sábado, 3 de junho de 2017

Vitória; só que não

“O Senhor disse a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela, da casa de teu pai, para a terra que te mostrarei.” Gên 12;1

Alguém disse que sentimos nas mudanças certo alívio, inda que estejamos mudando para pior. Embora não seja verdade absoluta, em muitos casos, nos perece mesmo, assim. O desapego d’onde saímos, bem como, eventuais possibilidades da nova meta se encarregam de forjar em nossas almas, tal estado emocional. Todavia, sempre mudamos daqui pra acolá. Digo; de um lugar para outro, não é o jeito natural de nosso agir, deixarmos o porto seguro para derivar no mar.

Contudo, na chamada de Abrão O Eterno ordenou que deixasse sua terra, seus parentes, por um alvo inda desconhecido; “uma terra que te mostrarei.” Assim, lícito nos é concluir que Deus chama primeiro, à confiança em Si, Sua Palavra; depois, às conseqüências disso, sejam bênçãos, sejam, provas. O Fato de confiarmos Nele, pois, não é salvo-conduto contra intempéries da vida, antes, certeza de que, mesmo nelas, Sua Fidelidade e Presença, nos assistirão. “Quando passares pelas águas, estarei contigo, quando pelos rios, não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem, chama arderá em ti.” Is 43;2

Infelizmente, no meio evangélico atual, grassa, um imediatismo doentio que tenta situar de modo pontual, algo que deveria estender-se por toda nossa vida. A Vitória. Não raro deparo com a “Chave” dela atrelada a certo “amém” ou, compartilhamento de alguma mensagem, quiçá, basta que a receba. Gostaria de saber o que essas pessoas tentam conceituar como “Vitória”. Não existe conquista pontual que possa ser aquilatada como vitória, no sentido pleno; nem a própria conversão, pois, essa demanda a perseverança até o fim, para se verificar.

Mesmo, eventualmente, reconhecendo bons passos em determinadas comunidades de convertidos, as cartas do Apocalipse colocaram a vitória como desafio, uma possibilidade; não, algo, já, por elas obtido. “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Quem vencer não receberá o dano da segunda morte.” Apoc 2;11 etc. Parece que a primeira qualidade dos vencedores espirituais é ter bons ouvidos quando O Espírito Santo Fala.

A maioria do que se vislumbra em nosso horizonte é conquista de coisas, sendo avaliada de modo errôneo; elas são meios, não, fins. Paulo foi ao encontro da morte como um atleta vencedor subindo ao pódio: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” Sua vitória custou-lhe a vida.

Certas afirmações são tão obscenas, no escopo da lógica, que trazem em si mesmas, sua antítese, sua negação. Parece o Lula oferecendo-se como solução para os problemas que ele criou, ou, sugerindo que ninguém combate a corrupção como seu partido. Assim, pessoas, com alvos egoístas, rasteiros, mesquinhos, batizando-os de vitória. Ora, essas coisas também os do mundo aplaudem, buscam; Tiago ensina que ter esse tipo de “amizade” é adultério espiritual, mui longe de ser vitória.

Na verdade, abster-se de pecar, arrepender-se, confessar ao falhar, e descansar no que Deus prometeu, mesmo que inda não vemos, é uma forma vitoriosa de viver. “Porque todo que é nascido de Deus vence o mundo; esta é a vitória que vence o mundo, nossa fé.” I Jo 5;4 Como “Fé sem obras é morta”, devemos pautar nosso agir pelo nosso crer, daí: “buscai primeiro o reino de Deus, e sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” Mat 6;33

Enquanto estivermos num corpo de carne e sangue, ainda que, possamos viver de modo vitorioso, nos adequando às demandas para herdar a Vitória de Cristo, só um hipócrita negará, que convivemos diariamente com pequenas derrotas, quiçá, grandes. 


Paulo chamou de vitória, cabalmente, o momento em que seremos libertos, de vez da natureza corrupta, perversa, e seremos revestidos de Cristo. “Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. Quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória.” I Cor 15;53 e 54

Assim como a morte foi a consequência do pecado, da queda, é, justo, contra esse, o pecado, feitor da perdição, que devemos vencer, sendo obedientes, mesmo que ao custo da vida. “Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado.” Heb 12;4

Enfim, como fez com Abrão, Deus chama primeiro à confiança irrestrita em Si, a andar por fé. Seguir assim é como dirigir sob densa neblina. Enxergamos pequeno trecho de estrada, e só veremos adiante, depois de percorrermos aquele que vemos. Ló deslumbrou-se com a visão ampla das campinas de Sodoma e Gomorra; Abrão abdicou do direito de escolher terra, pois, escolhera Deus.

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