Mas, não seria isso uma matreirice política para afastar pretendentes aos seus bens? Conselhos laborando em causa própria? Não. Ele mesmo desprezou as muitas coisas que amealhou durante a vida, ao constatar que seu benefício é circunstancial e enganoso.
“Amontoei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis e das províncias; provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens; e de instrumentos de música de toda a espécie.” “…e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol.” Ecl 2; 8 e 11
Por fim, em face à inutilidade das coisas achadas “debaixo do sol”, remeteu a busca para mais acima: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.” Ecl 12; 13 e 14
Quando diz que é inútil o acúmulo de riqueza pois “criará asas e voará ao céu como águia”, usa linguagem poética ; afinal, quem voará no fim será a alma humana despida de tudo o que ajuntou, para prestar contas ao Eterno com seus valores, tão somente.
Muitos
falam alhures sobre os veros bens, mas, agem em busca dos falsos. Esse
“filosofar” inconsequente tem mais a ver com a máscara hipócrita da
aceitação social; a “arte” de buscar um verniz de sabedoria para
encobrir o ídolo enferrujado da cobiça. Entretanto, não são nossas
palavras que mensuram valores, antes, nossos atos, escolhas.
Alguém
que trabalha comigo solicitou que eu fizesse para si uma série de jogos
da Mega Sena, algo que perfaz uns dez por cento do que recebe
semanalmente. Ainda que discordando, fiz o que me pediu. Mesmo
preferindo ganhar o pão com o “suor do rosto” entrei numa fila de gente
que prefere apostar na sorte.
Chamaram-me
atenção duas coisas: Primeira: O prêmio estimado, 62 milhões estava
estampado bem grande sobre os guichês; Segunda: Que uns setenta por
cento dos apostadores era de sexagenários, ou, quiçá, mais velhos.
Assim, estudaram seis décadas ou mais na escola da vida e não
descobriram os verdadeiros valores. Não fosse assim, não estariam
fazendo uma “fézinha”.
Nenhuma
pessoa em sadia mente diria que riqueza é algo mau; tampouco, Deus o
faz. O que é mau é o conceito distorcido do que ela seja. A ambição por
melhorias em todos os aspectos não é errada em si; antes, está no “DNA”
da alma humana. Como lidamos com isso pode nos incitar ao mau
comportamento, ou, à distorção da identidade da tal, como já mencionei.
O próprio Salvador nos aconselhou que fôssemos ricos; mas, com bens tais, que sequer sofreriam ação do tempo. “Não
ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e
onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a
traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.
Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.”
Mat 6; 19 a 21
Assim,
mesmo filosofando que mais vale um pássaro na mão que cem voando, a
humanidade segue matando as aves que pega, na utopia de possuir um bando
incontável. Quando, enfim, as asas da alma romperem o casulo, tais
incautos descobrirão que fizeram dos meios o fim; dado que cultuaram ao
ego em lugar de Deus quando mais Dele precisarem, contarão apenas com o
deus adotado. E a solidão eterna será um inferno. Que seria tal “fogo
que nunca apaga” e incide sobre almas, senão, uma intensa sede de algo
que não se pode suprir?
Então,
os mais ricos dessa terra, alienados do Senhor são apenas miseráveis
envernizados; coisa que, Paulo, o apóstolo desaconselhou aos que
mencionam a Cristo como sua esperança. “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15; 19
Essa sociedade materialista atrela o ser às circunstâncias; Deus, às escolhas morais e espirituais que fazemos. “Vi os servos a cavalo, e os príncipes andando sobre a terra como servos.” Ecl 10; 7 Pois, alguém disse: “Rico não é quem mais possui; antes, quem precisa menos”.