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sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Baldes nas goteiras

“A hora certa de consertar o telhado é quando faz sol.” (J. Kennedy )

Mesmo sendo breve sua passagem, biodegradável sua composição, o bicho homem comporta-se como se fosse eterno, ou, nas palavras do Dalai Lama, “vive como jamais fosse morrer, morre como se jamais tivesse vivido.”

Alguém nos definiu como condenados à liberdade, de modo que, arbitrárias são as escolhas, compulsórias, as consequências. Quando das grandes tragédias, como a que vitimou 71 pessoas na Colômbia, dia 29 de novembro último, alguns perguntaram: “Por quê, meu Deus, por quê?”

A ideia subjacente é que a coisa se deu por iniciativa, ou, Vontade Divina, a qual, sendo demasiado dura para nós, requereria uma explicação da parte do Criador. A Vontade específica de Deus para cada criatura é clara: “O Senhor não retarda sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas, é longânime para conosco, não querendo que alguns se percam, senão, que todos venham a arrepender-se.” II Ped 3;9

Entretanto, também é Vontade Dele que sejamos consequentes; quando colhemos o fruto de uma má escolha, seja nossa, seja de outrem que tem ingerência sobre nós, a ceifa que daí vier, não é estritamente, vontade Dele, nesses casos, Deus é inocente.

Como somos emotivos, e, ao aguilhão das emoções tendemos a mudanças de humores, sentimentos, O Eterno resolveu evocar testemunhas mais estáveis, que nós, de que, nos deu total liberdade de escolha, e, aconselhou sobre a escolha, melhor, disse: “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto vida e morte, bênção e maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e tua descendência;” Deut 30;19

Nessas horas trágicas, tendem a falar mais os que menos têm a dizer. Não raro deparamos com uma sagração da morte, como se ela, fosse sinônimo de heroísmo, e encontrá-la de forma brutal, obrasse certa canonização das vítimas. Uns, oportunistas baratos se apressam a compor musiquinhas açucaradas tentando dourar uma pílula amarga, como se, palavras tivessem esse poder. Tais imbecis ainda não aprenderam a eloquência do silêncio no momento oportuno.

Amanhã, ou, depois a mesma voz, agora, tão religiosa, estará cantando odes ao adultério, à promiscuidade, sem nenhum compromisso com valores, decência, vergonha na cara. Portanto, recolha-se ao seu lugar, deixe de ser oportunista.

Só uma alma bárbara, insensível, seria de todo indiferente à dor alheia, mormente, em casos assim, quando ela é tão grande. Quem puder chorar junto aos enlutados fará bem; quem orar a Deus pelo consolo e fortalecimento dos tais, idem; mas, ficar recitando parvoíces, doçuras que nem Deus promete indiscriminadamente, não melhora nada a situação, apenas, expõe inseguranças e medos de gente que deveria tratar disso em outro momento.

Como na frase inicial, de Kennedy, devemos consertar o telhado quando o sol está brilhando, ou seja, nos preparar para o encontro com a morte, em horas que ela parece distante.

Não precisamos do reforço de tragédias assim para estarmos cientes da brevidade e fragilidade da vida, pois, bem o sabemos.

Tiago censurou até mesmo, cogitarmos do amanhã sem a permissão de Deus, como algo temerário, disse: “Eia agora vós, que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, contrataremos, ganharemos; digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? Um vapor que aparece por um pouco, depois, se desvanece. Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, se vivermos, faremos isto ou aquilo. Mas, agora vos gloriais em vossas presunções; toda a glória tal como esta é maligna.” Tg 4;13 a 16

Quem abraçou deveras a mensagem de salvação, se esforça por viver segundo a mesma, em momento algum promete facilidades, pois, pelo hábito de levar a própria cruz, está experimentado na vereda estreita da renúncia. Palavras mudam, mudando o estado de espírito, as circunstâncias. E o servo de Deus, é desafiado à constância, à coerência de ações e palavras, mesmo que, eventualmente as circunstâncias se revelem adversas.

Do “Cidadão do Céu se diz que, aos seus olhos, “... o réprobo é desprezado; mas, honra os que temem ao Senhor; jura com dano seu, contudo, não muda.” Sal 15;4

Enfim, por duro que pareça, a morte não é um meio de salvação, antes, o fim do tempo, da possibilidade de escolhas de cada um. Quem fez a boa escolha em tempo não precisa temê-la; os demais, deveriam pensar nisso enquanto inda podem. 

Por isso, a Bíblia sempre apresenta o desafio à salvação como algo presente, imediato, urgente: “...Hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos corações...” Heb 3;15

É nobre que nos entristeçamos pela dor alheia, mas, podemos manifestar isso sem sermos falsos, pueris, nem, mentirosos.

sábado, 19 de março de 2016

Corrida de Revezamento

O coração entendido buscará o conhecimento, mas, a boca dos tolos se apascentará de estultícia.” Prov 15;14

Aqui temos um princípio bom, direcionando a um alvo excelente: “O coração entendido buscará conhecimento...” Natural concluir que tal “entendido” o é, no sentido de entender a própria carência, da qual, sai em busca; conhecimento. Em momentos assim, Sócrates se impõe: “Tudo o que sei, é que nada sei”.

Por outro lado, temos o que “apascenta” a si mesmo com o que possui, parece seguro de não precisar mais nada: “... a boca dos tolos se apascentará de estultícia.” Só um completo imbecil, cujo horizonte cognitivo em pouco excede ao seu parco existenciário, onde, muitas coisas que supõe conhecer, ignora, só um assim, digo, se sentiria seguro de que é o sabichão, que a galera pode ir por ele e estará indo bem. Agora, Shakespeare pede passagem: “Há mais coisas entre o Céu e a Terra do que supõe nossa vã filosofia.

Um cachorro recebe com festa ao seu dono e tende a latir ameaçador para estranhos; seu parâmetro é: Sentir-se seguro com o que já conhece, e ameaçado ante o ignoto, o desconhecido.

No fundo, toda aquisição encerra uma perda. Se sempre fiz determinada coisa como meu pai fazia, esse atavismo era meu “patrimônio intelectual” sobre aquilo, e, em algum momento for convencido que há maneiras melhores de fazer o mesmo, quiçá, que a coisa era errada, para aceitar a nova percepção, preciso “latir ameaçador para meu dono” meu conhecimento até então; e festejar à chegada de um “estranho”, o novo. É demais para um cachorro tão manso, acostumado aos seus.

A alma filosófica, a do entendido, tem comportamento diverso do cão de nosso exemplo. Tem certo enfado do conhecido, do lugar comum, o chavão, o clichê; e sede de aprendizado, coisas novas que a desafiem; uma vez aceito e vencido o desafio, inda que, apenas em parte, ela se alegrará ostentando a “medalha” do novo conhecimento adquirido.

Agora, me ocorre Spurgeon: “Os melhores homens que conheci – disse – estavam descontentes consigo mesmo; em constante busca, como se lhes faltasse algo que os poderia tornar ainda melhores.” Não são, esses, exemplos de entendidos buscando conhecimento? Quantos homens abastados, ainda fazem tudo usando até meios ilícitos para buscar mais fortuna? Assim agem os entendidos em foco; mesmo possuindo, saem sôfregos em busca de mais; só que esses, dos valores verdadeiros, que permanecem.

As paixões, motrizes dos tolos, cegam-nos às coisas mais diáfanas, ensejam o fanatismo e os levam a agir como cães, dóceis ao lugar comum, à mesmice decorada, e furiosos ante o estranho, à nova percepção, à luz dissipando fumaça. As pessoas assim defendem bandeiras, invés de valores, pessoas invés de comportamentos. O período de maior ganho em conhecimento e experiência é o período mais difícil da vida de alguém”.  ( Dalai Lama ) A perda que falamos ameaça ao fanático, ele recrudesce em seu fanatismo e segue reafirmando sua estultice, cioso dela como se estivesse guardando um tesouro.

Ora, ante à Fonte da Sabedoria, bem se nos aplica a frase que a samaritana disse a Jesus: “Não tens com que tirar, e o poço é fundo”. A corrida do saber é como a de revezamento dos jogos olímpicos, onde, alguém percorre sua parte e passa o bastão a outrem que segue. Nosso curso equivale aos dias de nossas vidas, o “bastão” nossas aquisições durante a passagem.

Nesse breve raciocínio recebi ajuda de Salomão, Sócrates, Shakespeare, Spurgeon, Dalai Lama; eles correram antes de mim, aprenderam e transmitiram seu saber adiante; meu “trabalho” consistiu em entender minha carência de conhecimento, e buscá-lo nas devidas fontes.

A doutrinação ideológica estreita cérebros, atrofia-os. Invés formar homens livres, pensantes, formata títeres pensados. Agora, Plutarco me ajuda: “A mente não é uma vasilha para ser cheia; é um fogo a ser aceso.”  E esse fogo, diverso da paixão que explora o calor, arde mais em função da luz.

Sabedoria não é uma frescura pernóstica para diversão de quem a possui. Tem implicações práticas vitais, como ensina o mesmo Salomão: Também vi esta sabedoria debaixo do sol, que para mim foi grande: Houve uma pequena cidade com poucos homens, veio contra ela um grande rei, a cercou, levantou contra ela grandes baluartes; encontrou-se nela um sábio pobre, que livrou aquela cidade pela sua sabedoria; ninguém se lembrava daquele pobre homem. Então disse eu: Melhor é a sabedoria do que a força...” Ecl 9;13 a 16

A perfeição, apenas, não demanda mudanças, mas, essa encontra-se em Deus. De nós se espera que não sejamos tão avessos ante “estranhos”, para fugirmos da estupidez. Somente os extremamente sábios e os extremamente estúpidos é que não mudam.” ( Confúcio )