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domingo, 29 de abril de 2018

De onde vêm as decepções?

“Talvez as pessoas não me decepcionem. Talvez o problema seja eu, que espero muito delas.” Bob Marley

As decepções e suas causas. Estariam em nós, ou, nas pessoas? Eventualmente usamos um sinônimo; desilusão. Essa palavra, amiúde, sinaliza uma espécie de cura. Sendo a ilusão um engano, uma miragem aos olhos da alma, ser livre dela seria salutar. Entretanto, lamentamos as desilusões como se fossem perdas; nunca as vemos como feitoras de saúde psíquica. Noutras palavras: As desilusões não nos aliviam; pesam.

Parece que, para usar uma palavra da moda, não desapegamos de certo apego, mesmo que, os fatos demonstrem que era ele, doentio.

Facilmente me desiludo com as pessoas por atribuir a elas como preciosas coisas que são valiosas a mim. Mas, ao menor escrutínio de valores constato que, os bens que aquilato valiosos, nem sempre são assim ao apreço alheio.
Tipo; coerência; falar sempre a mesma coisa sobre determinado assunto; senão, expor o motivo da mudança; ou, honestidade intelectual; fazer concessões num debate respeitando aos fatos mais que as opiniões; mea culpa; a admissão do erro quando demonstrado de modo cabal sua incidência, etc.

Dizem que o diabo é mais perigoso por velho, que, por diabo. Quer dizer: Ao curso do tempo aprendemos um pouco, e, ao divisarmos em alguém esses lapsos morais desistimos de dar murros em ponta de faca. Simplificando: Não discutimos nem debatemos mais com gente desonesta.

Num pleito filosófico entre os gregos, por exemplo, um argumento bem posto era tido como um tijolo assentado e solidificado; não se mexia mais nele; antes, servia como tribunal de apelação, se, no curso do debate um fato novo contradissesse aquilo que, por ambos os litigantes fora tido como justo.

Se não fosse assim, “Sophia” se perderia na areia movediça das paixões. Há uma grande diferença entre buscar pela verdade e impor uma opinião. Aquela tem seu firme consórcio com os fatos; essa, apenas emerge fortuita dos pântanos inconstantes da índole particular.

Aí, aquele que tem uma mente filosófica atrelada às regras que a própria filosofia estabelece, caso tente debater com outrem que entra nos domínios do saber como moleque de tênis embarrados em sala limpa, sempre perderá; não o debate, que, sequer se estabelecerá, pois, um peso-pesado não lutaria contra um peso-pena; mas, perderá o seu tempo, sua paz, seus esforços em demonstrar luz ante uma toupeira.
Salomão ensinou: “Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia; para que também não te faças semelhante a ele.” Prov 26;4 Para um pretenso sábio, nivelar a um tolo seria uma perda enorme.

Há casos de ignorância legítima, onde, dissipadas as brumas pelo conhecimento o litigante cresce junto conosco; suas objeções derivam das limitações do saber, que, uma vez ampliado deixam de existir. Também, outros em que a escuridão está em nós, e, à luz de outrem que vê mais longe precisamos abdicar de algumas “certezas”; e, ainda sermos gratos a quem nos libertou da insipiência pontual.

Assim, num gládio onde os oponentes são honestos, sempre haverá o risco de “ferroadas” para ambos; de a razão estar do outro lado, digo; entretanto, há a certeza que compensa enfrentar tais “abelhas” pelo seu sumo; o néctar do conhecimento.

Por outro lado, disputar com os desregrados amantes das opiniões, aqueles, seria como buscar mel entre marimbondos. As ferroadas estão garantidas e são mais dolorosas que as das abelhas; porém, de mel, nenhum sinal haverá.

Nas faltas em jogos de futebol se permite o recurso da barreira, um arranjo para dificultar o objetivo do adversário. Pois, um apaixonado, num debate não vê ao oponente como legítimo litigante; antes, adversário; e, o calor da paixão acaba sendo a barreira que dificulta, ou, impede o livre curso da luz.

É proverbial que o tonel vazio faz mais barulho que o cheio; igualmente, nos domínios do saber. Uma vez mais, Salomão, o sábio: “O homem prudente encobre o conhecimento, mas, o coração dos tolos proclama a estultícia.” Prov 12;23

A vida cada dia cunha suas lições em alto relevo para quem desejar aprender. Contudo, somos a geração vídeo; onde, tudo busca parecer; quase nada se importa em ser. Aí, mesmo as frases de conteúdo profundo que saltitam, nada mais são, que, “selfies” estudadas; caras, bocas e decotes da alma que quer parecer culta, invés de se esforçar para ser veraz.

Seria erro nosso impor às pessoas defeitos que não têm; ingênuo, presumi-las hospedeiras de qualidades que desconhecem.

Enfim, paixão é uma doença que todos padecem; uns, mais, outros, menos; a rigor, é fogo cujas chamas produzem calor sem o benefício da luz. E, como diz uma frase que circula por aí, chega uma hora na vida em que preferimos ter paz, a ter razão.

sábado, 3 de outubro de 2015

Em busca do sábio perdido

“O que repreende o escarnecedor, toma afronta para si; o que censura o ímpio recebe a sua mancha. Não repreendas o escarnecedor, para que não te odeie; repreende o sábio, ele te amará. Dá instrução ao sábio, ele se fará mais sábio; ensina o justo e ele aumentará em doutrina.” Prov 9; 7 a 9

A sentença primeira não tem como fito tolher à repreensão; antes, direcioná-la ao alvo. Após, temos dois preceitos; um, negativo, ou seja, do que não se deve fazer; outro, oposto aconselhando a ação em seu devido fim. “Não repreendas ao escarnecedor... repreendas ao sábio...”

Spurgeon dizia que uma coisa boa não é boa fora do seu lugar; eis um exemplo! A repreensão. “Seu lugar”, por irônico que pareça a uma análise superficial, é o ouvido do sábio.

Eu disse superficial, pois, a um sábio convém dar ouvidos, não, conselhos. Entretanto, temos o sábio em essência, cujo conteúdo devemos absorver tanto quanto, possível; e o sábio em princípio, que se coloca receptivo ao ensino, humilde, moldável. A esse, se pode instruir. O mesmo Salomão ensina: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; o conhecimento do Santo a prudência.” V 10

Ocorrem-me fragmentos de um texto relativamente extenso pra ser reputado provérbio, mas, tentarei reconstruir, sujeito a lapsos. Mais ou menos, o que segue: “Existe aquele que não sabe, e não sabe que não sabe; é um tolo, evita-o; aquele que que não sabe, e sabe que não sabe, é um simples, ajuda-o; aquele que sabe, e não sabe que sabe; está dormindo, desperta-o; aquele que sabe, e sabe que sabe; é um sábio, siga-o.”

Talvez, o nosso sábio em princípio assemelhe-se ao que convém despertar; tem já sábias inclinações; se pode enriquecer compartilhando algo sem o risco de que isso o venha a ofender.

Sim, o individualismo crasso que é cultuado em nossos dias chega a ser cômico, posto que, trágico. Adicionamos umas centenas de “amigos virtuais” a plateia por nós escolhida ante a qual, desfilaremos gostos, imagens, pensamentos, ideias, filosofia... estamos sempre prontos para eventuais elogios, “curtidas” compartilhamentos... mas, ai de quem ousar discordar de nós, criticar, ou algo assim.

Não raro deparo com textos que ilustram bem esse individualismo social que nossa geração adota. Frases, tipo: “Antes de me criticar pague as minhas contas”; “onde está escrito que outros têm algo a ver com minha vida?” “Seja perfeito antes de me julgar.” etc. Ora, a simples exposição de parte de nossos gostos, ideias, demanda já certo julgamento por parte de quem vê. Implicitamente pedimos isso.

Na verdade, não somos refratários ao julgamento; mas, apenas àqueles que consideramos negativos. Os juízos que nos elogiam e aplaudem são sempre bem vindos.

Não tenho problemas com críticas, desde que, fundadas sobre argumentos espirituais ou filosóficos, não, quando patrocinadas por paixões, bandeiras, que cegam e tolhem o senso crítico. As raízes da paixão sustentam o caule putrefato da desonestidade intelectual; esse, não forja frutos palatáveis a um ser de bom siso.

Claro que ninguém é obrigado a se dizer cristão, embora, a ampla maioria o diga, entre nós. E um cristão é instado a agir de modo a que todos tenham a ver com seu modo de vida, ouçamos; “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador; dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” Mat 5; 14 a 16

Ninguém precisa pagar minhas contas, tampouco, ser perfeito para observar meu modo de viver; basta que tenha olhos e habite no mesmo campo visual que eu.

Claro que se descarta por fútil, o juízo temerário e hipócrita do que julga a outrem e não cuida de si. Todavia, a coisa é posta de modo genérico, como se ninguém pudesse ver nada no agir de outro; nada criticável, pois, presto seria atacado como enxerido, intrometido.

Como vimos no princípio, a correção não combina com escarnecedor, embora, fique bem aos ouvidos sábios.

E querendo eu, ou não, esse breve texto é um desses enxerimentos desagradáveis que tem tudo pra levar pedradas. Pior, não pago as contas de ninguém, mal consigo, as minhas; tampouco, pretendo que meu modo de vida seja reputado perfeito.

Entretanto, ouso mesmo assim; que venha uma centena de afrontas, serão suportáveis e justificáveis, se, entre elas, um par de orelhas, pelo menos, estiver pendurado no crânio sortudo de um sábio em princípio. Acho uma boa troca ser afrontado por cem tolos e amado por um sábio.