“Indo eles, acharam como lhes havia sido dito; prepararam
a páscoa... Tomando o cálice, havendo dado graças, disse: Tomai-o, reparti-o
entre vós; tomando o pão, havendo dado graças, partiu-o, deu-o, dizendo: Isto é
meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim.” Luc 22;13, 17 e
19
Sabemos que a Páscoa dos judeus tinha dois itens essenciais;
um cordeiro, e ervas amargas. Entretanto, elementos que seriam periféricos ao ritual,
pão e vinho, aparecem, aqueles, são omitidos na descrição.
Não há nenhuma razão plausível para concluirmos que
estivessem ausentes, pois, se fosse mera divisão de pão e vinho, não demandaria
uma preparação antecipada, como foi o caso.
Acontece que, a ocasião era precisamente de transição de
um tipo futuro, para outro, pretérito. As amarguras da servidão estavam prestes
a ser removidas, tipificadas pelas ervas amargas, o próprio Cordeiro de Deus,
que o cordeiro pascal tipificava estava presente, prestes a dar-se, para tirar
o pecado do mundo.
Então, O Salvador desviou a ênfase dos tipos que apontavam
Sua vinda, para outros que, desde então, passariam a apontar Seu feito; “Fazei
isso em memória de mim.”
Assim, embora a fé deva ser um eterno presente, de modo a
pautar nossas escolhas na vida, “o justo viverá da fé”, mesmo assim, digo, lida
bem com o passado e com o futuro. Tanto confia nas Sagradas narrativas, quanto,
descansa nas suas promessas.
Para a humanidade pré-Calvário o Messias era uma promessa
porvir; para os que o sucederam, uma realidade cumprida. O Câmbio de um
sacerdócio imperfeito, também típico, por seu antítipo, o Sacerdócio Eterno, de
Cristo.
"De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio
levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de
que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, não fosse
chamado segundo a ordem de Arão? Porque, mudando-se o sacerdócio,
necessariamente se faz também mudança da lei.” Heb 7;11 e 12
“Que não foi feito segundo a lei do mandamento carnal, mas,
segundo a virtude da vida incorruptível. Porque dele assim se testifica: Tu és
sacerdote eternamente, Segundo a ordem de Melquisedeque. Porque o precedente
mandamento é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade” Heb 7; 16 a 18
Desse modo, mesmo a Lei de Moisés foi “deixada de lado”
isto é, cumpriu seu papel, como os elementos da antiga páscoa, que foi “repaginada”
na Santa Ceia. A Lei, disse Paulo, serviu de aio para nos conduzir a Cristo;
após Ele, O Evangelho, baseado em dois mandamentos: Amor a Deus, e ao próximo.
Aliás, o mesmo Salvador dissera: “A lei e
os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus; todo o
homem emprega força para entrar nele.” Luc 16;16
Assim, os que pretendem fundir Graça de Cristo com alguns
mandamentos do Antigo Pacto, de certo modo, mesclam a Santa Ceia com a Páscoa
hebraica, num misto de pão e vinho, com ervas amargas e carne assada.
Mas, o mesmo Paulo não disse que a Lei é Santa, justa e boa?
Disse. Socorro-me de Spurgeon: “Uma coisa boa não é boa fora do seu lugar.” A
Lei, ensinou Paulo, tinha como fito manifestar o pecado e a consequente
necessidade que temos do Salvador; por isso, “aio para nos conduzir a Cristo”.
A morte de fato que a Lei requeria dos pecadores, foi
transmudada numa morte simbólica, o batismo, desde que, após ele, perseveremos
na submissão ao Salvador. “Ou não
sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua
morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que,
como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim
andemos nós também em novidade de vida.” Rom 6;3 e 4
Tão sério é isso, que o apóstolo equacionou a adultério,
pretenderem os mortos para a Lei, voltarem a ela. “Porque a mulher está sujeita
ao marido, enquanto ele viver, ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre.
De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for de outro; mas,
morto o marido, livre está da lei, não será adúltera, se for de outro marido. Assim,
meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que
sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de darmos
fruto para Deus.” Rom 7;2 a 4
Como na transição Páscoa-Ceia, os elementos de ambas estavam
presentes, mas, a ênfase foi nos da última, na conversão, os princípios morais da
Lei de Deus também estão, porém, a ênfase é no amor, pois, esse, vivido
devidamente, patrocina apenas o concurso das coisas contra as quais, não há
lei.