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quinta-feira, 1 de março de 2018

A sapiência dos loucos

“Minha alma tem tédio da minha vida; darei livre curso à minha queixa, falarei na amargura...” Jó 10;1

Falar em momentos amargos nem sempre é o melhor a fazer; afinal, temperada pelo absinto nossa alma corre risco de extrapolar a fronteira da prudência; versar o que não convém. Paulo propôs silêncio até em momentos de ira, que, não tem necessariamente, vínculo com amargura. “Irai-vos, mas, não pequeis”, disse.

Amargura por sua natureza é fruto de um acúmulo lento de frustrações; espera que não se realiza, como no caso de Jó que ficara sete dias em silêncio remoendo sua dor; por certo, orando; sem o resultado almejado, amargurava-se; enquanto, ira é um arroubo instantâneo, imediata reação ao que nos exaspera.

Diante de Deus nada vale encenação; sentirmos uma coisa e falarmos outra; “Bem sei, Deus meu, que tu provas os corações e da sinceridade te agradas...” I Crôn 29;17

Mesmo sabedores disso tendemos a cometer a mesma estupidez de Adão; “Ouvi Tua Voz e me escondi, pois, estava nu.” Sendo Deus, Onisciente, nos esconderíamos como? Onde? Então, por que Deus requer sinceridade se Ele já sabe de nossos passos todos? Porque pecarmos em nossa carne corrupta é uma fraqueza que Ele tolera, perdoa aos arrependidos; mas, revestirmos nossa nudez com folhas como fizera Adão, revela uma rebeldia mais profunda, um desejo profano de enganarmos Quem tudo sabe. Acrescentamos pecado ao pecado, invés de buscar perdão; lavamo-nos com água suja fazendo assim.

Essa maligna tendência é a “pedra no caminho” como diria o poeta, que impede nossa alma de trilhar livre pela senda da verdade.

Para Jó, íntimo do Senhor, que sacrificava e pedia perdão, por eventuais maus pensamentos dos filhos, não seria difícil assumir um pecado quando cometesse; o que lhe parecia estranho era queixar-se contra Deus. Entretanto, chagara a estágio tal, de desalento, tédio, que, resolvera chutar o balde: “Darei livre curso à minha queixa...”

Quem conhece a história sabe que ele era justo; sua fidelidade invejada por Satanás é que ensejava seu sofrimento, não, eventual culpa. Mas, como em sua amargura resolvera queixar-se, mesmo tendo razões para isso, falara do que era mais alto que seu entender; essa foi a repreensão que recebeu, quando O Eterno lhe resolveu falar. “Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?” Cap 38;2

Dizem que ansiedade é excesso de futuro; depressão, de passado; não sei se procede, mas, falarmos com alguém idôneo, sobretudo, com Deus, quando estamos amargurados, ou, ansiosos ajuda manter nossa saúde psíquica e espiritual.

A Palavra aconselha: “Lancem sobre ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós.” I Ped 5;7 E, “Quando a ansiedade já me dominava no íntimo, Teu consolo trouxe alívio à minha alma.” Sal 94;19

Não temos controle sobre os sentimentos, embora, tenhamos certa medida no que tange ao que faremos mercê deles. Assim, sejam culpas a confessar, ou mesmo, queixas de nossa sina, tudo o que sentimos está patente diante de Deus.

Sermos transparentes nisso não ajuda O Santo a ver o que Ele já vê; mas, permite vislumbrar entre os ciscos de nossas culpas uma nesga de honestidade, sinceridade, e esse é um traço que demanda dos cidadãos do Céus, Seus Filhos; “Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte? Aquele que anda sinceramente, pratica a justiça e fala a verdade no seu coração.” Sal 15;1 e 2

Embora em nossos dias a verdade gere confusão como nunca, pois, em nome de uma política escravagista travestida de libertária, vende-se como lícito um vitimismo barato, instrumento ideológico de divisões sociais; e, as pessoas são encorajadas ao “politicamente correto” que, de correto nada tem, apenas, é uma pressão de mentecaptos cooptados; embora, ser falso esteja na moda, digo, perante Deus nada mudou.

Ele trata com cada um; o indivíduo, não a sociedade. Os sistemas alienantes ensinam a ver os erros, a culpa, sempre no outro; Deus adverte que cada um de nós dará conta de si mesmo. Não é a sociedade, tampouco, um sistema que são responsáveis pela mordomia de minha alma; sou eu.

E, gente “fora da casinha” que fala na lata o que pensa, como Donald Trump e Jair Bolsonaro são odiados, no império da falsidade. No prisma espiritual há certa semelhança com o político, pois, em parte, esse é reflexo daquele.

Enfim, uma banana aos discursos escolhidos, ensaiados, com palavras edulcoradas na calda da hipocrisia! Livre curso à verdade, seja, confessando, seja, queixando-se. Salve os loucos!

“Ninguém engane a si mesmo. Se, alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus...” I Cor 3;18 e 19

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Confiar ou não? Eis a questão!

“Amados, se nosso coração não nos condena, temos confiança para com Deus;” I Jo 3;21

Notemos, que, a confiança é condicional, não por possíveis lapsos em quem se confia, no caso, Deus; antes, é, justo, a Integridade Dele, que requer contrapartida minha, ( que me faça íntegro ) se, quiser Dele me aproximar com confiança.

Plenamente confiável, apenas O Senhor É. Me presumo de bom caráter, entretanto, eventualmente, faço coisas que desaprovo; de certo modo, traio a autoconfiança.

Porém, há distinção entre falhas de princípio, e de conduta. Tomemos como exemplo a mentira: Digamos que ela me soe abjeta, que a desprezo, não a abrigo, em meu ser. Todavia, em dado momento, por conveniência, para evitar um constrangimento, escorrego e incorro nesse erro. Minha conduta traiu meus princípios, pois, por esses, não sou mentiroso, nem aprovo, quem é. Assim, é correto concluir que, o de bom caráter, bons princípios, eventualmente, pode conduzir-se mal, não sendo plenamente confiável, como Deus, que jamais falha.

O texto inicial encerra certa presunção de mérito, para termos confiança, no tocante a Ele; “Se nosso coração não nos condena...” Nas relações interpessoais, geralmente a confiança se estabelece a partir da projeção. Como assim? Simples, projetamos sobre outros, os valores que são nossos, aquilo que não faríamos, supomos que outros não farão conosco, mormente, aqueles com os quais temos certas afinidades.

Na imensa maioria das vezes nos decepcionamos, as pessoas nos saem pior que a encomenda. Porém, antes de vociferarmos que não existe ninguém confiável, convém pensarmos se, também não maculamos, em dado momento, a confiança em nós depositada, eu, várias vezes.

Assim sendo, quer dizer que confiaremos em Deus apenas, e seremos refratários à confiança em nossos semelhantes? Depende de algumas variáveis. Primeiro, se não somos 100% confiáveis, mesmo sendo de bons caracteres, como exigiremos que os outros sejam? Segundo, do ponto-de-vista cristão, o relacionamento deve ter como vínculo o amor, que, por sua natureza indulgente, flexível, supre mediante sofrimento, perdão, lapsos de quem devemos amar. A Bíblia não põe o amor atrelado à justiça, antes, alheio a ela. “Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois, poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas, Deus prova o seu amor para conosco, que, Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Rom 5;7 e 8

Essa coisa mercantil, tipo, só confio em quem merece, sou bom pra quem é bom comigo, etc. até pode ser justa, mas, passa a anos-luz do vero amor, que é sofredor. Confiança não é algo manufaturado, é uma conquista que encerra perdas.

Se alguém confiar em mim porque mereço, será mero escambo; mas, se, mesmo sendo sabedor que não mereço, ainda assim, me fizerem esse mimo, minha maldade nunca mais será a mesma; serei constrangido pelo amor, a mudar, uma vez que me sinto endividado com quem confiou em mim.

Muitos conhecem a história do ovo, da cenoura e do pó de café. Os três foram inseridos em recipientes de água fervendo por uns minutos. O ovo ficou endurecido, a cenoura macia, e o pó mudou a essência da água. Assim somos nós. Podemos, traídos, endurecer e não confiar em mais ninguém; enfraquecer, autocomiserados, e nos deprimirmos, ou, com nossa essência, caráter, alterarmos a outrem, emprestando-lhe nova visão, novo sabor.

Ademais, se perco algo, por ter confiado em quem não merecia, não perco cabalmente; há um aprendizado mútuo, tanto da vítima, quanto, de quem vitimou; O Senhor recompensará justamente, a cada um.

Óbvio que se descarta a ingenuidade, quando, se trata de alguém com histórico de maus atos, mau caráter, sinal de consciência cauterizada, quando, confiar, nem um gesto de amor seria, mas, temeridade. Dá para amar mesmo não confiando. Embora, devamos, por princípio, vencer o mal com o bem, há males resilientes demais para serem vencidos.

Em suma, certamente perderemos coisas por confiar em pessoas; mesmo assim, ganhamos pela preservação da justa medida entre meios e fins; as pessoas são os alvos, as coisas, apenas meios. Menos mal, me parece, sofrer perdas por nos humanizarmos, que nos alienarmos a quem devemos amor, por “coisarmos”.

Claro que a confiança lida com valores também, como lealdade, integridade, discrição... bens imateriais, mas, os mesmos princípios cabem aqui também.

Falando nisso, a receita Bíblica é que façamos a outrem o mesmo que gostaríamos que nos fizessem; por essa regra, quem presume-se confiável, um tanto, deve confiar também. Enfim, não devemos confiar pelo que as pessoas são, mas, pelo que serão quando Deus as transformar; e Ele fará isso, usando, até, nosso exemplo.

Não confie pelo que o outro é; mas, porque é menor o mal das decepções pontuais, que o de ensimesmar-se enrijecido, vendo mal até onde ele não está.

domingo, 31 de agosto de 2014

Robin Willians, a sina indomável

O mundo das artes cênicas ficou bem mais pobre e triste após a notícia da morte, ( posteriormente confirmada como suicídio ) do ator Robin Willians.
 
Amigos disseram que sofria de depressão; dormia em quarto separado de sua mulher e foi achado suspenso por um cinto preso ao batente da porta, com sinais superficiais que tentou cortar os pulsos.
  
Acostumamos a ver só o ator, salvo em cerimônias como a do Oscar e similares onde se via algum aspecto do ser humano, ainda quê, sob a febre de sua arte. Mesmo que o papel interpretado fosse de um sofredor, um depressivo, até, admiraríamos mais, tanto quanto, mais verossímil parecesse; pois, a isso atina a excelência de sua arte.

Desse modo, o ser humano subjacente quase sempre nos escapou.  Agora apareceu em lamentável sina. Vemos o estertor de uma vida que de alguma forma olhou com melhores olhos para o colo da morte.
 
Muitos  pensaram sobre o suicídio; vou citar alguns e suas reflexões: “A obsessão pelo suicídio é própria de quem não pode viver, nem morrer, e cuja atenção nunca se afasta dessa dupla impossibilidade.” ( Emil Cioran ) 
“O suicida na verdade não quer se matar mas quer matar a sua dor.” ( Augusto Cury )
“ O suicídio tanto pode ser afirmação da morte como negação da vida. Tanto faz. - É mentira. E vou explicar: o suicida é aquele que perdeu tudo, menos a vida.” ( Fernando Sabino )
 
Schoppenhauer em seu “Livre Arbítrio” afirmou que uma pessoa de posse de um revólver, por exemplo, não poderia gabar-se de ter poder para se matar; carecia – disse – de um motivo mais forte que o amor à vida, ou o medo da morte. Sem isso, nada feito.

 Pois bem, essa busca pelo imenso e doloroso motivo é que desafia nossa compreensão. O amor próprio é inato em nós; tanto que, Deus o toma como parâmetro altruísta ao ordenar que amemos ao próximo como a nós mesmos, sem ordenar que nos auto-amemos; parte da suposição que é natural. 
Nesse prisma, a definição de Cury que o suicida visa matar apenas a dor faria do ato o derradeiro gesto de amor próprio?
 
O fato é que nossas vidas, independente da condição social, são um vasto mosaico de alegrias, conquistas, recompensas, frustrações, perdas, dores… De modo que as facetas aprazíveis funcionam como lenitivo psíquico ajudando a mantermos o pulso, nas tristezas, sobretudo, quando o vento da esperança ainda eriça nossos cabelos.

Do depressivo dizem que perde a esperança, a fé, e “progride” a um estado em que a própria vida se torna um peso.  A impossibilidade de viver ou morrer, como afirmou Emil Cioran, acaba sendo o tormento de um assim.

Ocorre-me a figura do que se dá no Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de água em São Paulo. Em tempos normais, demanda e produção se equilibram e a coisa flui; em caso de estio prolongado como agora, precisam bombear água do “volume morto” que fica abaixo dos canos de captação; após submetem a uma purificação mais intensa, dado o teor de impurezas, para torná-la potável.
 
Acho que algo semelhante se passa na alma humana. Numa vivência que podemos definir como normal, tristezas e alegrias se equilibram e seguramos o tranco. Mas, se em algum momento acontece um grande desequilíbrio por termos  expectativas frustradas, às vezes, mesmo que doentias, e se esse estio de esperança, de alegrias, se prolongar, consomem-se nossas reservas; resta o poluído e raso “volume morto” da depressão.
 
Nesse caso, a “depuração” torna-se mais difícil. Como reacender a vontade de viver, a esperança, em alguém profundamente frustrado, que desacredita de tudo e de todos?
 
Na verdade vivemos a geração virtual, que se “relaciona” com máquinas e fantasia com calor humano. E fantasia é muito eficaz, quando o problema não é real.
  
Tenho um amigo que, quando convidado a jantar na casa de alguém, outrem questionava sobre o cardápio, ele respondia: “ Eu gosto de gente, conversa, relacionamento; comida é pretexto, qualquer uma serve.” Achava engraçado aquilo; hoje me parece muito sério.

Não sou psicólogo, tampouco, pretendo conhecer uma profilaxia para o mal da depressão. Entretanto, ouso afirmar que relacionamentos sadios, expectativas sóbrias, amizades verazes, em muito ajudam a emprestar sentido às nossas vidas.

Desgraçadamente aniquilamos nossa identidade individual e nos massificamos na cultura; enquanto no âmbito pessoal nos fechamos numa redoma de aparências, onde  fake é “normal”; e o normal seria fraqueza.

Isso no campo puramente humano. Quem pode anexar uma hígida fé em Deus, se torna moderado nas expectativas, tolerante às imperfeições, refratário ao passar do tempo, na perspectiva de vida eterna. Afinal, em Cristo “morremos” de modo não carecemos mais ter medo da vida.