O
mundo das artes cênicas ficou bem mais pobre e triste após a
notícia da morte, ( posteriormente confirmada como suicídio ) do ator
Robin Willians.
Amigos
disseram que sofria de depressão; dormia em quarto separado de sua
mulher e foi achado suspenso por um cinto preso ao batente da porta, com
sinais superficiais que tentou cortar os pulsos.
Acostumamos
a ver só o ator, salvo em cerimônias como a do Oscar e similares onde
se via algum aspecto do ser humano, ainda quê, sob a febre de sua arte.
Mesmo que o papel interpretado fosse de um sofredor, um depressivo, até,
admiraríamos mais, tanto quanto, mais verossímil parecesse; pois, a
isso atina a excelência de sua arte.
Desse modo, o ser humano subjacente quase sempre nos escapou. Agora
apareceu em lamentável sina. Vemos o estertor de uma vida que de alguma
forma olhou com melhores olhos para o colo da morte.
Muitos pensaram sobre o suicídio; vou citar alguns e suas reflexões: “A
obsessão pelo suicídio é própria de quem não pode viver, nem morrer, e
cuja atenção nunca se afasta dessa dupla impossibilidade.” ( Emil Cioran )
“O suicida na verdade não quer se matar mas quer matar a sua dor.” ( Augusto Cury )
“
O suicídio tanto pode ser afirmação da morte como negação da vida.
Tanto faz. - É mentira. E vou explicar: o suicida é aquele que perdeu
tudo, menos a vida.” ( Fernando Sabino )
Schoppenhauer
em seu “Livre Arbítrio” afirmou que uma pessoa de posse de um revólver,
por exemplo, não poderia gabar-se de ter poder para se matar; carecia –
disse – de um motivo mais forte que o amor à vida, ou o medo da morte.
Sem isso, nada feito.
Pois
bem, essa busca pelo imenso e doloroso motivo é que desafia nossa
compreensão. O amor próprio é inato em nós; tanto que, Deus o toma como
parâmetro altruísta ao ordenar que amemos ao próximo como a nós mesmos,
sem ordenar que nos auto-amemos; parte da suposição que é natural.
Nesse prisma, a definição de Cury que o suicida visa matar apenas a dor faria do ato o derradeiro gesto de amor próprio?
O
fato é que nossas vidas, independente da condição social, são um vasto
mosaico de alegrias, conquistas, recompensas, frustrações, perdas,
dores… De modo que as facetas aprazíveis funcionam como lenitivo
psíquico ajudando a mantermos o pulso, nas tristezas, sobretudo, quando o
vento da esperança ainda eriça nossos cabelos.
Do
depressivo dizem que perde a esperança, a fé, e “progride” a um estado
em que a própria vida se torna um peso. A impossibilidade de viver ou
morrer, como afirmou Emil Cioran, acaba sendo o tormento de um assim.
Ocorre-me
a figura do que se dá no Sistema Cantareira, responsável pelo
abastecimento de água em São Paulo. Em tempos normais, demanda e
produção se equilibram e a coisa flui; em caso de estio prolongado como
agora, precisam bombear água do “volume morto” que fica abaixo dos canos
de captação; após submetem a uma purificação mais intensa, dado o teor
de impurezas, para torná-la potável.
Acho
que algo semelhante se passa na alma humana. Numa vivência que podemos
definir como normal, tristezas e alegrias se equilibram e seguramos o
tranco. Mas, se em algum momento acontece um grande desequilíbrio por
termos expectativas frustradas, às vezes, mesmo que doentias, e se esse
estio de esperança, de alegrias, se prolongar, consomem-se nossas
reservas; resta o poluído e raso “volume morto” da depressão.
Nesse
caso, a “depuração” torna-se mais difícil. Como reacender a vontade de
viver, a esperança, em alguém profundamente frustrado, que desacredita
de tudo e de todos?
Na
verdade vivemos a geração virtual, que se “relaciona” com máquinas e
fantasia com calor humano. E fantasia é muito eficaz, quando o problema
não é real.
Tenho um amigo que, quando convidado a jantar na casa de alguém, outrem questionava sobre o cardápio, ele respondia: “ Eu gosto de gente, conversa, relacionamento; comida é pretexto, qualquer uma serve.” Achava engraçado aquilo; hoje me parece muito sério.
Não
sou psicólogo, tampouco, pretendo conhecer uma profilaxia para o mal da
depressão. Entretanto, ouso afirmar que relacionamentos sadios,
expectativas sóbrias, amizades verazes, em muito ajudam a emprestar
sentido às nossas vidas.
Desgraçadamente
aniquilamos nossa identidade individual e nos massificamos na cultura;
enquanto no âmbito pessoal nos fechamos numa redoma de aparências, onde
fake é “normal”; e o normal seria fraqueza.
Isso
no campo puramente humano. Quem pode anexar uma hígida fé em Deus, se
torna moderado nas expectativas, tolerante às imperfeições, refratário
ao passar do tempo, na perspectiva de vida eterna. Afinal, em Cristo
“morremos” de modo não carecemos mais ter medo da vida.