sábado, 20 de maio de 2017

Nosso coração de Faraó

“O Senhor, porém, endureceu o coração de Faraó; este não os quis deixar ir.” Ex 10;27

Esse e versos semelhantes do mesmo contexto, se, mal compreendidos podem ensejar o pensamento blasfemo que Deus seria injusto; afinal, após desafiar Faraó a fazer certa concessão, “endurecia” o coração dele, depois, o punia com pragas, justo, por causa dessa dureza. Seria O Eterno um sádico?

Duas narrativas são possíveis ao mesmo fato; uma derivada do Númeno, outra, do Fenômeno. Númeno é “A realidade tal qual, existe em si mesma, de forma independente da perspectiva necessariamente parcial em que se dá todo o conhecimento humano; a coisa em si;” essa perspectiva parcial do conhecimento humano, sua visão, interpretação, é o fenômeno.

Muitas vezes o homem incorre em erros de perspectiva; por exemplo: Quando a barriga cresce diz que as calças ficaram pequenas; ou, fala que o sol nasce, quando, apenas surge, ao movimento da rotação, etc. Assim, o fenômeno são as coisas como vemos; o Númeno, elas como são.

A narrativa humana de que Deus endurecia ao coração do soberano não era a realidade, antes, a perspectiva do narrador que pensava: Se Deus pode fazer tais maravilhas, as pragas, bem poderia abrandar o coração do Rei, se não faz, é porque o endureceu.

Na verdade, não precisamos ajuda pra isso; Jesus disse: “Porque o coração deste povo está endurecido, ouviram de mau grado, fecharam seus olhos para que não vejam, ouçam, compreendam com o coração, se convertam, e Eu os cure.” Mat 13;15

O homem entregue a si mesmo está endurecido, refratário ao querer do Eterno. “... quanto a condição dos filhos dos homens, que Deus os provaria, para que assim pudessem ver que são em si mesmos como animais.” Ecl 3;18

Disse mais: “O caminho do insensato é reto aos seus próprios olhos, mas, o que dá ouvidos ao conselho é sábio.” Prov 12;15

Quando diz que endurecia ao coração de Faraó, apenas o entregava a si mesmo, sem o auxiliar para que visse além da orgulhosa perspectiva, sob a qual, mantinha-se resiliente em sua rebeldia.

Nossa tendência natural é resistir às demandas Divinas por obediência, santidade. Paulo expôs assim: “...a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois, não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, pode ser.” Rom 8;7

Sem o novo nascimento pelo Espírito Santo, estamos impedidos de ver, ou, entrar no Reino; “...aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.” Jo 3;3 e 5 É nossa dureza, não a Vontade Divina que nos faz “barrados no baile”.

A mudança requerida para conversão, “negue a si mesmo” é tão traumática, radical, que, mediante Ezequiel, Deus figurou como um transplante de órgãos, não, mero amolecimento. “Aspergirei água pura sobre vós, ficareis purificados de todas vossas imundícias, todos vossos ídolos, vos purificarei. Dar-vos-ei um coração novo, porei dentro de vós um espírito novo; tirarei da vossa carne o coração de pedra, vos darei um coração de carne. Porei dentro de vós meu Espírito, farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos, e os observeis.” Ez 36;25 a 27

Claro que isso, se dá com nossa anuência, não se trata de imposição, como se O Santo tivesse escolhido de antemão quem será salvo, e a esse Seu apelo fosse irresistível, como advogam os da predestinação. A mudança necessária deriva sim da maravilhosa Graça do Senhor, mas, precisa despertar o desejo humano por ela, senão, pode ser resistida, como denunciou Estevão: “Homens de dura cerviz, incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, sois como vossos pais.” Atos 7;51

Predestinação significa destino prévio para duas escolhas possíveis, não, pré-escolha. Em suma, quando Deus “endurece” alguém, apenas entrega-o a si mesmo; quando tenciona salvar, atua para persuadir mediante a Luz do Espírito Santo, mas, a decisão de andar na Luz, sempre será nossa.

Se O Eterno “endureceu” Israel e facilitou aos gentios, como diz em Romanos, refere-se ao foco da Obra circunstancialmente; o que logo voltará a ser Israel. Aos iluminados, pois, a responsabilidade de andar na luz, ou, o risco da queda, voltando a estar apenas em si mesmos; “Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial, se tornaram participantes do Espírito Santo, provaram a boa palavra de Deus, as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus...” Heb 6;4 a 6

Dada a seriedade disso, a advertência: “...Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais vossos corações...” Heb 3;15

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