“Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados.” Sal 84;5
Quem escolhe nossos caminhos não são os passos; antes, os corações. Embora, coração seja uma metáfora para condensar nosso âmago, a essência do ser, nossa mentalidade, desejos e emoções.
O “coração” psicológico, diferente do biológico que pulsa no peito, atua no cérebro; planejando, querendo, sentindo, reagindo. Nossos passos são apenas meios de expressarmos decisões dele.
Óbvio que o texto Bíblico atina a esse. Entretanto, os caminhos do coração podem ser acidentados, montanhosos, habitando neles a impiedade, pois, a promessa de ventura atina aos corações fortalecidos em Deus, que têm em si caminhos planos.
Uma figura comum em nossa cultura é a retidão; a perseverança contínua no rumo certo em direção ao alvo, o caráter; o caminho plano, por sua vez, sugere algo nivelado, que não sofre acidentes verticais, o que demanda constância na relação com o Alto, Deus. Essa figura para a integridade espiritual é muito usual na literatura hebraica.
Isaías pré-anunciou a mensagem de João Batista nesses termos: “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo, vereda, ao nosso Deus. Todo vale será exaltado, todo o monte e outeiro serão abatidos; o que é torcido se endireitará; o que é áspero se aplainará.” Cap 40;3 e 4
Vindo o enviado, reiterou: “Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas.” Mat 3;3
Se, o texto dos salmos fala do coração do homem, a mensagem do Batista atinava à sociedade feita de montes e vales. Os mais baixos, as prostitutas, os publicanos, gente socialmente rejeitada; altos, os líderes religiosos, os escribas, gente que, imaginava-se perto de Deus enquanto a “plebe que não sabe a Lei é maldita” diziam.
Quando João os exortou: “preparai o caminho”, não era para que O Senhor pudesse vir; antes, preparai os corações, dai ouvidos, pois, O Senhor vem e vai falar. Afinal, Ele disse: “Eu sou o caminho...” Contudo, alguns eram tão seguros de si, refratários ao Senhor, que, mesmo corroborando Suas Palavras com Obras, ainda assim não se deixavam convencer.
“Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: Até quando terás nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize-nos abertamente. Respondeu-lhes Jesus: Já vos tenho dito, e não credes. As obras que faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim. Mas, vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vos tenho dito. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu conheço-as, e elas me seguem.” Jo 10;24 a 27
Seus corações montanhosos seguiam endurecidos; “já vos disse e não credes... não sois minhas ovelhas... elas ouvem minha voz...” Quando se diz que a fé remove montanhas, a maioria cogita obstáculos externos, sem considerar que os montes que incomodam a Deus estão em nossos corações, e esses, a fé Nele pode remover, à medida que enseja arrependimento, confissão e mudança de rumos.
Vejamos sete montes desprezíveis ao Senhor: “Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima sua alma abomina: Olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.” Prov 6;16 a 19
Assim como a cidade endereço da Besta segundo a Bíblia está geograficamente sobre sete montes, os corações dos que se alienam na incredulidade também trazem esses “acidentes geográficos” que O Santo abomina.
“Bem aventurado o homem cuja força está em ti...” isso é dependência, submissão; aos que se colocam assim O Eterno fortalece. Mas, os orgulhos dos “olhos altivos” são “bons” demais para reconhecerem pecados; aí, os “vales” entram e os montes presunçosos ficam; “...os publicanos, tendo sido batizados com o batismo de João, justificaram a Deus. Mas, os fariseus e doutores da lei rejeitaram o conselho de Deus contra si mesmos, não tendo sido batizados por ele.” Luc 7;29 e 30
Esse é o nivelamento Divino; não há grandes ou pequenos, há pecadores. Malgrado a sociedade tenha lá suas classes, para Deus “Todos pecaram e carecem da Sua Glória”; a todos, pois, a mensagem é igual: “Arrependei-vos e crede no Evangelho”. Os que isso fazem, mesmo que tragam em si cordilheiras de iniquidade, há eficácia suficiente no Sangue Bendito de Cristo para fazer “os seus caminhos aplanados.”
Deus nos dirige por Sua Palavra; nossa parte, ouvir, obedecer; “Quanto ao trato dos homens, pela palavra dos teus lábios me guardei das veredas do destruidor. Dirige os meus passos nos teus caminhos, para que minhas pegadas não vacilem.” Sal 17;4 e 5
“Tiraram,
pois, a pedra de onde o defunto jazia. E Jesus, levantando os olhos
para cima, disse: Pai, graças te dou, por me haveres ouvido. Eu bem sei
que sempre me ouves, mas eu disse isto por causa da multidão que está em
redor, para que creiam que tu me enviaste.” Jo 11; 41 e 42
Estranho
cenário! Jesus estava ante um sepulcro onde um amado seu fora sepultado
havia quatro dias, e orou numa ação de graças como se estivesse ante
uma refeição.
Já
ouvi intérpretes dizerem que Ele tinha uma fé superior; sabendo que
Deus atenderia Sua oração pela ressurreição agradeceu de antemão.
Mas,
uma interpretação rigorosa do texto resultará em algo diverso. Em
momento algum há registro que Ele tenha orado para Lázaro ressuscitar.
Antes, afirmou à sua irmã: “…Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;” v 25 Noutra ocasião dissera algo semelhante: “Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo;” Cap 5; 26
Na verdade, fez questão de deixar claro que a morte era uma resposta à Sua oração. “Obrigado por teres me ouvido; sei que sempre me ouves, mas, disse isso por causa da multidão, para que creiam.”
As duas irmãs do falecido afirmaram que se Ele estivesse presente seu
irmão não teria morrido. O Senhor sabia disso; então retardou sua ida, e
só fez quando sabia que era “tarde demais”. “Então Jesus
disse-lhes claramente: Lázaro está morto; e folgo, por amor de vós, de
que eu lá não estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter com ele.” V
14 e 15 Ele não folgou por que Lázaro estava morto; mas, “por amor de vós”.
Os
quatro dias após a morte foram cheios de “recursos humanos”, digo:
Consoladores que visitavam às irmãs levando as melhores palavras que
podiam. Apesar dos seus reconhecerem Jesus como poderoso em palavras e
obras, o melhor que chegavam era compará-lo a João Batista, Elias, ou
outro profeta. Por certo foi nesse sentido que orou ao Pai. Pediu ajuda
para fazer o povo saber quem, de fato, Ele É.
Quando
informado da enfermidade de um chegado, identificou a resposta do Pai.
Numa linguagem esportiva, Deus O deixara “na cara do gol”, Ele estava
agradecendo isso quando orou.
Marta instada a crer, disse: “Eu
sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia. Disse-lhe
Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja
morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá.
Crês tu isto? Disse-lhe ela: Sim, Senhor; creio que tu és o Cristo, o
Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.” Vs 24 a 26 Ela olhava para a provisão Divina “no último dia”; o Senhor desafiou a crer naquele instante.
Ela
disse crer, mas, vacilou à ordem de tirar a pedra do sepulcro.
Finalmente, Ele “orou” pela ressurreição; na verdade, agradeceu de novo
pela “assistência” e deixou claro que era para a “torcida”; quanto ao
morto, ordenou apenas: “E, tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro sai para fora!” Como o defunto ouviu e saiu, “Muitos, pois, dentre os judeus que tinham vindo a Maria, e que tinham visto o que Jesus fizera, creram nele.” V 45
Ali estava o motivo do regozijo do Salvador! Que muitos creriam nele.
Embora
seja um evento histórico, figura maravilhosamente como alegoria, ou,
tipo, do que espiritualmente acontece conosco. Ele não impede nossa
morte natural; antes, a preceitua: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.” Mat 16; 25
Essa identificação com Ele, em plena obediência à Vontade do Pai, é a
cruz que nos cumpre carregar. Isso faz “perder a vida” natural; mas,
nos lega o nascimento espiritual. “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” Jo 3; 6
Infelizmente,
após a queda todos estamos em “decomposição” com uma “pedra” separando
da luz. Como essa é pesada demais para a remoção humana, Deus mesmo se
encarregou: “E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós
um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos
darei um coração de carne.” Ez 36; 26
Nossa participação é mínima; Ele bate na porta da vontade; se ela se abrir, o mesmo Senhor ajuda a fazer o que ordena; “E
disse-me: Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo. Então entrou
em mim o Espírito, quando ele falava comigo, e me pôs em pé,…” Ez 2; 1 e
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