sábado, 31 de outubro de 2015

No fim da linha, o que tem?

Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro Deus semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme; farei toda a minha vontade.” Is 46; 9 e 10   

Anuncio o fim desde o princípio. Isso, mal entendido poderia dar “razão” aos fatalistas. Aos que advogam que está tudo escrito, não temos escolha, portanto, deixemos rolar.

Todavia, a coisa não é tão rasa assim. O Eterno não nos faria arbitrários se, nossas escolhas não tivessem importância. Quando anuncia o fim desde o princípio refere-se à imutabilidade de seu propósito quanto ao juízo, tanto dos justos, quanto, dos injustos. Em Seu Santo Tribunal não há juízes com indicações políticas devendo favores a eventuais réus; a justiça, tão somente ela, triunfará. 

Entretanto, cada um é livre para fazer suas escolhas; a única “imposição” necessária são as consequências, ouçamos: “Dizei aos justos que bem lhes irá; porque comerão do fruto das suas obras. Ai do ímpio! Mal lhe irá; porque se lhe fará o que as suas mãos fizeram.” Is 3; 10 e 11 

Contudo, as consequências espirituais do que fazemos mediante o corpo serão colhidas “no fim”; assim, o “durante” pode parecer melhor aos errados que aos que optam pelo caminho estreito. Salomão advertiu de tal logro. “Há um caminho que ao homem parece direito, mas, o fim dele são caminhos da morte.” Prov 14; 12 

O problema de muitos reside nisso; avaliar o fim baseado na sensação do “durante”, de como parece. Ora, se o Eterno revelou já, o fim, não precisamos depender de fajutos pareceres, basta que conheçamos o que Ele deixou. 

Muitas crenças que são blasfemas em sua essência, negam ao Feito de Cristo e Sua eficácia, fazem obras excelentes no prisma da caridade; afirmar que tais, perecerão no fim, afronta ao senso de “justiça” de alguns. Afinal, se fazem tantas coisas boas, como seriam tidos por maus no juízo? 

Aí voltamos ao problema original do drama Divino-humano. O Traíra dissera: “Vós mesmos sabereis o bem e o mal”. Noutras palavras: Vós mesmos conceituareis o bem e o mal, a despeito dos conceitos de Deus. Esse “bem”, pois, traz em seu germe o orgulho que, ciente de sua feiura, como o “Fantasma da Ópera” precisa usar máscara; aquele, um artefato de plástico, esses, pretensas boas obras simulando humildade. 

A Palavra não chama uma boa obra de má, se, feita por um mau; antes, chama de morta, quando, praticada por alguém, espiritualmente morto. “Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus.” Heb 6; 1 Nem entra em detalhes sobre as obras pretéritas, porém, lança-as todas na vala comum dos mortos. 

A questão crucial  é a vida. Após, passa a valer o preceito de Tiago que, a “fé sem obras é morta”. Antes, as obras sem fé e obediência não passam de máscaras de um morto querendo parecer vivo. 

Acaso é bom um criador de porcos, (  bom para seus animais ) por que os alimenta, cuida, lava a pocilga, etc. ? No final os matará, pois, sua “bondade” atina aos seus interesses meramente. Os porcos são meios, o lucro é o fim. De igual modo, os que esposam doutrinas anti-bíblicas, não obstante o “bem” que façam, não passam de tratadores de porcos, como o Pródigo em seu mal fadado destino. Afrontar ao Eterno e matar aos que Ele ama é o alvo do porqueiro mor, satanás.

Desgraçadamente somos uma geração que, salvas raras exceções, não pensa. Vê. As coisas nos “são” como parecem; verossimilhança ocupa o lugar da verdade; marketing conta mais que fatos. 

Sucesso ministerial em muitas “igrejas” da moda depende de técnicas; manipulação massiva. O “sucesso” de um profeta verdadeiro não se mede em “curtidas”, “acessos” virtuais; antes, em estar plenamente alinhado à Vontade de Deus, mesmo que acabe falando sozinho, como Ezequiel. “E os filhos são de semblante duro, obstinados de coração; eu te envio a eles e lhes dirás: Assim diz o Senhor Deus. E eles, quer ouçam quer deixem de ouvir (porque são casa rebelde), hão de saber, contudo, que esteve no meio deles um profeta.” Ez 2; 4 e 5 

Os “profetas” da moda se ocupam de “Divinizar” as cobiças dos pecadores; os de Deus, como Ele, anunciam o fim que Ele revelou, não, produzem “facilidades” circunstanciais em busca de aceitação. 

São escolhidos pelo Altíssimo; aquele que o Eterno convocou a Si, não carece do aplauso do homem. Tais febres, não terão peso nenhum, no fim.

domingo, 18 de outubro de 2015

Hábitos noturnos

“Ele ( Deus ) reserva a verdadeira sabedoria para os retos. Escudo é para os que caminham na sinceridade” Prov 2 ; 7

Interessante definição da sabedoria como arma de defesa, um escudo. Mas, quem atacaria uma dama assim, tão nobre? Alguns predicados podem nos oferecer certos indícios. Seus hospedeiros, os retos; a qualidade em relevo, verdadeira. Desse modo, parece lógico inferir que, há uma “sabedoria” falsa nos depósitos de pessoas da caráter tortuoso.

Já nos diálogos de Platão encontramos vários gládios entre filósofos e sofistas; aqueles, garimpeiros da verdade; esses, meros manipuladores de homens, via retórica persuasiva, produtora de verossimilhança. Sócrates os acusava de produzirem crença sem ciência; adesão sem entendimento.

Qualquer semelhança com os políticos corruptos de hoje não é coincidência, antes, o superlativo da arte, em plena atuação.

O exemplo clássico de sofisma é partir de premissas verdadeiras para induzir à conclusões falsas. Assim: “O cão tem quatro pernas; o cão anda. A mesa também tem quatro pernas, logo...” Percebem a malícia?

Seguido ouvimos: “O PT está no poder há treze anos; corrupção sempre existiu; o PT não inventou a corrupção...” E aí, cacete? Também não inventei o adultério, isso não me autoriza a “cantar” minha vizinha!

Que sensação horrível ser governado por gente muito pior que a gente! Pessoas que não receberia em minha casa são pagas, também por mim, para viver num palácio.

Outro dia, a Presidente desafiou a quem teria moral para atacar sua honra. Não bastasse terem acanalhado palavras como, república, democracia, agora apatifam mais duas, moral e honra. Ora, a desonra é tal, em face às mentiras usadas na sua campanha, sem falar na roubalheira, que só se atreve bravatear assim ante plateias amestradas, escolhidas a dedo para gritarem em forma de mantra, mais um crasso sofisma: “Não vai ter golpe”!

Ora, golpe seria o uso da força e meios inconstitucionais pra chegar ao poder; impeachment é um instrumento da lei para punir autoridades que descumprem-na. Por que não testa sua honra ante plateias normais num estádio de futebol, por exemplo?

Outro sofisma gasto pela choldra é: O único meio legítimo de chegar ao poder é via urnas, voto; a cantilena do tal “terceiro turno”. Ora, mas, não é verdadeiro isso? É. Mas, verdade fora do lugar presta serviço à mentira. O que está em jogo não é a chegada de alguém ao poder, sequer sabemos quem chegaria; antes, a punição de quem chegou lá por meios escusos, ilícitos.

Agora cobram célere punição de Eduardo Cunha, que estaria envolvido em corrupção também. Pois é, se está, seja exemplarmente punido; mas, Aloísio Mercadante, Edinho Silva, a Presidente com seu estelionato, o Molusco que amealhou fortuna pra si e seus filhos ficam de fora? Vale só conta Cunha que tem autoridade pra deflagrar o processo de impeachment? Esse é o senso de moral e de honra dessa gentalha que instrumentalizou ao STF com “ministros” vermelhos, e colocou na PGR Rodrigo Janot a serviço do partido, não, da justiça.

Minha decepção vai à estratosfera quando deparo com textos de gente de bem que foi cooptada pelo discurso fajuto desses párias, e não consegue se libertar mais. Os defende, roubem quanto roubarem. Se, a vera sabedoria citada no princípio é uma dádiva que Deus reserva aos retos, algo ainda está torto em tais mentalidades; talvez, a escala de valores.

Tiago também dissocia a astúcia, esperteza, da veraz sabedoria, diz: “Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja, sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.” Tg 3; 13 a 16

Sentimento faccioso contra a verdade; eis o “espírito” que anima aos gritadores de mantra sofísticos!

A armadura espiritual, aliás, é prescrita, justo, para tais desvios do sofista mor e seus sequazes. “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, poderosas em Deus para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus...” II Cor 10; 4 e 5

Contudo, diria alguém, religião e política não se discute; seu texto funde ambas. Eis aí um sofisma mais, de gente que, por falta de argumento, “promove a paz” tentando silenciar no outro, as vozes da própria consciência.

Não há assuntos proibidos quando o escopo é a verdade. A luz é proveitosa para os retos, como as trevas o são, para os ladrões. O sol não tem culpa dos hábitos noturnos de certos bichos.

sábado, 17 de outubro de 2015

Pena da morte

“Porventura não são poucos os meus dias? Cessa, pois, deixa-me, para que por um pouco tome alento. Antes que eu vá para o lugar de que não voltarei, à terra da escuridão, da sombra da morte; terra escuríssima, como a própria escuridão, terra... sem ordem alguma, onde a luz é como a escuridão.” Jó 10; 20 a 22

Vemos nesse fragmento de Jó, que ideia tinham, então, da morte. Sombra, escuridão, desordem, secura... se desse para evitar tão soturno destino...

A morte é uma abstração que usamos, contudo, para nomear frutos mui concretos. “A morte abestada acaba com a vida da gente”, como diria o Tiririca.

Fato de algo ser abstrato revela sua essência, não inexistência. Quantas coisas com tal natureza permeiam nossas vidas? Amor, ódio, fé, esperança, orgulho, humildade, etc. Todas existem, mas, não podem ser vistas em si mesmas; carecem o reflexo do “espelho” de nossas ações. Amiúde, motivações identificam, deveras, os atos, pois, mesmo esses, podem ser hipócritas; usar vestes nobres para disfarçar intentos vis.

Costumamos personificar as coisas abstratas facilitando a compreensão. A Palavra de Deus faz isso em relação à morte. Ela entra num ambiente, passa para outro: “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, pelo pecado a morte, assim, a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.” Rom 5; 12

Vemos que essa entrada se deu em consórcio com o pecado; sua progressão atingiu todo gênero humano vide, a mesma parceria. Então, tornou-se rainha; “...a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão...” V 14 Até os que não afrontaram diretamente a Deus, como fizera Adão, herdaram o mesmo “salário” como diz adiante. “Porque o salário do pecado é a morte, mas, o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.” Cap 6; 23

Vemos uma vez mais o consórcio nefasto, pecado e morte fazendo seus estragos. Se, valores abstratos são identificados ao espelho dos nossos atos, a morte não é em si, senão, reflexo das ações contra a Vida, Deus; noutras palavras, pecado. Pecado é o feitor; a morte, o feito. Se fosse possível alguém vencer ao primeiro, automaticamente venceria à segunda; suprimida a causa sumiria a consequência.

Falando nisso, a morte foi inconsequente ao “assalariar” Um que não merecia. Imaginemos, como ilustração, que Deus tenha dado corda a ela dizendo: “Reine à vontade sobre a raça caída, pague seu salário a cada um; contudo, se um dia matares a um inocente, um sem pecados; nesse dia, te condenarei à morte”.

Pedro interpretando ao Feito de Jesus lembra a impotência da morte para deter em seu reino um Vencedor. “Este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes, matastes pelas mãos de injustos; ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela;” Atos 2; 23 e 24

Deus anulou a sentença injusta da morte; colocou ao Inocente como Senhor sobre ela. Paulo ensina: “Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés. Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte.” I Cor 15; 25 e 26

Como, pra remover uma sombra que nos atrapalha precisamos deslocar o corpo que a produz, para derrotar a morte é necessário vencer o pecado que lhe “dá vida”. “..havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.” Tg 1;15

O nascer de novo em Cristo demanda identificação mediante arrependimento, com Sua morte, e à partir de então, mediante obediência, com Sua Vida. “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.” Rom 6; 3 e 4

Vida, sempre foi o tema da mensagem do Salvador; jamais melhorias efêmeras, prosperidade material, promoção etc. “...quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entrará em condenação, mas, passou da morte pra a vida.” Jo 5; 24

Qualquer outro ensino não passa de engano, erro de endereço; “...Por que buscais o vivente entre os mortos?” Luc 24; 5 

Além do rogo de Jó, pois, que ansiou o fim do “juízo” para que morresse, Deus enviou um Inocente, pra morrer em nosso lugar, matar a morte em nosso favor. A morte ainda vive, pra quem O ignora; os Seus, passaram do morte pra vida. Bendito seja!
!

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Vacas carnívoras

“Subiam do rio sete vacas, formosas à vista, gordas de carne, e pastavam no prado. E subiam do rio após elas outras sete vacas, feias à vista e magras de carne; paravam junto às outras vacas na praia do rio. As vacas feias à vista e magras de carne, comiam as sete vacas formosas à vista e gordas. Então acordou Faraó.” Gên 40 ; 2 a 4

A linguagem poética que lança mão de metáforas, alegorias, num primeiro momento pode soar ilógica, uma afronta à razão. Todavia, após um olhar mais apurado revelará grande eloquência, poder de síntese, qualidades apreciáveis na arte da comunicação.

Sendo as vacas animais herbívoros, a ideia de uma devorar outra soa absurda. Contudo, as “vacas” em questão tinham apetite voraz, devorador.

Os animais eram meras figuras que representavam anos; seus adjetivos, gordas, magras, fartura e carência, respectivamente. Assim, a comunicação usada pelo Espírito Santo tem sua “lógica” mui peculiar, que, não raro, escapa aos homens naturais.

Paulo desenvolveu isso, disse: “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido.” I Cor 2; 14 e 15

Ensinando ao príncipe Nicodemos, sobre o “Novo nascimento” onde o Espírito Santo passa a habitar nos salvos, O Mestre colocou dois obstáculos intransponíveis sem Ele, no que tange ao Reino. “...aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.” Jo 3; 3 e 5 Sem essa ajuda, pois, o homem não vê, ( entende ) nem entra, ( converte-se ) ao Reino de Deus. Mesmo a ideia do Novo Nascimento foi difícil para Nicodemos, pois, a viu pelo prisma natural.

Claro que, no exemplo do sonho de Faraó, deve ter sido deveras humilhante constatar que todos os “sábios” do reino eram incapazes de entender, pior, ter que pedir auxílio a um estrangeiro que mofava na prisão. Um dos vícios mais latentes na natureza humana após a queda é o orgulho; assim, ao colocar-nos totalmente dependentes de outro demonstra que, antes mesmo de nos salvar, O Senhor começa a cuidar de nossas enfermidades da alma.

Afinal, o início de todo o drama foi ao revés disso, digo, a “serpente” propôs motim, independência, ao casal edênico. Dissera: “Dependam apenas de si mesmos, rompam com Deus.” O Salvador recolocou os pingos nos is; “Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” 

O inimigo prometera “vacas gordas”; divinização, independência, poder, orgulho, mas, toda essa pompa era mero “estoque de vento” sonho de nossa Presidente; Na real, o que se viu foi a morte, a perda do paraíso, alienação do Criador.

O Salvador, por Sua vez, propõe “Vacas magras”; autonegação, submissão, cruz. Contudo, lega a vida eterna, ressuscita ao espírito humano, reconcilia com Deus, regenera. Nesse prisma, não seria má ideia deixarmos que as vacas magras devorassem às gordas uma vez mais.

O espírito do não convertido é morto, não no sentido de não existência; antes, de não comunhão com Aquele que dá a vida. O Novo nascimento não é uma geração do nada, antes, reconciliação. Essa ação enseja a luz espiritual, e o ingresso para o Reino de Deus.

Sem isso, tal espírito não passa de um estrangeiro prisioneiro, esquecido e alienado, qual estava, então, José. Mas, uma vez chamado, ao corresponder uma expectativa do Rei, acabou herdando imensa glória imerecida para si.

De igual modo, o Reis dos Reis, posto que não precisa, anseia algo de nós, arrependimento, contrição; feito isso, também se dispõe a nos dar coisas imerecidas, em vista do que Ele é; amor. 

Naquele caso, José era a exceção; “Acharemos em todo o Egito um homem como esse, no qual haja o Espírito de Deus?” Dissera Faraó; no prisma da conversão é a regra; digo, a mesma só é possível mediante ação do Espírito de Deus.

Afinal, aos convertidos se reserva como estoque de alimento os ricos celeiros da Palavra de Deus; Palavra essa, que tanto para entender, quanto, cumprir, só é possível quando somos assistidos pelo Bendito Espírito Santo.

Nele, não há contradições intransponíveis, figuras indecifráveis, antes, a luz é progressiva e constante. “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. ”Prov 4; 18

E os “justos” de Deus não são aqueles que têm a ficha mais limpa no passado, antes, aqueles que recebem como Senhor a Cristo, que apaga tudo, e cria uma ficha nova.

sábado, 10 de outubro de 2015

Ativismo ou pureza?

“Agora, pois, eu vos rogo considerai isto, desde este dia em diante, antes que se lançasse pedra sobre pedra no templo do Senhor...” Ag 2; 15

Ageu foi um profeta pós exílico cuja mensagem central exortava o povo contra a negligência espiritual. Haviam começado a obra e abandonaram às primeiras dificuldades cuidando, cada um, de seus interesses particulares. O mensageiro foi incisivo: “Porventura é para vós tempo de habitardes nas vossas casas forradas, enquanto esta casa fica deserta?” Cap 1; 4

Depois alistou uma série de juízos decorrentes dessa alienação como sendo “mensageiros” também, embora, ignorados. “Esperastes muito, mas eis que veio a ser pouco; esse pouco, quando o trouxestes para casa, eu dissipei com um sopro. Por que causa? disse o Senhor dos Exércitos. Por causa da minha casa, que está deserta, enquanto cada um de vós corre à sua própria casa. Por isso retém os céus sobre vós o orvalho; a terra detém os seus frutos.” Vs 9 e 10

Então, concluir que a retomada da Obra de Deus era algo urgente parece ser o caminho das pedras, digo, a interpretação natural da mensagem do Profeta. Entretanto, não era tão “urgente” a ponto de ser a primeira coisa a ser feita. “...considerai isto, desde este dia em diante, antes que se lançasse pedra sobre pedra no templo do Senhor...”

Tinha algo que deveria ser considerado primeiro, o quê? Ouçamos: “Então respondeu Ageu, dizendo: Assim é este povo, assim é esta nação diante de mim, diz o Senhor; assim é toda a obra das suas mãos; tudo o que ali oferecem imundo é.” V 14

Erra quem imagina que Deus preza mais a “alta frequência” que a “a alta fidelidade”. Noutras palavras, ativismo religioso, antes, que santificação. Como se o Santo dissesse: Eu quero que me façais o templo, mas, antes, apartai-vos de vossas impurezas, imundícies.

Infelizmente, nessa era de facilidades tecnológicas e superficialidades, o “cristianismo” da maioria é como decoração de Natal; visível de longe no afã de chamar atenção, mas, busque-se, mediante convívio, uma gotícula de Água da Vida, presto assoma o Saara espiritual que as luzinhas “Made in China” tentam disfarçar.

Era de “cristão virtuais” vestidos de belas orações copiadas e postadas, mas, despidos de resquício de virtudes como honradez, caráter, integridade, verdade... Ocorre-me uma exortação do grande Charles Spurgeon: “Ninguém é obrigado a dizer-se cristão, - disse – mas, se o fizer, diga e se garanta.” Noutras palavras, aja como um dos tais.

Quem pensa que serviço vem antes de pureza apressa-se a fazer qualquer coisa na Casa de Deus: se lhe não facultarem isso logo se queixará da “falta de oportunidade para servir”. É esse o “cristianismo” que conhece. Quem considera, contudo, a seriedade de fazer menção do Excelso Nome, como Moisés, teme; eventuais manchas em seu coração incomodam mais que sua ausência no púlpito.

Ao jovem pastor Timóteo Paulo lembrou isso: “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus; qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade.” II Tim 2; 19

Tiago adverte aos descuidados que passeiam por ambientes santos, sem se deixarem tocar pela santa advertência. “E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era.” Tg 1; 22 a 24

Notemos que ele concede o engano como algo possível entre nós, apenas; “enganando-vos”, não há possibilidade de o imundo posar de limpo ante Deus. Ir à igreja por motivações horizontais, desconsiderando Deus é pior que ausentar-se. Omissão distante apenas peca; omissão atuante na Casa do Pai profana.

É já rara a igreja cujo compromisso com a Bíblia seja inegociável; muitas falsificam e distorcem a interpretação ao sabor de interesses mesquinhos. Porém, que valeria frequentar uma séria, onde a Palavra ainda é a bússola se, uma vez olhando no espelho, como disse Tiago, vemos a sujeira e recusamos a nos lavar?

Urge rever posturas, mentalidades, atitudes... Precisamos certamente crer que as manchas de nossos pecados não são tatuagens; é possível removê-las misturando arrependimento e confissão, ao Bendito Sangue de Jesus.

Se não nos dispomos a isso, sejamos como os coevos de Ageu, cuidemos de nossas casas apenas, alheios a do Senhor.

Talvez, seja hora de tentarmos chamar menos atenção por nossos feitos, que por nossos motivos. A secura em nossa seara espiritual é já uma mensageira denunciando a reprovação de Deus; se a ausência de frutos não for suficientemente eloquente, que tal, darmos ouvidos, uma vez, à voz do Profeta?

domingo, 4 de outubro de 2015

Frutos do estio

“Bendito o homem que confia no Senhor, cuja confiança é o Senhor. Porque será como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro; não receia quando vem o calor, mas, a sua folha fica verde; e no ano de sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto.” Jr 17; 7 e 8

Uma figura eloquente usa o profeta para definir os servos de Deus. Quais árvores que, em plena seca, não deixam de frutificar. Quão diverso isso soa da frágil natureza humana e suas propensões!

Quando não estamos bem costumamos patentear mediante atos, palavras, que o mar não está pra peixe; dizemos: Nem vem, que hoje não é o meu dia!

Não se trata de negar o óbvio, a debilidade humana, coisa que nem Deus faz; “Ele conhece nossa estrutura e lembra que somos pó” dissera Davi. Antes, de constatar o “upgrade” que o Espírito Santo faz nas almas convertidas. Guinda-as ao sobrenatural, capacitando a agir de um modo “ilógico” inesperado.

Ao homem natural, o mau humor, as frustrações acabam furtando coisas boas que deveria fazer às demandas circunstancias e não faz, como que, “justificado” por estar sofrendo também. Suas “vacas magras” acabam comendo as gordas, como no célebre sonho de Faraó. Esse baliza suas ações de modo imediatista, diverso do espiritual, que, pode descansar na justiça de Deus esperando pela recompensa no tempo do Eterno.

A insana “Teologia da Prosperidade” ilustra bem essa faceta imediatista mercantil, de bodes fantasiando ser ovelhas; carne brincando de espírito.

O Senhor, todas as obras excelsas que fez em seu ministério terreno, as fez tendo o Calvário como pano de fundo; não foi surpreendido por sua incidência, antes, “importa que seja batizado com certo batismo; como me angustio até que venha a cumprir-se.” Assim definiu Sua sina. Sua angústia era por vencer, vindicar a Justiça Divina, não evadir-se à dura missão.

Claro que, a sensação de injustiça é dolorosa, desmotivadora. Entretanto, O Salvador propôs a bênção no devido tempo. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;” Mat 5; 6

Se, é vero que cada um ceifará o que planta, também, que, a seara Divina não se restringe à Terra. Digo, há colheitas fartas no Devir, considerá-las, não nos faz “otimistas”, antes, ignorá-las nos faria miseráveis, como advertiu Paulo: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15; 19

Lógico que, produzir bens acima das forças que temos demanda o fruir de uma Fonte Superior. Daí, o profeta ter dito que, os que confiam no Senhor são como árvores junto às águas. O Senhor em nós capacita-nos a fazer coisas excelentes.

A fraqueza à qual nos restringiu visa que o busquemos, Seu alvo é a correspondência do amor, não, fútil demonstração de poder. O mesmo Paulo apresentou nossa limitação espaçio-temporal como uma “fraqueza” visando tal fim; “E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós;” Atos 17; 26 e 27

Davi também apresentou essa aproximação motivada pela dependência; disse: “Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.” Sal 50; 15

O Capítulo 28 de Ezequiel mostra um formoso, um forte que Deu criou, que, invés de submissão, dependência, resolveu dar seu “Grito do Ipiranga”; “Subirei acima de Deus.” Essa “subida” na escada do orgulho deu origem a satanás.

Desse modo, as fraquezas têm seu componente profilático; previnem que a mesma febre nos pegue, como escreveu Paulo: “...De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, injúrias, necessidades, perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.” II Cor 12; 9 e 10

Deveras, quando estou fraco sou dependente; e, justamente isso que me aproxima de Deus; essa “seca’ de bens naturais me faz buscar saciedade nas águas sobrenaturais.

É o abandono do casulo que permite o fulgor das asas. Não sem razão, pois, os maiores expoentes do cristianismo são “homens de dores”, frutos de terra seca. Uma obra de âmbito celestial não pode se restringir à provisão da Terra.

Tendemos a olhar muito perto, como disse alguém: “Quando você aponta uma estrela para um imbecil ele olha pra ponta do seu dedo.” Assim, tanto podem, nossas decepções, engendrar mau humor, depressão, espinhos, quanto, serem um telescópio que permite-nos, vasculhar as imensidões de Deus.

sábado, 3 de outubro de 2015

Em busca do sábio perdido

“O que repreende o escarnecedor, toma afronta para si; o que censura o ímpio recebe a sua mancha. Não repreendas o escarnecedor, para que não te odeie; repreende o sábio, ele te amará. Dá instrução ao sábio, ele se fará mais sábio; ensina o justo e ele aumentará em doutrina.” Prov 9; 7 a 9

A sentença primeira não tem como fito tolher à repreensão; antes, direcioná-la ao alvo. Após, temos dois preceitos; um, negativo, ou seja, do que não se deve fazer; outro, oposto aconselhando a ação em seu devido fim. “Não repreendas ao escarnecedor... repreendas ao sábio...”

Spurgeon dizia que uma coisa boa não é boa fora do seu lugar; eis um exemplo! A repreensão. “Seu lugar”, por irônico que pareça a uma análise superficial, é o ouvido do sábio.

Eu disse superficial, pois, a um sábio convém dar ouvidos, não, conselhos. Entretanto, temos o sábio em essência, cujo conteúdo devemos absorver tanto quanto, possível; e o sábio em princípio, que se coloca receptivo ao ensino, humilde, moldável. A esse, se pode instruir. O mesmo Salomão ensina: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; o conhecimento do Santo a prudência.” V 10

Ocorrem-me fragmentos de um texto relativamente extenso pra ser reputado provérbio, mas, tentarei reconstruir, sujeito a lapsos. Mais ou menos, o que segue: “Existe aquele que não sabe, e não sabe que não sabe; é um tolo, evita-o; aquele que que não sabe, e sabe que não sabe, é um simples, ajuda-o; aquele que sabe, e não sabe que sabe; está dormindo, desperta-o; aquele que sabe, e sabe que sabe; é um sábio, siga-o.”

Talvez, o nosso sábio em princípio assemelhe-se ao que convém despertar; tem já sábias inclinações; se pode enriquecer compartilhando algo sem o risco de que isso o venha a ofender.

Sim, o individualismo crasso que é cultuado em nossos dias chega a ser cômico, posto que, trágico. Adicionamos umas centenas de “amigos virtuais” a plateia por nós escolhida ante a qual, desfilaremos gostos, imagens, pensamentos, ideias, filosofia... estamos sempre prontos para eventuais elogios, “curtidas” compartilhamentos... mas, ai de quem ousar discordar de nós, criticar, ou algo assim.

Não raro deparo com textos que ilustram bem esse individualismo social que nossa geração adota. Frases, tipo: “Antes de me criticar pague as minhas contas”; “onde está escrito que outros têm algo a ver com minha vida?” “Seja perfeito antes de me julgar.” etc. Ora, a simples exposição de parte de nossos gostos, ideias, demanda já certo julgamento por parte de quem vê. Implicitamente pedimos isso.

Na verdade, não somos refratários ao julgamento; mas, apenas àqueles que consideramos negativos. Os juízos que nos elogiam e aplaudem são sempre bem vindos.

Não tenho problemas com críticas, desde que, fundadas sobre argumentos espirituais ou filosóficos, não, quando patrocinadas por paixões, bandeiras, que cegam e tolhem o senso crítico. As raízes da paixão sustentam o caule putrefato da desonestidade intelectual; esse, não forja frutos palatáveis a um ser de bom siso.

Claro que ninguém é obrigado a se dizer cristão, embora, a ampla maioria o diga, entre nós. E um cristão é instado a agir de modo a que todos tenham a ver com seu modo de vida, ouçamos; “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador; dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” Mat 5; 14 a 16

Ninguém precisa pagar minhas contas, tampouco, ser perfeito para observar meu modo de viver; basta que tenha olhos e habite no mesmo campo visual que eu.

Claro que se descarta por fútil, o juízo temerário e hipócrita do que julga a outrem e não cuida de si. Todavia, a coisa é posta de modo genérico, como se ninguém pudesse ver nada no agir de outro; nada criticável, pois, presto seria atacado como enxerido, intrometido.

Como vimos no princípio, a correção não combina com escarnecedor, embora, fique bem aos ouvidos sábios.

E querendo eu, ou não, esse breve texto é um desses enxerimentos desagradáveis que tem tudo pra levar pedradas. Pior, não pago as contas de ninguém, mal consigo, as minhas; tampouco, pretendo que meu modo de vida seja reputado perfeito.

Entretanto, ouso mesmo assim; que venha uma centena de afrontas, serão suportáveis e justificáveis, se, entre elas, um par de orelhas, pelo menos, estiver pendurado no crânio sortudo de um sábio em princípio. Acho uma boa troca ser afrontado por cem tolos e amado por um sábio.