“Não sabeis vós que
os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas, um só leva o prêmio?
Correi de tal maneira que o alcanceis.” I Cor 9;24
Nada poderia ser
mais “Olímpico” que a alegoria de Paulo escrevendo aos irmãos coríntios. Fez
uma pergunta retórica; “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na
verdade, correm, mas, um só leva o prêmio?” Perguntas desse tipo não demandam
resposta, pois, presumem lançar mão de algo pacífico, de domínio comum, coisa
que se usa como reforço argumentativo, não, inquisição.
A prática de
esportes era já bem difundida, graças às olimpíadas gregas, e precisamente, em
Corinto, aos Jogos Ístmicos. Mais de uma vez o apóstolo usou isso como pano de
fundo sobre o qual pintava em vívidas cores, traços da Doutrina de Cristo. Usou
como símile a rigorosa disciplina dos atletas que tudo faziam por glórias
efêmeras, depois, a figura de um boxeador treinando golpes contra inimigo
imaginário: “Todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar
uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois, eu, assim corro,
não, como a coisa incerta; assim combato, não, como batendo no ar.” Vs 25 e 26
Contudo, se
todos correm, e, apenas um vence, estaria o apóstolo tencionando ensinar a
competição entre os cristãos? Se fosse assim, sua lógica poderia ser
frontalmente contestada, pois, noutra parte de seus ensinos teria sido
amplamente “contraditório”, disse: “Porque, assim como o corpo é um, e tem
muitos membros, todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo
também... Para que não haja divisão no corpo, antes, tenham os membros igual
cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos padecem com
ele; se um é honrado, todos se regozijam com ele.” Cap 12; 12, 25 e 26
Escrevendo
aos Efésios ensinou que nossa luta não é contra carne e sangue, antes, contra
inimigos espirituais. Seria nessa “arena” que deveriam os cristãos serem “atletas”?
Se observarmos amiúde, a armadura, bem como os ataques do inimigo, veremos
muito mais um valente defendendo um tesouro, que um atleta competindo por
vitória.
O apóstolo
mirava a disciplina rigorosa como estímulo aos cristãos, não mais. Se, num
estádio correm muitos, e, apenas um vence, nas “pistas” particulares de cada
servo, correm dois. Um, para o derrotar; a natureza pecaminosa, a carne; outro,
para fazê-lo vencedor; o homem espiritual, renascido “treinado” pelo Espírito
Santo.
Assim, sem desmerecer à utilidade dos treinos físicos, enfatizou como
superior o exercício espiritual, pois, conduz à conquista de uma “medalha”
eterna. “Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas, a piedade para
tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir.” I Tim
4;8
Por isso, falou
de si mesmo como atleta cioso da competição, capaz de renunciar muitas coisas,
em prol de um alvo maior. “... subjugo o meu corpo, o reduzo à servidão, para
que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar
reprovado.” V 27
O problema é
que a maioria dos crentes atuais acha que o ponto de partida é igual à linha de
chegada. Eu creio! Afirmam, tenho fé, e nisso se acomodam. Devaneiam que a “fé”
se resume a compartilhar ideias piedosas, ou, desejar coisas boas aos outros
nas redes sociais, enquanto vivem suas vidas, cada qual, do seu jeito.
A fé é apenas
“índice olímpico” que nos permite competir. Somos instados a uma série de
conquistas após ela, para atingir o alvo. Pedro ensina: “...acrescentai à vossa
fé, virtude, à virtude, ciência, à ciência, temperança, à temperança, paciência,
à paciência, piedade, à piedade, amor fraternal, e ao amor fraternal, caridade.
Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem
estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.” II Ped 1;5 a 8
Sem isso
somos ociosos espirituais, estéreis, invés de vencedores. A epístola aos
Hebreus denunciou aos de então, como lactantes velhos, que, de preguiça
recusavam crescer. “Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda
necessitais de que se vos torne a ensinar os primeiros rudimentos das palavras
de Deus; vos haveis feito tais, que necessitais de leite, não, de sólido
mantimento.” Heb 5;12
Com que olhos
nos veriam os heróis da fé de Hebreus 11, gente que pagou por crer, com suas vidas,
se, para nós, mera incompreensão de um irmão, ou, calúnia de ímpios é uma “cruz”
insuportável?
Um só leva o
prêmio da vida, o homem espiritual. Quando insta a que corramos de modo a
alcançar, exorta-nos a andar em espírito, pois, “a inclinação da carne é morte;
mas, a do Espírito, vida e paz.” Rom 8;6