quarta-feira, 17 de setembro de 2014

pais separados

“Também não oprimirás o estrangeiro; pois vós conheceis o coração do estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito.” Êx 23; 9

Discute-se no meio protestante se as bases do cristianismo devem ser derivadas da ortodoxia doutrinária, ou, bastam as experiências com Deus, a despeito de outros acessórios.  O primeiro caso refere-se aos protestantes tradicionais; o segundo, aos pentecostais. Em síntese: O pleito é o mesmo que tomou tempo dos filósofos medievais e antigos também; entre o empírico e o racional.

No texto supra do Êxodo, Deus ordenou a evocação da experiência como suporte à razão;  poderia ser usado por um eventual empirista. Todavia, há outros que apresentam a primazia da Palavra em face à experiência, como o que diz: “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus.” Rom 10; 17, por exemplo.

Tendemos a movimentos pendulares pré-conceituando uma linha filosófica, ideológica, como errada; a partir disso, tudo o que servir de argumento ao “erro” precisa ser rejeitado. 

Esse tipo de peleja por exclusão ideológica invés da análise da plausibilidade do argumento tende a levar todos os pleitos ao empate. Meu ponto de vista está correto; portanto, o oposto é errado; dirá “legitimamente” qualquer postulante.

Não raro, a necessidade de um rótulo para nossas posições acaba tolhendo a razão. Isso vale para o tradicional x pentecostal; Arminiano x Calvinista; clericalismo x laicismo; etc.  Assim, a ênfase nos dons espirituais tende a desprezar o estudo da Palavra; por outra, os teologicamente destros, a desvalorizar experiências, ainda que autênticas.

Marcos apresenta a obra dos recém comissionados nessa ordem: “E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram.” Mc 16; 20 A Palavra confirmada por sinais da parte de Deus. Parece necessário concluir que havia espaço para o concurso de ambas as correntes sem conflito algum.

Houve muitos casos em que a experiência milagrosa precedeu ao ensino, como a cura do cego de nascença, ou, o paralítico de Betesda, por exemplo.  De modo que, se alguém quiser argumentar com meia verdade, haverá frações bastantes para os dois lados.

Separaremos ao que Deus uniu se tentarmos divorciar Espírito e Palavra. A Palavra de Deus é revelação mediante o Espírito Santo; tanto quando foi entregue; quanto quando é interpretada; não pode ser, corretamente, sem a luz Daquele. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.” II Ped 1; 21 “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.  Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido.” I Cor 2; 14 e 15
 
Por outro lado, os dons espirituais não excluem o conhecimento; antes, os dois primeiros no rol de Paulo atentam precisamente à destreza na Palavra; “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil. Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência;” I Cro 12; 7 e 8 
 
Então, assim como a interpretação hígida das Escrituras requer contexto e esmero exegetico; operação de sinais espirituais em si não é selo de probidade espiritual nem o contrário. Deve ser escrutinada com cuidado, para rejeição do engano, ou, usufruto da bênção.

Pois, a Bíblia é contundente em advertir tanto contra o desvio doutrinário que viola a Palavra; quanto aos prodígios da mentira, cujos sinais induzem ao erro e derivam de fonte espúria.

Muitas vezes, posto que nos suponham racionais, tendemos a preferir ter razão, invés de luz. E “ter razão” assim é precisamente abdicar dela.

O Senhor ensinou que devemos nascer da água e do Espírito; ninguém destro nas Escrituras presumirá que tal água seja a do Batismo, que só confirma e testemunha publicamente o nascimento que já ocorreu; Paulo ensina: “Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra,” Ef 5; 26 

O próprio Salvador definiu Sua Palavra como sendo Água da Vida. Assim, nascer da água e do Espírito equivale a dizer: Da Palavra e do Espírito.

Enfim, se podemos formar uma “família espiritual” tendo Pai e Mãe junto conosco, por que optaríamos por viver numa família com Pais separados?

Afinal, não há disputa, controvérsia entre Eles; tanto o Pai quanto a Mãe falam a mesma linguagem; de modo que o conselho de Salomão ao seu filho, bem que poderia ser tomado para nosso viver espiritual. “Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensinamento de tua mãe,” Prov 1; 8

Nenhum comentário:

Postar um comentário