segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Ecologicamente incorreto



Porque a paixão é sempre mais veloz que a razão? Os sentimentos suplantam valores?  Talvez, porque a paixão seja filha do instinto, do quê, mais primitivo temos; enquanto, a razão demanda certo depósito de valores, intelecto, clareza, discernimento para compreender o que está em jogo.  

Sentir um impulso é mais fácil e rápido que refletir. Repetir o que se ouviu sem investigar, embora superficial, pueril, é indolor, leve, prazeroso. 

Lembro uma frase de Henry Ford: “Pensar - disse -  é o trabalho mais duro que há; essa, talvez, seja a razão pela qual tão poucos se atrevem a isso.” 

Por isso, talvez, tantas celebridades sejam pagas a preço de ouro para mentir que usam determinado produto, pois,  automaticamente, os que admiram tal famoso, acabarão associando as imagem  e produto,  comprando o que for anunciado.  A mim não interessa se o craque A, usa o perfume, B; dane-se! Uso o que me der na telha. Tampouco qual a “cor da estação” ditada por um bosta qualquer que posa de Deus da moda, dane-se, outra vez!

Infelizmente, a massificação, o efeito manada, tem assassinado o indivíduo, tolhido a beleza da diversidade, miscigenando índoles nua gosma amorfa, acéfala, insípida, chamada, povo.   

Assim como repetir conceitos qual papagaio é indolor, fazer o que a maioria faz também é mais confortável que acender o fogo com a própria lenha. Aliás, ocorre-me ainda uma frase de Plutarco sobre o tema: “A mente não é um vaso para ser cheio; antes, um fogo a ser aceso.” 

Mas, vivemos num tempo em que as vasilhas enchem-se de imbecilidades, enganos, “certezas” cujo único mérito é serem instrumentos de cansativa repetição; enquanto o fogo que queimaria erros, falácias, examinaria procedência, coerência, lógica, veracidade, acha-se irremediavelmente apagado. 

O manto das paixões acenado cega a  ponto, de as galinhas comemorarem quando a guarda do galinheiro é entregue às raposas.  Celebram aos gritos e com fogos de artifício, a beleza estonteante de sua estupidez. 

Eu não gosto nem pretendo que as pessoas concordem comigo para não discordar, simplesmente. Longe de mim ser dono da verdade; o iluminado que nunca erra! Entretanto, quem discordar, quando o fizer, respeite minha inteligência, e faça com argumentos plausíveis, racionais. 

Se bater à minha porta com falácias decoradas, preferências passionais, vigarice intelectual; ouvirá um sonoro, dane-se! Não gasto meu tempo com crianças psicológicas.

Detesto que me tentem impor o que devo amar, ou odiar; são escolhas minhas, e penso que as baseio em valores. Assim, se o argumento falta com a verdade, se traz raciocínio tendencioso, se justifica maus meios para presumidos, bons, fins, a balela não passará em meu filtro lógico e o paroleiro laborará em vão. 

Atrás das bandeiras de “povo” e “Pátria” muito canalha se escondeu, e ainda se esconde. Ademais, fomentar a miséria para depois obter lucro com ela via chantagem, é a quintessência da canalhice. 

A essa altura alguém pode estar suspeitando que estou falando das eleições de ontem. Também! Foi a inspiração para uma reflexão filosófica sobre a pobreza intelectual e moral do “homem” de nosso tempo.   

Sim, coloco o homem entre aspas, não por minha conta, mas, copiando uma sentença do Rei Davi que disse: O homem que está em honra, e não tem entendimento, é semelhante aos animais, que perecem.” Sal 49; 20 Ou, de seu filho Salomão que, parece ter valorado a inteligência como algo que vem de fora, um dom, uma aquisição sem a qual, o homem fica “em si mesmo”. “Disse eu no meu coração, quanto a condição dos filhos dos homens, que Deus os provaria, para que assim pudessem ver que são em si mesmos como os animais.” Ecl 3; 18 

Gosto muito dos animais em seus habitats, usando os próprios corpos. Quando jumentos vêm a mim disfarçados de homens não sou “ecologicamente correto” quebro o pau.

É doloroso navegar na vida num mar de imbecilidade e uma ou outra ilhota de discernimento. Ver a espalhafatosa “comissão de frente” da escola de samba dos interesses mesquinhos, fantasiada de valores, aplaudida, evoca meu desprezo pelo carnaval.

A “vergonha de ser honesto” que já corou a Ruy Barbosa ronda homens de bem num cenário que canoniza o engano, despreza bons valores; cenário onde triunfam as nulidades. 

Em suma, peço desculpas aos animais por ofendê-los com tão injusta comparação; se eu fosse um deles talvez estivesse me sentindo muito bem, não com vergonha da espécie humana como estou agora.

O “homo sapiens” e sua maioria atende às intimas comichões fingindo atender a de terceiros; isso, os bichos não fazem. Mas, o Mestre ensinou que não devemos esperar que o espinheiro dê, uvas; igualmente, que venham à luz valores onde eles se destacam, justo, por sua ausência.

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