sábado, 31 de dezembro de 2016

O Tempo e a vontade

Se quiser derrubar uma árvore na metade do tempo, passe o dobro do tempo amolando o machado.” (Provérbio chinês)

Interessante dito, pois, grosso modo parece contraditório; o sujeito gastaria mais tempo, para gastar menos tempo. Entretanto, a ideia central é que deve investir mais no preparo, quem deseja êxito em algo.

A Doutrina de Cristo, outra coisa não é, senão, que gastemos o tempo de nossa terrena peregrinação, “afiando o machado”, para que, após, tenhamos todo o tempo do mundo. “Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.” Mc 8;35

Salomão, em temática semelhante acresceu a necessidade de esforço maior, a quem prepara menos sua “ferramenta”. “Se estiver embotado o ferro, e não se afiar o corte, então, se deve redobrar a força; mas, a sabedoria é excelente para dirigir.” Ecl 10;10

Dentre as muitas coisas com as quais lidamos mal, uma das mais importantes é o tempo. Muitas vezes usamos a longanimidade Divina, Sua Santa Paciência, contra nós. Salomão, outra vez: “Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, por isso, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8;11

Isto é, não consideramos a possibilidade do juízo sobre o mal, pois, quiçá, ao longo do tempo se possa remediar o erro, ou, seja esquecido. Ora, quando O Eterno perdoa, lança no “mar do esquecimento”, mas, pecados não confessados, mesmo velhos, inda são feridas vivas perante Ele, e, eventual Silêncio, não significa conivência. “Estas coisas tens feito, eu me calei; pensavas que era tal como tu, mas, eu te arguirei, as porei por ordem diante dos teus olhos.” Sal 50;21

Temos certa fixação com datas “redondas” e na virada do milênio grande histeria tomou a humanidade; agora, no câmbio de ano, muitas queimas de fogos estão preparadas, de modo que, por alguns momentos, a crise profunda, inflação, desemprego, parecerão inexistir. Muitos enganam a si mesmos marcando como certas para o ano novo, coisas que deveriam ter feito há muito, e não fizeram; pelo hábito de procrastinar, não farão de novo.

Quantas vidas se perdem no trânsito, infelizmente, pois, muitos, saem em direção às suas festas com muita pressa, para “ganhar tempo.” Vimos há pouco a Corrida de São Silvestre em São Paulo, onde, o tempo foi usado como aferidor do desempenho dos atletas, o que, serve de figura para nossas vidas. A relevância não está em viver mais tempo, antes, em viver, de maneira tal, que qualquer que seja a duração de nossa vida, ela faça sentido, justifique-se, influencie, ilumine a quem nos contemplar na “maratona”. Ocorre-me uma frase de Demócrito: “Viver mal, não refletida, justa e piedosamente, disse, não é viver mal, mas, ir morrendo por muito tempo.”

Alguns se contradizem ao afirmar que creem em Deus e Sua Palavra, porém, quando morre alguém inesperadamente, “filosofam”: “Quando chega a hora de alguém morrer, não adianta, vai mesmo.” Ora, isso de ter uma hora marcada, um destino inelutável deriva do fatalismo grego, não, da Bíblia, que nos apresenta como arbitrários, consequentes.

Uma pessoa imprudente no trânsito não morre porque “chegou sua hora”, antes, porque chegou a colheita de sua semeadura, quiçá, “herdou” consequências de alheia culpa. Sabedor dessas variáveis, A Palavra de Deus nos exorta a tomarmos rumo num eterno presente, não deixando para um porvir que, nem sempre virá. “...Se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações...” Heb 3;7 e 8

O Tempo de Deus para cada um de nós basicamente está em nossa expectativa de vida normal, livre de acidentes, violência, enfermidades graves, coisas que são consequências de escolhas, geralmente, não uma Divina imposição. Dentro desse tempo, O Santo insta conosco no desejo que voltemos à comunhão consigo mediante O Salvador. “De um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós.” Atos 17;26 e 27

A rebeldia do egoísmo humano costuma mascarar a falta de vontade como se, falta de tempo. Muitos desses, quando constatarem, finalmente, a seriedade do que está em jogo, terão vontade, quando o tempo tiver passado, como nos dias de Jeremias: “Passou a sega, findou o verão, e não estamos salvos.” Jr 8;20

Dizemos que querer é poder, e, em certo sentido, é, mesmo; digo, não posso, nem irei, em busca do que não quero. “Conheço muitos que não puderam, quando deviam, porque não quiseram quando podiam.” (François Rabelais)

A Luz e os náufragos

“Olhou de um lado e outro, vendo que não havia ninguém ali, matou ao egípcio, e escondeu-o na areia.” Êx 2;12

Moisés matou um desafeto eventual, após certificar-se de que não haveria testemunhas. Esqueceu, porém, que o próprio hebreu que defendera, vira. Assim, para ações de uma “consciência” superficial, basta que desafetos não vejam, no mais, “tá limpo!”

Entretanto, quem tem uma consciência viva, não encontra lugar confortável para pecar, como José, em dias pretéritos àqueles, no mesmo Egito, quando a esposa de Potifar tentou seduzi-lo, estando apenas ambos em casa. Recusou, pois, pecaria contra seu senhor, e, contra Deus.

Nossa ideia de testemunho é rudimentar, pois, não excede à confirmação de atos, circunstâncias, através de outro igual, simplesmente. O Criador, porém, socorre-se de coisas, que num primeiro momento, nem ousamos imaginar. “Céus e Terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, bênção e maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e tua descendência.” Deut 30;19

Espere, dirá alguém, isso é uma figura de linguagem. Céus e Terra refere-se aos anjos e homens simplesmente, não, literalmente. Será? A Natureza com seus frutos é tomada como testemunha mais de uma vez, em prol dos feitos, bem como, da existência do Criador. Vejamos: “contudo, não deixou a si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas, tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria vossos corações.” Atos 14;17 “Porque suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto, seu eterno poder, quanto, sua divindade, se entendem, claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;” Rm 1;20

O renascido não evita testemunhos externos, simplesmente, antes, sabe-se exposto, pois, basta-lhe a voz da própria consciência como atestado de culpa, e, o silêncio da mesma, como aprovação. “Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente, sua consciência, seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os;” Rom 2;15 Paulo falou isso dos que “não tinham Lei” como tendo já, na consciência, a essência da Lei espiritual.

A Carta aos hebreus apresenta os sacrifícios do Velho Testamento como “sombras dos bens futuros”, ou seja, tipos proféticos do que Deus faria. Tais, obravam uma “purificação” exterior, segundo a carne; mas, a consciência, o templo espiritual da alma seguia impura, pois, os sacrifícios não tinham alcance até ela. Cristo, porém, foi à raiz do problema: “Se, o sangue dos touros e bodes, e a cinza de uma novilha esparzida sobre os imundos, santifica, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?” Heb 9;13 e 14

A purificação da consciência é operada pelo Bendito Sacrifício de Jesus, sobre os que se arrependem; após, é mantida pura mediante obediência. “Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, de uma boa consciência, e uma fé não fingida.” I Tim 1;5

Desse modo, invés de olharmos pra um lado e outro antes de um mau passo, a simples necessidade de que seja feito em oculto, é já um testemunho, que, tal ato deve ser abortado. O Salvador ensinou: “...a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas, quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque, são feitas em Deus.” Jo 3;19 a 21

Andando na Luz não tememos acusação nenhuma. Quem prefere o escuro das más obras, não conte com a eficácia do Feito de Cristo. “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado.” I Jo 1;7

O testemunho do Espírito, portanto, devemos buscar, mais que tudo. Se, alguém acha que a era da graça significa facilidade, deveria pensar melhor, pois, “Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais vós, será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, fizer agravo ao Espírito da graça?” Heb 10;28 e 29

Blasfêmia contra O Espírito Santo é o único pecado imperdoável; fazer isso é ter como mentiroso o testemunho que Ele nos dá. “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual, alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.” I Tim 1;19

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A força do amor

“Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, entrará, sairá, e achará pastagens.” Jo 10;9

Uma coisa nem sempre bem compreendida pelos que se aproximam de Deus, é Seu compromisso inalienável, com a liberdade. Embora, quem a Ele se chegue para salvação, o faça na condição de servo, tal servidão deve ser absolutamente voluntária. Desde a adesão primeira; “se alguém entrar por...” a condicionante, “se,” deixa em aberto a possibilidade de, não querer, simplesmente.

E, mesmo tendo entrado, certa “autonomia” nos é facultada, de modo que, permaneçamos servos, somente, se desejarmos. “...entrará, sairá...” O Senhor não baseia nossa permanência no Seu redil, a um conjunto de regras, tipo; isso pode, aquilo, não. Antes, na certeza que, o “Novo nascimento” inserirá nos salvos, paladar espiritual, de tal modo, que a certeza de termos Nele, vastas pastagens, se faz motivo suficiente para que voltemos, quando, uma razão qualquer, nos fizer sair.

O erro crasso do legalismo, vício dos Fariseus de então, e, de muitos, até hoje, é fundamentar a caminhada dos salvos num conjunto de regras exteriores, as quais, bem se pode “cumprir”, estando o interior totalmente depravado. Dos tais, disse: “Eles têm zelo por vós, não como convém; mas, querem excluir-vos, para que vós tenhais zelo por eles. É bom ser zeloso, mas, sempre do bem, não somente quando estou presente convosco.” Gál 4;17 e 18

A graça não nos deixou sem Lei, como imaginaria uma conclusão simplista, antes, mudou da Lei exterior, do não farás, para a interior, do Espírito, que testifica na consciência, silenciando nos bons passos, e, acusando, nos maus. “Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei... Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas, a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre.” Heb 7;12 e 28

Paulo ilustra o tribunal da consciência, onde, o pecador, mesmo, bem intencionado, não consegue absolvição por atos próprios, sequer consegue atuar plenamente, segundo a Lei interior; “De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas, o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito, querer está em mim, mas, não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas, o mal que não quero, esse, faço.” Rom 7;17 a 19

Ora, essa “sintonia fina” que ensina a equacionar bem e mal ao mais íntimo desejo, invés da aparência piedosa, de quem “joga pra torcida”, é a Lei do Espírito, nos reconduzindo às vastas pastagens do Salvador. “Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.” Rom 8;2 Livrou pela cruz, pela morte. Graça não é facilidade; é imerecida possibilidade, de, “morrendo” renascer.

O cumprimento dos preceitos exteriores bastava para que alguém se sentisse em paz com Deus, mesmo, com muitos maus desejos no coração; a Lei do Espírito, insta conosco, até que, mediante arrependimento, confissão, deixemos também, intenções impuras, na cruz.

Desse modo, quem é Templo do Espírito, não carece um acusador externo, para o cientificar de eventual mau passo, mediante o conhecimento da Lei de Deus, pois, de certo modo, todos os salvos conhecem; é a essência do Novo Testamento. “Porque esta é a aliança que depois daqueles dias Farei com a casa de Israel, diz o Senhor; porei minhas leis no seu entendimento, em seu coração as escreverei; Eu lhes serei por Deus, eles me serão por povo; não ensinará cada um a seu próximo, nem, ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; porque, todos me conhecerão...” Heb 8;10 e 11

Quem conhece O Senhor, volta ao aprisco sem mais estímulos que Sua Bendita Pessoa, pois, aprendeu ouvir, confiar na voz do Pastor. Assim, é improdutivo, desnecessário, construir “cercas” por líderes religiosos, cercando ovelhas que não são suas. Improdutivo, pois, um conjunto de regras faz um religioso, não, um salvo; desnecessário, pois, não carece prender os passos de quem já está preso pelo coração, por amor do Bom Pastor.

Por isso os servos do Senhor podem ser livres, malgrado, estejam presos a Ele por toda a eternidade. Quem conhece a força do amor, não a coteja com as frágeis cercas da insegurança humana. “Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, com veementes labaredas. As muitas águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, certamente o desprezariam.” Cant 8;6 e 7

sábado, 24 de dezembro de 2016

O Senhor do Natal

“Toda a multidão da terra dos gadarenos ao redor lhe rogou que se retirasse deles; porque estavam possuídos de grande temor. Entrando ele no barco, voltou.” Luc 8;37

O temor do Senhor é preceito bíblico, mas, o que pede que Ele se afaste é medo, apenas. Se, Jesus menino é bem vindo em todas as casas, como indica a comemoração generalizada do Natal, parece que, Cristo homem, O Senhor, não é tão bem vindo, assim.

Existe duas formas distintas de dar; uma, tendo minhas conveniências como alvo, a egoísta; outra, que tem as necessidades alheias como motor, a amorosa, altruísta. O Senhor jamais priorizou quantidade, antes, qualidade da doação, do sentimento que a moveu; deixou isso patente, quando afirmou que uma viúva pobre, que dera duas moedas, dera mais, que os ricaços que despejavam suas sobras.

Por isso, disse que seus opositores deveriam aprender o real significado do “Misericórdia quero, não, sacrifício.” Na misericórdia, busco o bem alheio; no sacrifício, recompensa própria. Assim, dar tudo que tenho, mesmo que sejam duas moedas, pode ser mais que centenas de moedas, se, o fim da primeira ação foi ajudar quem precisa, da segunda, ostentar a própria “bondade”.

Deus sempre foi cioso de tempos, datas, no que tange à Sua Obra, tanto que, O Messias só veio, “cumprida a plenitude do tempo” como ensinou Paulo. Vejamos um exemplo mais: “...todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze gerações; desde Davi até a deportação para a Babilônia, catorze gerações; desde a deportação para a Babilônia até Cristo, catorze gerações.” Mat 1;17

Assim, se, O Santo quisesse que comemorássemos o Natal, teria deixado registrada sua data precisa, que, certamente, não é dezembro, pois, nesse tempo, cai pesadas nevascas em Israel, auge do inverno, o que faz impossível a presença de pastores no Campo, e, duro a uma grávida, a peregrinação de Nazaré a Belém, como se deu, então.

Sua morte ordenou que fosse rememorada, “fazei isso, em memória de mim.” Deus É Eterno, e, a vida que propõe aos Seus, igualmente; desse modo, pouco contam efemérides, numa dimensão que, de certa forma, o tempo não passa.


O problema que faz infinitamente mais fácil comemorarmos o Natal, que a morte, é que, naquele caso, basta enchermos nossos átrios de luzinhas pisca-pisca, alguns penduricalhos numa árvore, ao som do mantra: “Feliz natal”!

No caso da morte Dele, convém, a quem rememora, uma identificação, e nova vida: “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim, andemos nós também em novidade de vida.” Rom 6;3 e 4

O batismo na morte Dele é figura da renúncia que espera dos Seus, em prol da Divina Vontade, que, A Palavra chama de cruz; dado esse passo, pós arrependimento, lega Seu Bendito Espírito Santo, evento que chamou, “Novo Nascimento”, sem o qual, disse, ninguém pode entrar, sequer, ver, O Reino de Deus.

Se, o juízo começa por nós, como disse mediante Ezequiel, e reiterou por Pedro, os que celebram Sua morte, na Santa Ceia, são exortados a um autojulgamento segundo a “mente de Cristo”, Sua Palavra: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, assim, coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor.
Por causa disto há entre vós muitos fracos, doentes, e muitos que dormem. Porque, se julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.” I Cor 11;28 a 32


Discernir o Corpo de Cristo, não tem a ver com o pão que comemos, como ensinam alguns; antes, O Corpo de Cristo é a igreja, da qual, somos células, então, ao participar do Santo Ritual, encenamos ser, “um dos tais”; sejamos e participemos, senão, melhor evitar, pois, profanaria ao Santo.

João Batista, o “amigo do Noivo” disse: “Convém que Ele cresça, e eu, diminua.” “Papai Noel”, o fantoche espetaculoso cresce tanto, que atrai todos os holofotes para si, e ofusca ao Senhor.

Se, por um lado somos todos iguais, em direitos, dignidade, todos somos alvos do Amor Divino, nossas ações no que tange a Ele, nos diferenciam. Se, posso e devo abençoar a todos, Ele, “reserva a verdadeira sabedoria para os retos...” Prov 2;7

E enquanto o mundo envia seu “Feliz Natal” a toda sorte de corruptos, ladrões, promíscuos, adúlteros, etc. O Senhor do Natal é mais seletivo em Seus votos: “Felizes os limpos de coração, porque eles verão a Deus;” at 5;8

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Orçamento espiritual

“Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro fazendo as contas dos gastos, para ver se tem com que acabar? Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, não podendo acabar, todos os que virem comecem escarnecer dele, dizendo: Este homem começou edificar e não pôde acabar.” Luc 14;28 a 30

O contexto é a rejeição, ou, oposição, que os convertidos sofreriam dos próprios familiares; antes de alguém tencionar segui-lo, O Salvador ensinou que deveria calcular os custos da empresa, para não abandoná-la inconclusa, e servir de escárnio aos que vissem.

Apesar de, chamados, em Cristo, à vida eterna, muitos se comportam como se tivessem pouco tempo, com pleitos imediatistas; de modo que, se Deus os não abençoar no tempo que esperam, se afastam, pois, não tinham verdadeira fé, apenas, esperanças em seus próprios devaneios.

Óbvio que, quem busca Deus deve esperar ser abençoado; entretanto, o será no tempo, e, do modo de Deus; por tê-lo buscado, não, por ter buscado bênçãos. “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e é galardoador dos que o buscam.” Heb 11;6

Algo que, podemos buscar seguros que é Vontade do Senhor, é edificação. Como a “Torre” da alegoria supra tem seus custos, nossa edificação, também. O conhecimento espiritual não se experimenta no âmbito intelectual; antes, é prático, requer que “encenemos” no teatro da vida segundo o “Script” do Salvador. 

Ele disse que, conhecendo a verdade, ela nos libertaria, mas, também, que isso só seria possível à medida que permanecêssemos em Sua Palavra; outra coisa não é, senão, obediência. “...Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos;” Jo 8;31

Assim, a primeira coisa que devo estar disposto a “investir” é minha vontade, pois, ao negar a mim mesmo, indispensável para salvação, devo passar a ter como diretriz, a Vontade Divina.

Não temos mais, como os discípulos de Jesus, oportunidade de aprendermos diretamente do Senhor; antes, devemos fruir a luz espiritual mediante obreiros que foram, por Ele, comissionados. Como, nem tudo o que reluz é ouro, digo, nem todo que empunha a Bíblia é idôneo, um pouco, devemos buscar por nós mesmos, lendo a Palavra; esse pouco permitirá discernirmos se, nossos mestres são bíblicos em seus ensinos, ou, bebem de fonte espúria.

A consequência esperada da edificação é a ortodoxia doutrinária, a firmeza que nos faz rejeitarmos simulacros, por, conhecermos à verdade. “Até que todos cheguemos à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.” Ef 4;13 e 14

Além de ortodoxos, dos maduros se espera postura sóbria quanto aos dons, e comprometida no que tange ao amor. Alguns acham que o ápice do crescimento é exercitarem-se nos dons espirituais, mais, num exibicionismo pessoal, que, eventual edificação do Corpo de Cristo.

Ora, em I Coríntios 13, Paulo colocou como inúteis todos os dons, se, desprovidos do amor. Depois, no mesmo contexto, evocou sua meninice pretérita, para denunciar a presente, de muitos, na igreja de então. “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.” V 11

Assim, os meninos que anseiam crescer, antes de aprender, devem buscar obedecer ao que sabem; pois, sabedoria espiritual, antes de burilar ao intelecto, traz brilho ao caráter de quem possui, deveras. “Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos. Escudo é para os que caminham na sinceridade, para que guardem as veredas do juízo. Ele preservará o caminho dos seus santos.” Prov 2;7 e 8

Como uma planta em fase de crescimento que a cada dia renova seu viço, devemos ser, tanto no aprendizado do que falta-nos, quanto, na prática do que já sabemos ser Vontade de Deus. “...para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim, andemos nós também em novidade de vida.” Rom 6;4

Se, nosso crescimento estagnou em determinada estatura deve-se unicamente à nossa postura relapsa, pois, a Vontade do Edificador não cambia. “Tendo por certo isto, que aquele que em vós começou a boa obra, aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;” Fp 1;6

Quantos personagens bíblicos fizeram as coisas parcialmente! Judas se arrependeu, mas, suicidou-se; Saul confessou sua culpa no tocante a Davi, mas, não se arrependeu; Pilatos testificou da inocência de Jesus, mas, não o livrou... enfim muitos começaram bem, e não concluíram. Mas, “quem perseverar até o fim, será salvo.”

domingo, 18 de dezembro de 2016

Confiar "no escuro"

“Ali o reto pleitearia com ele, eu me livraria para sempre do meu Juiz. Eis, que se, me adianto, ali não está; se torno para trás, não o percebo.
Se, opera à esquerda, não o vejo; se, se encobre à direita, não o diviso.” Jó 23;7 a 9


O infeliz Jó anelando no auge de sua angústia, direito de defesa. Seus três amigos que deveriam consolá-lo se portavam como promotores de justiça com severas acusações; privado de um defensor, desejava advogar a própria causa, contudo, cadê o Juiz?

Muitas vezes, quando dores agudas nos assolam, e, parece que nossas orações não são ouvidas; pior que isso, eventuais amigos acentuam com palavras tolas, nosso desalento, em horas assim, digo, desejamos que Deus se apresente, fale conosco, mesmo que, com palavras duras. Bem pode que estejamos sofrendo por culpa nossa, mas, ao não identificarmos a causa, tememos menos a exposição da mesma, que, esse sofrimento “no escuro”.

Entretanto, mediante Isaías O Senhor ensina que, em horas assim, quando a lógica parece contrariada, devemos repousar confiantes em Sua integridade, mesmo que, nossos entendimentos sejam privados de luz. “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do seu servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor, firme-se sobre seu Deus.” Is 50;10

Quando proferiu Suas bênçãos no Sermão do Monte, entre outros, O Salvador mencionou os que têm fome e sede de justiça. Ora, isso, outra coisa não é, que um convite ao sofrimento pelo Seu Nome. Quando diz que serão fartos, alude à justiça porvir, pois, nesse mundo teremos aflições.

Uma coisa devemos ter em mente, antes de mais nada: se, O Juiz não nos está acessível, é porque o julgamento não começou. Além disso, não precisamos, como Jó, advogar em causa própria, pois, nos foi dado Um Defensor incomparável: “...se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados, não somente pelos nossos, mas, pelos de todo o mundo.” I Jo 2;1 e 2

Notemos que nosso Advogado não comparece ante O Juiz com “chicanas jurídicas” tão na moda, testemunhas que nos defendam, tampouco, artifícios que poderiam diluir culpas; antes, admite nossas falhas, e, apresenta Seu Sangue como propiciação, o que satisfaz os reclames por Justiça do Juiz de Toda a Terra.

Diferente dos advogados que impetram o Habeas corpus, (Habeas corpus, etimologicamente significando em latim "Que tenhas o teu corpo") Wikipédia. Nosso Advogado consegue um “Habeas animu” (alma) mediante perdão aos arrependidos, para que, nossas almas não sucumbam nas prisões eternas.

Fique claro, porém, que O Senhor defende apenas quem O Confessa como Senhor, se arrepende, e se esforça para agir de modo a agradá-lo. É defensor de arrependidos, não, fiador do pecado.

Mesmo que, estejamos, eventualmente, inocentes, podemos errar por carência de compreensão do que está em jogo, como foi o caso de Jó. Se, por um lado, O Próprio Senhor testificara da integridade dele, por outro, quando falou, o censurou por falar no escuro. “Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?” 38;2

Adiante, após algumas nuances do abismo entre criatura e Criador, ele mesmo rasgou seu diploma e decidiu não advogar mais. “...relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, que eu não entendia. Escuta-me, eu falarei; te perguntarei, e tu me ensinarás. Com meus ouvidos ouvi, mas, agora te veem os meus olhos. Por isso me abomino, me arrependo no pó e na cinza.” 42;3 a 6

Então, se nossas aflições, no final, resultarem também numa visão mais apurada de Deus, Sua Sabedoria, Amor e Misericórdia, por dolorosas que sejam, ainda estarão plenamente justificadas.

As facilidades tecnológicas nos acostumaram com certo imediatismo que nem de longe se verifica na vida espiritual. “Não rejeiteis a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão. Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa.” Heb 10;35 e 36

Não é errado ansiarmos o fim das aflições; contudo, muitas delas invés da ação do inimigo ou do mundo, derivam, antes, da medicina de Deus, que permite que a “fornalha” se aqueça sete vezes mais, se, nela, nossas amarras podem ser queimadas. “Eis que já te purifiquei, mas, não como a prata; escolhi-te na fornalha da aflição.” Is 48;10

Entretanto, antes que alguém acuse ao Senhor de sádico, faz apenas o estritamente necessário, mesmo assim, se dispõe a sofrer conosco para o nosso bem. “Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.” Is 43;2

sábado, 17 de dezembro de 2016

O que farei de Jesus?

“Vós tendes por costume que eu vos solte alguém pela páscoa. Quereis, pois, que solte o Rei dos Judeus? Então todos tornaram a clamar, dizendo: Este não, mas, Barrabás. Barrabás era um salteador.” Jo 18;39 e 40

“Este” era Jesus, O Senhor, que foi preterido. Pediram liberdade ao salteador Barrabás, e, condenação a Ele.

Barrabás, uma espécie de “Black Bloc” da época, que, eventualmente se insurgia contra a dominação romana, lançando mão da violência. Assim, se, reduzíssemos ambos, Jesus e Barrabás a uma palavra, Aquele, seria, Verdade, esse, violência. Por que o povo preferiu que a violência ficasse livre, e a verdade fosse assassinada?

As inclinações da plebe inflada pelo Sinédrio não tinham poder cabal para definir o rumo das coisas, esse, pertencia a Pilatos ele jactou-se disso, ante O Salvador: “...Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e para te soltar?” Cap 19;10

Entretanto, político que era, não queria ficar mal com o povo, mesmo que, para isso, ficasse mal com a consciência, a verdade. Dera reiterados veredictos sobre a inocência de Jesus: “...Não acho nele crime algum.” 18;38 “...Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele crime algum.” 19;4 “...Tomai-o vós, crucificai-o; porque nenhum crime acho nele.” 19;6

Assim, mesmo tendo poder para fazer justiça, e, identificando total inocência no Acusado, o entregou à pena de morte, afinal, a violência solta em prejuízo da verdade era o anelo do populacho, pelo qual, pusilânime, se deixou levar. Lavar em público suas mãos, como fez, não o inocentava de sua injustiça, apenas, testificava sua traição à própria consciência.

Acho que começamos tanger a orla do problema; consciência. Essa é a razão pela qual as pessoas preferem o convívio com a violência, invés da verdade. Afinal, violência é pontual, eventual, nem sempre me atinge; contudo, verdade é absoluta, cabal, e insiste em mostrar que sou mau, malgrado, me presuma, bom.

A verdade está, para o império da mentira que se tornou o mundo desde a queda, como o calor para o gelo, a luz para as trevas; invasiva, ameaçadora, excludente, diametralmente oposta.

Desse modo, para o homem natural, tão afeito ao pecado e seus prazeres, evitar à verdade é questão de “sobrevivência”, pois, ela insiste em apontar gravemente para a necessidade da cruz, do sacrifício do servo da mentira, para que, novo homem, segundo Deus, renasça em Cristo.

Cada vez que alguém ouve as Boas Novas, e segue sua senda de pecados, indiferente, como Pilatos, constata a verdade sobre Cristo, mas, escolhe as conveniências mundanas ao preço de trair a própria consciência. Depois de fazer isso, muitos “lavam-se” também, querendo ficar bem com o público, dizendo palavras simpáticas sobre Deus, a fé, ou, acenando com seu esconderijo em religiões, como se, isso, equivalesse a abraçar a Cruz de Cristo.

Embora não pareça, rejeição a Cristo é a maior violência possível sobre a Terra, pois, todas as demais podem ser perdoadas, e seus agentes ainda serem salvos. Contudo, quem rejeita ao Salvador, além de fazer violência contra si próprio, pois, espiritualmente prefere a morte, é partícipe da violência feita a Jesus, uma vez que, sabedor, não se arrepende, e, corrobora, em sua escolha, com o que foi feito na cruz.

Falando de uns que se tinham convertido e recaíram, a Bíblia diz que em seus corações crucificaram de novo ao Senhor; “... assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, o expõem ao vitupério.” Heb 6;6 Então, uma vez, nós crucificamos ao Senhor Inocente; cientes disso, só nos resta arrependimento, pedido de perdão.

Isso vai muito além de um conjunto de palavras, por eloquentes, belas, que sejam. Requer identificação de renúncia com o Salvador, sem a qual, nada feito. “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim, andemos nós também em novidade de vida.” Rom 6;3 e 4

Gostando disso, ou, não, estamos diante de Cristo, como Pilatos, e, não podemos transferir escolhas que estão em nosso poder, para outros que nos cercam. Como ele, precisamos encarar o problema: “ O que farei de Jesus, chamado Cristo”? Mat 27;22

No fundo, as alternativas se repetem; podemos optar entre verdade e violência; aquela, liberta, essa, escraviza. Desgraçadamente, muitos se agarram de tal modo à vida que levam, que a morte os leva, nem percebem.

Quem entende o que está em jogo, abre mão, e ganha, como disse Jim Elliot: “Não é tolo quem abre mão do que não pode reter, em troca de algo que não pode perder.”