sábado, 28 de novembro de 2015

Caráter ou, metamorfose?

“...aquele que jura com dano seu, e contudo não muda.” Sal 15; 4

É certo que o Senhor Jesus desaconselhou que façamos juramentos, coisa usual nos dias antigos. Não que isso signifique a desobrigação de coerência entre fala e atitudes; antes, a integridade a atingir é tal, que dispensaria juramento. Daí, “seja vosso sim, sim; e vosso não, não.”

Alguns já me questionaram sobre a oração, dizendo: “Por que devo fazê-lo, se, Deus sabe o que necessito antes que eu peça”? Ora, além do inalienável arbítrio que me faculta escolher, se, o Eterno me desse tudo o que necessito sem minha participação, mínima que fosse, Ele se tornaria servo e eu, Senhor. E a ideia é o oposto.

O simples chamá-lo de Senhor é algo que falo “com dano” meu; digo, me colocando na condição de servo, cujas escolhas pessoais não podem afrontar à ordem macro, do Reino. Por isso, aliás, antes de dispor as minhas escolhas, na oração modelo o Mestre disse que deveríamos Santificar ao Nome de Deus, pedir a vinda do Seu Reino, a expressão da Sua Vontade.

Meus pedidos pessoais seriam sóbrios: O pão cotidiano, perdão dos pecados de modo isonômico, isto é, da mesma forma que sou capaz de perdoar, e, por fim, livramento nas tentações.

“Lato sensu” Deus dá graças a todos, justos e injustos, propiciando os meios básicos para a vida natural; contudo, o foco aqui é a vida espiritual dos que “nasceram de novo” e pertencem, ou, pelo menos, afirmam pertencer ao Senhor.

Por que eu não deveria mudar de posição mesmo em face a um eventual dano num compromisso assumido? Por duas razões; uma moral, outra, econômica.

Epa! Isso é contraditório! No prisma econômico parece que devo mudar, afinal, o dano... É. Meu presumido interlocutor teria razão superficialmente em sua objeção.

Costumamos filosofar, ante perdas: “Vão-se os anéis, ficam os dedos.” A ideia é que posso perder coisas acessórias, desde que, o principal seja mantido. Simplificando mais: “Danem-se as posses, os bens, desde que, reste a vida.”

Ainda não me convenceste, diria o tal, afinal, trata-se de um compromisso, uma promessa, não um bem que estaria abrindo mão. É. Mudar de posição para não perder algo material parece sensato no prisma econômico, contudo, estamos tratando da economia de Deus.

Nesse aspecto, minha escolha reluta entre preservar a honra, a integridade, coisas que Deus ama, pra agradá-lo, mesmo com dano meu, ou, sacrificar isso e minha relação com o Rei, por mera vantagem temporal.

“Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se, perder sua alma”? Disse o Salvador do pobre rico da parábola. É o caso aqui, agravado pelo fato que está em jogo uma ninharia em oposição à alma, não, o “mundo inteiro” que, ainda assim, deveria ser desprezado.

Posta a razão econômica, resta a moral. Como seria a vida em sociedade se, tudo, e todos, fossem uma “metamorfose ambulante” como cantou o Raul Seixas? Hoje sou uma coisa, amanhã seu oposto; agora falo isso, logo ali, desdigo em prol daquilo...

Se, tal conceito de “liberdade” é um bem, pode espraiar-se por todo nosso modo de vida. Hoje aciono a descarga e ela leva os rejeitos; amanhã repito e ela traz mais; hoje primo a tecla e ela acende a luz; amanhã, queima um eletrodoméstico, me deixa no escuro; engato a primeira e o carro avança, amanhã, retrocede...

Espere, volverá o presumido aquele, esses são exemplos físicos, não se trata de mudar os discursos. São, como de resto são, as Parábolas de Jesus, cujo fito não era outro, senão, ensinar via exemplos palpáveis, os valores e implicações espirituais. A mesma desordem que se daria no mundo físico em face aos exemplos supra, se dá no espiritual, quando a os coisas assumidas não são cumpridas.

Aliás, grande parte da imensa rejeição que pesa sobre o partido de nosso Governo reside precisamente nisso; no fato de ter prometido determinadas ações e feito seu oposto após as eleições.

Reclamamos com razão, da falta de caráter. Falando nele, os signos dos teclados que usamos para escrever são chamados caracteres, que é o plural de caráter. E como ficaria se, de repente, tais, abdicassem do ser? Você tencionaria escrever “Fada”, por exemplo, iria às letras necessárias, e sem mais nem menos, o “a” cansado da rotina decidisse que naquele diria seria “o”? Viram um fragmento dos muitos danos da falta de caráter?

Escrevemos nossos, "tratos com", daí, contratos para que se registre e cumpra o que foi pactuado. Perante Deus, o que falamos está registrado; o que Ele falou, afirmou que não passa, mesmo que passem Céu e Terra; Se, age com integridade assim, pode requerer o mesmo de quem O serve.

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