“E
começaram a rogar-lhe que saísse dos seus termos. Entrando ele no
barco, rogava-lhe o que fora endemoninhado que o deixasse estar com ele.
Jesus… disse-lhe: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão
grandes coisas o Senhor te fez, como teve misericórdia de ti. E ele foi,
e começou a anunciar em Decápolis quão grandes coisas Jesus lhe fizera;
e todos se maravilharam.” Mc 5; 17 a 20
Temos
aqui um contraste; os “lúcidos” pedindo que Jesus se afastasse; o ex
louco querendo Sua companhia. O Senhor ordenou que anunciasse aos seus o
ocorrido, o que, prontamente fez. Assim, os sóbrios regressaram à
rotina indiferente; o restaurado se fez pregador.
O mesmo Senhor ensinou que, aprecia melhor a salvação, quem sente-se mais devedor ante Deus. “certo
credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, e
outro, cinquenta. E, não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos.
Dize, pois, qual deles o amará mais? Simão, respondendo, disse: Tenho
para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste
bem.” Luc 7; 41 a 43
Então,
não é exagero afirmar que, quanto pior, melhor. Digo, o pecador mais
visível, que, sequer pode disfarçar-se tende a aceitar a salvação mais
facilmente que, outrem, ostentando certa justiça própria. Essa
“superioridade” era a doença dos fariseus que se sentiam justos,
enquanto o populacho não passava de amaldiçoado. “Creu nele porventura algum dos principais ou dos fariseus? Mas, esta multidão, que não sabe a lei é maldita.” Jo 7; 48 e 49 Alguns
estavam impressionados com a fala de Jesus; os ruins; os “bons”,
principais, não tinham se deixado enganar; sabiam a Lei.
Por
sutil que pareça, temos aqui nuances do velho conflito entre razão e
fé. Enquanto aquela monta sua equação entre os colchetes do mérito,
essa, nada tendo a perder recebe a graça proposta. Isso não é teoria
psicológica, ou, teológica. Fato comprovado mesmo naqueles dias. “…Em
verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de
vós no reino de Deus. Porque João veio a vós no caminho da justiça e não
crestes, mas os publicanos e as meretrizes o creram; vós, porém, vendo
isto, nem depois vos arrependestes para crer.” Mat 21; 31 e 32
É.
Vendo a admissão dos maus, mais refratários ficam os “bons” à ideia de
se misturar à gentalha. Acontece que classes sociais fazem certo sentido
horizontal. Ante Deus estamos nivelados por baixo. “Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer.” Rom 3; 10
A
mesma Escritura, ( Lei e Profetas ) que os religiosos se orgulhavam por
conhecer asseverava que seria assim. Que a mensagem do precursor do
Messias seria uma “terraplanagem” nivelando todos. “Todo o vale
será exaltado, todo o monte e todo o outeiro será abatido; o que é
torcido se endireitará, o que é áspero se aplainará.” Is 40; 4 Os
pequenos na sociedade como meretrizes e publicanos eram aceitos; (
exaltados ) e os montes, lideranças religiosas hipócritas, abatidos.
João Batista, o homem do machado fez muito bem seu papel. “E
não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu
vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.
Também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore,
pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo.” Mat 3; 9 e
10
Fora
com a pretensão de santidade hereditária, mas, frutos! E o primeiro da
lista era o arrependimento, que os mais baixos produziram; e os “bons”,
qual a figueira amaldiçoada contentavam-se com as folhas da presunção.
Em
sua dura diatribe à teologia cristã, “O Anticristo”, o que mais
irritava ao ateu Nietzsche era um trecho onde Paulo afirma que: “Deus
escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; Deus
escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; Deus
escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são,
para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante
ele.” I Cor 1; 27 a 29
Não que haja pré escolhidos, mas, uma condição racionalmente “estúpida” chamada fé, sem a qual, nada feito. “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos é o poder de Deus.” V 18
Certo
é que, a árvore da ciência produz seu fruto; mas, as questões
pertinentes à vida, medram noutra Árvore. Os loucos sabem o caminho. “Bem
aventurado o homem que acha sabedoria, o homem que adquire
conhecimento;… É árvore de vida para os que dela tomam, e são bem
aventurados todos que a retêm.” Prov 3; 13 e 18
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