quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A César o que não é de César

“Mas eles bradaram: Tira, tira, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso Rei? Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão César.” Jo 19;15

César, imperador romano era cabeça de um reino que oprimia e dominava Israel, cobrando pesados tributos, a ponto de, um judeu trabalhar para o império cobrando impostos de seus compatriotas ser considerado grave pecado, daí, o desprezo que sofriam os publicanos.

Contudo, no julgamento de Jesus disseram eles que preferiam o domínio de César. O que havia no Senhor que o fazia tão detestável a ponto de os líderes judeus preferirem a tirania de Roma?

Segundo vaticinara Isaías, parece que o lapso era estético: “...não tinha beleza nem formosura, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos.” Is 53;2 Embora não haja maiores referências físicas sobre O Salvador, exceto que, “crescia em estatura e em graça perante Deus e os homens”, a simples omissão de lapsos físicos demonstra que era Ele um homem normal. A falta de atrativos derivava de Seus ensinos, não, de atributos físicos, até porque, a esses ( os ensinos ) o profeta mencionara, antes, da “feiura” do Messias. “Quem deu crédito à nossa pregação...?”

Assim, a doutrina do Mestre soava sem atrativos aos judeus, não, Sua aparência. Porém, tão desprezível a ponto de preferirem César? Por quê?

Se atentarmos para Isaías uma vez mais, veremos que não pretendeu narrar a “coisa em si” como diriam os filósofos, mas, a coisa para si. Noutras palavras: Não, quem, de fato, era, O Senhor, mas, como seria aquilatado por seus ouvintes. Afinal, algo pode ser reputado mau, por ser, deveras, mau, ou, pela inépcia do avaliador.

O mesmo Senhor aludiu à importância da percepção apurada, para usufruto da luz espiritual. “A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz; se, porém, teus olhos forem maus,  teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” Mat 6;22 e 23

Acho que começamos a entender porque César assustava menos que O Salvador. João introduz sua narrativa colocando Jesus como opositor diametral dos seus ouvintes, diz: “A luz resplandeceu nas trevas, e as trevas não a compreenderam.” Jo 1;5

Com o Império Romano a coisa tinha certa harmonia. Malgrado os extorsivos tributos, havia concessões, como liberdade de culto segundo a crença judaica. O Senhor, por Sua vez, denunciou a hipocrisia de uma religião puramente formal, aparente, sem nenhuma essência, incapaz de agradar a Deus. Além disso, operou grandes sinais, que corroboravam Sua autoridade espiritual para contradizer doutrinariamente aos que se diziam doutores e mestres em Israel.

César não era ameaça ao “status quo”, pois, apesar dele, as coisas “iam bem”. Na verdade, desde que a humanidade passou a decidir por si mesma o bem e o mal, por sugestão de satanás, o bem passou a ser o comodismo, conforto, mesmo que conduza à perdição; o mal, correção, disciplina, não obstante, aja em prol da salvação.

Basta refletirmos uns segundos para vermos a massacrante vantagem numérica dos que preferem “César” aos ensinos do Salvador, mesmo, hoje.

Apesar dos pesados tributos de uma consciência culpada, as pessoas preferem a servidão no reino falido do pecado, uma liberdade condicional eventual, que é mera preliminar da prisão eterna, à cruz de Cristo que, mesmo tolhendo facilidades circunstanciais, reconcilia com Deus, silencia a consciência em paz, e permite a contemplação do Senhor como, de fato É, não, como parece aos maus olhos. “Dai ao Senhor a glória devida ao seu nome, adorai o Senhor na beleza da santidade.” Sal 29;2

O mais grave dessa perversão é que as pessoas dão a César o que não é dele; digo, ao escolherem as conveniências egoístas, carnais, não é isso estritamente, que escolhem. Antes, o domínio do “rei” alternativo que sugeriu independência humana invés da submissão a Deus. No fundo, ele é que está por trás de “César”, tipo de toda escolha comodista, indiferente ao Amor Divino.

O verniz hipócrita que compartilha nas redes sociais palavras bonitas e alugadas, não basta para disfarçar vidas feias, nem diante de homens com certo discernimento, quiçá, diante de Deus. Na verdade, podemos ser inimigos da Cruz de Cristo fazendo poesias e os mais belos encômios sobre ela.


Pilatos, então, representante de César lavou suas mãos hipocritamente enquanto fazia a escolha mais fácil ante Jesus. Quem avalia a aprovação humana como mais importante que a Divina, facilmente empresta seus lábios para “glorificar” a Jesus, enquanto seu coração clama por César. Quem não consegue ver feiura no pecado nunca verá a Beleza do Salvador; luz e trevas não coabitam.

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