“E
disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai,
Pois, tenho cinco irmãos; para que lhes dê
testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe
Abraão: Têm Moisés e os profetas, ouçam-nos.” Luc 16; 27 a 29
Jesus em seus
ensinos trouxe o exemplo de alguém arrependido tarde demais. Estava já no
Hades. Dada a impossibilidade de retorno, rogou pelos que estavam ainda na
Terra; mas, nos domínios do juízo, tanto não era mais tempo de arrependimento,
quanto, de intercessão. Ademais, os parentes que eram alvo de sua preocupação
tinham seus meios. Moisés e os profetas; as Escrituras.
Acontece que é muito
fácil o arrependimento em face às consequências presentes. Vemos o caso da
jovem Patrícia Moreira, torcedora do Grêmio flagrada em atitudes de injúria
racial. Chora amargamente, diz estar arrependida e disposta a encontrar o goleiro
do Santos, Aranha, para se desculpar com ele.
Tudo muito acertado; porém, está
em meio ao juízo pelo que cometeu. Sofre ameaças na rua, perdeu o emprego, a
vida social e teme levar esse estigma por toda a vida. Segundo ela, se deixou
levar pela multidão, e está arrependida.
Por que o “efeito manada” puxa sempre
pra baixo? Talvez, porque seja raro encontrar alguém fazendo a coisa certa, e,
impossível, a multidão. Assim, se Patrícia vai com as outras, fatalmente desce.
Paulo acena com o juízo, tanto para pecados conhecidos, quanto, ocultos; no
final, todos serão conhecidos. “Os pecados de alguns homens são manifestos,
precedendo o juízo; em alguns manifestam-se depois. Assim mesmo, também as boas
obras são manifestas; as que são de outra maneira não se pode ocultar.” I Tim
5; 24 e 25
Mas, a ideia de poder esconder as coisas, ou, tardar o juízo,
coopera para que o coração humano endureça cada vez mais, na prática do mal. “Porquanto
não se executa logo o juízo sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens
está inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8; 11
Acontece que arrependimento
em face ao juízo pode ser falso. Digo, a pessoa pode estar entristecida pelas consequências,
simplesmente; pelo mal que fez a si, não, a terceiros, como demandaria o vero
arrependimento.
Todavia, jogarmos com o tempo é uma temeridade, pois, dada a
fragilidade de nossas vidas, e as vicissitudes que nos cercam, contarmos com o
devir como nossa propriedade é meio presunçoso. Tiago adverte: “Eia agora vós,
que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, lá passaremos um ano;
contrataremos e ganharemos; Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã.
Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se
desvanece. Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, se vivermos, faremos isto, ou aquilo. Mas
agora vos gloriais em vossas presunções. Toda a glória, tal qual esta, é
maligna.” Tg 4; 13 a 16
Esse tão sério fato de não podermos contar com o tempo
que nos não pertence deveria nos levar a fazer bom uso do que temos.
Certamente, no além, há muitos que agora crem; estão arrependidos; mas, de que
vale?
Certa vez, quando eu e meu sobrinho tínhamos uma só chave de casa e
saímos a lugares diversos combinamos deixá-la em determinado lugar, para que pudesse
entrar quem primeiro chegasse. Um dia, ele saiu, deixou a chave no lugar
combinado; além disso escreveu um bilhete dizendo: “Tio, a chave está...” E
colocou por debaixo da porta.
Cheguei, peguei a chave no local combinado e
abri; deparei com o bilhete no chão explicando onde estava. Não pude me conter
e ri como um bobo, de sua “providência”. Do jeito que fez, eu só teria a
informação quando não servisse mais. Depois de aberta a porta não careceria
saber onde estava a chave, óbvio.
Lembrei disso porque, tristemente, é o que
ocorre com muitos que partiram sem crer e agora estando no além sabem a
realidade que não serve mais, exceto,
para aumentar a culpa pela omissão manifesta quando era tempo.
Assim, embora a
palavra arrepender possa ser aberta numa frase, “à ré pender.” A ideia é de um
pendor retroativo, um voltar no tempo; chega um momento em que essa volta não é
mais possível.
Então, quando a Bíblia
trata nosso tempo como algo urgente, o faz em vista de nossa fragilidade, como
disse Tiago, não, eventual exiguidade do tempo em si.
Embora alguns associem vida
eterna ao tempo, estritamente, é antes de tudo, uma maneira de viver, que somos
exortados a abraçarmos ainda em nossos dias finitos, na Terra. “Milita a boa
milícia da fé, toma posse da vida eterna...” I Tim 6; 12
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