"Você não se sente sozinha
aqui no deserto?
No meio da multidão também nos sentimos sozinhos.” ( Saint-Exupéry )
No meio da multidão também nos sentimos sozinhos.” ( Saint-Exupéry )
A brilhante definição do poeta francês expõe
que, mesmo a solidão tendo sua faceta exterior, quando, em isolamento; também
teu seu aguilhão interior que, pode ferir até em circunstâncias impensáveis,
como, entre uma multidão.
A massa nem sempre é encontro; na maioria das vezes é
perda, anulação. O eu deixa de existir e “gruda” numa coisa acéfala, amorfa,
estúpida, divorciada dos valores individuais.
Por exemplo: Torço para o Grêmio,
embora, não frequente o estádio há muitos anos. Mas, quando ia, deixava de ser
eu entre a massa. Vibrava, aplaudia, gritava com; abraçava desconhecidos,
graças um fato comum simbolizado por três cores; Grêmio.
Uma multidão sempre é heterogênea, composta de
honestos e safados, corajosos e covardes; fortes e fracos; inteligentes e
parvos; civilizados e bárbaros; etc. Assim, a massificação nivela o que, absolutamente
não está no nível.
Outro dia, torcedores do grêmio cantaram frases aludindo à
morte de Fernandão, ídolo colorado, provocando rivais, durante um Grenal. Ora,
mesmo rivalidade acirrada deve ter limite, que paire acima de coisas abjetas
como essa. A imensa maioria discorda daquilo, mas, foi a torcida do Grêmio, a
massa.
Agora, o clube será julgado por ofensas racistas que alguns imbecis
dirigiram contra o jogador Aranha, goleiro do Santos. Na condição de gremista
me envergonho uma vez mais. Como ser humano folgo, porque não estava lá;
senão, a vergonha seria maior.
O ridículo disso é que grande parte do elenco do
Grêmio tem negros ou descendentes; a torcida os aplaude. Nem é racismo no
sentido estrito do termo, mas, estupidez mesmo. Estou advogando-os? Não. Que
respondam pelo que fizeram. Talvez, o Grêmio seja desclassificado no julgamento
de hoje. Se for, nada a reclamar. Acharia justo se fosse outro time; acho
também, sendo o meu.
Somos sete bilhões de biografias sendo escritas,
concomitantemente, cada uma com suas peculiaridades; mas, a bosta do “efeito
manada” teima em tentar anular indivíduos. A ideia é fazer o que outros fazem;
cantar o que cantam; pensar o que pensam; enfim, reitero; anular o eu.
Deus não
planejou assim, nem tratará com a massa. “...cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.” Rom 14; 12 Quando
Pedro tentou “diluir” um toque especial na multidão Jesus não aceitou. “E disse
Jesus: Quem é que me tocou? Negando todos, disse Pedro e os que estavam com
ele: Mestre, a multidão te aperta, te oprime, e dizes: Quem é que me tocou? E
disse Jesus: Alguém me tocou, porque bem conheci que de mim saiu virtude.” Luc
8; 45 e 46 A mulher do fluxo de sangue foi exposta, mas, abençoada, curada.
Se,
por um lado, os mandamentos são os mesmos para todos quantos pretenderem
agradar a Deus, por outro a diversidade cultural, a individualidade são
respeitadas.
Basta ler com atenção a epístola aos Romanos para perceber isso. O
que é individual, pois, é indivisível. Ao receber instruções pessoais Pedro
quis saber também da sorte de João. “Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique
até que eu venha, que importa a ti?
Segue-me tu.” Jo 21; 22
No âmbito funcional da igreja, também, as diferenças
são respeitadas. “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, todos
os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. Pois todos
nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos,
quer servos, quer livres, todos temos bebido de um Espírito. Porque também o
corpo não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não
sou do corpo; não será por isso do corpo? E se a orelha disser: Porque não sou
olho não sou do corpo; não será por isso do corpo? Se todo o corpo fosse olho,
onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato?” I Cor 12;
12 a 17
Então, a unidade espiritual e a diversidade funcional ficam
estabelecidas na “massa” dos salvos. Assim como é possível estar só na multidão
para efeito de conforto pessoal; também é no sentido de não ser absorvido pelos “valores”
que a massa professa, caso discorde. Estar na massa sem massificar; preservar a
identidade como as passas do panetone.
Isso, tanto para efeitos positivos; andar
entre os maus sem se tornar um; quanto negativos; congregar com os salvos
mantendo-se ímpio.
Se, é sábio que os pinguins se aglomerem durante uma nevasca
aquecendo-se mutuamente, no prisma humano a sabedoria costuma andar meio
solitária. “As palavras dos sábios devem em silêncio ser ouvidas, mais do que o
clamor do que domina entre os tolos.” Ecl 9; 17
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