“Admoesto-te, que se façam deprecações, orações,
intercessões, ações de graças, por todos os homens, pelos reis, por todos os
que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta, sossegada, em toda a
piedade e honestidade;” I Tim 2;1 e 2
Duas correntes antagônicas são visíveis no meio cristão,
no que tange à cidadania. Uns, preferem não se envolver, não discutem política,
não se manifestam, apenas oram pelas autoridades; outros se engajam de tal forma,
que sonham eleger pastores a Deputados, Senadores, quiçá, Presidente,
influenciam seus rebanhos, usam até púlpitos para assuntos políticos. Quem está
certo? O Salvador ensinou a darmos a César o que é de César, e a Deus o que é
de Deus.
Algumas considerações contextuais: A Bíblia foi escrita em
tempo de Monarquias, “Orai... pelos reis...” Aconselhou Paulo. Ele estava
ecoando o que dissera Jeremias, por seu turno. Profetizara que o cativeiro
Babilônico seria de setenta anos; um falso profeta se opôs dizendo que seriam
apenas dois anos. Isso custou a vida do mentiroso.
Depois, o profeta que ficara
em Jerusalém, escreveu aconselhando os anciãos, que trabalhassem na terra, orassem
pelo Rei, pela sua paz, pois, na paz de Babilônia, eles teriam paz. Noutras
palavras: Não lutem contra, aceitem, trabalhem, é Vontade de Deus. Entretanto,
cumpridos os setenta anos, Daniel orou pelo retorno à Jerusalém e foi ouvido.
Assim, em tempos de monarcas absolutos, seria insano
pleitear qualquer mudança, senão, apelando a Deus; levantar-se contra um rei
seria morte certa. Salomão desaconselhou aos jovens, disse: “Teme ao Senhor,
filho meu, ao rei, não te ponhas com os que buscam mudanças, porque de repente se
levantará a sua destruição, a ruína de ambos, quem o sabe?” Prov 24; 21 e 22
O Rei tinha poder absoluto; ditava leis, executava,
julgava, fazia o que lhe desse na telha; por isso, seu período é tido como,
absolutismo.
Acontece que, com a evolução civilizatória, a Democracia,
alternativa ao absolutismo gestada na Grécia antiga, a República, e seu poder
tripartido, aperfeiçoada à partir das reflexões de Montesquieu, passou a ser o
sistema político dominante na imensa maioria das nações. Legislativo para fazer
leis, fiscalizar; Executivo para gerir, executar; e Judiciário, para dirimir
conflitos, julgar. Três poderes interligados na República, porém, autônomos,
independentes, condição indispensável para que o sistema funcione a contento.
Ré pública, o nome já diz, o público deve acusar a eterna
ré, no tribunal constitucional, quando não estiver cumprindo os deveres
pactuados. Esse é o contexto onde devemos exercer nossa cidadania.
Assim, os que acham que não devem se envolver, “com o
mundo” basta orar pelas autoridades, não percebem que nossa cidadania celeste
não tolhe labores terrenos. “Dai a César o que é de César...” Nossos deveres
cidadãos persistem. “A Deus o que é de Deus.” Veta que A Casa de Oração, a
igreja, seja rebaixada de suas funções nobres de Reino de Deus, para se ocupar
das coisas da Terra. Nossa participação política é inevitável, mas, na igreja,
não. Cada vez que reclamamos do custo da gasolina, energia, inflação, etc.
estamos, querendo ou não, fazendo uma crítica política.
Quem acha que basta orar, fugindo das coisas práticas da
vida, não deveria trabalhar pelo pão também, basta orar que “Deus dá seu pão
enquanto dormem”. A política na República lida como nosso trabalho, nosso
dinheiro, nossas vidas; os governantes eleitos não são nossos donos e nós seu
gado. São empregados que contratamos para gerirem nossas coisas por quatro
anos. Depois disso pesamos se renovamos contrato, ou não.
Mesmo nesse ínterim, a Constituição possui meios legais
para deposição de quem foi eleito, se, descumpriu a Lei, o Pacto que jurou
defender.
Assim, pelos pecadores, sejam do tipo que forem, oro
visando conversão; autoridades corruptas, que malversam o dinheiro alheio, oro
por justiça, para que todo lixo venha à luz, cumpram a merecida punição.
Não digo que Evangélicos não possam se candidatar a cargos
públicos, é um trabalho como outro qualquer, que pode ser bem, ou, mal feito.
Mas, quando alguém tem clara chamada para o Ministério Espiritual e troca isso
pelas luzes de Brasília, abdica da primogenitura por um prato de Lentilhas,
como Esaú.
A função de Embaixador do Reino dos Céus é infinitamente
mais honrosa e nobre que Presidente da República, e é “cargo” vitalício.
Separar-se do mundo quer dizer de valores contrários a
Deus, sobretudo, quando esses “valores” estão nos falsos cristãos. “Já por
carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; isto
não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo... porque então vos
seria necessário sair do mundo.
Mas, ... aquele que, dizendo-se irmão, for devasso,
avarento, idólatra, maldizente, beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda
comais.
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