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domingo, 13 de janeiro de 2019

Mortal Combate

“A morte não nos concerne, pois quando vivemos a morte não está aqui. Quando ela chega, não estamos mais vivos.” Demócrito

“Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: Ele não me persegue, nem eu fujo dele, um dia a gente se encontra.” Mário Lago

Abordagens bem humoradas no que tange à morte. Ou, com disse ainda o “filósofo” Tiririca; a “Disgraça da morte é que ela acaba co’a vida da gente”.

Mas, falando sério, são ambientes de profundo pesar, tristeza, que ensejam as reflexões mais hígidas e nos purificam das superfluidades ocas do dia a dia.

Os gregos chamavam ao choro profuso e contrito de “catarse”. Ou, purificação. Apostando nessa “medicina da alma” escreviam suas incisivas tragédias, cujas revelações e morticínios ocorriam no epílogo e levavam a plateia que frequentava teatros, ao choro copioso.

Diferente dos dramas insossos atuais onde, no último capítulo até cachorro e macaco encontram seu par e vivem “felizes para sempre”; aqueles, afeitos ao pensar mais sóbrio usavam a arte com um viés existencial filosófico permeando-a. Iam além do mero entretenimento, pois.

Por esse viés que Salomão avaliou como melhor o ambiente fúnebre que o festivo; nesses os homens se perdem; naquela, alguns podem se achar. “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens e os vivos o aplicam ao seu coração.” Ecl 7;2

No verso seguinte ampliou: “Melhor é a mágoa que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.” Por fim, aquilatou a sapiência humana em face às escolhas; “O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria.” V 4

Qualquer um se resigna diante d'uma tragédia onde sua vida esteve em risco, se, no fim, mesmo perdendo muitos bens materiais ela acaba preservada. “Vão-se os anéis, ficam os dedos.” Dizem.

Entretanto, desafie-se aos mesmos para que abdiquem dos “anéis” dos prazeres pecaminosos para que os “dedos” da vida espiritual sejam preservados; logo teremos que lidar com desafetos.

Uns abertamente nos afrontam; outros insinuam nas entrelinhas que cuidemos de nossas vidas, pois, nossa preocupação com o final das deles soa-lhes a intromissão.

Óbvio que, cada um tem sua escala de valores, prioridades; em função da sua percepção de mundo faz suas escolhas e aquilata aos seus bens.

“Os asnos preferem palha ao ouro” Estobeu.

Ou, “São as necessidades que determinam os valores” Platão.

Assim, se estiverem convencidos que necessitam “curtir a vida;” como dizem, será esse seu valor axial em torno do qual orbitarão suas escolhas.

Acontece que nossa inter-relação é necessária de maneira tal, que, torna-se absolutamente impossível cada um cuidar estritamente de si sem se “intrometer” na vida alheia.

Suponhamos que, alguém lendo isso aborreça-se comigo e diga-me: “Vai cuidar da sua vida!” Ao me “aconselhar” sobre o que devo fazer estaria intrometendo-se na minha; e isso em reação porque ingeri na dele?? Mas, se ele é contra fazer isso, por quê faz?

Na verdade somos sociais, gregários, interativos; ninguém é feliz sozinho. O que causa ojeriza à maioria das pessoas é a ideia que estando erradas estejam também nuas; isto é, serem vistas.

Assim, criam um implícito acordo de não discordar; cada um na sua; “folhas de parreira” com as quais, Adões e Evas modernas pretendem ignorar ao Criador e Seu Chamado; ficam sob diretriz do inimigo que disse: “Vós mesmos sabereis o bem e o mal.”

Nesse prisma, seu bem é dar vazão a todos os desejos, por mortais que sejam; o mal, alguém da parte de Deus ousar chamar de volta aos domínios da sensatez, da vida em Cristo.

Mas, os intocáveis donos das próprias vidas, quando a morte chama algum dos seus, recolhem por um momento as afiadas garras do Wolverine com as quais atacam quem lhes adverte; claudicam temerosos, inseguros, cogitando se, a próxima “senha” na chamada da morte não seria a sua.

“O telhado consertamos em dias de sol, não, quando chove”
J. F. Kennedy

Então, os “intrometidos” que tentam nos advertir para que estejamos preparados ante ao possível chamado da “dama de preto,” gostemos ou não, são providenciais anjos de Deus que veem nossas telhas quebradas e a chuva que se avizinha.

“A doutrina do sábio é uma fonte de vida para desviar dos laços da morte.” Prov 13;14

O Salvador chamou a diligência nos bens espirituais de “Tesouro nos Céus”, sábia providência para o além.

Os que deixam conselhos malignos e se abrigam Nele podem dar pêsames à morte por sua tentativa frustrada; “Onde está, ó morte, teu aguilhão? Onde está, ó inferno, tua vitória?” I Cor 15;55

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Chapecoense, tragédia na Colômbia

“Tudo tem o seu tempo determinado; há tempo para todo o propósito debaixo do céu... Tempo de chorar...” Ecl 3;1 e 4

Mesmo quem não entende, ou, não gosta de futebol, não ficou, nem poderia ficar, alheio ou indiferente à tragédia que vitimou a delegação da Associação Chapecoense de Futebol, nessa madrugada, na Colômbia. 71 vítimas, tripulação, jogadores, dirigentes, convidados de honra, e, profissionais da imprensa.

Coisas normais no seu labor, disputas, rivalidades, competições, perdem o significado ante o valor infinitamente superior, da vida. Ademais, todos os desportistas do país, certamente tinham à “Chape” como segundo time, sobretudo, nessa hora, em que disputava o maior título de sua história, o primeiro de caráter internacional, de todo o povo catarinense. Era-nos natural torcer para que eles fossem vitoriosos.

Infelizmente, somados acidentes, crimes, doenças, lidamos com um número expressivo de mortes, todos os dias; porém, quando, invés de diluir entre muitos o nefasto peso de sua vinda, a morte resolve concentrar a dor em um grupo assim, uma cidade, uma comunidade de torcedores, anexando ao inesperado trágico a contramão de quem galgava veredas gloriosas antes da dor, nossa consternação vulnera-nos, nossas razões tonteiam, a incompreensão nos toma.

Todos os estádios do mundo, onde houver uma partida oficial nos próximos dias, farão um minuto de silêncio antes de novos jogos, muitos aplaudirão; forma de dizer que a dor deles, é um muito nossa, também. Na verdade, é algo difícil de entender, em nossa natureza, por que, podemos participar com certa facilidade da dor alheia, embora, nem sempre, da alegria. Talvez tenhamos mais jeito pra nos identificarmos em nossas fraquezas, que, em eventuais destaques de dons superiores dados a outrem, não, a nós.

As competições nacionais foram adiadas por uns dias, pois, não faria sentido a alegria de eventuais conquistas, de quem quer que fosse, sobre um cenário de tanta consternação como esse.

Eis uma hora em que as palavras esgotam mui rápido suas parcas possibilidades, ante a imensa lacuna dessa ruptura de sonhos, expectativas... O fim da convivência, dos anseios mais legítimos, se faz de uma eloquência superior, o que põe nossas melhores ideias, nossos melhores discursos, apenas, mudos, ineptos, enfim, nossa impotência ante a gravidade da dor, resulta de uma evidência humilhante.

Nós, que ensinamos coisas espirituais derivadas da Palavra de Deus, não raro, exortamos o que aprendemos do Senhor, sobre a brevidade fugaz da vida, a importância inelutável de estarmos em paz com Deus, para quando nosso tempo findar. Entretanto, nem mesmo nós, que tentamos andar segundo esse modo de ver, cogitamos de um encontro brutal, coletivo, doloroso assim, com a última milha da jornada.

Quem não buscaria no mais fundo de seu relicário, se, houvesse, uma porção inda que pequena de palavras que pudesse de alguma forma, amenizar tamanha dor? Mas, tais não existem. Palavras não ajudam, silêncio não ameniza, empatia, em nada, melhora.

Resta, nos solidarizarmos com os familiares, amigos, torcedores da Chapecoense, e, demais vítimas, o que inexoravelmente não é bondade nossa, antes, identificação, à medida que nos vemos também partícipes da dor, inda que em escala menor, orando para que Deus lhes dê o consolo necessário para suportar uma carga assim, e a força necessária para seguir na senda da vida.

Os gregos, invés da comédia pueril, ou, dos finais felizes artificiais tão comuns em nossa dramaturgia, investiam nas tragédias, nas encenações, cujo clímax, era doloroso, levava a plateia ao choro. Chamavam a isso, catarse, ou seja, purificação. Entendiam, eles, que as almas humanas tendem a ser superficiais, melindrosas de pequenas coisas, e precisam eventualmente, contato com a dura realidade, para que se façam também, mais realistas, ponderadas, sensatas, menos suscetíveis.

Pois, nós que estamos compulsoriamente assistindo a uma tragédia real, de tal magnitude, bem que poderíamos, ao partilharmos um tanto da dor alheia, nos tornarmos um pouco melhores também, pararmos de superdimensionar picuinhas, e nos atermos mais, ao que deveras tem valor, dá sentido à vida.

Seria uma flor entre pedras, se, a eloquência da morte, lograsse, inda que tardiamente, nos guindar de uma existência pueril, a um sentido mais amplo, mais intenso, para o maravilhoso dom, da vida.

Causas serão apontadas, suspeitas levantadas, conclusões apresentadas, mas, nada mudará o fato de que isso será mera formalidade necessária, ações, derivadas da punção de quem fica, inúteis para mudar o que foi.

Nossa sociedade tão ensimesmada, ególatra, a geração selfie, gente que posta suas malcriações jactando-se de não precisar de ninguém para nada, bem poderia, ao aguilhão de tamanha dor, repensar valores, atitudes, escolhas, e se deixar humanizar um pouco mais, em lugar de ser tornar assim, tão máquina.

Eu preciso de tantos... precisaria daqueles 71, vivos, para não estar tão triste. Força Chape!!