terça-feira, 22 de abril de 2025

Placebos espirituais


“... Senhores, que é necessário que eu faça, para me salvar? Eles lhe disseram: crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa.” Atos 16;30 e 31

O carcereiro de Filipos apavorado, após um terremoto que desfizera o cárcere, pelo qual era responsável. Certo da punição pela fuga dos presos, pensou em apressar as coisas suicidando-se. Ao ver isso, Paulo, saindo à luz, desaconselhou que assim fizesse, garantindo que ninguém havia fugido, todos estavam ali. Então, o atônito guardião fez aquela pergunta.

Em geral o homem não tem dificuldade com o ativismo; embora, costume ter com a perseverança, no “caminho estreito”.

Se, a salvação fosse reduzida a um “heroísmo” pontual, uma empresa ousada que, uma vez feita estaremos garantidos para sempre, a maioria se disporia a ela; por ocasião da multiplicação dos pães e peixes, feita pelo Senhor, no dia seguinte a mesma multidão alimentada quis “mais do mesmo”; O Salvador denunciou seu interesse raso, desafiando-os a buscarem valores mais altos; então, eles fizeram mais ou menos, a mesma pergunta: “... que faremos para executar as obras de Deus?” Jo 6;28

A resposta do Senhor foi idêntica à de Paulo, ao carcereiro; “Jesus respondeu e disse-lhes: a Obra de Deus é esta: que creiais Naquele que Ele enviou.” V 29

O homem natural gostaria duma tarefa pontual; pois, uma vez executada, poderia seguir do seu jeito, tendo “créditos” diante do Eterno. Uma espécie de inscrição, que, uma vez feita, nosso ingresso estaria garantido; mas, não é assim. “Sereis odiados de todos por causa do Meu Nome; mas, o que perseverar até o fim, esse será salvo.” Mat 10;22

Grosso modo pode parecer mais fácil, simplesmente crer no Salvador, invés de ter alguma demanda pesada para cumprir. Porém, a valentia pode ser fruto de um momento de atrevimento, de sorte, duma ditosa confluência de ocasião, e circunstância. A necessária santificação à qual somos chamados em Cristo, requer mais que um rompante pontual; demanda a coragem de entregar toda a nossa vida.
“Porque aquele que quiser salvar sua vida perdê-la-á; e quem perder sua vida por amor de Mim, achá-la-á.” Mat 16;25

O “Negue a si mesmo” está distante de um afirme a si mesmo, que, o homem natural gostaria.

A santificação é requerida no íntimo; nossa boa consciência no espírito, em submissão ao Espírito Santo que nos foi dado; é antes de tudo um andar sadio em temor ao Santo Nome do Senhor. É novo modo de ser, mais que, algo a fazer. Mesmo, nos lugares em que estaremos sós, sem companhia dos semelhantes, sem plateia nenhuma para contemplar nosso desempenho. Demanda uma renúncia contínua dos maus hábitos que em nossa natureza palpitam; não requer um denodo pontual, como quem salta de bungee Jump; antes, um andar contínuo, o empreender duma jornada para largos dias.

O que é necessário que eu faça? Que eu me submeta ao Senhor, confiante no que Ele fez por mim. “Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho, nem do homem que caminha, dirigir os seus passos.” Jr 10;23

A moda da vez são os tais “Legendários” onde, pessoas que em geral vivem descompromissadas, de repente decidem fazer uma “entrega ousada” de três dias, numa mescla de esportes radicais, com motivação ao estilo coach, e certo misticismo. A empresa tem altos custos e promete ousados resultados. Mesmo a quem caiu sistematicamente em tentações, por ter vivido de modo pusilânime, de repente, se acena com novo vigor espiritual; assim, num toque de mágica; em três dias.

Parece que todo aquele pelotão, devidamente uniformizado, faz a mesma pergunta que analisamos nessa abordagem; “O que é necessário que façamos para sermos salvos?” Ora, como estamos lidando com coisas de alcance eterno, e não, biodegradáveis, a reposta será rigorosamente a mesma daqueles dias de dois milênios atrás.

Em geral, nem é o que fazemos, mas o que passamos a não fazer, uma vez rendidos ao Senhor, que firma nossa caminhada na vereda direita.

Paulo ensina nuances da postura conveniente aos que foram resgatados pelo Senhor e ousam andar em espírito: “... que quanto ao trato passado vos despojeis do velho homem que se corrompe com as concupiscências do engano, vos renoveis no espírito da vossa mente, e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado, em verdadeira justiça e santidade; pelo que, deixai a mentira e falai a verdade, cada um com o seu próximo...” Ef 4;22 a 25

Não que o cristianismo seja um convite à inércia; há muito a fazer, uma vez, salvo. Mas, quando a alternativa for um ativismo vazio, a espera pode ser melhor escolha; “... no ficarem quietos estaria a sua força”. Is 30;7
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segunda-feira, 21 de abril de 2025

"Defensores da verdade"


“Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?” Gál 4;16

Defesa da verdade deveria ser pacífica entre os que dizem temer a Deus; porém, não é assim. Alguém cantou: “Eu preciso ser mais falso, a verdade gera confusão.”

Deparei com um vídeo que, na capa traz a pergunta: “Se a verdade é uma só, por que existem tantas igrejas?” Outros dizem, “Se a Bíblia é uma só...”

Inicialmente, encontro três razões: a) Porque O Senhor permite; quando alguns discípulos quiseram tolher aos que não andavam junto, Jesus objetou: “... não proibais, porque quem não é contra nós, é por nós.” Luc 9;50
Em dias posteriores, no ano 96 da presente era, O Senhor ordenou que João escrevesse sete cartas a sete igrejas diferentes. Cada uma com seu líder local e seus problemas específicos.

Se fosse apenas uma, sob a batuta de Pedro, como pretende o catolicismo, teria escrito através dele, sistematizando e enquadrando-as.

b) porque a oposição também deseja; quem falsificaria algum produto sem valor de mercado? Qual o sentido? Infiltrações da oposição no meio da Igreja aconteceram desde os dias dos apóstolos; assim, tendo espíritos diferentes e motivações diferentes natural toda sorte de divisões.

c) porque para o Senhor, não obstantes as milhares de denominações, a unidade da Igreja é espiritual, não, física. O conjunto de todos que aceitaram Seu chamado, invés de a mera instituição, chegaram, à “Universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos Céus, e a Deus o Juiz de todos, e ao espírito dos justos aperfeiçoados.” Heb 12;23

Assim, todos que nasceram de novo, e são guiados pelo Espírito Santo, estão na Igreja do Senhor; malgrado, o nome, o CNPJ que usem.

Infelizmente, a maioria não está madura para esse assunto; mas, a rigor, existem duas igrejas. Uma, do Senhor, com vínculo com a verdade; outra, um simulacro pobre, a serviço do Pai da Mentira; ambas estão em todas as denominações.

Qualquer instituição, por antiga, opulenta, numerosa que seja, que se pretender ser a única Igreja Verdadeira, se mostra uma grotesca mentira. O Senhor orou pelos Seus: “Santifica-os na verdade; Tua Palavra é a verdade”. Jo 17;17

A Palavra, o magistério e a tradição, ensina o catolicismo; A Palavra e os livros de Ellen White, defende o adventismo; A Palavra e o Livro de Mórmon, objeta o mormonismo; A Palavra pela tradução esdrúxula da “Novo Mundo” e os ensinos da Torre de Vigia, esposa o jeovismo; A Palavra e a “interpretação” mercenária de algum “apóstolo, bispo, missionário” da “Teologia da Prosperidade”, esperam muitos “protestantes” amantes do materialismo... etc.

Sempre a verdade acaba sendo usada como um rótulo bonitinho, para embalagens oportunistas de motivações feias. A Palavra é categórica: “Porque nada podemos contra a verdade, senão, pela verdade.” II Cor 13;8 Ela não precisa de nós, tampouco, compactua com nossas predileções. É verdade sempre, tanto quando nos é favorável, quanto, quando nos acusa.

Por absoluta, não depende de aplausos, nem se coaduna às preferências de ninguém. Está revelada na Palavra de Deus, que carece ser, honesta e habilmente interpretada.

Quem nos habilita a entender é O Espírito Santo; não alguma instituição, determinado dogma, ou a motivação pilantra de alguém, que a queira torcer por alguma razão vil. João ensina: “Vós tendes a unção do (Espírito) Santo, e sabeis todas as coisas.” I Jo 2;20 O Espírito Santo também não é propriedade de ninguém; É Absoluto e livre, como a verdade.

Acontece que, quem não nasceu de novo, ainda segue segundo seus instintos animais. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura, não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente; mas o que é espiritual discerne bem a tudo, e de ninguém é discernido.” I Cor 2;14 e 15

Gibran dizia que o cão ora para que chovam ossos; o gato para que chovam ratos; os ratos em demanda de queijo; significando, assim, a sagração dos instintos primitivos de cada um.

Não podendo ver na dimensão do Espírito, cada um apelida de verdade aos seus anseios, por cretinos que sejam. “A moral do lobo é comer ovelhas, como a da ovelha é comer grama.” Anatole France

Assim, aquilo que não sacia aos apetites lupinos, seja no desejo por poder, exclusividade, idolatria, materialismo, facilmente é denunciado como “heresia” pelos que “defendem à verdade” como o Alexandre de Morais “defende à democracia.”

Enfim, reitero, há apenas duas igrejas; a do Senhor é muito menor, infelizmente. “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.” Mat 22;14

Muitos “Defensores da Verdade” só o são, olhando alhures, nas vidas alheias. Se tivessem coragem de um olhar no próprio íntimo, encontrariam mais rãs que no leito de Faraó, no dia da praga.

domingo, 20 de abril de 2025

Do fundo do coração


“Todos os dias do oprimido são maus; mas o coração alegre é um banquete contínuo.” Prov 15;15

Costumamos dizer que não estamos num bom dia, evidenciando que a desventura que nos pesa, é pontual. Uma “dor de cabeça” que logo irá passar. Todavia, nosso “oprimido” em apreço, vive num oceano de infortúnios, sem nenhuma ilhota de ventura; “Todos os dias do oprimido são maus...”

Seja quem for o algoz que o oprime, exerce uma tirania full time, faz da opressão, um tratamento monótono. Por outro lado, “... o coração alegre é um banquete contínuo.” Logo, vemos que, a causa da opressão no primeiro paciente é a tristeza de coração, uma vez que o seu oponente possui um coração alegre. Profunda tristeza, em muitos casos, enseja à depressão.

Emoções podem ser maquiadas superficialmente; tanto o humor pode se disfarçar de alegria, quanto, certa gravidade necessária, ser tida por tristeza.

Uma dor pontual, para quem pertence ao Senhor, às vezes é um chá com folhas amargas do arbusto do pecado, quando esse, enganado, devaneia que seu fruto é doce e se atira ao mesmo; a dor deriva da medicina Divina tratando almas; “Melhor é a mágoa que o riso, porque, a tristeza do rosto faz melhor o coração.” Ecl 7;3 Então, quando a tristeza é derivada disso, é uma coisa boa; ruim seria cometer injustiças com o coração alegre, pois, seríamos então, um caso perdido.

Eventualmente, alegria e tristeza, podem “invadir” um ambiente, como crianças peraltas ante uma porta aberta; feixes de alegria onde a tristeza vive, e vice-versa; uma anomalia emocional, onde o comum seja d’outra estripe. Mas, um pirilampo não ilumina à noite, tampouco, uma nuvem escurece ao dia.

Os disfarces derivam de conveniências pontuais, retratos de alguma esperteza do coração, mais que das emoções que o movem; o humor pode ser produzido externamente, por um bufão qualquer, levando alguém a rir sem sentir alegria; também a gravidade, pode ser derivada da prudência ante uma situação que se divisa, sem que signifique, estarmos tristes.

Que o habitat das emoções é o coração humano, a mesma Palavra o ensina. “O coração conhece a própria amargura, e o estranho não participará, no íntimo da sua alegria.” Prov 14;10

Assim, tanto a opressão, quanto a vera alegria, costumam fazer ninho nesse “nicho” profundo da alma humana. Pois sabemos que “coração” é uma metáfora significando o centro da nossa personalidade, o mais íntimo do ser, fonte de pensamentos, vontades e emoções.

Por isso esse centro deve ser alvo de profundo zelo, mais que outra coisa qualquer; “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração; porque dele procedem as fontes da vida.” Prov 4;23

Enquanto homem comum pode se alegrar em ambientes projetados pra isso, festas comes e bebes, o que pertence ao Senhor frui outro tipo de alegria; “Porque O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz, e alegria no Espírito Santo.” Rom 14;17

Quando fez Seu convite para salvação, O Senhor disse: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei.” Mat 11;28

Ele sabia que é o pecado que oprime de modo contínuo o coração humano; pois, mesmo nos momentos em que parece ter todas as razões para estar alegre, aquele que nele vive, sempre traz uma sombra íntima, pela certeza da alienação ao Criador, que turba eventual alegria, de modo que essa não seja plena.
Assim, “até no riso o coração sente dor; e o fim da alegria é tristeza” Prov 14;13

Diferente do que, por ter o coração alegre frui um banquete contínuo, essa alegria pontual do que está em inimizade com Deus, acaba no outro lado da rua.

Então, antes das emoções, propriamente, O Senhor trata da relação; do restabelecimento dela; “Isto é Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo; não lhe imputando seus pecados, e pôs em nós a palavra da reconciliação.” II Cor 5;19

A alegria espiritual é um patrimônio íntimo, que passa incólume pelas aflições da vida, num mundo pecaminoso e mau como o que vivemos. Dores, decepções, tristezas, concorrem, e vulneram nosso aspecto natural; o sobrenatural passa sobre isso; “Por isso não desfalecemos; ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.” II Cor 4;16

O “banquete contínuo” no qual nos alegramos é a certeza da paz com Deus, e que, malgrado as dores necessárias daqui, na casa do Pai, para onde vamos, a alegria agora íntima, então, será plena. “... as coisas que o olho não viu, o ouvido não ouviu, nem subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que O amam.” I Cor 2;9
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sábado, 19 de abril de 2025

Legendários; a caixa preta


“A verdadeira afeição, na longa ausência se comprova”. Camões

Se há uma coisa que nós, efêmeros habitantes da Terra, lidamos mal, é com o tempo. Temos pressa, mesmo que nem saibamos para onde ir. Quando Moisés foi chamado ao monte, onde receberia os Dez Mandamentos, ao povo foi ordenado que esperasse sua volta.

Como sua ausência se prolongou um pouco, presto decidiram que precisavam de um “plano B”; em novo deus; pois, Moisés teria ido embora como o “Seu”. Assim, fizeram o bezerro de ouro. Como tiveram que arrecadar o metal convencer pessoas e esculpir o dito bicho, e no regresso, Moisés após 40 dias os encontrou numa festa pós culto, aproximadamente, o tempo “insuportável” daquela espera fora de um mês.

Assim, não evidenciaram nenhuma afeição pelo Senhor, que os livrara milagrosamente da escravidão no Egito. Se, trinta dias de espera fora uma demora demasiada para eles, seus anseios festeiros se mostraram mais valiosos que o temor a Deus, e a gratidão por tão maravilhoso livramento.

Nesse caso, nem seria suportar o curso do tempo, que passaria de qualquer forma; antes, domesticar suas comichões por prazeres, festas, tendo valores maiores, em voga.

O sonho de consumo do homem religioso e ímpio, (os dois cabem na mesma bainha) seria “condensar” sua “obediência”, numa espécie de “Pagamento” a Deus com breve período de sacrifício, para depois, pecar “autorizadamente”; afinal, já “pagou o preço”.

Como os Orixás que oferecem seus préstimos em trocas de “despachos” que incluem alimentos e bebidas, esses, de bom grado fariam seus “despachos" pontuais, para “comprar” o direito a viver descuidadamente.

Além do triste retrato da miséria humana, isso é blasfemo, por reduzir ao Altíssimo, ao tamanho das entidades aquelas. Os católicos oferecem suas placas, “Por uma graça alcançada”; uns sobem escadarias de joelhos; outros andam grandes distâncias levando uma cruz; a ideia comum é sempre a mesma; invés do “negue a si mesmo” em submissão a Jesus, requerido, algum tipo de “Pagamento” pelos pecados cometidos, ou, por alguma graça desejada.

Agora, entre os protestantes, surgiram os tais “legendários”, que numa mescla de misticismo, coachismo, escotismo, radicalismo, pretendem resolver mazelas de uma vida de vícios, em três dias de retiro na natureza. A coisa é organizada, uniformizada, estilizada, dispendiosa. As inscrições mais módicas giram em torno de 1500 reais, o que torna a empresa elitizada; impensável para os mais pobres.

Alguns veem a isso como um resgate do “rito de passagem” tribal, onde o jovem era desafiado a matar uma grande presa, para, enfim, ser considerado um homem. Esses pretendem nesses três dias mágicos, passarem da vida viciosa em que viveram, para outra, virtuosa. Apresentar sua camisa laranja, seu número de inscrição a toda a tribo, para que essa veja, que enfim, o tal se tornou um adulto. Tenho medo que a coisa não seja assim tão simples.

O rito de passagem do mundo para Cristo é o mesmo para homens e mulheres; arrependimento, conversão, batismo. Da infância espiritual para a maturidade, a edificação pela Palavra, e o exercício em amor.

Depois de mostrar a insignificância de todos os dons, mesmo os mais portentosos, sem o concurso do amor, Paulo ensinou, que ancorar nosso cristianismo meramente neles, sem o mais nobre dos dons, era coisa de meninos; disse isso de modo indireto, mas perfeitamente compreensível: “Quando eu era menino falava como menino, sentia como menino, discorria como menino; mas logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.” I Cor 13;11

Incluindo, o amor, a capacidade de suportar, as renúncias, e o altruísmo, “não busca os próprios interesses”, talvez, descer ao vale do serviço desinteressado seja mais produtivo que subir ao monte da ilusão comercial, travestido de aperfeiçoamento espiritual.

Sim, é comercial. Embora segundo A Palavra é amaldiçoada a ideia que os dons de Deus se obtenham por dinheiro, Atos 8;20 esses encontros excluem automaticamente aos de baixo poder aquisitivo.

Temo que, seja mais um modismo como as paredes pretas, agora o escotismo gospel de camisas laranjas, cujos frutos tenham a brevidade da flor do hibisco.

Aliás, as “caixas pretas” das aeronaves usam a cor laranja, para serem encontráveis em caso de acidentes; nela estão as últimas falas na cabine, pelas quais as causas do sinistro podem ser deduzidas.

Se aquilo que demanda uma vida de renúncias se pretende produzir em três dias “mágicos”, temo que essa conversa já seja reveladora das causas do “acidente”. O homem ímpio e religioso pretende seguir assim; fazer um “pit stop” pra mostrar “urbe et orbe” sua “boa vontade”, depois continuar como antes, fugindo da Palavra da vida, que o desafia à necessária santidade.

Se alguns mudarem, deveras, será apesar do ritual, e não por causa dele.

Coragem de graça


“Mas, pela Graça de Deus, sou o que sou; Sua Graça para comigo não foi vã, antes, trabalhei muito mais do que todos eles, todavia, não eu, mas a Graça de Deus que está comigo.” I Cor 15;10

“Porque a Graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século, século, sóbria, justa e piamente.” Tt 2;11 e 12

A Graça tem sido usada de modo a corroborar conveniências ímpias, muitas vezes, para prejuízo dos proponentes. Tais, a apresentam com “patrocinadora” da licenciosidade, justificadora da omissão, opositora da disciplina. Ela fez tudo; a nós restaria desfrutar.

Paulo apresentou seu árduo trabalho na Obra de Deus como contraponto à Graça, sem o qual, - defendeu - a mesma teria sido vã; escrevendo a Tito abordou sua abrangência plena, porém, ensinou renúncia dos modos ímpios e mundanos, como nossa necessária contrapartida ao Amor Divino.

Não venham raciocínios falazes, maniqueístas, dizendo que estou esposando a salvação por obras. A Palavra é categórica: “Porque pela Graça sois salvos, por meio da fé, isso não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras para que ninguém se glorie.” Ef 2;8 e 9

Sendo a fé uma virtude abstrata, a única forma tangível dela se deixar ver, é mediante nossa maneira de agir, se, deveras a possuímos; no mesmo texto que diz que a salvação não é pelas boas obras, essas são colocadas como necessárias, pelo querer do Salvador; “Porque somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus, para as boas obras, as quais, Deus preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;10

Assim, as boas ações em Cristo não são um meio de salvação; antes, um meio de evidenciarmos que fomos salvos pela Graça do Senhor; “... mostra-me a tua fé sem tuas obras, que eu te mostrarei a minha, pelas minhas obras.” Tg 2;18

Infelizmente, desfilam por aí todo tipo de “engraçados”, digo, dos que acreditam que a Graça fez tudo; a eles não resta nenhum afazer. Ora, O Salvador foi categórico quanto ao propósito da salvação: “O Lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar os frutos da terra.” II Tim 2;6 “Eu Sou a videira verdadeira, Meu Pai É O Lavrador” Jo 15;1 “Nisto é glorificado o Meu Pai, em que deis muito fruto, assim sereis Meus discípulos.” Jo 15;8

Não poucos, refratários à necessária mordomia cristã, tentam disfarçar sua avareza e egoísmo sob as vestes da graça; desigrejados usam o argumento que se decepcionaram dentro de igrejas; agora não carecem mais delas, afinal, seriam “Templos do Espírito Santo” e bem podem se arranjar diretamente com O Senhor.

Assim como a graça recebida por alguém produz frutos visíveis, igualmente, O Espírito Santo, preenchendo um templo, não o levará errante, ensimesmado, separado do “Corpo de Cristo.” Decepções em nossa caminhada são “ossos do ofício”; “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo.” Jo 16;33 Muitos não entenderam a natureza da peleja, na qual foram chamados a fazer parte.

Nos dias de Gideão houve um chamado à covardia; digo, a que os covardes abandonassem a peleja, fossem para casa; Jz 7;3 O Eterno não queria que, uma vitória que Ele daria graciosamente, fosse um fomento à presunção.

Depois da Cruz de Cristo, não resta a mínima chance verossímil, de alguém presumir que será salvo pelos próprios méritos. Mesmo os mais valentes carecem da bendita remissão; são capacitados pelo Espírito Santo, para o necessário combate.

As decepções são estocadas do inimigo em nossa peleja; os adestrados pra mesma se esquivam com o “Escudo da fé”. A alguns hebreus que estavam decepcionados, e cogitando retroceder foi apresentado um enorme rol de gente que dera a vida por amor a Deus, os chamados “heróis da fé” e depois cotejadas as duas situações; “Ainda não resististes até o sangue, (como eles) combatendo contra o pecado.” Heb 12;4

Eventualmente nossas “razões” precisam ser vistas contra um pano-de-fundo melhor, para que entendamos que não temos razão.

Enfim, fomos salvos pela Graça inaudita; porém, desafiados às renúncias de paixões mundanas, “empoderados” em Cristo, para os enfrentamentos necessários; “A todos que O Receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus; aos que creem no Seu Nome.” Jo 1;12 

Não precisamos buscar atenuantes para nossos pecados, antes, perdão. Os pecados alheios que observamos são advertências para que não os imitemos; não, motivos para que nos acovardemos.

Devemos vestir a “Armadura de Deus”, triunfar Nele; o chamado agora, não é para covardes, como foi aquela vez; antes, como nos dias de Josué: “... Passai e rodeai a cidade; e quem estiver armado, passe adiante da Arca do Senhor.” Js 6;7
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