“Tendo
iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a
esperança da sua vocação; quais as riquezas da glória da sua herança nos
santos;” Ef 1; 18
Muitos pregadores ilustrando coisas espirituais usam o termo:
“Olhos da fé.” Uma metáfora para confiança irrestrita em Deus, que faz ficar
firme “como vendo o invisível”, igual a Moisés. Todavia, entre os rogos de
Paulo pelos crentes de Éfeso encontramos um “novo olhar”; olhos do
entendimento.
Mesmo que se diga que certos papagaios falam, amiúde, não é bem
assim. Repetem sons que de tanto ouvirem lhes são assimiláveis, todavia, tanto faz
tratar-se de um palavrão, elogio, ou, algo neutro; suas “falas” são desprovidas
de qualquer carga emocional, uma vez que, falta o entendimento. Muitos humanos
também podem incorrer no mesmo ato, ainda que tenham razão em potencial,
diverso dos demais animais, digo, mesmo assim, falar e agir privados de
compreensão. A razão potencial não é, necessariamente, atual. O que poderia
ser, nem sempre é.
O primeiro passo rumo ao entendimento é reconhecer a própria
ignorância. Se, alguém sabe que não sabe, já sabe algo importante. Todavia,
nesse caminho, não raro, tropeçamos na pedra do orgulho. Uma coisa é o que sei
sobre minhas limitações; outra; o que admito.
Não sem razão, pois, a primeira
promessa do Sermão do Monte busca aos humildes: “Bem aventurados os pobres de
espírito...” Claro que a Salvação não é um sumo intelectual; digo, Deus salvará
aos inteligentes, longe disso! Entretanto, permitiu que nossas caixas cranianas
tivessem cérebros e deseja que os usemos, em busca de entendimento.
Muitos creem
e apregoam um simplismo como se, a “mera” presença de Deus conosco nos eximisse
de trabalhar as coisas que podemos. Não existe Mega Sena espiritual, saltos
exponenciais de crescimento, mesmo, acompanhados do Eterno.
Ouçamos o que Ele
disse aos líderes do pós cativeiro: “Ora, pois, esforça-te, Zorobabel, diz o
Senhor, esforça-te, Josué, filho de Jozadaque, sumo sacerdote, esforça-te, todo o povo da terra, diz o Senhor,
trabalhai; porque eu sou convosco, diz o
Senhor dos Exércitos.” Ag 2; 4 Exortou ao líder civil, ao espiritual, ao povo
todo, para que se esforçassem, prometendo estar junto.
Assim, a presença de
Deus, dado que, preciosíssima, não tolhe a necessidade de esforço humano.
Mesmo
as sentenças mais sábias podem desfilar nas vias de lábios tolos, como fala de
papagaios; “De que serviria o preço na mão do tolo para comprar sabedoria,
visto que não tem entendimento?” Prov 17; 16
Diverso do que pode parecer, não é mero requinte estético; antes, tem a
ver mesmo com a preservação da vida. “O entendimento para aqueles que o
possuem, é uma fonte de vida...” Prov 16; 22 Aliás, os tantos desvios de Israel,
narrados no Velho Testamento, que resultaram na destruição de muitos, bem como,
no cativeiro da nação, derivaram desse lapso, precisamente; “O homem que anda
desviado do caminho do entendimento, na congregação dos mortos repousará.” Prov
21; 16
Todo nosso esforço pode ser vão, quando não, contraproducente como fora
o zelo de Paulo antes de entender quem É O Salvador. Pensava estar zelando pelo
nome de Deus ao cumprir as determinações do rejeitado Sinédrio. O Senhor o
derrubou do cavalo, fez uma pergunta retórica: “Por que me persegues?” Depois
ensinou que o bravo fariseu estava dando murros em pontas de facas.
Mais tarde,
aludindo aos irmãos de sangue que ainda estavam cegos ele diagnosticou a mesma
doença. “Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento.
Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua
própria, não se sujeitaram à justiça de Deus.” Rom 10; 2 e 3
A Justiça Divina,
concordemos ou não, passa necessariamente pela cruz. Não importa quão bom penso
ser, quão legal as pessoas me acham; se, durmo sem me sentir culpado. Muitos
pensam, aliás, que consciência cauterizada é consciência limpa, por falta de
entendimento. “Há uma geração que é pura aos seus próprios olhos, mas, nunca
foi lavada da sua imundícia.” Prov 30; 12
Não que a Mensagem da cruz seja fácil
de assimilar; aliás, foi precisamente lendo sobre o vaticínio dela, que o
Ministro da Fazenda da Etiópia assumiu ante Filipe, que lhe faltava
entendimento; “E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E
rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse.” Atos 8; 31 Porém, uma vez
ensinado, agiu conforme a luz que recebeu.
Não sem razão, pois, o assassino mor arma seus laços nessa senda; “...o deus
deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não
resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” II
Cor 4; 4