“Mas, eles foram rebeldes, contristaram seu Espírito Santo; por isso se lhes tornou em inimigo, Ele mesmo pelejou contra eles.” Is 63;10
A ideia de termos inimizades, por inócuas que sejam, nunca é um pensamento agradável, embora, em algumas situações, pouco, ou, nada possamos fazer. Há casos, nos quais, mesmo que nada tenhamos feito de mal às pessoas, por inveja, ou, alguma outra razão insana, não gostam de nós, saem espalhando veneno a nosso respeito. “Orai pelos que vos perseguem e abençoai aos que vos maldizem”; a receita Bíblica, porque, pessoas assim, certamente, têm carência espirituais grandes.
Contudo, quando algo mais que isso pode ser feito, devemos fazê-lo. “Portanto, se trouxeres tua oferta ao altar, e te lembrares de que teu irmão tem algo contra ti, deixa diante do altar tua oferta, vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, depois, vem e apresenta-a. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão.” Mat 5;23 a 25
Se, meu irmão tem algo contra mim, foi porque falhei com ele, nesse caso, reconciliação depende de mim. Quando depende dele, nada posso fazer, exceto, orar.
Não podemos chegar a Deus, saltando sobre o semelhante. “Aquele que odeia seu irmão está em trevas, anda em trevas, não sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe cegaram os olhos.” I Jo 2;11 “Se alguém diz: Eu amo Deus, e odeia seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama seu irmão, ao qual viu, como pode amar Deus, a quem não viu? Dele temos este mandamento: que quem ama Deus, ame também seu irmão.” Cap 4;20 e 21
Entretanto, quando nossa inimizade é contra Deus, motivada por rebeldias, aí, temos um problema de outra dimensão. Eli, o sacerdote relapso, pusera a questão aos filhos: Pecavam, esses, nas coisas do próprio sacerdócio; invés de exercer com vigor sua autoridade, apenas ergumentou: “Não, filhos meus, porque não é boa a fama que ouço; fazeis transgredir o povo do Senhor. Pecando homem contra homem, os juízes julgarão; pecando, porém, o homem contra Deus, quem rogará por ele?” I Sam 2;24 e 25
O Eterno pôs a questão noutros termos, o de quem luta contra Ele. “Quem poria sarças, espinheiros diante de mim na guerra? Eu iria contra eles e juntamente os queimaria. Que se apodere da minha força, faça paz comigo; sim, que faça paz comigo.” Is 27;4 e 5
Fazer paz com Deus, eis a questão! Embora incautos vejam no Evangelho apenas um desafio a mudar de religião, uma “busca por clientes” estilo telemarketing, ( nalguns casos, infelizmente, é ) no fundo, é um apelo do amor de Deus, que pelo Seu Espírito fala em nós, apresentando aos inimigos eventuiais, uma mensagem de reconciliação. Inimigos? Isso não seria dramático demais? Não. É ser bíblico. “Adúlteros e adúlteras, não sabeis que amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” Tg 4;4
Assim, a medida que apresentamos de modo sadio a mensagem do Único Mediador, somos feitos agentes da reconciliação entre pecadores e O Santo. “Tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, nos deu o ministério da reconciliação; isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando seus pecados; pôs em nós a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus.” II Cor 5;18 a 20
Claro que isso demanda que deixemos de vez, a rebeldia que, se, por um lado nos dá independência para agirmos como quisermos, por outro, nos distancia do Pai, como fez o filho pródigo em sua insana e egoísta saga. Achou que poderia se virar muito bem por conta; foi usado pelas cobiças alheias quando tinha o que dar; empobrecido, terminou comendo com porcos.
Quem não pode dizer de modo verdadeiro, como aquele? “Pai, pequei contra o céu, e perante ti”? Reconhecimento de culpas, eis, o primeiro passo para reconciliação com O Pai! “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas. o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.” Prov 28;13
Feito isso, poderemos, dizer como Paulo: “Se o Senhor é por nós, quem será contra nós”. Quem, que tenha poder maior? Contudo, “soltos das patas” digo, por nossa conta, estamos em inimizade com Deus, a mercê de um que, mesmo fingindo gostar de nós é traidor, assassino. Rogo, pois, de parte de Deus, que vos reconcilieis com Ele, mediante a cruz de Cristo.
“O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.” Jo 10; 10
Nessas
vinte e três palavras temos uma síntese de todo o drama Divino-humano
que se desenrola na Terra. A vinda do ladrão, a antiga serpente
enganadora, e a réplica Divina trazendo a “Estrela de Jacó”, Jesus
Cristo. O primeiro para roubar, matar, destruir; o Segundo, para “desfazer as obras do diabo”.
Desde
o Éden ao Calvário, dezenas de profecias foram dadas aos judeus sobre a
vinda o Salvador; se bem que a da Estrela de Jacó, propriamente, veio
através de um gentio, Balaão.
Segundo
os cientistas o sol é uma estrela; sua incidência sobre a terra diverge
das demais dada a distância não a grandeza que seria muito inferior.
Pois, sobre o Senhor, há também metáforas que o fazem um Sol. Em
Malaquias, atrelado à justiça; “Mas para vós, os que temeis o
meu nome, nascerá o sol da justiça, e cura trará nas suas asas; e
saireis e saltareis como bezerros da estrebaria.” Mal 4; 2 Figura bem semelhante usou o Próprio Senhor: “…se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens.” Jo 10; 9
Nos hinos hebraicos a bênção Divina não se divorcia da justiça, que demanda retidão. “
Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória;
não retirará bem algum aos que andam na retidão.” Sal 84; 11 Nos lábios de Zacarias encontramos o “oriente do alto” associado à misericórdia; “Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, Com que o oriente do alto nos visitou;” Luc 1; 78
Interessante que o advento do Salvador associado à justiça e à
misericórdia foi cantado nos Salmos também; ali, acrescido de outro bem,
a verdade e ensejando paz; “A misericórdia e a verdade se
encontraram; a justiça e a paz se beijaram. A verdade brotará da terra, e
a justiça olhará desde os céus.” Sal 85; 10 e 11
A bem da verdade, e em busca da paz com Deus, Justiça e misericórdia são indispensáveis para seres como nós, que vivem “entre a serpente e a Estrela” como definiu poeticamente a mulher, o cantor Zé Ramalho.
Esse
ínterim, ainda que possa ser situado cronologicamente da queda humana à
redenção em Cristo, é muito mais, nosso “status quo” espiritual, nossas
oscilações entre obediência e rebeldia, pecado e arrependimento.
Assim,
se aos olhos Divinos toda transgressão demanda o reparo da justiça, e,
nossas “posses” nos fariam eternos inadimplentes, Ele satisfaz Sua
Justiça mediante misericórdia. Imputa a nós a Justiça de Cristo,
demandando apenas, arrependimento e confissão.
Muitos
devaneiam que a existência de Deus por si só, deveria por fim a todas
as guerras, fome, enfermidades que há na terra; sendo esses fatos,
“provas” que Ele não existe. Ora, o fim dessas coisas e o paraíso
restaurado como sonham tais nefelibatas seria a prova que o diabo não
existe. Ou, estaria preso, como estará por um milênio na volta de
Cristo.
Não
que o Eterno seja sádico, isso seria blasfêmia; sim, Ele é amor, isso é
fato; e é da natureza do amor prezar pela plena liberdade de quem ama.
Essa não é possível sem arbítrio.
No mau uso do amor, pois, o “Anjo de
luz” se tornou Satanás; de igual modo a mulher, instigada pela serpente
se tornou caída e arrastou seu imprudente e também culpado marido.
Essa “herança maldita” nos vem de berço. “Portanto,
como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte,
assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos
pecaram.” Rom 5; 12
Espere!
Dirá alguém; eu nada tive com o erro de Adão e Eva, não tive escolha;
portanto, não é justo que eu seja condenado. É, esse é um lado da
questão. Entretanto, nada tivemos com a Vitória de Cristo, e não é justo
que por Ele sejamos salvos; contudo seremos, caso nos arrependamos e
decidamos Lhe obedecer; e para isso, agora temos escolha.
Paulo sintetiza: “…se
pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom
pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos.”
Rom 5; 15
Então,
você, presumido escapista, não poderá se salvar sem Ele, Jesus Cristo;
mas Nele o será, mesmo sem mérito algum. Nada vale tentar transferir a
culpa para alguém, a mordomia de sua alma é sua.
O primeiro casal,
aliás, passou a bola, ou tentou, e nada adiantou; o mesmo poeta empresta
ainda uma sentença útil: “E sei que não será surpresa se o futuro trouxer, o passado de volta…”