“... Se vós
permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos;
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Responderam-lhe: Somos
descendência de Abraão, nunca servimos a ninguém; como dizes: Sereis livres?” Jo cap 8
Apesar de categórico quanto às consequências, O Senhor as proferiu prefaciadas
dum “se”, mantendo inviolável o direito de escolha.
A permanência em Sua Palavra era o “sine
qua non” para que se tornassem Seus discípulos, cujo alvo seria atingir o conhecimento
da Verdade e seu efeito colateral mais visível, a liberdade.
Eis um conceito,
cujos louvores que recebe em muito excede ao entendimento dos que o proferem!
Liberdade.
A História da nação Israelita é plena de cativeiros, desde o Êxodo,
quando foram libertos do Egito, até ao momento de então, quando eram vassalos
dos romanos, contudo, disseram: “Nunca servimos ninguém”. Facilmente os
identificamos privados da verdade, o que implica, servos da mentira; não, livres
como se supunham.
Quando O Salvador empregou a expressão, “verdadeiramente”
temos aí uma censura tênue ao falso conceito de liberdade. Muitos associam-na a
circunstâncias, fatores externos, quando, amiúde, vai mui além disso. É questão
de consciência.
Na cidade de Não me Toque, RS, onde trabalho atualmente, há uma
pequena placa à entrada que diz: “Velocidade controlada pela sua inteligência”.
Achei genial. Nenhuma placa delimitando, 30, 40, 50, 60 km p/hora, com tanto se
vê. Aquilo, para uma pessoa inteligente, consciente, séria, é muito mais
persuasivo que qualquer proibição. Delega total liberdade apostando na
sapiência, na sensatez, no equilíbrio de quem lê.
Desse modo Deus almeja que
Seus filhos sejam livres. Se há todo um aglomerado de ritos, mandamentos,
restrições, isso se dá em face à nossa insipiência, não, à perfeita Vontade de
Deus. Como criança precisa de amparo de um adulto, ou, andador para ensaiar os
primeiros passos, nós carecemos desses arranjos durante a infância espiritual.
Quando, no célebre capítulo 13 de I Coríntios, Paulo sobrepôs o amor a todos os
demais dons equacionou tal exercício com maturidade espiritual; disse: “Quando eu
era menino falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas,
logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.” V 11
Se,
fôssemos atribuir um predicado coerente ao amor cristão, certamente, ficaria
bem, o altruísmo. Isto é: Deixar de se inquietar tanto pelas coisas próprias
para se ocupar das necessidades alheias. Ora, Aquele que disse que sendo Seus
alunos os ouvintes aprenderiam a Verdade desafiou-os precisamente a isso: “Negue
a si mesmo...”
Mas, diria alguém, o que tem a ver a liberdade com o amor ao próximo?
Bem, gostando ou não, egoísmo é um filho de nossas inseguranças, nossos medos;
quem o vencer acaba livre desses monstrinhos também, como ensina João: “No amor
não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem
consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor.” I Jo 4; 18
Assim, o
legalismo e suas implicações foi mero “andador” esboço, tipo profético, ou,
sombras, como ensina a Palavra: “Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros,
e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que
continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam. Doutra
maneira, teriam deixado de se oferecer, porque, purificados uma vez os
ministrantes, nunca mais teriam consciência de pecado.” Heb 10; 1 e 2
Vemos,
pois, que o pecado é uma questão de consciência; não, a demanda de cumprir
determinados rituais, que aplacavam as coisas externas, visíveis, mas, eram
ineptas para a real purificação. De Cristo, contudo, se disse algo melhor: “...o
sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno ofereceu a si mesmo imaculado a
Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus
vivo.” Heb 9; 14
Quem tem a consciência aperfeiçoada por Jesus e Seu Espírito,
não carece de placas limitando nada, pois, a própria consciência se encarrega
de desafiá-lo a “dirigir com prudência”.
Engana-se quem pensa no Evangelho como
um desafio de Cristo tipo: Creia e obedeça senão morrerás. O Salvador deixou
claro que falava para mortos já, e lamentava a falta de interesse em mudar tal
quadro; “E não quereis vir a mim para terdes vida.”
Que todos herdamos a morte
espiritual após a queda, esse é, talvez, o aspecto mais importante da Verdade
que devemos conhecer. Quem não se souber perdido nunca buscará a salvação.
Podemos sair da prisão com um tesouro, como Edmond Dante em “O conde de Monte
Cristo”, ou, cavarmos o túnel da presunção que só leva de uma cela a outra, e
nos faz perecer na ilha da justiça própria.
Um falso conceito de liberdade é a
mais fatal de todas as prisões.