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sábado, 27 de agosto de 2016

Tempo não é dinheiro

“Até a cegonha no céu conhece seus tempos determinados; a rola, o grou e a andorinha observam o tempo da sua arribação; mas, o meu povo não conhece o juízo do Senhor.” Jr 8;7

Humilhante cenário pinta o profeta, onde, os animais são postos como conhecedores do tempo, e, os humanos, ignorantes. Enquanto dispunham de tempo estribaram-se na falsidade, nos ensinos de gente que se opunha a Deus: “Como, pois, dizeis: Nós somos sábios, a lei do Senhor está conosco? Eis que em vão tem trabalhado a falsa pena dos escribas. Os sábios são envergonhados, espantados e presos; rejeitaram a palavra do Senhor; que sabedoria, pois, têm eles?” vs 8 e 9

Interessante que, a maldade expressa naqueles dias se repete. “O Senhor está conosco,” diziam, contudo, rejeitavam Sua Palavra. Quantos, em nossos dias bradam: “Também sou filho de Deus”, contudo, tente-se corrigir aos tais com base nas Escrituras, presto ouviremos coisas do tipo: “Não julgues”, “não apontes ninguém”, “devagar que esse fanatismo de basear tudo na Bíblia deixa louco,” etc. O Senhor está com eles, dizem, porém, como aqueloutros, também rejeitam Sua Palavra.

Ora, a Bíblia é já o Julgamento de Deus, não haverá sentenças surpreendentes, apenas, surpresas pelo fim do logro da aparência, daqueles que parecem ser uma coisa e são outra. O Salvador ensinou: “Quem me rejeitar, não receber minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia. Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas, o Pai, que me enviou me deu mandamento sobre o que hei de dizer, sobre o que hei de falar. Sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai me tem dito.” Jo 12;48 a 50

Então, embora o labor principal da Palavra de Deus seja para que se restabeleça uma relação do homem pecador com O Eterno, tem também relação com o tempo, coisa com a qual o ser humano lida muito mal. No mesmo contexto Jeremias lamenta a perda de vidas de gente que perdeu o tempo devido, para o arrependimento, disse: “Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos.” V 20

Salomão em suas reflexões propôs um limite temporal a todas as coisas criadas, disse: “Tudo tem seu tempo determinado; há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” Ecl 3;1 Que as pessoas lidam mal com o tempo elas mesmo testificam. Por exemplo, quando dizem: “Eu era feliz e não sabia.” Sua pressa a alvos distantes fez desconhecer bênçãos presentes. Desejar algo, furiosa, violentamente, cega para o demais, já diziam os pré-socráticos.

Embora o tempo passe igual para todos, há um componente moral que permite entender o porvir, ou, sequer fazermos a boa leitura do presente. O mesmo Jeremias disse mais adiante, da cegueira ímpia: “Será como a tamargueira no deserto, não verá quando vem o bem; antes, morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável.” Cap 17;6 Por outro lado, voltando a Salomão, “Quem guardar o mandamento não experimentará nenhum mal; o coração do sábio discernirá o tempo e o juízo.” Ecl 8;5

Desconhecermos o tempo pode ser fatal, quando nesse lapso deixamos escorrer entre os dedos, oportunidades de valor eterno, como se deu com os que rejeitaram ao Senhor. Quando chorava por Jerusalém Ele disse que eles não conheceram seu tempo. “Porque dias virão sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão, estreitarão de todos os lados; te derrubarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem; não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois, não conheceste o tempo da tua visitação.” Luc 19;43 e 44

Para muitos, porém, a vida eterna é uma coisa que os salvos ganharão depois da morte triunfando ao tempo. Não. É mais que isso; algo que abraçamos agora, inda em vida; por amor a Deus, ajudados pelo Seu Espírito triunfamos ao pecado; sendo, antes, um modo de vida, que um tempo de vida. “Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna...” I Tim 6;12


Pepe Mujica, ex presidente uruguaio disse, com acerto, que não compramos coisas com dinheiro, mas, com o tempo de vida que gastamos para ganhar dinheiro. Assim, tempo não é dinheiro, é vida. Dinheiro avalia, transforma e conserva o fruto do que fizemos com nosso tempo. 

Quem mata o tempo, disse Millôr Fernandes, não é assassino, é suicida. Sobretudo, digo eu, um tempo que poderia ser usado para, finalmente, dar ouvidos à Voz de Deus. “Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais vossos corações...” Heb 3;7 e 8

segunda-feira, 28 de março de 2016

Baile de Máscaras

Vocês não sabem como é divertido o absoluto ceticismo. Pode-se brincar com a hipocrisia alheia como quem brinca com a roleta russa com a certeza de que a arma está descarregada.(Millôr Fernandes)

Atingirmos essa maturidade que nos reveste sob a proteção do ceticismo, contudo, não é coisa muito fácil. Tendemos à ingenuidade, reiteramos à mesma até depois de nos termos decepcionado diversas vezes com as pessoas. Como se algo em nós recusasse a ver as coisas como são, e insistisse em fantasiá-las como as deseja.

Quase nunca nos perguntamos, por que será que a imensa maioria das pessoas que pensamos conhecer, uma vez conhecidas melhor, nos surpreendem “para baixo” e não o contrário? Digo, a ampla maioria é pior do que imaginamos, invés de surpreender-nos por ser melhor.

Acho que a culpa por tais decepções é de cada um de nós; as pessoas são o que são, e eu devaneio que sejam como eu gostaria, falsifico a realidade. Quantos “grandes” que admirei um dia, e, com o tempo e circunstâncias, os tendo conhecido melhor, se revelaram pífios, anões morais e desonestos intelectuais, de tal modo, que perdi o interesse?

Costuma se dizer que não conhecemos devidamente alguém antes que tenhamos comido um kilo de sal, junto ao tal.  Como não comemos sal, puro, antes, temperando a comida, isso requer muito convívio, proximidade, e o partilhar de muitas coisas até que, enfim, possamos conhecer deveras, às pessoas como são.

Nada me garante que, os que convivem comigo também não se decepcionem mais dia, menos dia, afinal, bem pode ser que eu seja muito pior do que eles imaginaram que eu fosse, na primeira impressão que tiveram.

Acontece que, o teatro da vida traz seu “script” totalmente alheio aos nossos anseios, quando não, insere seus “cacos” suas tiradas de improviso capazes de surpreender aos próprios atores. O “Conhece a ti mesmo” que Sócrates atribuía ao Oráculo de Delfos, encerra mais coisas do que aparenta, a princípio.

Se, me vejo desajustado entre as expectativas que nutro e a realidade circunstante, e nada garante que não dou azo a desajustes semelhantes, certamente há um lapso de conhecimento, quiçá, de outo-conhecimento subjacente a esses desajustes.

Todos lançamos mão da frase feita que “as aparências enganam”; entretanto, nos apressamos a formar juízos, criar expectativas à partir dessas enganadoras. Talvez nossa vida em sociedade seja um imenso baile de máscaras, onde, cada um, como quem tira uma selfie para postar, escolhe seu melhor ângulo, faz caras e bocas para causar boa impressão, invés de ser espontâneo, natural. Mario Quintana dizia que, num ambiente festivo, social, o único comportamento não afetado é o do gato deitado sobre o tapete.

Como um imenso “reality Show” cada olhar se torna uma câmera ante a qual devemos fazer boa figura. Filosofamos sobre a vantagem do ser, e vivemos desesperadamente o afã de parecer. Uma ampla camuflagem de palavras e ações ensaiadas nos torna “palatáveis”, pois, nos importamos mais em ser aceitos aos olhos humanos, que, aos Divinos.

O protagonista do “Fantasma da Ópera” usava uma máscara para “aparecer”, pois, sofrera um acidente que deformara seu rosto; assim, a máscara soava mais apresentável. Será esse nosso caso?  A certeza de nossa feiura espiritual, psicológica, que demanda que andemos mascarados por aí?

Eis nosso dilema! Ser aceitos pela maioria usando a devida máscara que nos adéqua ao “padrão” socialmente usual, ou, sermos “feios” como somos, mesmo que isso afaste as pessoas de nós. Eventualmente, o que somos aflora em momentos de crise, e todo nosso confortável teatro resulta inútil.

Que revigorante é assistir quebras de expectativas “para cima” como o surgimento de Paul Potts e Susan Boyle, por exemplo, que se revelaram infinitamente superiores ao que se esperava!! Aqueles o foram no quesito talento; mas, nada impede que sejamos no aspecto probidade, caráter. O Deputado Tiririca foi pra Brasília ao som de zombarias, apenas, um palhaço. Agora, vem a público que se porta com correção, recusando propinas, desqualificando pares que assim agem; eis uma surpresa “upgrade” no quesito moral!

Todavia, os heróis de um vasto seguimento da nação, têm se revelado dia a dia, imensamente piores que seus discursos, que as expectativas públicas, algo tão deprimente que dá pena de ver algumas pessoas melhores que eles defendendo-os, invés de assumirem a própria vergonha.

Então, que essa derrocada que soprou as cabanas de palha dos que fingiam ser de madeiras nobres, sirvam-nos de alento, de aviso para que não caiamos nos mesmos erros. Oswaldo Cruz dizia: “Observando os erros alheios, o homem prudente corrige os seus.”


Às vezes procura-se parecer melhor do que se é. Outras vezes, procura-se parecer pior. Hipocrisia por hipocrisia, prefiro a segunda. (Jacinto Benavente y Martinez)