“Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas! Dizimais hortelã, endro, cominho, e desprezais
o mais importante da lei, juízo, misericórdia e fé; deveis, porém, fazer estas
coisas, e não omitir aquelas.” Mat 23;23
Parece que
nossos antepassados Fariseus faziam de bom grado as coisas fáceis, sem,
contudo, se importarem em praticar o que era mais importante para Deus: “O
juízo, a misericórdia e a fé.” O fato de algo ser prioritário, porém, não
exclui a prática de outras coisas necessárias. O Senhor disse: Continuem
fazendo essas coisas menores ainda, mas, pratiquem também as que são de maior
relevância.
Com outras palavras
o Mestre denunciou que eles coavam um mosquito e engoliam um camelo. O quê nos
leva a sermos criteriosos com coisas pequenas, e relapsos com as principais?
Provavelmente, o fato de que nosso “critério” não deriva de zelo de Deus, antes,
não passa de uma selfie “espiritual” onde buscamos nosso melhor ângulo para nos
expormos à torcida.
O homem
espiritual sabe que está numa luta renhida, onde, nada menos que a verdade,
aprendida, vivida e ensinada, o faz probo ante O Senhor. O hipócrita se
satisfaz com um verniz dourado que o faça parecer áureo ante os olhos humanos,
mesmo que, esteja desnudo diante de Deus. O danoso desse cristianismo “para
inglês ver” é que, se mantido, nos fará herdeiros de uma “salvação” do mesmo
calibre.
No fundo
somos imediatistas demais para esperarmos viçarem os demorados frutos da fé.
Assim, “recompensas” agora, prezamos mais que o galardão porvir. Por outro
lado, a certeza que as consequências das más ações são demoradas também, nos dá
“segurança” para seguirmos no escuro, imaginando que, um dia, oportunamente,
sairemos à luz. Salomão ensinou: “Porquanto não se executa logo o juízo sobre a
má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer
o mal.” Ecl 8;11
Sabemos que
pensamentos geram ações, ações forjam caracteres, e esses, colhem um destino. Enquanto
não cambiarmos nosso jeito de pensar, seguiremos agindo apenas para a humana
plateia, como que, cegos para a perdição que espera-nos, do outro lado do rio
da vida.
Por isso, a
conversão nunca começa no escopo das obras, antes, na mudança de mente, de
coração, pois, feito isso, as coisas exteriores cambiarão também, tendo cambiado
sua fonte, vejamos: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda teu coração,
porque dele procedem as fontes da vida.” Prov 4;23 “Deixe o ímpio seu caminho, o
homem maligno seus pensamentos, e se converta ao Senhor...” Is 55;7 “Não vos
conformeis com este mundo, mas, transformai-vos pela renovação do vosso
entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita
vontade de Deus.” Rom 12;2 etc.
Cada um é rei
no vasto império da vontade, e nossas escolhas pretéritas são as crônicas dos “decretos”
que selamos desde nosso trono. Cristo, como a Herodes, soa uma ameaça à coroa
que tanto prezamos. Como aquele,
hipocritamente queremos “adorar” o Novo Rei, embora, no fundo, obramos para que
morra.
O que levou o
Sinédrio a impor a Pilatos a morte do Messias, senão, o medo de perderem seu
lugar? Pois, esse é o “problema” do Salvador: Ele quer o meu lugar. Disse: “Se
alguém quer vir após mim, negue a si mesmo, tome cada dia sua cruz, e siga-me.”
Luc 9;23
Desse modo, a
conversão é absolutamente impossível à natureza caída, pois, teria que trair à
própria inclinação que se opõe a Deus. “Porque a inclinação da carne é morte;
mas, a inclinação do Espírito, vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é
inimizade contra Deus, pois, não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, pode
ser.” Rom 8;6 e 7
Esse é o
papel da cruz. Matar um inimigo de Deus, e, em seu lugar, trazer à luz um filho
adotivo mediante Jesus Cristo. Em quem aceitar tal renúncia, O Eterno se dispõe
a fazer um transplante de órgãos, para possibilitar a obediência, antes,
impossível. “Vos darei um coração novo, porei dentro de vós um espírito novo; tirarei
da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei
dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis
os meus juízos, e os observeis.” Ez 36;26 e 27
Feita essa
mudança vital, nosso próprio agir há de ser uma mensagem ante quem vê, e nosso
anseio pueril de exibir virtudes sumirá paulatinamente, pois, a atuação do
Espírito Santo, “Sangue” do novo coração, pulsará para que se veja Cristo em
nós.
É só um presunçoso invés de convertido todo “cristão” quem inda não pode
falar como João Batista, o amigo do Noivo: “Convém que ele cresça e eu diminua.”