quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Enriqueça seu currículo



“Direi a Deus: Não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo. Parece-te bem que me oprimas, que rejeites o trabalho das tuas mãos e resplandeças sobre o conselho dos ímpios? Tens tu porventura olhos de carne? Vês tu como vê o homem?” Jó 10; 2 a 4 

A esta altura, Jó desistira de esperar alento dos amigos; preferia dirigir-se a Deus, dado que, eles ainda estavam ao seu lado tentando argumentar. Mesmo que aqueles tivessem começado bem, ficando ao lado dele em silêncio solidário à sua dor por sete dias, após, começaram a arguir motivos, acusar ao infeliz pelo que estava passando. 

Então, o patriarca afrouxou as cordas da esperança no apoio deles, e disse: “Ao que está aflito devia o amigo mostrar compaixão, ainda ao que deixasse o temor do Todo-Poderoso. Meus irmãos aleivosamente me trataram, como um ribeiro, como a torrente dos ribeiros que passam, que estão encobertos com a geada, neles se esconde a neve, no tempo em que se derretem com o calor, se desfazem, e  esquentando, desaparecem do seu lugar. Desviam-se as veredas dos seus caminhos; sobem ao vácuo e perecem. Os caminhantes de Tema os vêem; os passageiros de Sabá esperam por eles. Ficam envergonhados, por terem confiado; chegando ali, se confundem.” Cap 6; 14 a 20 

Em suma: Estou aflito, não deixei de temer a Deus; quando meus amigos vieram tive esperança de certa compaixão, mas, me traíram; estou com vergonha de ter confiado neles. 

Comparou-os a ribeiros sazonais, que correm por certo tempo ao derreter a neve do inverno, depois, somem. Quem dirigir-se a eles esperando água, perderá tempo por ter desviado seu curso. Assim, foram seus amigos.

Ah, as almas “sazonais” que mudam quando as circunstâncias mudam! Quantas decepções nos causam! Se, é próprio do homem comum pautar-se pelas circunstâncias, pelo que vê, não deveria ser assim com o que afirma crer em Deus, dado que, a relação baseia-se na fé; e “a fé é o firme fundamento das coisas que não se veem”. Heb 11; 1 Noutras palavras, firma-se no olhar de Deus. 

Deste inquiriu Jó: “ Vês Tu como vê o homem?” Certamente não. Ele mesmo disse ao profeta Samuel: “...porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém, o Senhor olha para o coração.” I Sam 16; 7 

Tanto pode ver o coração do homem, quanto, o futuro; não raro, no que consideramos derrota, Ele vê vitória. O que nos escapa à vista e compreensão, a Ele é patente. 

Nenhum dos  coevos de Jesus entendeu o que se deu na cruz; viram estrondosa derrota; estava dispersos, desanimados... como os dois a caminho de Emaús. “E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel; mas agora, sobre tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram.” Luc 24; 21  

Ficou claro que tinham perdido a esperança. O Senhor os chamou de néscios, tardos de coração. Na parábola do Semeador Ele mesmo ilustrara aos sazonais como sementes que caem sobre pedras; nascem rápido, mas, como tem pouca terra, ao primeiro sol secam. Assim, os emotivos, circunstanciais, marinheiros da bonança. 

Ora, eu teria vergonha de, uma vez salvo, assentar-me à mesa ao lado de Jó, Paulo, Jeremias... O Salvador, sobretudo, tendo como “currículo” uma caminhada sob céu de brigadeiro, como ensinam certos “teólogos” da praça. 

O mestre sempre advertiu aos seus, sobre aflições, rejeição, perseguição. Qualquer ensino que destoar disso é fraude. 

Embora a fé não viole a inteligência, muitas vezes arrosta às circunstâncias. Se a Tomé foi dada a oportunidade de ver para crer, a bem aventurança foi lançado sobre os que não veem e acreditam. 

Essa confiança irrestrita em Deus, a despeito das adversidades, que aos de fora parece cegueira, é a beleza dos olhos da fé. Ela prescinde da bengala das coisas e repousa no Santo Caráter do Eterno. 

Se, tendemos à fragilidade dos ribeiros de estação, devemos fazer um curso de fé com o profeta Habacuque; ele disse: “Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, nos currais não haja gado; todavia, eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação.” Hc 3; 17 e 18

Claro que é lícito, salutar, buscarmos melhorias, trabalharmos e orarmos por elas; entretanto, atrelar a fé a essas coisas é sua negação; da fé, digo. 

Circunstâncias adversas são ondas que vêm e passam; quem sustenta a vida dos peixes é o oceano. Cristo dá mais que neve derretida; antes, a Fonte da Água da Vida.

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