segunda-feira, 10 de outubro de 2016

As razões de Deus

“Ele ( O Senhor ) reserva a verdadeira sabedoria para os retos. Escudo é para os que caminham na sinceridade”. Prov 2;7

O falso imitando ao verdadeiro vem de larga data; na Grécia antiga tínhamos sofistas combatendo os filósofos; no Israel de antanho, os falsos profetas opondo-se aos servos do Eterno.

Por que o falso não cria algo original, uma falsidade “zero kilômetro” invés de sair imitando ao verdadeiro? Bem, ele pode fazer isso, contudo, amiúde, prefere herdar a reputação, eventuais benesses de algo pronto, que imita.

Assim, profetas de Baal alegavam profetizar pelo “Espírito do Senhor”; tanto que, um deles, que feriu a Micaías perguntou por onde passara o Espírito do Senhor, de si àquele, de modo que profetizasse também. Em nossos dias, os defensores de suas religiões, por espúrias que sejam, advogam, que todas são boas, no fim, levam a Deus. Poderiam dizer que é mero hábito cultural, com fito de viver melhor, mas, no fim do arco íris, o foco seria a relação com Deus.

Ora, religiões, por úteis que pareçam, são resultado de esforços humanos na tentativa de, à humana maneira, abrirem caminho rumo a Deus. Jesus Cristo é o Amor Divino manifesto, O Próprio Caminho aberto, trazendo junto “placas de sinalização”, Sua Palavra, que orientam nossa caminhada.

Estabelecido isso, os falsos que não abdicam de suas naturezas perversas, sabedores da reputação do Salvador, disseminam suas falsidades “em nome de Jesus”, pois, assim, ante incautos ganham o desejado prêmio de parecer verdadeiros.

O surrado, “aparências enganam” tem um paralelo psíquico mais venenoso ainda; sensações, sentimentos. As pessoas frequentam determinados antros de heresias, dizendo que lhes faz bem, que sentem-se melhores depois de ir lá, como se, o alvo de Cristo fosse esse. Ora, o fumante fica nervoso à abstinência, mas, fumando um, “acalma”; tal “nervosismo” é reflexo do organismo viciado em nicotina, acusando no “sinal do painel” que precisa reabastecer. O danoso consegue disfarçar-se de bom em consórcio com a sensação, por ele, domesticada. Assim, os falsos fazem suas vítimas sentirem-se melhor.

O triunfo do agradável sobre os fatos foi versado por Fernando Pessoa: “Tens um anel imitado, e vais contente de o ter; que importa o falsificado, se é verdadeiro o prazer?” Essa mesma lógica se faz algemas de quem prioriza as enganosas sensações, malgrado, a origem.

Primeiro, sendo eu, mau, tal qual, sou, ao encontrar com Aquele que não cometeu pecados, terei uma visão mais ampla da minha maldade; um sentimento de tristeza, arrependimento há preceder, eventual conversão. Feito isso, a alegria de ser perdoado, os primeiros respiros do novo nascimento; aprendidos os primeiros passos, concorrem “as aflições de Cristo” das quais, os salvos são herdeiros também. Não é agradável, é necessário.

Cristianismo não é o império das sensações boas, antes, a escola teórico-prática do conhecimento de Deus na Face de Cristo, em meio a perseguições, incompreensões, dores.

O verso inicial adjetiva sabedoria como escudo, arma de defesa. Essas, são necessárias quando sofremos ataques. Quanto mais próximos do Verdadeiro estivermos, tanto mais, incomodaremos aos falsos. Um ministro teologicamente sadio é a “marca d’água” que desnuda imitadores; isso, lhes incomoda.

Pois, se, por um lado, salvação não depende de sabedoria, mas, de fé, essa, uma vez nascida há de desejar ardentemente conhecer melhor àquele que se fez seu alvo. A isso está atrelada a vida do salvo; não é mero deleite. “A vida eterna é esta: que conheçam a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” Jo 17;3
Em dias idos, esse lapso foi fatal: “Meu povo foi destruído, porque lhe faltou conhecimento...” Os 4;6

Quando nos apresentam alguém, normalmente dizemos: “Prazer em conhecer”, quando, estamos apenas encontrando, falando pela primeira vez; conhecer é mais profundo e demorado. A gentileza em inglês fica melhor. “Nice to meet you”. “Bom encontrar você.”

O “problema” de conhecermos melhor a Deus, é que, paralelamente conhecemos melhor a nós mesmos. Isso incomoda um pouco, mas, pra quem decidiu “negar a si mesmo” paulatinamente vai entendendo as razões do Eterno. O “cara legal” que eu pensava ser, é tão ruim que precisa mesmo ser morto, para que Cristo viva em mim. Minha vida dupla sempre será palco de disputas, rivalidades. “Mas, como então, ( nos dias de Abraão ) aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o Espírito, assim é, também, agora.” Gál 4;29


Carne peleja para que escolhamos as coisas que lhe aprazem, inda que, mortais; Espírito, as que agradam a Deus, mesmo que soem desagradáveis. Por isso, a sabedoria espiritual não tem conexão com neurônios privilegiados, inteligência; antes, com caráter, e esse, submisso a Deus. “Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos.”

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O Preço de ver

“Porque na muita sabedoria há enfado; o que aumenta em conhecimento, aumenta em trabalho.” Ecl 1;18

Salomão, de certa forma deplorando à sabedoria, da qual, dissera ser, vaidade, aflição de espírito. A própria, ensina que, não causa-nos aflição, ver as coisas nos devidos lugares, antes, seu oposto. Vaidade pressupõe um esforço, uma empresa que não terá resultados úteis, quiçá, os terá pífios, insignificantes, em face ao esforço demandado.

Ver as coisas fora do lugar o afligia, diante da perspectiva de que se não poderia mudar isso. “Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular.” “Atenta para a obra de Deus; quem poderá endireitar o que ele fez torto?” Ecl 1;15 e 7;13

Teria Deus, feito algo imperfeito de modo que a sabedoria humana pudesse identificar? De quais imperfeições estaria falando? Jó perguntara: “Quem do imundo tirará o puro? Ninguém.” Dissera. Jó cap 14;4

Porém, Salomão viu uma depuração possível; “Tira da prata as escórias, e sairá vaso para o fundidor;” Prov 25;4 Assim, o que Deus “fizera torto” seria uma mescla de virtude com vício, de boas com más inclinações, figuradas como prata entre escórias.

O que Deus “fez de mal” foi dar absoluta liberdade às Suas criaturas, e mesmo sendo contra Sua Vontade o advento do pecado no mundo, foi Seu desejo amoroso, deixar ao homem a possibilidade de pecar, para que, eventual obediência fosse voluntária, não, automática. Da livre vontade humana, “encorajada” o concurso das escórias, que inquietavam o sábio.

No fundo, todos temos sabedoria que possibilita vermos as coisas como são; entretanto, quando más, conosco abrigadas, são dolorosas; tendemos a desviar o foco para onde dói menos, quiçá, dá certo prazer. “Temos olhos de lince para erros alheios, de toupeiras para os nossos”, como disse Erasmo de Roterdã.

Assim, identificar as escórias demanda a graça de Deus, como fizera ao dar sabedoria a Salomão. A nós, mediante o “Novo nascimento” permite que vejamos a “trave no nosso olho” antes, do cisco no alheio. Mais; permite suportarmos à Palavra de Cristo, coisa que se revela impossível, a quem não é capacitado pelo Espírito Santo. “Mas quem suportará o dia da sua vinda? Quem subsistirá, quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives, como sabão dos lavandeiros. Assentar-se-á como fundidor, purificador de prata; purificará os filhos de Levi, refinará como ouro e como prata; então, ao Senhor trarão oferta em justiça.” Mal 3;2 e 3

A mesma moléstia, antes referida, de ver melhor os erros alhures, que em nós, leva certos “teólogos” a relativizarem A Palavra, alterarem o que O Altíssimo disse, para não adequarem suas vidas, ao Preceito Eterno. Isaías os viu: “A terra está contaminada por causa dos seus moradores; porquanto têm transgredido as leis, mudado os estatutos, quebrado a aliança eterna. Por isso, a maldição consome a terra...” Is 24;5 e 6

Paulo apóstolo sofreu quando viu em si mesmo a mescla de prata com escórias, desabafou: “Sabemos que a lei é espiritual; mas, eu sou carnal, vendido sob o pecado. O que faço não aprovo; o que quero, não faço, mas, o que aborreço, faço. Se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas, o pecado que habita em mim. Porque sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito, querer está em mim, mas, não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas, o mal que não quero. Ora, se eu faço o que não quero, já não faço eu, mas, o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo.” Rom 7;14 a 21

Tal “ciência” nos dá trabalho, pois, quem consegue ver essas escórias todas deve lutar contra elas em si mesmo; no aspecto ministerial, ser, à medida do possível, agente iluminador, para que outros vejam melhor também. 

Contudo, se nos dias de Salomão não havia perspectiva de se poder endireitar o que Deus “fez torto”, Paulo vislumbrou Uma Luz, no túnel sombrio da revelação: “Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim, que, eu mesmo, com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas, com a carne à lei do pecado.” Rom 7;25


A natureza espiritual regenerada por Cristo, permite andar segundo o Espírito, que endireita o que a carne pecaminosa entorta. “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas, segundo o Espírito.” Rom 8;1 O que fora aflição de espírito, Deus converteu em vida no Espírito.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Eutanásia

“Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, como também nosso Senhor Jesus Cristo já tem me revelado. Mas, procurarei em toda a ocasião que depois da minha morte tenhais lembrança destas coisas.” II Ped 1;14 e 15

O próprio Pedro interpreta o que pretende dizer com, “deixar este meu tabernáculo”, “minha morte”, diz ele. Fala como homem espiritual, morador no “tabernáculo” do corpo. Se, as coisas sensuais, que atiçam ao arrepio dos desejos, vulgarmente se chamam, “coisa de pele”, as que atinam ao homem interior, que terá vida eterna e desde agora deve buscá-las, são “coisas do espírito”.

Paulo ensinou: “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.” Col 3;1 Isso não é veto às coisas naturais que necessitamos, antes, prioridade, eco do que dissera O Salvador: “Mas, buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça; todas estas coisas vos serão acrescentadas.” Mat 6;33

As coisas atinentes à carne são efêmeras, as do espírito, eternas. “Porque tudo o que há no mundo, concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida, não é do Pai, mas, do mundo. O mundo passa, e sua concupiscência; mas, aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.” I Jo 2;16 e 17

Ah, o homem carnal! Capaz de exibir suas devassidões para que todos vejam; depois, bradar que ninguém tem nada com isso. Jacta-se das algemas na ilusão de que é livre. O clássico avestruz “escondido” na areia. Pensa que o bloqueio dos próprios olhos equivale à visão dos demais.

Sempre que um doente consulta um médico, esse, avalia os sintomas e faz um diagnóstico. Diagnóstico aglutina duas palavras gregas, e significa, “através do conhecimento”.  O “Médico dos Médicos” Jesus Cristo, faz o mesmo com nossas enfermidades espirituais; através do Seu conhecimento, Sua Luz, revela-as, e movido por seu amor, prescreve a cura; contudo, fazermos o tratamento, ou, não, é opcional.

Nossas almas, espiritualmente mortas, carecem nascer de novo, e, para isso, recomenda a “eutanásia” da alma corrupta, ( negue a si mesmo ) pretensa gestora de si mesma, para que em seu lugar seja criada uma nova, submissa e inclinada a conter as insanidades da “pele” em busca de um modo de vida agradável a Deus. “..apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é vosso culto racional. Não vos conformeis com este mundo, mas, transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Rom 12;1 e 2

O mais santo homem, ainda possui duas naturezas, carne e espírito, por isso, “sacrifício vivo”, ou seja, uma vontade ainda latente pelas coisas da carne, contida pela força do espírito humano recriado, fortalecido pelo Espírito Santo. Tanto o homem regenerado, pode, e muitas vezes age, carnalmente, quanto, o carnal, pode ser religioso imitador de um modo de vida que, na realidade, não possui. Carnalidades do espiritual são fraquezas de conduta que requerem arrependimento, confissão, abandono.

A “espiritualidade” do carnal, não passa de um cautério psíquico que, sonegando os gemidos da consciência pela justiça de Deus, abafa os lapsos de arrependimento com fartura de religião. Ao renascido, A Palavra de Deus é Lei; transgredida, é pecado; só resta arrependimento; ao religioso, “Todas as religiões são boas, válidas, cada qual pensa de um jeito, etc.”

O vigor do corpo que permite os prazeres da carne tem prazo de validade; como será depois? Notemos que, Pedro, citado ao princípio, desejava que depois de sua morte, ainda vigorassem seus ensinos. Sim, as coisas espirituais não findam com a queda do corpo; na verdade, começam, pois, durante o viço natural a obediência era um fardo, livre do casulo corrupto, será um deleite, um prazer.

Um terço dos anjos criados perfeitos caiu, porque não tiveram “culpa” nenhuma da perfeição; herdaram. Nós, somos chamados a sermos coautores de nosso aperfeiçoamento, sofrendo, durante o processo, as agruras da imperfeição, para que, jamais caiamos na lábia de algum “querubim sedutor”. Os insanos que blasfemam de Deus por que Ele permite dores na Terra, toupeiras espirituais que enxergam setenta metros, e pretendem alvejar coisas que distam anos-luz de seus olhos enfermos.

Desde Moisés, temos a advertência: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, porém, as reveladas pertencem a nós e nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.” Deu 29;29

Vemos que a Revelação é para nossa obediência, não, para que julguemos ao Todo Poderoso. Quanto mais perto, afetivamente, de Deus, alguém está, mais noção tem, da imensa distância moral, e da própria indignidade.


Muitos, infelizmente, descobrirão demasiado tarde, que casulo não voa.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Têmpera, a cautela de Deus

“Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas, se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.” Abraham Lincoln

Nada mais enganoso que caracteres humanos e seus múltiplos disfarces. Amiúde dizemos que, aparências enganam, quando, na verdade, é a ingenuidade que prefere se enganar. Diferente de Deus, sem nenhum trauma por aceitação, nós, tendemos a colocar primeiro o “vinho bom” reservando o mau para, quando do concurso da embriaguez. Noutras palavras, acentuamos nossas pretensas qualidades, e diluímos, maquiamos nossos defeitos.

Assim, invariavelmente as pessoas nos decepcionam “para baixo”, são piores do que parecem. Muitas vezes, até o que parece meritório carece melhor análise, pois, pode ser mero disfarce. Sócrates dizia: “Quando alguém for reputado justo, lhe caberão por isso, encômios, aplausos, louvores. Nós, ficaremos sem saber se o tal, é justo por amor à justiça, ou, aos louvores que recebe. Convém colocá-lo em situação tal, que de todas essas coisas seja privado; se, inda assim permanecer justo, o é, por amor à justiça.”Necessariamente, ante palavras assim, assoma a saga de Jó, o herói bíblico que fora fiel na fartura, e seguiu sendo, na adversidade.

Quem conhece nossa história mais recente há de lembrar quão incisivo era Lula quando deputado de oposição, em suas denúncias contra a improbidade e corrupção. Em dado momento chegou a dizer que no Congresso havia pelo menos uns trezentos “picaretas”, políticos venais. Contudo, após várias tentativas subiu ao poder, e, ele que fora um sindicalista pobre, morando em apto de 40 m2 tornou-se um milionário, bem como, assim são, seus filhos. O sujeito zeloso da ética, da probidade sumiu nas águas fartas e poluídas do poder. Quem falava mal dos corruptos, em pretensa honestidade, hoje fala mal de juízes, procuradores, em evidente sinal de medo, acessório da culpa.


Acho graça quando, ao apostarem nas loterias, várias vezes acumuladas, o que amontoa veras fortunas em prêmios, as pessoas que jogam fazem seus planos benevolentes de todo bem que fariam se ganhassem. A lógica da palafita jamais será a mesma que a do palácio. Fazem tais planos benévolos ancorados no que presumem ser; contudo, se o ser fosse mesmo seu alvo, sua meta, seriam, a despeito das circunstâncias, invés de estarem fazendo suas preces à fortuna, nas longas filas do ter. Acho que, no fundo, tentam negociar hipocritamente com a sorte, prometendo serem bonzinhos se, ela lhes for favorável.


José Ortega Y Gasset, filósofo espanhol disse: “O homem é o homem, e suas circunstâncias”. Isso, vertido para uma linguagem vulgar equivale ao popular, “A ocasião faz o ladrão.” Se isso fosse veraz, uma minoria de caracteres nobres que não capitula ao vício, mesmo em ocasiões favoráveis, deve ser considerada anômala, estragada? Ou, ao ter furtado, alguém, em ocasião favorável deve ser inocentado, uma vez que, a culpa foi da ocasião?


Na verdade, tendemos a ver o mérito que falta, na situação que falta, quiçá, na pessoa ausente. Por exemplo: No futebol, determinado jogador erra bisonhamente uma jogada, e logo o torcedor lembra outrem que não erraria. “Tira essa pereba e bota o fulano”, gritam. Mas, nada garante que, o fulano da reserva faria melhor. De igual modo, nas situações cotidianas, não raro apreciamos erros alheios dizendo: Se fosse eu, jamais faria isso; esquecendo que, eventualmente, eu, faço coisas ruins, que outros não fariam.


Nossas oportunidades, quer grandes, quer módicas, são o “poder” no qual somos investidos, e onde, aceitemos ou não, nossos caracteres são testados. O Salvador ensinou que, o fiel no pouco será colocado gestor do muito. D’onde se conclui que o adjetivo fiel, é mais que as variáveis circunstanciais, pouco, ou, muito.



O Eterno, conhecedor de nossa natureza caída, não nos guinda a lugares altos, sem, antes, aperfeiçoar nosso caráter em meio à dura têmpera das aflições. "Eis que te purifiquei, mas, não como a prata; provei-te na fornalha das aflições." Is 48;10

Ao exortar que os grandes se façam pequenos espera que, eventual poder não nos suba à cabeça em detrimento do dever. “...Os reis dos gentios dominam sobre eles, os que têm autoridade são chamados benfeitores. Mas, não sereis vós assim; antes o maior entre vós seja como o menor; quem governa como quem serve.” Luc 22;25 e 26



Por fim, Paulo: “Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas, cada qual também para o que é dos outros. Haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas, esvaziou-se, tomando forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; achado na forma humana, humilhou-se, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” Fp 2;4 a 8

"Confissão da Palavra". Mantra de loucos

“... Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal?” Jó 2;10
Aos olhos de Jó, esperar apenas facilidades na vida, era uma perspectiva de doidos, de loucos. Salomão pautou algo semelhante: “No dia da prosperidade goza do bem, mas, no dia da adversidade considera; porque também Deus fez a este, em oposição àquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.” Ecl 7;14

Tanto para Jó, quanto, Salomão, pois, os dias maus em contraponto aos bons, eram Obra de Deus. Na verdade, o Próprio Salvador, a isso, corroborou: “No mundo teres aflição, mas, tende bom ânimo, eu venci o mundo”; ou, Isaías, o profeta, cogitou tempos de absoluta escuridão, na qual deveria nos bastar O Caráter do Santo, Seu Excelso Nome. “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do seu servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor, firme-se sobre o seu Deus.” Is 50;10

Por que alisto isso tudo? Porque viceja na praça uma “teologia” capenga, herética, chamada “Confissão da Palavra”, onde, incautos são ensinados a pegarem determinadas passagens bíblicas e saírem repetindo como robôs, até que, “a esperança ganhe substância, se torne fé”. Coisas que Deus disse, ensinam, devemos decretar, determinar; as más que chegam a nós, convém rejeitar, pois, vêm do diabo.

Um dos expoentes dessa aberração é R. R. Soares, que, “baseado” no texto de Isaías 53 que diz, que o Salvador levou sobre si nossas enfermidades, os crentes não podem mais ficar enfermos, pois, seria uma ação do maligno. Só que, o verso seguinte deixa ver de quais “enfermidades” se fala: “O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, pelas Suas pisaduras fomos sarados.” “Nos traz a paz...” não, saúde. Claramente trata-se de enfermidades da alma, pecados. Timóteo tinha problemas de estômago, Trófimo ficou doente, Eliseu, Paulo; todos eram servos de Deus. Nesse momento que escrevo estou de cama, com febre dor de garganta; me presumo servo também, embora, da raia miúda.

O problema dessa “teologia”, herege do primeiro ao quinto, é que ela transforma o paciente em médico, digo, o faz comportar-se como se fosse; coisa de doido como diria Jó. Imagine que consultemos um clínico qualquer, e, tal, nos prescreva uma aspirina de seis em seis horas. Invés de a tomarmos, peguemos a receita e saímos repetindo indefinidamente, o que está escrito: “Uma aspirina de seis em seis horas.” Hora, esse é o “script” dele, minha parte é fazer o que ele mandou.

Igualmente, nas coisas de Deus. O Senhor disse: “Bem aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.” Será que, se eu sair “confessando” isso O verei? Nunca. A receita é “limpar o coração”, não, repetir o que está escrito. Mas, como fazer isso? Essa pergunta já foi feita e respondida; “Com que purificará o jovem seu caminho? Observando-o conforme tua palavra.” Sal 119;9 devemos, pois, caminhar, andar, agir, segundo A Palavra, não repetir o que ela diz.

Interessante é que, tais “Mestres” escolhem a dedo quais passagens devemos “confessar”. Textos como: “Não há um justo sequer”, “Enganoso é o coração, mais que todas as coisas, perverso.” “Não há um bom, senão, Deus;” ou, mesmo, “No mundo tereis aflições”, esses não; afinal, seriam “negativos”. Negativos ou, positivos, são verdade. Quem a teme, jamais vai se aproximar deveras, de Deus.

Em momento algum O Altíssimo tencionou que fizéssemos da Sua Palavra, “matéria prima” para mantras, antes, depois de rejeitarmos às más influências baseássemos dela, nossa reflexão, para pautar ações, caminhos. “Bem aventurado o homem que...tem o seu prazer na lei do Senhor, na sua lei medita dia e noite.” Sal 1;1 e 2

Enfim, qualquer ensino, por ortodoxo que pareça, se, substituir a obediência, santificação, por técnica, é blasfemo, pois, supõe que O Todo Poderoso seria manipulado por vermes indignos como nós.

 Certo é que, no caso de Jó era mesmo o inimigo causando aflições, porém, com permissão de Deus. Se, para um íntegro como Jó O Eterno permitiu, por que seria diferente conosco? É vero que, Deus “Faz com que todas as coisas contribuam juntamente para bem dos que O temem”, contudo, apenas Ele sabe o que, no final se revelará nosso bem.


Tendemos a chamar assim, ao bom, como crianças que preferem alimentos feitores de obesidade, aos, saudáveis. Priorizar o que necessitamos invés do que desejamos é Ele que faz soberanamente, não recebendo “ordens” da Terra. Deprimente ver multidões ofertando seus aplausos e “améns” a esses perversos. A mulher de Jó falou como doida, esses, agem como tais. “Os loucos às vezes se curam, os imbecis, nunca.” Oscar Wilde

domingo, 2 de outubro de 2016

Efeito manada

“Toda a multidão da terra dos gadarenos ao redor lhe rogou que se retirasse deles; porque estavam possuídos de grande temor. Entrando ele no barco, voltou. Aquele homem, de quem haviam saído os demônios, rogou-lhe que o deixasse estar com ele;” Luc 8;37 e 38

Duas situações antagônicas. A multidão pedindo que O Senhor se afastasse, o liberto desejando manter-se perto Dele.

Os gregos definiram a multidão como um “monstro acéfalo”, ( sem cérebro ) na maioria dos casos isso se verifica. Basta que uma voz de comando dê o primeiro grito, tanto faz, “herói”, “crucifica-o”, “não vai ter golpe”, “grande é a deusa Diana”, “fora daqui”, presto, o efeito manada, acaba unificando os anseios do “monstro”.

Pouco importava se, o recém liberto fora um alijado social, que vivia entre sepulcros autoflagelando-se, e, agora estava livre. Alguém viu mais valor numa vara de porcos, e, tal, deve ter dado a voz de comando à manada; O Senhor se retirou. Contudo, quem peregrina pelo deserto sabe, como ninguém, apreciar o valor da água; digo, um que fora cativo de uma legião de demônios, sabe bem, quanto vale, ser, enfim, livre. Por isso, grato ao Libertador, tencionou permanecer com Ele.

Não obstante se “filosofeie” a primazia da qualidade sobre a quantidade, grosso modo, essa tem sobrepujado àquela. Lembro de um texto que enviei certa vez a um editor esperando que me ajudasse a publicar um pequeno livro. O material era de cunho teológico, e, a editora, especializada em publicações desse viés. Devolveram-me com muitos elogios ao conteúdo sadio, mas, escusaram-se dizendo não ser do seu perfil; noutras palavras, um livro como aquele, tinha pouco apelo comercial, não venderia. Na apreciação deles, pois, tinha qualidade, mas, por isso, prejudicava à quantidade.

Basta que entremos numa livraria “Evangélica” aliás, para ver em destaque um monte de esterco, doutrinariamente falando, e eventuais obras de sadio conteúdo, esquecidas em prateleiras dos fundos. Autores como Benny Him, Kennet Hagin, Napoleon Hill, e, outros tantos, menos votados, cujos ensinos desafinam da boa hermenêutica Bíblica, vendem muito, dão lucro, portanto, fazem sucesso. De novo, a multidão, cujo apelo deveria ser evitado, ensino que vem desde Moisés. “Não seguirás a multidão para fazeres mal; nem, numa demanda falarás, tomando parte com a maioria para torcer o direito.” Ex 23;2

Cheia está a Internet desse lixo de jogar com a curiosidade em busca de números, visitas. Certos sites são especialistas em manchetes bombásticas, para atrair; aí a gente vai ler e não passa de um traque; ou, seria um truque? Nesses, depois de uma ou duas, considero-os sinônimos de fraude; não  leio mais, mesmo que, eventualmente, tenham algo de valor. Seu histórico desqualifica.

De igual modo trato ministros cujos ensinos em parte são corretos, noutra, hereges. Toda heresia precisa certo, quê, de verdade para ser palatável, pois, em seu estado “puro” não é. Assim, o que de correto esses histriões ensinam serve de “farinha” entre a qual dissolvem seu “princípio ativo”.

Então, quem se impressiona com números, multidão, coisas que “viralizam”, certamente se manterá afastado do Salvador, pois, aos olhos naturais será como foi aos seus coevos, quer, gadarenos, quer, judeus. Isaías anteviu tal desprezo: “...olhando nós para ele, não havia boa aparência, para que o desejássemos. Era desprezado, o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, experimentado nos trabalhos; como um de quem escondiam o rosto, era desprezado, não fizemos dele caso algum.” Is 53;2 e 3

Desgraçadamente, os demônios que possuíam ao infeliz, identificando O Senhor, pediram misericórdia; homens que viram isso tudo, pediram distância. Um pecador de coração endurecido consegue ser pior que o diabo.

Não sem razão, pois, O Senhor figura a mudança que faria nos convertidos com um transplante de órgãos. “Dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos, os observeis.” Ez 36;26 e 27


Essa sociedade apodrecida, alienada de Deus, no prisma político faz moda da opção das minorias, por imoral que seja; no aspecto filosófico, a onda é o “politicamente correto”, marchar com a maioria. 

O Eterno não se impressiona com números, quer módicos, quer, astronômicos; Ele criou os astros. O que impressiona ao Santo é caráter, fidelidade, integridade, como tinha Jó.

Assim, Sua ceifa será qualitativa, seletiva, pouco importando quantos serão. Quem usufrui a libertação de Cristo quer ficar perto dele; e, a Seu tempo, ficará, O verá pessoalmente. “Meus olhos procurarão os fiéis da terra, para que se assentem comigo; o que anda num caminho reto, esse me servirá.” Sal 101;6

sábado, 1 de outubro de 2016

Doutores de si

“Pregues a palavra, instes a tempo, fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme suas próprias concupiscências;” II Tim 4;2 e 3

Segundo a Bíblia, um abismo chama outro; algo mau tende a inflacionar, invés de se manter inerte, estanque.

A instrução de Paulo a Timóteo alude aos que não podiam ouvir A Palavra como ela é. Sendo a mesma, “insuportável”, qual a providência dos tais? “Amontoariam doutores para si...” Ora, esse ilustre falecido, o “Si”, precisa meramente, um sepulcro, não, mestres que o ressuscitem. Desde que o homem passou a decidir por si, o bem e o mal, morreu, alienou-se do Criador.

Como, morte espiritual não equivale a não existência, mas, separação de Deus, o Salvador se dispôs a falar com mortos que existem, portanto, podem ouvir. “Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, os vivifica, também o Filho vivifica aqueles que quer... Em verdade, em verdade vos digo, que vem a hora, agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, os que ouvirem viverão.” Jo 5;21 e 25

Entretanto, para esses mortos dispostos a ouvir, o preceito é que se livrem, na sombria cruz, desse ser fantasmagórico, para que o novo homem seja gerado. “Negue a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” Luc 9;23

Se, o livre arbítrio, cantado em prosa e verso nos permite as escolhas que quisermos, nem ele, nem fonte alguma, por prodigiosa que pareça, está autorizada a alterar um til sequer, do que O Santo falou. Como vento que separa palha do trigo; ninguém pode aumentar o peso da palha, tampouco, ingerir na força do vento.

Entretanto, os “doutores” do si mesmo criam seu “evangelho” alternativo, pois, ensinam a viver melhor, aos tíbios, que deveriam, de uma vez por todas, aprender a morrer melhor. Quem vai a Cristo cheio de si volta apenas com o que foi, como o jovem rico o fez.

Aprendamos com Abraão, o “Pai da fé”. O Eterno lhe disse: “Toma agora o teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi.” Gên 22;2  

Invés de ouvir diretamente ao Criador, tivesse um “doutor” do si para o ajudar e teria sido bem mais fácil. Teria dito: “Não é confiável o que ouviste, pois, chamou-te de pai de único filho; tens dois, Ismael e Isaque; ademais, amas ambos, Ele pediu um filho que amas, bem podes oferecer ao filho da escrava; Isaque, jamais." Palavras assim soariam brandas aos ouvidos do Patriarca, mas, ele saberia que seriam mentirosas.

Ismael fora um arranjo precipitado, por ter duvidado, Sara, da Promessa de Deus. Embora, Deus preservou sua vida, o abençoou, para o propósito Divino, não contava, antes, seria o filho da promessa, o “Único filho” em questão, Abraão bem o sabia.

A problema maior do “si mesmo” não é ele em si, se é que me entendem; antes, a pretensão de ser ele, em Deus. Seguido deparo com as farisaicas orações do si; “Senhor, visite os enfermos, cure-os, os presídios, conforte-os, dê-nos um mês abençoado, abençoe essa pessoa que está lendo e vai digitar “amém”. Cáspita!! Como o cara cheio de si é vazio de noção! Ser solícito atencioso, com desvalidos, enfermos, presos, foi o que O Salvador nos ordenou que fizéssemos; quando o fizerdes, a mim o fareis, disse. Invés de fazer o que foi ordenado, “Dom Si”, ordena que Deus faça isso em seu lugar. Que sem vergonha!

O si é rei no império dos direitos, desconhece os árduos caminhos na província humilde do dever. Alguém famoso assume publicamente uma relação espúria, antinatural, depressa o si o defende. “Cada qual sabe de si, todos têm direito de ser felizes” apregoa. Como são as coisas no seu reino, diga ele. 

Porém, no Reino de Deus somos servos, não contam nossos direitos, antes dos deveres. Por esses somos exortados à diligência, aqueles, não demandam greves, passeatas, gritaria, antes, ceifaremos no tempo certo, aos olhos do Rei.


Acho irônico, mas, justo quando alguém é depenado, depois de breve ancoragem nos domínios dos mestres de aluguel. Quais interesses cuidaria um doutor de si, senão, dos próprios? 

No mais belo encômio ao amor, feito por Paulo, disse que ele, “não busca os próprios interesses...” Os interesses de Deus antes dos meus, santa loucura a qual somos desafiados. " Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens...” I Cor 1;25 Assim, só se entrega deveras a Deus, quem está fora de si...