“E
as multidões, vendo o que Paulo fizera, levantaram a sua voz, dizendo em língua
licaônica: Fizeram-se os deuses semelhantes aos homens e desceram até nós. E
chamavam Júpiter a Barnabé, Mercúrio a
Paulo; porque este era o que falava. E o sacerdote de Júpiter, cujo templo,
estava em frente da cidade, trazendo para a entrada da porta touros, grinaldas,
queria, com a multidão, sacrificar-lhes.” Atos 14; 11 a 13
O incidente que fizera Paulo e Barnabé “deuses”
fora a cura de um coxo. O mesmo apóstolo
tratou de desfazer o engano. “...Nós também somos homens como
vós, sujeitos às mesmas paixões; anunciamos que vos convertais dessas vaidades
ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o
mar e tudo quanto há neles;” v 15
Três
erros foram denunciados aqui: Eles não eram deuses; o objeto de culto dos
licaônicos era vaidade; existe um Deus vivo. Como estavam maravilhados ante a
cura, querendo cultuá-los como deuses, não custava ouvir o que tinham a dizer.
Todavia, bastou um estímulo extra para quê, de deuses se tornassem réus de
morte. “Sobrevieram, porém, uns judeus de Antioquia e de Icônio que, tendo
convencido a multidão, apedrejaram a Paulo e o arrastaram para fora da cidade,
cuidando que estava morto.” V 19
Esse
incidente mostra que é falácia o argumento que precisamos milagres para gerar
fé. É certo que eles contribuem, também o é que, a despeito de grandes sinais,
a incredulidade pode seguir ilesa. O mesmo Paulo advoga a origem da fé na Palavra.
“De sorte que a fé é pelo ouvir, o ouvir pela palavra de Deus.” Rom 10; 17 Eles
viram o milagre; endeusaram homens;
ouviram a Palavra; duvidaram de Deus.
Não estavam totalmente errados no que
disseram a princípio: “fizeram-se os deuses semelhantes aos homens e desceram
até nos.” Abstraída a pluralidade, “deuses”, e entendido quem atuava na vida de
Paulo, era a pura verdade. Deus, em Cristo se fez semelhante aos homens; desceu
até nós; era Ele que movia e capacitava aos apóstolos.
Todavia, não foram
pacientes para ouvir, nem diligentes para entender. Ademais, surgiram uns judeus
estrangeiros que juravam que aqueles que curaram um coxo e não queriam aplausos
eram homens maus, só restava apedrejá-los.
Oh, imensidão da estupidez humana
refém do pecado! O que é mais fácil? Receber
uma mensagem que me contraria, corrige, desmistifica minhas concepções, ou,
chamar na pedrada qualquer que eu antipatize? A resposta parece óbvia.
O chato que me contraria se expõe a riscos
pessoais para me salvar. Apedrejar um inocente que deu um fruto excelente
testifica contra mim, de quanto eu careço mesmo, ser salvo. Contudo, prefiro
que outros me digam que quem não gosto é mau, antes, que cogitem de um mal
qualquer residindo em mim.
Tendo um pré-conceito
de deuses, que seriam, Júpiter e Mercúrio, então, Deus deveria encaixar nesse
molde. De outro modo, não seria Deus.
Charles Spurgeon conta ter visto uma maçã dentro de uma garrafa; ele buscou
entender como entrara ali. Procurou ver
se o fundo da mesma era rosqueado e nada. A maçã inteira, a garrafa também.
Aquela
inquietação durou certo tempo, até que viu no pomar umas garrafas penduradas
nos galhos das macieiras e o mistério se desfez. Eram postas as frutas pequenas
ainda na árvore, e cresciam dentro da garrafa. Desse modo, ensinou, devem as
crianças tomar contato com a Palavra de Deus desde cedo; crescer dentro da “garrafa”
certa. “Instrui o menino no caminho que deve andar, e quando envelhecer não se
desviará dele” Prov 22; 6
Acontece que, os privados do conhecimento do Deus
vivo criam suas “maçãs” fora da garrafa; crescidas não mais podem ser inseridas
nela.
Como O Santo quer “envasilhar” a todos no estreito vaso da salvação, Ele
torna isso possível permitindo que nasçamos de novo. “Jesus respondeu, e
disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo,
não pode ver o reino de Deus.” Jo 3; 3
O Salvador referia-se à vida espiritual,
embora, seu interlocutor, Nicodemos, pensou em colocar a maçã grande na
garrafa. “Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode,
porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe e nascer?” v 4
Invés de
amoldar Deus ao humano conceito prévio como fizeram aqueles supra, o Salvador
ensinou a completa dependência do Espírito Santo. “O
vento assopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para
onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.” V 8
Total, absoluta submissão a Ele. Ou engarrafamos “Deus” em nossos preconceitos e não O temos;
ou, nos deixamos conduzir por Seu Espírito e Palavra, onde Ele nos tem. Simples
assim.