Porque a paixão é sempre mais veloz que a razão? Os
sentimentos suplantam valores? Talvez,
porque a paixão seja filha do instinto, do quê, mais primitivo temos; enquanto,
a razão demanda certo depósito de valores, intelecto, clareza, discernimento
para compreender o que está em jogo.
Sentir um impulso é mais fácil e rápido que refletir. Repetir o que se
ouviu sem investigar, embora superficial, pueril, é indolor, leve, prazeroso.
Lembro uma frase de Henry Ford: “Pensar - disse - é o trabalho mais duro que há; essa, talvez,
seja a razão pela qual tão poucos se atrevem a isso.”
Por isso, talvez, tantas
celebridades sejam pagas a preço de ouro para mentir que usam determinado
produto, pois, automaticamente, os que
admiram tal famoso, acabarão associando as imagem e produto, comprando o que for anunciado. A mim não interessa se o craque A, usa o
perfume, B; dane-se! Uso o que me der na telha. Tampouco qual a “cor da estação”
ditada por um bosta qualquer que posa de Deus da moda, dane-se, outra vez!
Infelizmente, a massificação, o efeito manada,
tem assassinado o indivíduo, tolhido a beleza da diversidade, miscigenando índoles
nua gosma amorfa, acéfala, insípida, chamada, povo.
Assim como repetir conceitos qual papagaio é
indolor, fazer o que a maioria faz também é mais confortável que acender o fogo
com a própria lenha. Aliás, ocorre-me ainda uma frase de Plutarco sobre o tema:
“A mente não é um vaso para ser cheio; antes, um fogo a ser aceso.”
Mas,
vivemos num tempo em que as vasilhas enchem-se de imbecilidades, enganos, “certezas”
cujo único mérito é serem instrumentos de cansativa repetição; enquanto o fogo
que queimaria erros, falácias, examinaria procedência, coerência, lógica,
veracidade, acha-se irremediavelmente apagado.
O manto das paixões acenado cega
a ponto, de as galinhas comemorarem
quando a guarda do galinheiro é entregue às raposas. Celebram aos gritos e com fogos de artifício,
a beleza estonteante de sua estupidez.
Eu não gosto nem pretendo que as pessoas
concordem comigo para não discordar, simplesmente. Longe de mim ser dono da
verdade; o iluminado que nunca erra! Entretanto, quem discordar, quando o
fizer, respeite minha inteligência, e faça com argumentos plausíveis,
racionais.
Se bater à minha porta com falácias decoradas, preferências passionais,
vigarice intelectual; ouvirá um sonoro, dane-se! Não gasto meu tempo com
crianças psicológicas.
Detesto que me tentem impor o que devo amar, ou odiar;
são escolhas minhas, e penso que as baseio em valores. Assim, se o argumento falta
com a verdade, se traz raciocínio tendencioso, se justifica maus meios para
presumidos, bons, fins, a balela não passará em meu filtro lógico e o paroleiro
laborará em vão.
Atrás das bandeiras de “povo” e “Pátria” muito canalha se
escondeu, e ainda se esconde. Ademais, fomentar a miséria para depois obter
lucro com ela via chantagem, é a quintessência da canalhice.
A essa altura alguém
pode estar suspeitando que estou falando das eleições de ontem. Também! Foi a
inspiração para uma reflexão filosófica sobre a pobreza intelectual e moral do “homem”
de nosso tempo.
Sim, coloco o homem
entre aspas, não por minha conta, mas, copiando uma sentença do Rei Davi que
disse: “O homem que está em honra, e não tem entendimento, é semelhante
aos animais, que perecem.” Sal 49; 20 Ou, de seu filho Salomão que, parece ter
valorado a inteligência como algo que vem de fora, um dom, uma aquisição sem a
qual, o homem fica “em si mesmo”. “Disse eu no meu coração, quanto a condição
dos filhos dos homens, que Deus os provaria, para que assim pudessem ver que
são em si mesmos como os animais.” Ecl 3; 18
Gosto muito dos animais em seus
habitats, usando os próprios corpos. Quando jumentos vêm a mim disfarçados de
homens não sou “ecologicamente correto” quebro o pau.
É doloroso navegar na
vida num mar de imbecilidade e uma ou outra ilhota de discernimento. Ver a
espalhafatosa “comissão de frente” da escola de samba dos interesses mesquinhos,
fantasiada de valores, aplaudida, evoca meu desprezo pelo carnaval.
A “vergonha de ser honesto” que já corou a Ruy
Barbosa ronda homens de bem num cenário que canoniza o engano, despreza bons valores;
cenário onde triunfam as nulidades.
Em suma, peço desculpas aos animais por
ofendê-los com tão injusta comparação; se eu fosse um deles talvez estivesse me
sentindo muito bem, não com vergonha da espécie humana como estou agora.
O “homo
sapiens” e sua maioria atende às intimas comichões fingindo atender a de
terceiros; isso, os bichos não fazem. Mas, o Mestre ensinou que não devemos
esperar que o espinheiro dê, uvas; igualmente, que venham à luz valores onde eles
se destacam, justo, por sua ausência.
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