“Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não
furtarás, não dirás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe, amarás teu
próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde minha
mocidade; que me falta ainda? ... Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que
tens e dá-o aos pobres; terás um tesouro no céu; vem, e segue-me.” Mat 19;18 a
21
O jovem rico que foi a Jesus para justificar-se, não, ser
justificado. Jactou-se de observar toda a Lei desde jovem. Não entendia, sendo
tão “bom”, por que precisaria ainda dos ensinos do Novo Pregador que surgira. “O
que me falta ainda?” Eliminando o polvilho e pegando apenas o “princípio ativo”
do comprimido prescrito temos: “Falta ser perfeito, um tesouro no Céu”.
A justiça própria tem sido a maior barreira à salvação de
muitos. Aquele que se presume bom, suficiente, jamais identificará a necessidade
que tem, da Bondade de Cristo. Acontece que, tendemos a ser severos quando julgamos
outrem, o que sequer nos compete, e, indulgentes quando avaliamos a nós mesmos,
o que devemos fazer, diariamente.
Um dos mandamentos que ele “cumprira” desde a mocidade
era, “ama teu próximo como a ti mesmo”. Entretanto, era milionário cercado de
miseráveis; estranha forma de amar, essa, que encastela-se no conforto do
próprio egoísmo e desconsidera necessidades vitais dos que lhe orbitam.
Por isso O Salvador tocou nessa ferida quando o desafiou a
ser perfeito; o cuidado solícito com os necessitados que o cercavam. Não venham
os oportunistas verter isso em pregação política! Era preceito de amor cristão,
não, pregação do comunismo que expropria à força; um desafio ao amor, que, por
sua natureza, deve ser voluntário.
A rigor, O Senhor não tencionava que ele fizesse isso,
estritamente; Zaqueu quando se arrependeu fez bem menos, seguiu sendo rico, e
foi aprovado pelo Salvador, reputado “Filho de Abraão”. O que Jesus quis foi
iluminar ao sujeito para que visse que, sua pretensão de ter cumprido
cabalmente à Lei, era fanfarrice, engano.
Entretanto, mesmo depois da receita que lhe faria perfeito,
lhe daria um tesouro no Céu, restava uma coisa a fazer: “Vem, e segue-me”,
disse O Senhor. Se, o amor ao próximo só é possível expressar mediante obras, o
amor a Deus demanda segui-lo, obedecê-lo.
O Salvador disse que, de “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo”, dependem a Lei e Os Profetas. Assim, a fé sozinha
acaba estéril; as obras como meio de justificação, blasfemas.
Paulo ensina: “Porque pela graça sois salvos, por meio da
fé; isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se
glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras,
as quais, Deus preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;8 a 10 A salvação é de
graça mediante a fé; as boas obras, o modo de vida esperado por Deus, dos que
foram regenerados por Cristo.
Parece que o jovem rico em apreço conhecia, então, a “profundidade”
do nosso mundo virtual. “Quem ama aos pobres curte, compartilha”. Que fácil de demonstrar
os “sentimentos” que sequer demandam que eu desgrude o traseiro de minha
confortável cadeira de balanço!
Nosso amor cristão não deve ser cantado em prosa e verso;
antes, deve ser identificado naquele que é assistido por ele. E, ainda que façamos
obras excelentes, essas, não devem ser ostentadas para trazermos a glória para
nós, como aquele que lava pés e beija ante às câmeras. Ainda assim, nossas
coisas bem feitas não nos dão “crédito para pecar”, de modo a nos supormos bons
e justos, nem carecendo seguir a Cristo.
Amar requer renúncia, altruísmo, identificação, interesse,
coisas que em muito excedem às tolices pueris do mundo virtual. Mas, mesmo
nele, se pode ser hipócrita, bajulador, fingir concordar com o que não
concordamos, sonegar a verdade, para parecermos legais; afinal, queremos que
nos “curtam” o bem maior da pessoa que veramente amamos, nós mesmos; não
corrermos o risco de, sendo verdadeiros, colhermos incompreensões, invés de
aplausos.
Somos também riquíssimos de possibilidades; invés de
desenrolar um empoeirado papiro à meia luz e buscar entender à Vontade de Deus,
escrevo isso assessorado pela Bíblia online, outra, digital. Essa riqueza de
facilidades ensejada pela tecnologia pode nos trair e esconder que, como para
aquele do princípio, ainda nos falta uma coisa; descermos do pedestal fácil do
faz-de-contas, e expressarmos amor no teatro árduo e carente, da realidade.
Na abundância usamos devanear com o prazer; na extrema
carência, o mero meio de sobreviver nos basta. O risco é que nossas imensas
riquezas sejam disfarces de nossa miséria espiritual, como daquele. Acordemos, ainda
nos falta uma coisa.