“Como
cantaremos a canção do Senhor em terra estranha?” Sal 137; 4
Compreensível a
nostalgia, a saudade de Jerusalém, depois de tantos anos de cativeiro em
Babilônia.
Entretanto, há algumas coisas a se considerar. Aquela objeção, mal compreendida, pode dar
azo à legitimação dos “santos da bonança” dos “fiéis do tempo bom.” A ideia
subjacente é que as pessoas se alegrem em Deus, sejam fiéis apenas quando as
coisas forem bem, quando não, podem por a viola no saco.
Parece que a mulher de
Jó pensava assim; uma vez que, na prosperidade do marido não se importava que
ele madrugasse para oferecer sacrifícios, adoração a Deus; no ápice da provação
dele, aconselhou a blasfêmia, o suicídio. Quantas pessoas em situações desesperadoras
ouvem a voz da “mulher de Jó!” Digo sopros interiores aconselhando o suicídio,
como se, nele, repousasse uma solução. Deus não está em tais palavras, antes,
aconselha: “Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei e tu me glorificarás.”
As 50; 15
Voltando a Jó, ele fez exatamente isso; desejou uma audiência com o
Eterno e obteve, enfim. Quanto ao conselho de sua mulher, jogou na cesta do
lixo. “Porém ele lhe disse: Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o
bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus
lábios.” Jó 2; 19 A moderna “Teologia da
Prosperidade” tinha já seus expoentes em dias idos.
A ideia rasa, mercantil, de um Deus
negociante que como adestradores de animais, nos dá um “osso” a cada movimento
certo não combina com o Altíssimo, nem com o quê Ele espera de nós.
Dada a
interdependência da vida em sociedade, muitas vezes o juízo acaba atingindo
pessoas inocentes, eventualmente. Deus assume isso. “Os
que em tristeza suspiram pela assembleia solene, os quais te pertenciam, eu os
congregarei; esses para os quais era um opróbrio o peso que estava sobre ela.”
Sof 3; 18
Num contexto de promessas de remoção de castigos, Ele aludiu aos que
tinham saudade de cultuar Seu Nome; se envergonhavam pelo juízo, dado, serem
inocentes. O juízo atingira a todos, mas, a esses que eram fiéis estava
guardada uma gloriosa recompensa pela injusta sorte;
“...deles farei um louvor e um nome em toda a terra em que foram
envergonhados.” V 19 Eram fiéis quando os líderes e a maioria da nação não era;
seguiram assim Durante o juízo; depois, foram recompensados.
Assim, não é erro
esperarmos recompensas pelas virtudes, tanto, quanto, temermos o juízo pelo
vício. Porém, tal “ceifa” sempre será no tempo de Deus, nunca, no nosso.
Quantos
fiéis virtuosos que partem dessa vida, sedentos de justiça para terem sua recompensa
apenas na eternidade? Por outro lado, quantos patifes, canalhas, ladrões
prosperam a olhos vistos, sendo um acinte aos homens de bem, fazendo parecer
que o mal compensa?
Então, não nos cumpre escolhermos as circunstâncias para
sermos fiéis; afinal, uma “fidelidade” nesses moldes sequer fidelidade é; mera
negociata. Daniel no cativeiro Babilônico tinha todas as razões para “baixar a
guarda;” afinal, foram entregues ao domínio de um rei estranho. Entretanto,
decidiu mesmo no palácio real a não se contaminar com as iguarias do Rei. Para
ele, fidelidade não dependia da bonança, antes, da boa inclinação de seu
coração.
Ademais, as coisas espirituais vistas da perspectiva natural são um convite ao
abandono, uma vez que, a recompensa parece tardar, tanto aos bons quanto aos
maus. Sendo a inclinação natural má, tende a prevalecer. “Porquanto não se
executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens
está inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8; 11
Todavia, não é a régua
natural que mensura valores espirituais, como ensina Paulo: “As quais também falamos, não com palavras de sabedoria
humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas
espirituais com as espirituais.” I Cor 2; 13
Os “olhos da fé” não são de
córneas, retina; antes, de confiança
irrestrita Naquele que não pode mentir. “Pela fé ( Moisés ) deixou o Egito, não
temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível.” Heb 11; 27
Como
a Obra de Deus após Cristo ganhou contornos universais, não há “terra estranha” onde não possamos
cantar louvores ao Senhor; exceto, cativos do pecado. Contudo, se estamos
presos nele, não dependemos do beneplácito de um rei estranho para volvermos ao
nosso lugar de paz; antes, basta que rompamos com um príncipe falido cuja única
arma é a mentira.
O Rei que liberta já deu a chave das algemas. “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente
sereis meus discípulos; conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará.” Jo 8; 31 e 32
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