“O copeiro-mor, porém, não se lembrou de José, antes, se esqueceu dele.” Gn 40;23
O mestre de cerimônias do faraó, restituído ao seu posto depois de uns dias preso com José. Lá ouvira dele a interpretação de um sonho, cujo significado apontava para sua absolvição e consequente retorno ao cargo. O que, então, estava cumprido cabalmente.
José pedira que esse falasse em favor dele, na corte, uma vez que, estava preso sem culpa nenhuma. Cumprida a ditosa predição, o copeiro, “...não se lembrou de José, antes, se esqueceu dele...”
Assim a ímpia alma humana; em momentos de angústia, fraqueza, dependência, compromete-se a qualquer coisa, no afã de ser ver livre; uma vez obtido isso, em geral, com a mesma facilidade que se comprometeu, esquece.
Por isso, na Escritura é ensinado que o compromisso com a Palavra empenhada deve ser lei; “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna”. Mat 5;37
Desde a Antiga Aliança, se ensina a justiça em sua plenitude; somos exortados a agir conforme falamos. O cidadão dos Céus, além de outras qualidades necessárias, é “... aquele que jura com dano seu, contudo, não muda”. Sal 15;5 etc.
Para os que jogam compromissos sob o tapete, a angústia pode voltar, em alguns casos, retorna mais forte. Dois anos após o incidente da absolvição do copeiro ingrato, o Faraó sonhou algo que o perturbou; convocou os sábios do seu reino, em demanda duma uma interpretação convincente. “... Faraó contou-lhes seus sonhos, mas ninguém havia que os interpretasse”. V 8
Então, o distraído e desleal copeiro resolveu mostrar serviço; finalmente mencionou a José. “Então falou o copeiro-mor a Faraó, dizendo: Das minhas ofensas me lembro hoje”. V 9
Ofendera quem? O que compromete-se empenhando a palavra, não cumprindo-a, ofende à verdade, à justiça; em última análise, a Deus que colocou em nossas consciências a luz necessária para que saibamos como convém agir. Embora ignorantes acerca do Criador, eventualmente, ninguém o é, sobre o que deve fazer. A consciência o chama à responsabilidade. Há uma digital do Santo, até nos que ignoram a existência Dele.
Quando informados por ela, acerca do que nos convém, se o fizermos, a harmonia entre a consciência e ações, ensejará um silêncio de aprovação, paz. O hábito em agir sempre assim, forjará o caráter probo, digno.
Por outro lado, ignorar os íntimos comandos recebidos, pouco a pouco obrará a cauterização da consciência, o “número de Deus” riscado das nossas “agendas”. Não podendo mais falar-nos diretamente, mercê das nossas escolhas, quando O Eterno quer, manda um “recado” pela sua mensageira eficaz, a angústia.
Samuel Bolton um pregador puritano dizia: “Se a consciência não for um freio, ela será um chicote”.
Sei que sempre surgem os que romantizam o pecado, e em nome do “plano de Deus”, atribuem injustiças ao Santo; “Era o plano de Deus para José, por isso, o copeiro esqueceu”. Os que assim falam, confundem a presciência com a iniquidade.
Nessa linha “teológica” alguns defendem o embuste de Jacó e Rebeca, enganando a Isaque, acerca da bênção da primogenitura. “Precisava ser assim; Deus dissera que o maior serviria ao menor”. Sim, dissera. Mas, O Eterno não precisa de astúcias desonestas, para realizar Seu propósito.
Às portas da morte, quando também estava cego como Isaque, Jacó finalmente entendeu isso. Ia abençoar aos filhos de José, seus netos. José esperou vê-lo dando a primogenitura a Manasses o mais velho, como era usual.
Porém, sem nenhum truque, apenas a direção de Deus no íntimo bastou para que ele invertesse a ordem, segundo o Divino querer; “José disse a seu pai: Não assim, meu pai, porque este é o primogênito; põe tua mão direita sobre a sua cabeça. Mas seu pai recusou, e disse: Eu sei, meu filho, eu sei; também ele será um povo, também ele será grande; contudo, o seu irmão menor será maior que ele, e a sua descendência será uma multidão de nações”. Gn 48;18 e 19
Não estamos tratando de José, e sua inspiradora saga; mas de dar ouvidos à consciência quando ela fala-nos.
Muitas doenças ditas “psicossomáticas”, são derivadas das fugas inglórias nesse campo; como é impossível fugir da sombra, esses desprezam à saúde psíquica, apenas, preferindo perder a paz, que os maus hábitos. “Mas os ímpios são como o mar bravo, porque não se pode aquietar, e as suas águas lançam de si lama e lodo. Não há paz para os ímpios, diz o meu Deus”. Is 57;20 e 21
Jacó levou o peso dum ardil por toda a vida; no fim dela, cego, finalmente pode ver segundo Deus. A visão espiritual não requer retinas melhores; antes, ouvidos melhores.
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