sexta-feira, 27 de junho de 2025

Riscos na trilha


“Bom é o sal; mas, se o sal degenerar, com que se há de salgar?” Luc 14;34


O tema abordado nessa fala, e no contexto imediato é a perseverança. Primeiro citou um que, começou uma torre sem calcular direito os custos; depois abandonou sem tê-la acabado, virando motivo de escárnios; em contraponto, a prudência de um rei que, indo à guerra com forças inferiores preferiu condições de paz, a combater numa batalha suicida.

Vistos esses exemplos, aos cristãos, foram arrolados os insumos necessários. “Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia tudo quanto tem, não pode ser Meu discípulo”. V 33

Invés de um chamado às conquistas como devaneiam alguns pervertedores da Sã Doutrina, Cristo desafia às renúncias. Não se trata de ascetismo, antes, de uma entrega sem a qual, não poderemos permanecer. Não serão, estritamente, nossos esforços que tornarão a peregrinação, possível; antes, a confiança inabalável, naquele que pode.

Quem não faz assim, é reputado como sal degenerado, que perdeu o sabor e a utilidade. “Não presta para a terra, nem para o monturo; lançam-no fora...” V 35

Os que esposam a doutrina conveniente do “uma vez salvo, sempre salvo”, ou, os calvinistas com sua “eleição incondicional dos salvos”, devem considerar esses textos que pintam em relevo a importância da perseverança, como supérfluos, desnecessários.

Qual seria o sentido do tentador laborar com suas legiões, tentando desviar aos santos do “caminho estreito”, se, a rigor isso é impossível? Aquele que é especialista em ardis, que seduziu à terça parte dos anjos, não saberia de algo tão mero?

As figuras que aludem ao abandono da fé, ao desvio da vereda da justiça são diversas; no texto em apreço, o sal que degenera; também, o cão que retorna ao vômito, ou a porca lavada ao lamaçal; II Ped 2;22 ainda, os que provaram dons do Espírito Santo, virtudes dos séculos futuros e caíram. Heb 6;4 a 6

Se isso não fosse um risco real, por quê, seria dito e reiterado tanto, em diversas formas, pontuando nossa necessidade de permanência na fé? “Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo”. Mat 24;13

O raciocínio circular, tipo, “se caiu foi porque não era salvo, se for salvo não cai”, é ridículo. Ninguém pode cair sem primeiro ter estado em pé; ou, pelo menos num lugar mais alto. Se provou das dádivas exclusivas dos santos, foi porque um dia, foi um deles. Se sua queda equivale a crucificar de novo O Senhor, (Heb 6;6) isso se dá porque provaram das consequências da Sua vitória. Caíram, porque não valorizaram como deviam.

Nosso arbítrio é limitado; nos cumpre uma escolha dual, entre obediência a Deus, ou, as coisas à nossa maneira. “Não sabeis que, a quem vos apresentardes por servos para obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para morte, ou da obediência para justiça?” Rom 6;16

Caso façamos a escolha pelo pecado, nosso Pai, quedará impotente, ante limites que Ele mesmo estabeleceu, como ilustrado na sina do pai do filho pródigo. Ele recusa-se a violar a liberdade que nos deu. O que seria o processo de degeneração do sal, senão, sair dum ambiente sadio rumando aos antros de perdição, como fez o jovem aquele?

A plena liberdade, e as inevitáveis consequências do que fizermos com ela, é algo tão grave, tão solene, que O Eterno evocou Céus e Terra como testemunhas, quando a legou. “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e tua descendência”. Deut 30;19

Fomos criados livres, e O Eterno não viola à condição que Ele nos deu, nem em defesa dos Seus interesses; como nos faria salvos “na marra”, contra nossas escolhas? Esses hibridismos homem/máquina, onde o homem será reduzido a autômato, coagido ao bel prazer do sistema, vertem da oposição; nenhum vínculo com o amor do Pai.

Todo o homem espiritual sabe, que precisa aprisionar aos maus instintos, se quiser continuar livre. Se for por eles vencido, será escravizado outra vez.

Essa renúncia aos desejos insalubres, aversão às punções malignas, a Palavra chama de andar em espírito. Os que assim fazem seguirão salvos. “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito”. Rom 8;1

O Evangelho é uma declaração de amor, tão intensa, que empreende esforços, visando persuadir entendimentos, e conquistar corações; não é uma armadilha de caça, que sai aprisionando e trancando a sete chaves.

Enfim, ninguém será salvo se não quiser; mesmo querendo deverá empreender esforços, nos quais será ajudado pelo Espírito Santo.
Gosto
Comentar
Partilhar

Nenhum comentário:

Postar um comentário