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sábado, 30 de agosto de 2014

A "Teologia" dos bárbaros

“Porque sete vezes cairá o justo, e se levantará; mas os ímpios tropeçarão no mal.” Prov 24; 16 
 
No meio religioso costuma-se pensar que aquele que cai deixa de ser justo. Caiu porque se desviou do bom caminho. Sim, o julgamento do caráter a partir das circunstâncias é  comum no meio evangélico. Um hino antigo que denunciava essa visão  diz: “Se estou enfermo é porque estou em pecado…” 
 
Mais ou menos a “teologia” de R. R. Soares que baseado num verso de Isaías 53 onde diz que Jesus “Levou sobre si nossas enfermidades” conclui que um salvo não pode ficar enfermo; doença é do diabo.  Contudo, basta ler o verso seguinte para ver que tipo de enfermidades o profeta tinha em mente. “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele…” Assim, as enfermidades em apreço tiram a paz com Deus, não a saúde. Claro que está falando de enfermidades da alma, pecados.
 
Certo é que o Senhor curou  muitos e ainda cura em resposta às orações. Mas, também é certo que Epafrodito, Timóteo,  Paulo, tinham seus problemas de saúde e o Senhor não interveio.  De modo que, a cura física é uma possibilidade ao alcance dos fiéis, não, uma necessidade.

Todavia, a queda do justo refere-se a problemas com pecados mesmo; não há inferência que autorize concluir que se refere à saúde. Tanto é possível “cair” para consumo externo; digo, sofrer por causas alheias ao seu caráter, como Jesus, Jó e Paulo, por exemplo; quanto, os justos cometerem seus próprios deslizes.

Acontece que há pecados que são de conduta; outros, de princípio. Esses se referem aos valores que adoto como aceitáveis ante Deus. O pecado de conduta é, quando, num momento de fraqueza ou descuido atuo de forma a trair os princípios que  tenho como norteadores de meu agir.
Tomemos como exemplo o pecado da mentira. Baseado em muitos textos onde vemos que o Santo abomina essa postura, também eu, passo a adotar com um princípio, um modo de agir segundo Deus, que me faz justo no tocante a isso. Entretanto, por uma conveniência circunstancial, digamos que eu conte uma mentira. Cometi, assim, um pecado de conduta; conduzi-me contrariamente aos princípios que acredito, caí. Mas, presto me arrependo, confesso,  peço perdão; o Senhor misericordioso me levanta.

Todavia, os ímpios que acham a mentira um sinal de esperteza e fazem uso dela com frequência, “tropeçam no mal”. Desconhecem a Vontade de Deus por rebeldia, ignorância; assim, estão caídos e sequer percebem. “O caminho dos ímpios é como a escuridão; nem sabem em que tropeçam.” Prov 4; 19
 
Além disso, circunstâncias adversas podem ocorrer  fortuitas, sem culpa de ninguém. Como se deu com Paulo em Malta. “E, havendo Paulo ajuntado uma quantidade de vides,  pondo-as no fogo, uma víbora, fugindo do calor, lhe acometeu a mão. E os bárbaros, vendo-lhe a víbora pendurada na mão, diziam uns aos outros: Certamente este homem é homicida, visto como, escapando do mar, a justiça não o deixa viver.” Atos 28; 3 e 4
 
Essa era sua “teologia”; Paulo acabara de escapar de um naufrágio, em terra firme foi acometido por uma víbora venenosa.  É um assassino que os deuses perseguem para matar, pensaram. Contudo, “sacudindo ele a víbora no fogo, não sofreu nenhum mal. E eles esperavam que viesse a inchar ou  cair morto de repente; mas tendo esperado já muito, e vendo que nenhum incômodo lhe sobrevinha, mudando de parecer, diziam que era um deus.” VS 5 e 6
 
Nem uma coisa nem outra. Certo que Paulo tinha suas culpas pretéritas, mas, fora perdoado e comissionado por Cristo, de modo que não havia perseguição contra ele, exceto, dos judeus. Também, que foi Jesus que neutralizou o veneno da víbora porque era com ele, não que Paulo fosse  Deus.

A Bíblia ensina-nos a conhecermos os caracteres pelos frutos, não, pelas circunstâncias. Afinal, só quem sobe aos padrões elevados de Deus pode cair.  A consciência do que adota princípios ímpios está cauterizada, perde a sensibilidade espiritual como um bêbado perde a física. “Como  espinho que entra na mão do bêbado, assim é o provérbio na boca dos tolos.” Prov 26; 9
 
Claro que um relapso que aos poucos deixa de ouvir aos reclames da consciência, acabará caindo de vez. O Homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, de repente será destruído sem que haja remédio.” Prov 29; 1
 
Por mais que incomode, pois, a denúncia de uma consciência viva labora para preservar nossa alma. “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.” I Tim 1; 19 A consciência acusa a queda; a boa índole reconhece a culpa; o arrependimento conduz ao que Levanta.