sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Presente; o tempo que temos



“E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai,
 Pois, tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas, ouçam-nos.” Luc 16; 27 a 29 

Jesus em seus ensinos trouxe o exemplo de alguém arrependido tarde demais. Estava já no Hades. Dada a impossibilidade de retorno, rogou pelos que estavam ainda na Terra; mas, nos domínios do juízo, tanto não era mais tempo de arrependimento, quanto, de intercessão. Ademais, os parentes que eram alvo de sua preocupação tinham seus meios. Moisés e os profetas; as Escrituras. 

Acontece que é muito fácil o arrependimento em face às consequências presentes. Vemos o caso da jovem Patrícia Moreira, torcedora do Grêmio flagrada em atitudes de injúria racial. Chora amargamente, diz estar arrependida e disposta a encontrar o goleiro do Santos, Aranha, para se desculpar com ele.

Tudo muito acertado; porém, está em meio ao juízo pelo que cometeu. Sofre ameaças na rua, perdeu o emprego, a vida social e teme levar esse estigma por toda a vida. Segundo ela, se deixou levar pela multidão, e está arrependida. 

Por que o “efeito manada” puxa sempre pra baixo? Talvez, porque seja raro encontrar alguém fazendo a coisa certa, e, impossível, a multidão. Assim, se Patrícia vai com as outras, fatalmente desce. 

Paulo acena com o juízo, tanto para pecados conhecidos, quanto, ocultos; no final, todos serão conhecidos. “Os pecados de alguns homens são manifestos, precedendo o juízo; em alguns manifestam-se depois. Assim mesmo, também as boas obras são manifestas; as que são de outra maneira não se pode ocultar.” I Tim 5; 24 e 25 

Mas, a ideia de poder esconder as coisas, ou, tardar o juízo, coopera para que o coração humano endureça cada vez mais, na prática do mal. “Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8; 11
  
Acontece que arrependimento em face ao juízo pode ser falso. Digo, a pessoa pode estar entristecida pelas consequências, simplesmente; pelo mal que fez a si, não, a terceiros, como demandaria o vero arrependimento. 

Todavia, jogarmos com o tempo é uma temeridade, pois, dada a fragilidade de nossas vidas, e as vicissitudes que nos cercam, contarmos com o devir como nossa propriedade é meio presunçoso. Tiago adverte: “Eia agora vós, que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, lá passaremos um ano; contrataremos e ganharemos; Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece. Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser,  se vivermos, faremos isto, ou aquilo. Mas agora vos gloriais em vossas presunções. Toda a glória, tal qual esta, é maligna.” Tg 4; 13 a 16 

Esse tão sério fato de não podermos contar com o tempo que nos não pertence deveria nos levar a fazer bom uso do que temos. Certamente, no além, há muitos que agora crem; estão arrependidos; mas, de que vale?

Certa vez, quando eu e meu sobrinho tínhamos uma só chave de casa e saímos a lugares diversos combinamos deixá-la em determinado lugar, para que pudesse entrar quem primeiro chegasse. Um dia, ele saiu, deixou a chave no lugar combinado; além disso escreveu um bilhete dizendo: “Tio, a chave está...” E colocou por debaixo da porta. 

Cheguei, peguei a chave no local combinado e abri; deparei com o bilhete no chão explicando onde estava. Não pude me conter e ri como um bobo, de sua “providência”. Do jeito que fez, eu só teria a informação quando não servisse mais. Depois de aberta a porta não careceria saber onde estava a chave, óbvio. 

Lembrei disso porque, tristemente, é o que ocorre com muitos que partiram sem crer e agora estando no além sabem a realidade que  não serve mais, exceto, para aumentar a culpa pela omissão manifesta quando era tempo. 

Assim, embora a palavra arrepender possa ser aberta numa frase, “à ré pender.” A ideia é de um pendor retroativo, um voltar no tempo; chega um momento em que essa volta não é mais possível.  

Então, quando a Bíblia trata nosso tempo como algo urgente, o faz em vista de nossa fragilidade, como disse Tiago, não, eventual exiguidade do tempo em si. 

Embora alguns associem vida eterna ao tempo, estritamente, é antes de tudo, uma maneira de viver, que somos exortados a abraçarmos ainda em nossos dias finitos, na Terra. “Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna...” I Tim 6; 12

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