas coisas que eles gravam. Um abismo chama outro. A adoração verdadeira costuma ser mais cuidadosa; “... não oferecerei ao Senhor meu Deus holocaustos que não me custem nada...” II Sam 24;24 “Sacrifícios de louvor”, idem.

Que os caldeus tenham entendido errado, achando que os louvores do Senhor eram para alegrar ímpios, vá lá; mas nós que O servimos devemos saber o devido lugar das coisas. Não é errado nos alegrarmos louvando ao Eterno; apenas é necessário que Ele se alegre conosco. Que seja um prazer partilhado.

Contra uns que assim não fizeram, antes, decidiram cultuar às suas maneiras, alheios às ordenanças, sem a devida consagração, O Senhor acenou com juízo, invés de aceitação. Pois, “... fizeram o que era mau aos Meus olhos, escolheram aquilo em que Eu não tinha prazer.” Is 66;4

Se alguém padece preso, espiritualmente, sabendo da liberdade que há em Cristo, isso não deriva duma servidão sob algozes externos; são suas próprias escolhas que o mantêm em cadeias. Quem prefere os ditames da carne, invés da cruz, jamais servirá ao Senhor; “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à Lei de Deus, nem pode ser.” Rom 8;7

Antes dos cânticos, devemos louvar ao Senhor com obediência; aos que acharam que o culto era um fim, ao qual prestando, no mais, poderiam viver impiamente, O Senhor advertiu: “Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas. Corra, porém, o juízo como as águas, justiça como ribeiro impetuoso.” Am 5;23 e 24

O livro dos Salmos traz 150 louvores da Antiga Aliança; o primeiro é como um porteiro que examina aos candidatos a louvar, vendo se, estão credenciados para isso; preceitua que evitem conselhos ímpios, caminhos de pecadores, roda de escarnecedores, antes de cantar louvores. Quem assim não faz, continua em “terra estranha.”

domingo, 25 de maio de 2025

A arte


“Essa é a questão das atividades artísticas; os melhores trabalhos só valem alguma coisa depois que o trabalhador não pode mais ser pago”. Robert Heinlein

Vulgarmente se diz que, as pessoas ficam boas depois que morrem. Na sentença de Heinlein, parece que o produto dos artistas, finalmente se enobrece, após eles partirem, tendo reconhecido o seu valor, tardiamente; quando, os criadores já não poderão desfrutar das consequências disso.

A “insensatez” dos que resolvem se dedicar à arte, talvez seja uma necessidade. Os que veem a vida como um campo de trabalho forçado, onde, a feitora avareza, os coage a amontoar metais, persuadindo-os que essa reprodução mecânica tem seu sentido, sua beleza, em geral acabam privados do apreço para outras variantes, as estéticas. O que seria mais belo que um monte de cifrões?

“Desejar violentamente a alguma coisa, acaba cegando-nos às demais.” Pré-socráticos.

Pensadores de antanho já entendiam, que, quem finca raízes no vale do garimpo, não perde tempo na escalada rumo ao mirante da Bela Vista.

Os artistas, por reféns dessas veleidades, terminam atrofiando o seu potencial aquisitivo, presos a uns devaneios atemporais, (pré temporais, quiçá) e como uma mariposa queima suas asas voejando atraída pela luz da vela, esses incineram seus dias, mercê de uma chispa visionária que, a maioria não logra perceber. A chama da arte se alimenta de um combustível invisível à maioria dos mortais.

Uma vez paridos os filhos da musa que os assedia, muitos sofrem a frustração de “pais corujas”, ante uma beleza que os encanta, mas que os outros não veem. A maioria, são importantes homens de negócios; os que não, anseiam sê-los; têm mais o que fazer, que perder tempo com futilidades assim.

Os que gastaram suas vidas nos garimpos, e amontaram metais muito mais do que suas necessidades, acabam usando isso, uma vez entediados com tantas posses, para “aquisição de almas”; digo, de obras de arte que afirmaram seu valor vencendo o tempo, e foram tardiamente entendidas; de certa maneira, elas refletem as almas dos seus criadores.

Tais, os endinheirados, acreditam entendê-las e vivenciá-las em parte; afinal, as puderam comprar e agora se põem as exibir airosamente. Chamam amigos e mostram orgulhosos, os seus troféus, seu apreço estético, enquanto se esforçam para explicar seu amor, e sua compreensão pela arte adquirida.

Grandes fortunas acabam pagas, a herdeiros duvidosos, por obras cujos criadores não mais receberão um centavo.

Nos seus dias terrenos, eles, por razões irracionais, migraram para mui adiante do seu tempo, e acenderam nos lampiões de lá, chamas que levaram aos seus dias; por certo entenderão como necessário, que, seu talento seja devidamente apreciado, apenas, quatro ou cinco décadas depois. “Há tempo para todo o propósito debaixo do sol.” Então, suas criações estarão em dia.

Afinal, quem viaja a uma terra estranha, precisa se amoldar à cultura, fuso horário, ao idioma, para poder viver lá. De igual modo, quem excursiona ao futuro, “mete os olhos pelo tempo adiante,” como diria Machado de Assis, não deve se ressentir, se no além for informado, que, pelo seu talento, se enviou pequenas fortunas, pelo tempo atrás.

A simples escolha pela entrega à criação estética, em prejuízo da arte da aquisição, já evidencia que, o que assim faz, tudo o que carece é de meios para manter o veículo da alma em funcionamento. Em seu estranho sacerdócio, o dízimo do que lhe caberia, já lhe basta.

O que os “extrativistas” farão no futuro com os bichos da sua “fauna”, isso derivará de uma invasão alienígena, onde, alguns filhos do planeta estético serão abduzidos pelo metálico. Infelizmente, almas serão valoradas em metais.

A excentricidade da origem é que emprestará incalculável valor, aos olhos dos metaleiros; os estetas sempre souberam disso sem espanto nenhum. Sempre foram vistos no seu fútil viver “allien”, e quando sua origem nobre for finalmente entendida, os seus resíduos serão devidamente valorados.

Desnecessário lembrar ao inteligente leitor, que, estamos tratando de arte, dos “melhores trabalhos;” não, da prostituição mercantil que grassa, fazendo suas necessidades na raia da arte, enquanto corre pelos metais.

O sucesso de muitos nessa área, deriva da ignorância disseminada, não, da qualidade do trabalho que foi feito. Desses, “artistas” bem ironizou Millôr Fernandes: “Depois de bem ajustado o preço, a gente deve sempre trabalhar por amor à arte.”

Assim com um bom vinho demanda a cura pela mão do tempo, a compreensão estética de algo com valor artístico ímpar, não é obtida de maneira imediata; o visionário que o cria, costuma ser muito mais perspicaz que o senso comum.

A arte das multidões, de reconhecimento imediato, no próximo bissexto já terá sido consumida via acionamento da descarga, e os novos encantadores de serpentes estarão atuando nas praças.

Caçador x produtor


“O ímpio deseja a rede dos maus, mas a raiz dos justos produz o seu fruto.” Prov 12;12

Dois tipos antagônicos, os maus e os justos, com métodos distintos de aquisição. O mero extrativismo, que pesca e caça o que não produziu, usando redes, e o que cultiva a terra em demanda pelo pão. O primeiro depende da eficácia das suas armadilhas; o segundo, do contraponto do seu trabalho, em consórcio com o clima, para produção eficaz e a manutenção da vida.

Qualquer semelhança entre o “socialismo” que, com suas redes ideológicas estrategicamente dispostas, vive à caça das riquezas alheias; e o empreendedorismo, que, busca prosperar mediante o trabalho, não é coincidência; é o desdobramento moderno, da antiga sentença escrita por Salomão. Também a adjetivação dos primeiros como ímpios, e dos outros como justos, é necessária.

Afinal, o que é mais ímpio que, o anseio de possuir bens alheios, sem méritos, e mais justo que, os produzir, mediante o trabalho?

Desde idas épocas se lança aos ventos a balela pela “igualdade”, como se, essa cantilena fosse a mais bela declaração de isonomia, e equilíbrio de direitos. Sempre os proponentes desse assalto disfarçado de “justiça Social” apontam para a colheita dos justos que trabalharam para gerá-la; nunca ouvi um desses requerendo igualdade quanto ao plantio.

Sócrates chamava a esses que, nada produzem e a muitos usurpam, de “zangões sociais.”

A Palavra de Deus, (embora grande parte do catolicismo tente fundi-la ao comunismo, como fazem os da Teologia da Libertação), nada prescreve no sentido de que tratemos como iguais, aos que se comportam de modos distintos. Aristóteles sentenciou: “A pior forma de desigualdade é considerar iguais, aos que são diferentes.”

A Abraão, se atribui um dito, pelo qual, a Justiça Divina passaria longe desse tipo de “igualdade”. “Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” Gn 18;25 Aos olhos da reta justiça, zangões e abelhas embora, muito semelhantes, habitantes das mesmas colmeias, são animais distintos.

“Não seguirás a multidão para fazeres o mal; nem numa demanda falarás, tomando parte com a maioria para torcer o direito. Nem ao pobre favorecerás na sua demanda.” Gn 23;2 e 3 A justiça não pretende ser social; apenas, justa.

Paulo foi enfático na diatribe à vadiagem: “Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também.” II Tess 3;10 Essa regra poderia ser aplicada ainda. Salva alguma peculiaridade especial, onde, o assistencialismo seja indispensável, no mais, que cada um colha conforme plantar.

Em desventurosas situações, como a que vivemos atualmente, onde, a administração do mel está toda sob os “cuidados” dos zangões, a corrupção que deveria ser um incidente pontual, alarmante, a despertar pronta reação, vira regra.

Assim, vemos que, os pleitos mais veementes da “Zangocracia” são para que não se investigue, antes, se dilua a culpa “ad infinitum”; fique o feito por não feito. Basta que os laboriosos produzam mais, malgrado, seu apetite seja insaciável.

As abelhas do Agro, precisam zumbir aos quatro ventos, para que suas dívidas de um ano ruim, em que suas raízes deram uma resposta baixa, sejam renegociadas, para que não percam parte da sua estrutura e possam seguir produzindo seu mel costumeiro.

Mas, diria o Simplício, “ano que vem teremos eleições e poderemos mudar isso.” Se, os zangões seguirem “contando os votos” como fizeram na última vez, seguirão “invencíveis.”

É preciso um caráter forjado com rígida têmpera, para, vendo tanta injustiça, tanto triunfo da maldade, o homem íntegro permaneça assim. Os zangões desconhecem limites; não conseguem ser comedidos nas pilhagens.

Em dias semelhantes, suponho, Ruy Barbosa cunhou sua célebre ironia: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”

Talvez a expressão mais antiga, conhecida, de vergonha alheia. Pois, um homem honesto não se envergonha de sê-lo. Porém, desanimar da virtude é um risco a ser considerado; Deus o considera. 

Por isso assegura a finitude do poder dos zangões; “Porque o cetro da impiedade não permanecerá sobre a sorte dos justos, para que o justo não estenda suas mãos à iniquidade.” Sal 125;3

Mesmo que demore mais do que desejaria nossa sôfrega vontade, a rede dos maus será enfim, desfeita; a raiz dos justos continuará a frutificar.

Foi o mesmo Ruy que sentenciou: “A justiça pode irritar porque é precária. A verdade não se impacienta porque é eterna.”

sábado, 24 de maio de 2025

O lugar dos ricos


“A estultícia está posta em grandes alturas, mas os ricos estão assentados em lugar baixo.” Ecl 10;6

Deve existir alguma razão compreensível para a estupidez desejar lugares altos, enquanto, a riqueza se ajeita em ambientes baixos. A conjunção adversativa, “mas”, separando as duas partes, formata um paralelismo antitético; onde, situações opostas são cotejadas.

Como não temos estupidez versus sabedoria, nem riqueza versus pobreza, forçosa a conclusão que a “riqueza”, não tem a ver com posses, estritamente.

No mesmo livro, um pouco antes, encontramos o dinheiro e a sabedoria, cada um, apreciado: “Porque a sabedoria serve de defesa, como de defesa serve o dinheiro; mas a excelência do conhecimento é que a sabedoria dá vida ao seu possuidor.” Ecl 7;12 Haveria algum bem mais precioso que a vida?

Elementar que a sabedoria é riqueza maior que o dinheiro. Deve ser ela, que está na antítese à estultícia na sentença que vimos no início.
Assim, teremos: “A estultícia está posta em grandes alturas, mas os sábios estão assentados em lugar baixo.”

Por quê a estupidez busca o cume do Everest, desejando ser vista a todo custo, mesmo privada de predicados que ensejem admiração? Porque é próprio dessa “nonsense”, acreditar que o mundo deve vê-la, como ela mesma se vê.

Se não recebe aplausos e louvores que acredita merecer, facilmente se ressentirá, contra a “ingratidão e ignorância” alheias; contudo, seguirá airosa, na “segurança” do “eu sou mais eu.” “O caminho do insensato é reto aos próprios olhos, mas o que dá ouvidos ao conselho é sábio.” Prov 12;15 Quem jamais viu estúpidos assim, nos píncaros do poder?

O que A Palavra de Deus adjetiva como sabedoria, não verte da mesma fonte que esse mundo bebe. Tiago fez distinção entre a sabedoria do alto, e a “terrena animal e diabólica.” Tg 3;15 Paulo andou nas mesmas pisadas: “Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da Glória.” I cor 2;7 e 8

Pois, os reputados sábios nesse sistema ímpio, invés dos lugares baixos, aos quais se amoldam os espirituais, estão, nas luxuosas cátedras de grandes universidades; não poucos, entram em filas para aquisição de ingressos, onde assistirão aos honoráveis oradores, defendendo o ateísmo, o evolucionismo, hedonismo, e outras aberrações afins.

O simples buscar por lugares altos, como esses fazem, desprovidos de uma visão que, o mirante ocupado sugeriria existir, já os transforma em estultos; pois, ineptos para conhecer a si mesmos, se arvoram em guias de multidões. Há “filósofos” incapazes de reger dignamente o próprio ânus, que posam de regentes de mentes alheias.

Ante uma geração mentecapta como a atual, onde, invés de uma dose saudável de ceticismo, basta se ouvir as proposições mais ousadas, para se inclinar e aplaudir a ousadia, como se fosse ela uma virtude em si mesma, Sophia agoniza.

Plateias sonolentas agem como se, as tolices embaladas em papéis vistosos se fizessem algo caro, apenas pelo brilho artificial; muitos mestres encantadores de serpentes deitam e rolam, posando de sumidades científicas, filosóficas, espirituais, acenando ciscos por sementes, em suas peneiras customizadas em neon, fiados na ausência dos ventos do senso crítico.

A sabedoria espiritual prescinde desse “mise en scene” todo, pois não pretende comunicar com os olhos; antes, com os corações.

Seu valor não está no desfile, mas no fim ao qual conduz. Para tanto, O Eterno, Sua Fonte, usa coisas simples, quando assim o quer, sem nenhum prejuízo à essência do que nos dá. Enriquece pessoas desprovidas de posses, de cultura; mediante essas, pode abençoar a outros que lhe deem ouvidos. Deve significar alguma coisa, o fato de que, aquele em quem estão, “todos os tesouros da sabedoria e da ciência.” Col 2;3 Tenha vindo o mundo numa reles manjedoura. “... os ricos estão assentados em lugar baixo.”

Assim, os seguidores Dele, geralmente são conhecidos pela essência, não pela aparência. “Porque, vede, irmãos, vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, ou nobres, que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir às fortes; escolheu as coisas vis deste mundo, as desprezíveis, as que não são, para aniquilar às que são; para que nenhuma carne se glorie perante Ele.” I Cor 1;26 a 29

Desde sempre escutamos “filosofias de botecos” esposando a superioridade das coisas que o dinheiro não compra. Frases alugadas, por profundas que sejam, destoando do nosso agir, não passam de estultícia também. Os lugares baixos dos sábios, são como montes, que, evidenciam A Cristo de longe.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

As obras sem fé


“A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; o fogo provará qual é a obra de cada um.” I Cor 3;13

Aparentemente, as obras testificam da fé; atuarmos dessa ou daquela maneira, pressupõe o derivado de um modo de crer; de como vemos e aprendemos a vida.

Segundo Tiago, a fé sem obras é morta; nossa regeneração em Cristo, deverá, necessariamente, resultar num modo de agir, consoante; “Porque somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;10

Entretanto, no verso inicial, encontramos as obras em xeque, não, a fé; “... o fogo provará qual é a obra de cada um...” então, a conclusão necessária é que, assim como a fé fica sem chão se não tiver o concurso das obras correspondentes, também as ações padecerão orfandade de sentido, se, não tiverem a fé como motivadora.

Quer dizer que fazer a coisa certa, não basta? Suprirmos a necessidade de alguém, pelo ponto de vista desse alguém, basta. Mas, nosso feito deve ser oriundo do propósito de glorificarmos a Deus.

A Lei resumida em dois mandamentos, coloca o amor ao próximo como sendo um deles; porém, antes e mais importante, o amor a Deus. Se esses dois motivos, nessa ordem, forem a razão de eventuais atitudes de nossa parte, então o necessário consórcio entre fé e obras estará estabelecido, em nossas almas.

Seria possível fazer o bem sem fé? O que são as muitas “penitências” as placas por “graças alcançadas” os despachos de esquinas, etc. senão, testemunhos da intenção de alguém, de “pagar” ao mundo espiritual por alguma bênção? “Fazer o bem” em circunstâncias assim, é negócio.

O Todo Poderoso não quer ser pago, nem poderia; “Se Eu tivesse fome, não te diria, pois Meu é o mundo e sua plenitude.” Sal 50;12 Mas, deseja e merece ser honrado; disso faz questão; requer que, antes de “colocarmos o peito n’agua” para alguma boa obra, coloquemos o coração Nele, para que o amor seja nosso motivo conjunto, o Dele e o nosso.

Os que fazem boas obras diante das câmeras, para serem vistos e admirados, têm o egoísmo como motivo, não o amor.

Até os filósofos que não tinham uma visão espiritual mais aguda, suspeitavam de algumas “bondades.” Platão disse mais ou menos o seguinte: “Quando um homem for considerado justo, lhe caberão por isso, encômios, louvores; assim, ficaremos sem saber se o tal é justo por amor à justiça, ou, aos louvores que recebe. Convém, pois, colocá-lo numa situação em que seja privado de tudo isso. Se ainda assim, prosseguir sendo justo, certamente o é, por amor à justiça.”

Mais ou menos dessa forma, O Senhor prova às nossas obras. A fé deve ser um valor íntimo, que nos liga ao Santo em tempo integral; não, um verniz oportunista que, brilha nalgumas circunstâncias, noutras some, opaco. “No dia da prosperidade goza do bem, mas no dia da adversidade considera; porque também Deus fez a este, em oposição àquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.” Ecl 7;14

Fácil nos alegrarmos “em Deus”, quando todos os ventos sopram a favor. Nessas ditosas situações, efusivas declarações de fé, de lealdade, saltitam quase que, naturalmente.

Porém, “... o fogo provará qual é a obra de cada um...” quando o fogo das provações nos toca, aí nossa fé é testada, em sua essência. Se, do outro lado da moeda, às vezes, sem moeda nenhuma, outras, sem saúde, sem honra, ainda seguirmos fiéis, essa honrosa atitude provará mais que nossa fé; deixará ver que nossas obras pretéritas eram frutos do amor a Deus; não, de interesses imediatistas.

Muitos fazem uma leitura errada da fé, como se ela fosse uma força em si, da qual, O Poderoso necessita para nos abençoar; NÃO!!

Deus faz questão da fé, porque a dúvida O desonra; é blasfema supondo que O Eterno seria mentiroso; diria algo e não o faria. “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe, e É galardoador dos que O buscam.” Heb 11;6

Por isso, quando uma turma excitada por uma recente multiplicação de pães e peixes feita pelo Senhor, se “voluntariou ao ativismo” antes de obras, lhes foi requerida a fé. “Disseram-lhe, pois: Que faremos para executarmos as obras de Deus? Jesus respondendo, disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que Ele enviou.” Jo 6;28 e 29

Melhor é que façamos o bem, invés do mal, em qualquer circunstância; mas, a excelência reside em fazermos a coisa certa, pelo motivo certo.

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Os insensatos


“Desvia-te do homem insensato, porque nele não acharás lábios de conhecimento.” Prov 14;7

O Senhor ordenou que se fosse por todo o mundo, e pregasse o Evangelho a toda Criatura. Nada pode ser mais inclusivo; Todo o mundo, o que abarca todas as nações; toda a criatura, o que inclui todos os tipos de pessoas.
Então, quando lemos uma sentença assim, “Desvia-te do homem insensato”, seria uma exceção, alguém para o qual, as Boas Novas não devem ser pregadas? Não.

A insensatez é uma disposição mental, réproba, de alguém avesso ao bom siso, que pode até crer em Deus; embora, ainda padecendo lapsos, que o atrapalham no curso da vida. Paulo nos exorta: “Por isso não sejais insensatos, mas entendei qual é a vontade do Senhor.” Ef 5;17

Para, desviarmo-nos do homem insensato, requer que antes caminhemos um pouco. Pelo menos, pelo tempo suficiente para conhecer seu modo de agir; senão, como saberemos que e o tal é privado de bom senso?

A antítese à insensatez varia, dependendo do ambiente onde desfila; nos lugares que, o senso comum prescreve aversão às coisas espirituais, a “sensatez” estará no descaso, no ateísmo até; Porém, nos ambientes onde predomina o crer, a sensatez necessária, tem um viés espiritual, não, psicológico. Por isso, a exortação de Paulo, contém: “... entendei qual é a Vontade de Deus.”

O que professa crer, mas age de modo diverso, não fazendo melhor que os descrentes, em muitos casos, atuando pior, até; esse é o tipo de insensato do qual nos convém manter distância.

“Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, os avarentos, roubadores ou, idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais.” I Cor 5;9 a 11

Embora a vida religiosa desses, demande que mencionem às coisas de Deus, eventualmente, não o fazem com o compromisso de quem coloca por obra, aquilo que afirma crer. Tal discrepância entre discurso e atitudes, o senso comum chama de hipocrisia. Esse é o tipo de insensato do qual devemos nos desviar.

Quando anjos apareceram, junto ao sepulcro do Senhor, já ressurreto, interpelaram às mulheres que O buscavam, com essas palavras: “Estando elas muito atemorizadas, e abaixando o rosto para o chão, eles lhes disseram: Por que buscais o vivente entre os mortos?” Luc 24;5

No caso delas, era por ignorância acerca do que sucedera; mas, nós bem sabemos. Então, se também pretendermos buscar ao Senhor Vivo, entre os mostos, estaremos incorrendo em insensatez.

A vida espiritual veraz, requer muito mais que meros rótulos; demanda identificação com O Senhor, nas renúncias, e novo modo de viver, atinente aos desejados frutos; “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo o fomos na Sua morte? De sorte que fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos em novidade de vida.” Rom 6;3 e 4

Mais que a omissão em entender a vontade do Eterno, os insensatos da presente geração, se atrevem a alterar a doutrina, validando comportamentos opostos ao Divino querer, revelado na Palavra do Eterno.

O Senhor permanece no mesmo lugar, e Seus ensinos, inalterados. “Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede; perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho e andai por ele; achareis descanso para as vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos nele.” Jr 6;16

“Desvia-te do homem insensato, porque nele não acharás lábios de conhecimento.”
Em geral aquilatamos o conhecimento com saber algo; mas no prisma espiritual demanda estabelecermos um relacionamento com Deus. Dos que faziam coisas religiosas alienados do Salvador, malgrado isso, tudo, Ele preveniu: “Então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade.” Mat 7;23

O conhecimento possível, de Deus, no aspecto teórico, está revelado na Sua Palavra; porém, o conhecimento que Ele deseja, mediante um relacionamento, requer nos deixarmos moldar pelo que aprendemos Dele. Mais que intelecto perspicaz, requer sentimento verdadeiro. “Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda esse é o que Me ama; aquele que Me ama será amado de Meu Pai; Eu o amarei e Me manifestarei a ele.” Jo 14;21

O homem sensato, segundo Deus, pode ser visto como louco aos olhos do mundo; e daí? “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” I Cor 1;18