segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O que é a verdade?



Tanto a teoria das ideias inatas de Platão, quanto o ceticismo metodológico de Descartes, que ensina a duvidar de tudo, até comprovar inequivocamente que é real; são facetas, do chamado racionalismo filosófico, que, mesmo parecendo convincente a muitos, não transitou sem oposição.

Entre os opositores mais notáveis, Aristóteles, Tomás de Aquino, John Locke, defensores do chamado empirismo. Para essa corrente de pensamento, nascemos como um CD virgem;  pouco a pouco, mediante aprendizado, experiências, nosso saber vai sendo gravado.

Ambas as linhas de pensamento têm argumentos mui verossímeis, sem deixarem de ter seus pontos fracos. Se já nascemos com certo “conhecimento” armazenado no íntimo que, aflorará no tempo certo, nosso arbítrio se fragiliza; ou, condiciona, fazendo-nos meros títeres do destino, Deus, ou, o que se acredite?   

Por outro lado, se nossas “verdades” são meras tributárias das experiências, a existência de valores universais, o absoluto, não faz sentido; pois, cada um terá suas experiências apenas como referencial, tendo assim, cada cultura, “verdades” diferentes?  Num caso Deus seria meio manipulador, no outro, estaria ausente.

Assim, transportando da arena filosófica para a teológica, fatalmente colocaríamos um gládio nas mãos de Armínio, outro, de Calvino. Se valores vêm prontos, Deus pré escolhe; Calvino. Se,  somos responsáveis por aprender e praticar, somos arbitrários, Armínio. Sim, esse cria  no livre-arbítrio, aquele, na predestinação. 

Mas, ambos já não pelejarão por nós; essa liça nos pertence; digo, nós devemos formar nossa posição de um lado ou outro; quem sabe, numa síntese. Claro que, se centenas de homens mais hábeis de outrora não lograram por termo à discussão com argumentos irrefutáveis, não seria eu a fazê-lo.

Mas, mesmo sendo um tanto temerário, tecerei umas considerações sobre isso. Meu arcabouço, óbvio, será mais espiritual que filosófico; não que seja possível dissociar os prismas, que estão ligados.

Nem todos abordam nosso aspecto metafísico como dual, ainda que no campo verbal usem os termos, alma e espírito. O espírito é nossa centelha Divina, a partícula que traz “memórias” de Deus; noções de valores que, mesmo não os tendo experimentado, nos fazem interpretar intuitivamente como erros, certos modos de agir. Nosso homenzinho, ( razão ) que fala e não é ouvido; sucumbe à besta (  desejos )  na excelente ilustração de Sócrates.

Minha alma é o que me faz único, ímpar, capaz de responder positiva ou negativamente aos impulsos do espírito; onde meus valores serão firmados mediante minhas experiências decorrentes das escolhas.  

A mensagem de salvação que permeia as Escrituras Sagradas, em momento algum fala em salvação do espírito, mas, sempre, da alma. O espírito não é dado como caído, mas, morto; daí precisa ser regenerado, recriado, não, salvo. “...aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” Jo 3; 5 e 6

Em suas reflexões no Eclesiastes, Salomão dá como certos os destinos do corpo e do espírito humano; ele omite a alma, que pode ser salva; “o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.” Ecl 12; 7 Por que isto? Porque o destino da alma dependerá de nossas escolhas, de nossa resposta à palavra de Deus. 

A morte espiritual causou a dispersão da alma na queda. Continuou respirando, mas, separada de Deus e sujeita ao maligno.  A comunicação com o Santo se perdeu.
 
Assim como é impossível um homem falar com os animais, ( salvo no cinema ou nas fábulas) a comunhão com Deus não é possível, senão, nos domínios do Espírito.  Nos dois registros bíblicos em que animais falaram houve motor espiritual; satanás agiu na Serpente, e o Anjo de Deus, na jumenta de Balaão. 

Um homem de espírito morto, pois, é mero animal, como disse Davi; “O homem que está em honra, e não tem entendimento, é semelhante aos animais, que perecem.” Sal 49; 20

Assim, o homem natural que exige provas “científicas” da existência de Deus, fecha a porta na cara da visita e manda entrar. Digo, só crê no que experimenta, e nega-se à experiência com Deus. 

A fé não oferece nenhuma experiência “a priori”, mas, uma vez abraçada, justifica-se, satisfaz ao intelecto. Assim, tatua a alma de modo tal, que ela não consegue nem quer mais, negar a existência de Deus, ou abdicar do conforto de Sua presença.

O homem espiritual passa a conhecer muito sem ter aprendido, mediante dons dados junto no novo nascimento;  e aprende cada dia mais, em sua ditosa experiência de ter a alma salva e estar em paz com Deus. 

Nessa síntese empírico-racional, um tanto, o necessário lhe é revelado; o demais, seus anseios, cumpre buscar..

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