“Dizia, pois, João à multidão que saía para ser batizada
por ele: Raça de víboras, quem vos ensinou fugir da ira futura? Produzi, pois,
frutos dignos de arrependimento, não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos
Abraão por pai; porque, vos digo, que até destas pedras pode Deus suscitar
filhos a Abraão.” Luc 3;7 e 8
Temos o precursor do Messias, João Batista, pregando aos
judeus que iam a ele às margens do Jordão. Parece que o primeiro traço
identificado foi o veneno da presunção, uma falsa segurança, como se, a ira por
vir, não os ameaçasse.
Ante o fato, João quis saber qual saída que tinham eles,
encontrado; “Quem vos ensinou a fugir da ira...” Uma pergunta retórica, cujo
alvo era realçar a denúncia, pois, sabia a resposta. A Presunção, de uma
salvação hereditária os deixava “seguros”.
Não que isso fosse expresso, mas, perceptível dada a segurança
aparente de gente que era culpada ante Deus. “Não comeceis dizer em vós mesmos,
temos Abraão por pai...” Como
alternativa à pretensão hereditária, João propôs a busca pessoal da salvação,
mediante arrependimento. “Produzi, frutos dignos, de arrependimento.
Mesmo a salvação sendo espiritual, eles devaneavam com
laços sanguíneos, uma vez que, havia preciosas promessas à descendência de
Abraão. Paulo interpretou singularizando-as na Pessoa Bendita de Jesus Cristo,
e difundindo-as depois, naqueles eu se lhe submetessem. “Ora, as promessas
foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: Às descendências, como
falando de muitas, mas, como de uma só: À tua descendência, que é Cristo. Sabei,
pois, que os que são da fé são filhos de Abraão” Gál 3;16 e 7
O Apóstolo não está violando a hermenêutica para impor um
ponto de vista, antes, sistematizando doutrinariamente algo que acontecera, então,
e, não fora devidamente entendido. Por ocasião do arrependimento de Zaqueu, O
Salvador dissera: “... Hoje veio salvação a esta casa, pois também este é filho
de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.”
Luc 19;9 e 10
Notemos que Zaqueu era já filho de Abraão por sangue, mas, só foi assim chamado, quando se
arrependeu e mudou de atitude ante O Senhor. Não significa, isso, que os salvos
se tornam Judeus, devendo absorver traços da cultura judaica, antes, se tornam
herdeiros das promessas, que, em Abraão, dizem que, seriam “Benditas todas as
famílias da Terra”.
Embora o alvo inicial tenha sido Israel, em face à
rejeição da maioria, a obra espraiou-se para os gentios. Não que não fossem
favorecidos pelo amor Divino, mas, seriam alcançados depois, pelos judeus
crentes; porém, muitos entraram antes, dado que as autoridades do Templo
rejeitaram ao Senhor, e perseguiram quem, dentre eles cria, como Saulo. “Veio
para o que era seu, os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam,
deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome;” Jo
1;11 e 12
O que aprendemos com isso? Que a presunção é algo mortal,
veneno como de víboras; que não existe salvação derivada de fatores externos
que nos seja imputada sem nossa participação; e, essa, se dá mediante arrependimento,
o qual, é demonstrado pela produção dos frutos correspondentes.
Se, dado o fato de sermos gentios, não descendentes de
Abraão, tolhe a possível presunção hereditária, ainda podemos ser, com outras “ferramentas”.
Quantos venenosos se perdem na presunção da justiça própria? “Não bebo, não
fumo, não faço mal a ninguém, sou uma pessoa boa, não mereço ir pro inferno”.
Quem jamais ouviu algo assim?
Por mais que tal sujeito seja sincero em seu, auto engano,
a Bíblia põe o dedo na ferida: “O Senhor olhou desde os céus para os filhos dos
homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se
todos, juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um.”
Sal 14;2 e 3 Deus decide o que é bem; incredulidade, associa à blasfêmia. “Quem
não creu, mentiroso o fez”.
Outros, num apego religioso, denominacional, não raro,
divorciado da Palavra de Deus. “Todas as religiões são boas, eu tenho a minha,
estou bem”. Também já ouvimos isso. Entretanto, o valor de um caminho não se
percebe em si, antes, aonde conduz. “Há um caminho que ao homem parece direito,
mas, o fim dele são caminhos da morte.” Prov 14;12
“Em um nível inferior, ser confiante e sincero é o mesmo que
arrogância e presunção. As pessoas ainda não sabem lidar com a verdade delas
mesmas e isso dói. Então transferir insolência ao outro é mais confortável do
que admitir sua estupidez e, sobretudo reconhecer o que de fato são, sabotando
até o reflexo do próprio espelho”. (Leivânio Rodrigues)