sábado, 26 de novembro de 2016

Entre a cruz e as pedradas

“Tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, Icônio e Antioquia, confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé; pois, que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus.” Atos 14;21 e 22

“Confirmando os ânimos...” parece que havia razões para operar desânimo nos discípulos gerados por Paulo naquela região, de modo que, contra essas, aconselhava, exortava.

Mas, quais seriam as razões? Ora, o próprio Paulo, que operava pelo Espírito de Deus, grandes sinais, sobrevivera a um apedrejamento recém, de modo que, trazia sobre si as marcas, o que, visto pelos discípulos, poderia ser um “marketing” contraproducente, algo a ensejar medo, a fazer desistir. Mas, Paulo os fazia entender que tais coisas eram necessárias para ingressar em algo tão grandioso como O Reino de Deus.

Na verdade, pouco importava o que ele fizesse em termos de sinais, pois, o ódio que cega e atua mediante fanatismo possuía os corações dos judeus que se lhe opunham, de modo que, matá-lo a pedradas lhes era ideia fixa.

Após uma bem sucedida empresa ministerial em Icônio, o apedrejamento foi desejado por seus desafetos; “E havendo um motim, tanto dos judeus quanto dos gentios, com os seus principais, para os insultarem e apedrejarem”. V5

Cientes disso, Paulo e Barnabé fugiram para Listra e Derbe, onde, Deus usou a Paulo para curar um homem coxo. Os nativos boquiabertos os queriam tratar como deuses, o que, Paulo rejeitou veemente, mas, aí chegaram os das pedras, do ódio, da inveja, e dessa vez, fizeram o que queriam, havia muito. “Sobrevieram, porém, uns judeus de Antioquia e de Icônio que, tendo convencido a multidão, apedrejaram a Paulo, o arrastaram para fora da cidade, cuidando que estava morto.” V 19

O servo de Deus se revelou duro de matar, e mesmo marcado pelas pedradas, seguiu seu trabalho cuidando em amenizar a situação, para que, as chagas de seu corpo não ensejassem outras iguais, nas almas dos que lhe ouviam.

Contudo, deixando esse viés, por ora, outra questão assoma: Por quê, o ódio é tão convincente? Sim, o povo estava prestes a cultuar em louvor a dois “deuses” tal a admiração pelo sinal operado, mas, bastou que chegasse a turma da inveja turbinando o ódio, para que, a mesma multidão se deixasse convencer, e participasse do apedrejamento.

A palavra convencer sugere a ideia de vitória conjunta, vencer, com. Paulo anunciava O Amor de Deus, mediante Cristo, e operava grandes sinais demonstrando isso; era perseguido pelo establishment religioso, cujos traços do Salvador, buscava apagar a todo custo, mesmo que, com sangue, como se viu na tentativa de assassinar ao apóstolo.

Na verdade, o ódio é muito mais fácil de seguir, que o amor. Esse, demanda renúncia, abnegação, empatia, compromisso, verdade; aquele, não tira nada de bom de mim, antes, lança mão de “qualidades” baratas, como inveja, maldade, presunção, fanatismo, de modo que, me faz juiz, em egoísmo doentio, de quem eu discordar; e desse, vítima de minha “justiça”. Não preciso abdicar de nada, antes, ao seu motor posso dar vazão aos meus instintos mais primitivos, mais bárbaros, de modo que, às almas por ele possuídas, chega a ter certa doçura.

Assim, às muitas tribulações externas aventadas por Paulo para ingresso no Reino, estão anexas também essas maldades internas, que são nossas, como primeiro front de luta caso ousemos crer de modo a buscarmos conversão. “Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo, tome a cada dia sua cruz, e siga-me.” Luc 9;23 é o desafio do Salvador.

Em suma, o chamamento do ódio me instiga a mandar pedradas em coisas que presumo, erros alheios; o do amor, a mortificar na cruz, as coisas que Deus declarar más, e habitam em mim. O ódio, pois, é mais fácil, por enfrentar a outrem com a mentira; o amor, mais duro, pois, careço enfrentar a mim mesmo, com a verdade. Óbvio que dói menos atirar pedras em outrem, que submeter-me à cruz.

Embora o seguimento calvinista insista que Deus faz tudo sozinho quando, salva-nos, nem seríamos arbitrários, apenas, eleitos, na verdade, opera por nos convencer, mediante O Bendito Espírito Santo; naqueles que convence, vence com; salva. “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo.” Jo 16;8

Convencido que minhas “qualidades” são pecado diante de Deus; que, a justiça Dele se cumpre em Cristo, e que, não me abrigando à Sua sombra serei réu, sou, pelo Mesmo Espírito, encorajado e capacitado a corresponder ao Amor de Deus.

A ação do Espírito, não me adestra para pedradas, antes, arrependimento. O fogo do ódio, do fanatismo, arde apenas por calor, destruição; o do Espírito Santo, por luz, edificação.

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